[Hanna]

Tantas coisas aconteceram nesse meio tempo que quase pude sentir o cheiro dos coitados dos meus neurônios queimando. Quase.

Conheci Caleb Rivers.

Nos tornamos amigos, muito amigos.

O bullying que faziam contra mim havia passado dos limites.

Todos me olhavam na escola como se eu fosse um ET. Apesar de que muitos se aproximaram de mim para conseguir alguma coisa com Caleb. De repente eu tinha me tornado a “pessoa mais legal do mundo”. A cidade inteira também estava eufórica e comentava assiduamente com a aparente estadia do pop-star Caleb Rivers. E por falar nele, a gravação fora extinta completamente das redes sociais para sempre, como se nunca tivesse existido, ainda que houvessem agora inúmeras matérias sobre o tal vídeo...

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E o que mais me deixava aturdida naquele momento no corredor depois da conversa com o sr. Clark. Noel havia sido expulso, assim como seus companheiros do ‘crime’ e quase tive que passar a ter consultas semanais com a conselheira da escola e também psicóloga Anne Sullivan. Se eu não tivesse garantido com palavras claríssimas ao diretor que eu não precisava daquilo, que eu estava bem e que não me deixava abalar com o ‘tratamento’ negativo não só do squad do terror, mas também de muitos colegas que insistiam em me rotular como ‘ Hanna baleia’. Para deixar ele um tanto satisfeito, eu prometi que ao menos iria um dia dialogar com ela.

Nos meus tempos mais escuros de tristeza eu já tinha passado por sessões como aquelas, mas há muito tempo.

Naquele momento parecia que eu estava em modo automático porque nem mesmo me dei conta de que já tinha deixado meus livros no armário e batido a porta silenciosamente, para então me virar e ir em direção ao refeitório. Meu estomago reclamava por comida, agradeci por não ter ninguém por perto para ouvir. Por mais que eu soubesse que não iria me encontrar com Noel em qualquer parte da escola, isso não incluía os locais da cidade, eu estava com muito medo. Se ele já havia mostrado o que era capaz de fazer com alguém que nunca fez nada de ruim para ele, eu não fazia ideia a que nível ele chegaria para ‘punir’ quem fora o motivo de sua expulsão.

Por que ele tinha que ser daquele jeito? Eu realmente não sabia responder. Meu pai me dizia que existiam pessoas que tendiam a praticar o mal, que para elas parecia ser certo torturar os outros enquanto para nós era um ato errado e muito. Longe de mim julgar, mas Noel sempre teve um olhar esquisito, expressões sombrias, quando ele xingava ou machucava alguém junto aos seus “amigos” parecia divertir ele ou ser completamente natural.

Meu corpo estremeceu, senti uma coisa muito ruim ao pensar nisso.

Quando eu cheguei ao meu destino, estava uma barulheira agoniante por ali, mas quando eu adentrei o local e me dirigi para a fila do almoço, as conversas uma a uma foram silenciando e os que estavam na minha frente me olharam. As encaradas eram um pouco desconcertantes e me incomodava muito. Tentei ignorar até pegar a bandeja de plástico com a minha refeição, pesar e pagar. Todos acompanhavam cada passo que eu dava, procurei Lucas com os olhos e o encontrei através da vidraça acenando para mim na nossa mesa do pátio. Andei com pressa e finalmente cheguei dando um longo suspiro.

— Você viu aquilo? — perguntei com os olhos dilatados me sentando e colocando a bandeja na mesa.

— Vi, você está ficando famosa.

Bufei. Arrancando sua risada. Resisti a vontade de jogar um pedacinho da beirada da minha pizza, mas desisti, não ia desperdiçar comida. Ainda mais pizza. Ou a beira.

— E como ele está? O seu herói?

— Caleb está bem, eu recebi várias mensagens dele hoje. — respondi num tom animado demais, sorrindo de cantinho.

— Que lindo! — ele curtiu comigo dando um leve empurrão e eu continuei a sorrir de lado, senti minhas bochechas queimarem enquanto ele deu uma rápida olhada suspirando para uma menina na mesa próxima a nossa. Nova paixão? Com certeza ou claro. Eu o conhecia e sabia identificar seu olhar apaixonado. Espremi meus olhos tentando lembrar seu nome, se eu não estava errada ela se chamava Daniele.

Assim que ele voltou a si, todo envergonhado por ter sido pego por mim, eu ri.

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— Ela é linda, combina com você.

— Eu não acho que ela queira algo comigo.

— Vocês se conhecem?

— Sim, do jornal da escola. Ela é muito risonha.

— Own, que gracinha.

— Hanna, para.

Ri mais uma vez, mudando de assunto para não deixar o coitado muito mais vermelho do que já estava, contei a ele partes da conversa com o sr. Clark. O que o deixou entusiasmado. Mais ainda na verdade, porque era visível que nesse pouco tempo ele se tornou alguém mais confiante sem a presença do perigo constante. Até mesmo parecia meu guarda costas pessoal.

— E aí, você está sentindo isso, Han?

— O que? — perguntei confusa sugando o refrigerante do canudinho.

— O cheiro da liberdade.

Eu ri um pouco, porém parando por gelar dos pés à cabeça ao ver Jenna sendo seguida pelo squad. Meu coração começou a martelar muito rápido e eu tive um dejavu. Eu estava apenas esperando por esse momento, eu me preparei esses dois dias para isso. Mas toda a confiança foi por agua a baixo ao ver cada um.

O alivio foi enorme quando eles passaram por nós, como se não estivéssemos ali. Agradeci tanto mentalmente.

Como se tivéssemos combinado, Lucas e eu soltamos a respiração que havíamos segurado ao mesmo tempo. Rindo nervosamente depois. Será que tudo seria diferente agora? Eu realmente esperava que sim. Apesar de no fundo não acreditar muito que eles iam nos deixar em paz. Mas quem sabe no fundo eles não abriram os olhos e viram que o que faziam não era legal? Muitas suposições.

.

Eu vou te buscar as 7PM. Espero que os seus amigos me curtam. — tínhamos combinado de ir ao The Brew hoje e encontrar com Toby e Ezra que já estaria lá de qualquer forma. Não nos víamos sempre então para sair um pouco e estar mais tempo com Caleb, marquei esse ‘jantar’. Era tão empolgante, eu me sentia tão feliz.

— Não se preocupe Caleb, eles são legais e bem recpecivos.

Na verdade é ‘receptivos’, anjo.

Eu ri com a correção, já estava acostumada com todos fazerem isso e era muito mais engraçado quando Caleb quem fazia isso, ele parecia não acreditar muito que eu me confundia tanto com as palavras. E o que eu mais gostei, foi o apelido que ele tinha me presentado. Não era tão original assim, mas era tão fofo.

— Sim, isso. Mas agora eu preciso desligar. — eu disse contra vontade.

Mesmo?

— Mesmo, mesmo. — eu disse com uma voz fininha e assentindo com a cabeça embora ele não pudesse ver.

Escutei sua risada do outro lado da linha.

Ok, nos vemos mais tarde, Han.

— Até mais tarde, Lebs. Bye. — é claro que eu também havia achado o bendito apelido, um único e que somente eu e mais ninguém teria a oportunidade de pronunciar. Eu gostava tanto disso.

Bye, anjo.

Permanecia sorrindo quando joguei meu celular de qualquer jeito na minha cama, ainda com suspiros. Soprei beijos para um dos vários pôsteres de Lebs, para ir escolher uma roupa para a ocasião. Tê-los ali era um dos motivos que Caleb arranjava para tirar sarro da minha cara durante suas visitas e passeios que fizemos nesses dias.

Escolhi um vestido rosa, botas marrons e acessórios. Depois de deixar tudo em cima da minha cama e imaginar o fantástico jantar que teria mais tarde escutei o som do celular que indicava uma notificação de mensagem, peguei por estar próxima.

Mas nada de urgente. Apenas da operadora.