Você Ainda Não Tem 15

30 de Janeiro


Após um domingo tedioso, mas no qual fui dormir tarde, acordei atrasada na segunda. Arrumei-me lentamente ainda com sono, mesmo que estivesse extremamente atrasada. Já minha mãe passou o domingo olhando uns papéis e trabalhando, ela estava meio estranha. Meu ônibus atrasou, que lindo, então eu e minha mãe chegamos atrasadas (mais do que já iríamos) e eu tive que esperar até o segundo horário e receber uma advertência da coordenação. Chegando lá, tive que esperar do lado de fora da sala. Mas essa não é a melhor parte. Adivinha quem estava lá? Isso mesmo, André.

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– Hoje não é meu dia de sorte. – não pude evitar sussurrar ao me sentar ao lado do garoto. Não era para ele ouvir, mas parece que tinha falado alto demais.

– Ah, então você fica nervosa perto de mim, Luninha? – cerrei os dentes.

– Claro que fico, não consigo resistir a você, é claro. Garotos carentes que se embebedam para sair como parte do grupo e esquecer-se dos problemas me atraem bastante. – revirei os olhos e ele me observou, agora irritado.

– Você não sabe nada de mim.

– Ah, não? Sei que você era um cara legal e abandonou todos, afastou os que gostavam de você só porque sua mãe morreu. Para mim, a dor de perder a minha mãe é inimaginável, mas eu não sairia por aí magoando os que eu amo só pela futilidade de ver todos infelizes como eu sou. – fui surpreendida com um aperto em meu braço e virei o rosto bruscamente para o menino. Talvez tenha passado dos limites.

– É melhor do que ser uma garota que finge ser inteligente para se sentir melhor do que os outros, quando apenas é uma vadia que não sabe de nada do que pensa. Ser um idiota como eu, é melhor do que se sentir superior a todos.

– E quem é o hipócrita agora? Já viu como trata as pessoas ou é cego, querido? – dei ênfase ao querido, o ironizando. Provavelmente isso acabaria em gritos se alguém não viesse interromper logo.

– Não me considero o dono da verdade com o poder de julgar a tudo e a todos. Pelo menos não fico me escondendo atrás de estereótipos de menina revoltada e inteligente só porque li em um livro e gostei, sou quem sou pelos meus motivos. – antes que eu pudesse revidar, uma moça o mandou entrar. Ele estava errado. Simplesmente sou assim e não sou revoltada, além de que André não me conhece ao ponto de poder me julgar. Mesmo eu também não o conhecendo há muito tempo é quase impossível não julgá-lo depois de tudo o que descobri e foi-me dito.

Após um tempo também fui chamada e dirigi-me até a sala com cautela, não sabendo bem o que fiz de errado para estar ali. Por que tive que esperar tanto tempo para apenas uma advertência? A porta rangeu alto demais para o meu gosto ao ser aberta, mas o coordenador nem sequer me olhou, estava concentrado demais no delinquente juvenil.

– O que aconteceu com você? Era um garoto tão bom! Agora vivemos pegando você se agarrando com várias meninas diferentes nas dependências do colégio! Além de termos encontrado uma bebida alcoólica na sua moch... – começou o coordenador cujo eu não lembro o nome e parou quando me viu. Seu rosto estava vermelho como se tivesse perdido a paciência e o homem era meio gordo, digamos assim, com poucos fios de cabelos na cabeça, mas vários em uma barba espessa. Além de olhos castanhos escuros, os quais não me chamaram muito a atenção. – Ah, olá Srta. Martins! Sobre seu atraso como é o primeiro e suas notas são ótimas nós vamos deixar para lá. Mas preciso falar com você sobre outra coisa. Sente-se aqui, por favor. – ele apontou para a cadeira ao lado do garoto idiota e eu hesitei. O que eu fiz de errado?

Mordendo os lábios de nervosismo, sentei na cadeira com os dois me observando. André com uma expressão entediada e o coordenador com uma cara paternal, do jeito que seu pai te olha quando está preocupado com os seus atos.

– O que eu fiz, senhor? – perguntei preocupada e ele sorriu.

– Nada, minha querida. Mas, devido ao problema na quantidade de professores, nenhum deles está disponível. E eu soube que você dava aulas para seus colegas em sua antiga escola.

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– E é verdade, caso tenha algum aluno com dificuldade, eu adoraria ajudar.

– Então, esse é o ponto. Só que eu preciso que você dê aulas particulares ao Sr. Montez. Há algum problema? – WHAT?!?! Eu e o menino ao meu lado olhamos de olhos arregalados e indignados para o coordenador que eu acabei de passar a odiar. É claro que nenhum professor estava em disposição, ninguém aguenta esse menino! Levantei-me em um pulo.

– Não mesmo! – gritamos eu e o acéfalo ao mesmo tempo.

– Acalmem-se os dois! – disse o coordenador. – Percebi que suas notas na sua antiga escola são bastante elevadas e, apenas se ajuda-lo, sua bolsa será estendida para todo o próximo ano. Bolsa de cem por cento. – arregalei os olhos. Bolsa para o ano letivo inteiro? Até que não era má ideia... – E o senhor irá reprovar se não fizer aulas com ela. – ele foi firme. Mas por que logo comigo?

Olhamos um para o outro e chegamos a um consenso silencioso.

– Ok. – eu disse e ele sorriu aliviado.

– Ótimo. Começarão amanhã de tarde às quatorze horas e as aulas serão dia de terça e quinta no mesmo horário. – dito isso saímos da sala, juro que queria estrangular meu coordenador. Junto com o menino que estava ao meu lado.

– Ótimo. – resmunguei revirando os olhos.

– Você tinha que tirar notas altas, né?

– Ah, e agora a culpa é minha? Não sou eu que fico me agarrando com meninas iludidas ou prostitutas em potencial e bebendo! – cruzei os braços. Se eu estava irritada? Imagina!

– O que eu faço na minha vida é assunto completamente meu. – ele disse.

– Então pare de me envolver neles. – saí para a minha sala pisando fundo e praticamente jogando a bolsa em cima da mesa.

– Calma estressadinha, o que foi? – disse Josh vindo falar comigo.

– Seu primo é um idiota! – falei irritada. Não importa se eu estivesse errada, tenho quase certeza de que o ouvi dizer que André era seu primo no dia que o conheci.

– Eu sei. – respondeu e riu, não resisti a dar um pequeno sorriso. – Relaxe, o que ele fez agora?

– O coordenador praticamente me obrigou a dar aulas particulares a ele. – suspirei.

– Que bom! – ele sorriu enquanto eu o fuzilava com os olhos. – Assim ele arranja um bom exemplo. – eu ri. – Ahá! Consegui arrancar um sorriso dessa mocinha!

Continuei rindo e Lizzie veio falar com a gente, mas ela estava meio estranha. Como se não gostasse de me ver conversando com Josh ou algo assim.

– Do que estão rindo? – perguntou.

– Consegui fazer a nossa pequena Luninha rir enquanto está estressada. – disse Josh sorrindo.

– Pequena Luninha? Fala sério, Josh! – exclamei.

– Hm. – murmurou Lizzie. Eu conheço esse olhar, já o vi muito no rosto da minha mãe quando via meu pai com outra mulher. É mais conhecido como ciúmes. Não sabia que a Lizzie gostava do Josh, acho que nem ela mesma sabe. Ou talvez saiba e não expressa.

A próxima aula era de matemática, fiz uma careta. Meu professor é um saco. Gabriela sentou na minha frente e Anne atrás.

– Gabs. – chamei baixo enquanto o professor explicava besteiras de equações de segundo grau.

– O que foi?

– Acho que a Lizzie está apaixonada Josh. Ou algo do tipo. – ela assentiu.

– Ela sempre diz que ele é só um amigo, mas eu percebo os olhares. Acho que ele também.

– Temos de fazer algo. Para o bem da humanidade.

– O quê? – realmente. O que faríamos?

– Srta. Martins e Srta. Costa, possuem algo que queiram compartilhar com a turma? – Droga, o chato do meu professor viu que estávamos conversando.

– Não senhor. – respondi olhando para o meu caderno. Gabriela revirou os olhos e voltou a olhar para frente.

O resto das aulas passou rápido e logo tocou o sinal para sair. Fui arrumar minhas coisas, mas não estava achando o livro de biologia. Todos já haviam saído da sala e eu ainda o estava procurando. Lembrava-me muito bem de ter o deixado embaixo da carteira.

– Onde é que está esse livro idiota? – resmunguei olhando de baixo da mesa.

– Aqui. – alguém disse em minhas costas. Virei-me e vi André com o meu livro em mãos. Como ele o pegou?

– Me dá. – andei até ele e quando ia pegar o livro ele afastou a mão.

– Só depois que me disser por que concordou em me dar aulas. Pensei que não gostasse de mim, Luninnha.

– André, isso não é brincadeira, desse jeito eu vou perder o ônibus... – falei tentando pegar o livro que ele insistia em afastar de mim.

– Sabe como é engraçado? Eu sabia que tudo aquilo era porque me desejava. Ah, vamos, admita que amou ter que estudar comigo.

– Sabe o que eu amaria? – me aproximei dele, juntamente com nossos rostos. – Que me devolvesse meu livro, porque ao contrário de você, tenho algum plano futuro para a minha vida. – logo depois me afastei.

– Ok, só porque não quero perder meu tempo com uma menina de classe baixa e feia como você. Vou procurar a Lanna. – rangi os dentes. Juro que quase dei um soco na cara dele nessa hora. Alanna, ou Lanna para André, era uma das “prostitutas em potencial”. Desculpa-me, mas eu só a vejo se esfregando nos meninos. Até os que têm namorada, que a rejeitavam.

Peguei minha bolsa e saí o mais rápido possível dali, não perderia mais meu tempo com esse imbecil, pelo menos não até o próximo dia.

Consegui pegar o ônibus e voltar para casa a tempo. Minha mãe ainda não tinha chegado em casa. Esquentei feijão, arroz e carne para o meu almoço. Comi pensando em amanhã, em como seria difícil conviver com aquele idiota. O resto do dia passou extremamente rápido, o que me surpreendeu. À noite minha mãe chegou e logo depois eu fui dormir, exausta ao extremo.