Uma linda garota e seu amigo, o garoto elfo.

Leo entrou na Casa Grande lentamente. Ele queria muito saber se Piper estava bem, mas ao mesmo tempo tinha medo. E se ela estivesse com raiva? E se ela pensasse que ele fosse um louco? Nunca se sabe. Ele queria correr até o quarto que ela estava e abraça-la, mas também tinha vontade de dar meia volta e correr para o meio dos campistas novamente. Nunca pensou que pudesse algum dia ser tão contraditório.

Não podendo fugir de seu destino, ele abriu a porta de madeira que dava para o quarto que ela estava. Piper estava sentada em uma cama e olhava pela janela. Suas pernas estavam cobertas por um lençol branco, apesar de não estar frio.

– Aqui é muito bonito. Eu moro mesmo nesse lugar?

– Sim, você e muitos outros semideuses.

Ela se virou e começou a analisá-lo. Leo ficou meio desconfortável, mas tentou não deixar transparecer o que sentia.

– Você não parece nada ameaçador. Tem cara de bonzinho. Não acredito que fiquei com medo.

– Ficou com medo de mim? - ele disse, sentando-se em uma cadeira ao lado da cama.

– Achei que tivesse deixado bem claro do jeito que recuei quando você me achou na floresta. Aliás, obrigada por aquilo.

– Ah, pode apostar que você deixou claro, só é meio estranho. E com relação ao seu “regate”, tudo bem. É isso que os amigos fazem, não é?

– Nós somos amigos?

– Sim. – ele suspirou – Somos muito amigos, para falar a verdade.

Ela analisou sua expressão por alguns segundos.

– Qual é o seu nome?

– Leo Valdez. Prazer.

– Piper Mclean.

– Eu sei quem você é, Rainha da Beleza.

– Hein? O que é Rainha da Beleza?

– É o seu apelido. Só eu te chamo assim. E você lembra seu nome agora? Quando eu te encontrei você não lembrava.

– Ah, apelido legal. Sim, eu lembro. Quer dizer, mais ou menos. Aquele centauro, Quíron, me disse que esse é o meu nome. Ele também me explicou todo o conceito de semideus e como funciona o Acampamento.

– Ah.

Por mais que estivesse feliz que Piper soubesse seu próprio nome e que não tivesse gritado com ele, Leo queria que ela mesma tivesse se lembrado do que sabe. Assim, haveria mais esperança de que algum dia a memória dela voltaria. Mas ele não poderia perder a esperança.

– Ela vai se lembrar. Nunca pense o contrário. – Leo murmurou para si mesmo

– O que disse?

– Nada.

– Vou fingir que acredito. De qualquer modo, Quíron queria me contar mais sobre a minha vida...

– Legal.

– Você não me deixou terminar. Ele queria me contar mais, mas eu pedi para te chamarem e você mesmo de contar.

– Eu? Mas... por que eu? - ele estava completamente surpreso.

– Por que não? Você me salvou e parece ser muito legal. – sua expressão divertida mudou para indiferente – A não ser que você não queira me dizer. Nesse caso, deixa pra lá. – ela já se virava novamente para a janela, mas ele segurou seu ombro.

– NÃO! – aquilo saiu um pouco mais alto do que pretendia.

Leo corou. Piper riu.

– Eu tava brincando, cara. Se acalma.

– Eu estou calmo. Sou a pessoa mais calma que você vai conhecer aqui. Mas, o que quer saber sobre sua vida? Posso responder qualquer pergunta! – Leo fez uma pose engraçada, que a fez rir novamente.

– Vejo que a amnésia não mudou nada em você.

– Como assim?

– Sabe, você é a única que ri das coisas que eu falo.

– São engraçadas.

– Obrigado. Enfim, vamos nos concentrar nas perguntas.

– Ok. Deixe-me ver... – a filha de Afrodite colocou a mão no queixo enquanto pensava. – Quem são meus pais? Quem é mortal e quem é deus? Ou deusa?

– Seu pai é o mortal Tristan Mclean. É um ator muito famoso. Todas as garotas babam por ele.

– Deve ser muito estranho, uma amiga ir na minha casa e ficar babando por causa do meu pai. Credo! – ela fez uma careta que fez o filho de Hefesto rir. – Ele sabe que eu sou semideusa?

– Não. Ele teve...alguns problemas com seres mitológicos no passado e ficou muito traumatizado. Tivemos que apagar a memória dele.

– Ah. – Piper parecia bastante desapontada. Leo não quis comentar que ela mal tinha contato com o pai. – E a minha mãe?

– Afrodite, deusa do amor e da beleza.

– O que?! – ela estava tão confusa que chegava a ser engraçado e dar pena ao mesmo tempo.

– Isso mesmo. Ou achava que eu te chamava de Rainha da Beleza à toa?

– Sei lá. Mas, espera... Afrodite não era para ser a deusa mais bonita do Olimpo?

– Ela é.

– Então, como eu posso ser filha dela?

Leo suspirou.

– Piper, você já se olhou no espelho?

– Já, uma dezena de vezes. Por isso mesmo que eu to perguntando.

– Esse é o seu problema, minha cara. Você olha, mas não enxerga o que está bem na sua frente.

– Como assim?

– Vem cá. – ele a guiou até ficarem de frente para um espelho que tinha ao lado da cama. – O que você vê?

– Você e eu, Leo. Mas que raio de pergunta é essa?

– Finja que não somos eu e você.

– O que?

– Dá pra você parar de perguntar “o que?” e tentar entender a mensagem que eu to tentando passar?

– Tá bom. – Piper suspirou – Eu vejo uma garota comum que tem o cabelo completamente desigual e um garoto que parece um elfo espanhol.

– Sabe o que eu vejo? Vejo uma garota incrivelmente linda, tanto por dentro quanto por fora, mas ela é uma idiota de não enxergar isso. E um garoto elfo que é um sortudo por ser amigo dela.

Piper se virou e abraçou Leo fortemente. No começo, ele se assustou. Mas logo retribuiu o gesto. Ele não se lembrava de que abraça-la era tão bom. Talvez, quase perder uma pessoa te faz enxergar o que é importante. Após alguns segundos, ela se separou.

– Puxa, Leo! Obrigada! Que eu me lembre, essa foi a coisa mais linda que alguém já me disse.

– Mesmo você não se lembrando de quase nada, vou considerar isso como um elogio.

Os dois riram com a piada.

– Ah, eu gosto do seu cabelo. Não muda, tá?

– Tá bom. – ela falou sorrindo e se sentando novamente na cama.

O filho de Hefesto voltou para sua cadeira.

– Próxima pergunta.

– Eu tenho namorado?

– Bem direta você, né? - não pode esconder um sorriso enquanto falava.

– Que foi? É uma pergunta muito importante. Assim, eu vou estar preparada para não achar estranho se algum doido me beijar assim que eu sair daqui.

– Ponto para você. Mas não, você não tem namorado.

– Ah. – o mesmo desapontamento invadiu sua voz, cortando o coração de Leo. Ele ia dizer algo encorajador, mas ela interrompeu sua fala.

– Você tem namorada?

A pergunta o pegou de supetão. Em um espaço de dois dias, aquela era a segunda vez que Piper o atingia com o mesmo assunto: o amor. Mesmo que não percebesse, ela o machucava. Aquela pergunta era um lembrete de que, apesar de tê-la salvado, Leo era ainda era o mesmo perdedor que não conseguiu fazer com que uma garota gostasse dele e que agora estava completamente sozinho. Não conseguia ter nada concreto.

– Bom...

Sua fala foi cortada pela entrada de Hazel.

– Leo, ainda vai demorar muito? É que o Frank já tá dando um treco lá fora de tanta ansiedade pra falar com ela. Ah, oi Piper! – ela disse, se virando e abrindo um sorriso para a garota que estava na cama.

– Não, pode dizer para ele entrar. Já estou indo.

– Mas já? - quem perguntava era Piper.

– Sim, os outros também querem falar com você. – ela mantinha uma expressão apreensiva no rosto. – Mas não se preocupe, mais tarde terei todo o tempo do mundo pra responde suas perguntas.

Ele caminhou até a porta. Quando já estava indo embora ele disse:

– Até mais, Rainha da Beleza.

– Até mais... Garoto de Reparos.

Sim, ela havia lembrado do apelido. Mas ele estava longe demais para escutar.