WSU's: Zenith

Capítulo II - A Arte Transmite o Acaso


Então, Mia mostrava-se felizmente triste, adentro das curtas e estreitas vias de seu cérebro brotava o sentimento de apego à curiosidade que tomou forma e ao medo da consequência que isso causaria. Poderia descobrir o mais belo dos vulcões, e ao mesmo tempo poderia arcar com vossa destrutiva erupção, estelar e luminosa.

A Rainha, nessa situação, assumiu o valor do posto.

Levou os dois para uma espécie de museu construído metros à baixo. Não era feio, não era empoeirado, não trata-se de um clichê. Tinha cores vivas, era vibrante, era clássico e reluzente.

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Ouro puro, estátuas vampirescas, esculturas de lobos, quadros de incontável valor, enormes relógios que já não funcionavam mais. Piso macio, rejuntes simbólicos de camurça.

— Jovens, exploradores... Admirado seja o âmago de vocês.

Erszébet foi a frente, os dois ficaram ao seu lado, era a professora, aquela que instruiria a tarefa que aceitaram.

— Não é um milagre este castelo estar tão bem conservado. É algo constitucional, doutrinariamente falando... É a arte. — falou a Rainha, contida, sem a costumeira soberania labial.

— Pois parece tão insegura quanto eu. — Mia comentou.

— Eu prezo a arte, Mia, nela depositamos o impossível... Com o passar dos anos, o ofício artístico obsoletou-se. - colocou as mãos na nuca e desprendeu seu colar de diamantes — Hoje em dia, aqueles ao lado de fora deste Castelo, consideram a arte em tudo, tudo... Fizeram algo superficial, sem saber o verdadeiro significado: A Imaginação. — aproximou-se de Mia e envolveu o colar em seu pescoço — Um presente. Arte Leste-Européia.

Zagan via tudo como perda de tempo, seus olhos acompanhavam o envolvimento das duas, sua mente imaginava o desperdício de palavras. Compactuava com alguma rápida e agressiva atitude, mas o respeito por Mia não deixou. Assim, apenas o silêncio.

— Qual o valor do colar, Rainha?

— Exatamente disso que estou falando...

— O quê? — Mia não era tão desinteligente assim, o prazer na fala suave da Rainha era tanto que tentava estimulá-la a falar mais.

— Dinheiro, preço, cifras... Arte não se resume em Observação, Análise e Dedução. Arte é Contato, Experimentação, Interação... é científico! A Arte é uma ciência, Mia! Você não pode resumi-la a uma quantia. — a tal da lábia que vos falo.

— Senhora... — Zagan interrompeu — Aonde isso nos levará?

A Rainha encantou-se com a coragem.

— Zagan, sejamos cordiais... — estimou Erszébet.

— Cordialidade tem limite, Rainha.

Mia, veementemente, seguiu a conversa.

— Quero saber, Rainha! Eu quero saber mais! — sedenta por mais palavras.

— Orgulhosa estou, tenho certeza que desde que chegou aqui, trinta e oito minutos atrás, aprendeu mais do que durante sua estadia nas estradas europeias...

— Tenho certeza que sim. — encantada.

Erszébet girou seu corpo em 180 graus, pôs a mão direita na cintura sobreposta por um bonito cinto eslavo. Com a esquerda, apontou para um dos quadros na parede.

— Reconhece?

— A Noite Estrelada. — respondeu Mia.

— De? — a Rainha queria saber mais.

— Vincent Willem van Gogh.

— Qual método ele usou?

— Já é mais do que eu sei, Rainha... — era muito para Mia.

— Qual técnica foi empregada nesta pintura, Miandrya? — insistiu.

— Eu não sei... Não sei. — enfadonha.

— Óleo em tela, facilmente perceptível... Pode captar os movimentos leves e naturais que ela proporciona, versátil, infinita e extrema. — a Rainha respirou fundou — Qual é a importância dessas informações em relação ao que vou apresentar a vocês?

Uma veloz calada coletiva.

— Palpites, Zagan? — Erszébet, uma amante da retórica.

***

Platão, Tísias, Córax e Górgias definem a retórica como elemento persuasivo.

Aristóteles como algo que possibilita a revelação do que é persuasivo ou não.

Hermágoras possuía um senso mais ''politizado'' no que diz respeito a retórica: Era a dialética relacionada em referência aos temas populares.

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Quintiliano, o mais básico e simples: A boa lábia, a fala que convence e entretém.

***

— Não desta vez, Ra-i-nha... — irritadiço.

— Mia?

— Só a senhora pode saber... — esquivou-se.

A Rainha fixou o olhar no chão.

Passou-se um tempo e olhou para Mia.

Olhou para Zagan.

Concordou, o movimento com a cabeça evidenciou.

— Em um mundo de criaturas horripilantes, que amedrontam aqueles que não são dotados de dom algum, é possível viver em paz? Sem perdas? — perguntas fáceis Erszébtet fazia, as disfarçava com palavras.

— Sempre foi possível conviver em paz... Sem perdas?... Não, elas fazem parte do conceito de existência. — Mia não cairia no conto das palavras cultas toda hora.

— Linda resposta, muito linda mesmo... Me explique melhor: Por que ''sempre foi possível conviver em paz''?

— Porquê a escolha por guerras, genocídios, ódio, intolerância e ignorância é toda nossa. Sem isso? Paz, harmonia... mas, ainda assim, com perdas... pois o Tempo também mata, e ele não é passível de enfrentamento. — Mia imaginava ter sensibilizado a Rainha.

— Concorda, Zagan? — Erszébet não esquecia dele.

— Sem opiniões formadas...

— E os âmbitos individuais, Mia? Os ignorou?

— Você não pode enxergar universo apenas com seus próprios olhos. É um grave erro. — ela não ignorou, ela nem os levou em conta.

— Sim... Era isso que eu queria ouvir! Se você enxerga o Universo através de outras óticas, consegue enxergar através da minha? — a Rainha queria pedir, mas não queria expor.

— Não é tão difícil quanto fazemos parecer, é claro que consigo.

— Por obséquio, vislumbre minha derramação de arrependimentos: Tempos passados, o Castelo Vajdahunyad era fértil e, por incrível que pareça, feliz... Nossa cultura gótica nunca nos impediu de viver com um sorriso irretirável do rosto, isso soa estranho... Pois bem, estes que os atenderam são meus filhos. Lembram-se deles? — discursou a Rainha.

— Lembramos sim... — Mia estava em enganação — Petrov... é... tinha também o... o...

Zagan sussurrou no fundo de sua mente: 'Mihai e Vlad'.

— O Mihai e o Vlad! — a Rainha desconfiou do que teria acontecido ali, mas relevou — Disseram a nós que são quatro, só vimos três...

— Maxim, o quarto, está dois andares acima, mas vocês nunca verão ele... — ela ficou quieta.

Mia e Zagan olharam-se intrigados; A Rainha ficara triste de repente.

— A Senhora nos contava uma história! — Zagan exclamou.

Num rápido aparente transtorno de bipolaridade, ela voltou ao normal.

— Desculpem a interrupção... Como eu dizia, esses lindos homens são meus afilhados, por mais que pareçam meus escravos... As criações partem de um princípio funcionalmente gerador, ação e reação. Em suma: Primordialmente, qualquer coisa têm seu criador. — disse.

— Antes suas palavras me consumavam, agora elas me irritam. — Zagan queria um desentendimento, uma tragédia que possibilita-se a Mia usar os talentos que lhe foram concedidos.

Não demoraria muito.

— Zagan, respeite-a! — em leve tom de irritação. — Continue, Rainha, é sempre um prazer te ouvir.

A Rainha retirou uma fotografia de dentro do seu sutiã. Notava-se a velhice daquele papel, bordas amarronzadas e preto e branco nas cores originais. Ao centro, um casal de vestes semelhantes às usadas na metade do século vinte .

— Veja. — entregou a foto a Mia.

— Quem é o homem? — instantaneamente Mia questionou.

— Ora, por quê não perguntaste da mulher também?

— Senhora, eu reconheceria este colar à mil metros de distância.

A Rainha sorriu verdadeiramente. Raridade.

Mia retribuiu gentilmente. Costumeiro.

Zagan queria estar aproveitando a liberdade espiritual que partilhava com Mia.

— Meu ex-marido, meu eterno amor. — com as mãos, A Rainha esfregou os olhos — Meio homem, meio lobo.

— Isso é fascinante. — interessou-se Zagan.

— O que houve com ele? — Mia seguiu.

— Janeiro de 1982, Székesfehérvár, Condado de Fejér, aqui na minha amada Magyarország. Eu acordei obscena naquela manhã de segunda-feira, tivemos uma noite regada a prazeres lascivos... Ele não estava mais comigo, não mais ao meu lado, o que dizer para os nossos filhos? Como criá-los? Toda mulher precisa de um homem... — após essa frase, se não estivesse tão interessada na história, Mia teria dado as costas e ido embora — Haviam móveis destruídos, marcas e arranhões por todas as paredes, eram imagens de dor e sofrimento. Por casualidade muitas coisas deram certo depois, eu tive sorte... Só que nunca me esqueci dele.

Dividindo as fábulas em três partes, é notório o percebimento de um conceito muito aplicado nesses contos. Desde sempre, começa-se com apelo emocional, em seguida se faz dinamicamente a história, terminando sempre numa reviravolta. Não existem exceções.

— E aonde a Senhora quer chegar afinal? — indagou Mia.

— Eu quero a sua ajuda, quero que você encontre ele! — clamou Erszébet.

— O que te leva a acreditar que sou capaz disso? — insinuou.

— Não acredito, ainda... — a Rainha mordeu os lábios.

— Então por quê está me pedindo?

— Miandrya, descobrirei isso com a seguinte pergunta: Até onde estaria disposta a ir para ter de volta a pessoa que você mais ama?

Não é algo difícil de responder, muito pelo contrário, a resposta para esse tipo de pergunta é padronizada: 'Até onde for necessário'.

Era o que Mia precisava ouvir, a necessidade de resposta não existia.

A Rainha, então, viu a reação de seu questionamento no rosto perplexo. Não significava aceitamento, significava empatia. Mia se colocou no lugar de Erszébet.

— E sua recompensa é o conhecimento próprio... — pela segunda vez seguida, ela convencia persuasivamente.

— Não sei se isso é bom, não tenho certeza se quero descobrir o que sou. — Mia entrefechou os olhos.

— Meses atrás você tentou se livrar daquilo que estava dentro de de ti... Você tentou se livrar do que era sem saber o que era, isso é um absurdo... — a Rainha pôs suas mãos na faceta de Mia - Hoje, aquilo que tanto te assustou, é seu único companheiro. — esticou a mão esquerda com a palma para cima e apontou em direção a Zagan.

Erszébet poderia finalmente descansar seus cansados e secos lábios. Antes, porém, foi afetuosa.

— Durmam aqui por esta noite, temos inúmeros quartos disponíveis... Vocês terão um romântico desígnio a partir de amanhã. Despeço-me agradecida. — a Rainha saiu de cena, igualmente como a atriz despede-se da plateia em um teatro.

***

Os filhos trancavam portas e janelas.

A noite chegava ao apogeu.

Os morcegos acordavam.

As sombras são sepultadas.

As flores adormecem.

Rufam os tambores.

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O espetáculo chega ao fim.