Vital Signs

Parte 3 - Capítulo 4


Terceira Pessoa

O celular de Eve – perdoem-me, Liz – tocou em algum lugar da sala, mas ela estava na cozinha preparando o jantar. Era seu aniversário de dois meses de namoro com Eric, portanto eles largaram a pizza santa de todos os dias e ela foi para a cozinha fazer um rondelli, pois ele adorava comida italiana.

- Bebê? – chamou ela – Você pode atender meu celular? Estou na cozinha.

Eric estava no andar de cima, mas desceu correndo assim que ouviu a voz dela. Ele correu até a mesa da sala de jantar e abriu o telefone, sem nem mesmo olhar para o número. Não ia adiantar muita coisa se ele o fizesse, o número era desconhecido.

- Alô? – disse ele, despreocupado.

- A Liz está? – perguntou a voz do outro lado da linha. Era um homem, mas Eric não sabia dizer quem.

- Sim, só um minuto – ele levou o celular até a namorada na cozinha e ela o pegou com a mão livre, colocando-o entre o ombro e a orelha.

- Alô? – disse ela, mexendo uma grande panela de molho branco.

- Olá, Liz. Aqui é Benny Harrison.

Liz congelou e parou de mexer, pois seus braços ficaram instantaneamente moles. Ela conseguiu desligar o fogo e pediu licença a Eric, pois queria conversar com seu amigo em particular. Ele assentiu e subiu para o andar de cima novamente, sem se preocupar com muita coisa.

- Olá, Benny – disse ela, quando tinha total certeza de que estava sozinha – É um prazer falar com você.

- Ok, vamos pular essa parte de futilidades e nos concentrar no que é importante – respondeu ele, rispidamente – Sei que demorou um pouco, afinal eu também tenho uma vida e coisas para fazer, mas eu finalmente encontrei seu garotão.

O coração de Liz bateu mais forte e ela sentiu uma pressão puxar sua garganta para baixo, evitando que ela pudesse falar algo. Ela estava a apenas algumas horas de Sam e das suas tão procuradas respostas! Poderia haver coisa melhor?

- Onde ele está? – murmurou.

- Salt Lake City.

Meu Deus, ele estava tão perto. Só uns cinqüenta quilômetros de distância, no máximo. Ela chegaria lá em meia hora e poderia se encontrar com ele, abraçá-lo como sempre fazia e deixar algumas lágrimas vazar pela primeira vez em muito tempo. Ele sorriria e ficaria interessado no que acontecera nos últimos tempos e eles passariam a noite rindo e conversando, como velhos bons amigos.

- Liz, você está aí? – perguntou ele, preocupado.

- Sim, estou. Obrigado, Benny. Você está em Salt Lake City, também?

- Claro, tive que segui-lo até aqui. Ah, e tem mais uma coisa. Ele não está com o irmão.

- Não? Como assim? Eles não são meio que siameses, ou sei lá? – perguntou Liz, confusa.

Os Winchesters sempre estavam juntos, tanto que ela se lembra quando Sam a procurou pela primeira vez, pois o mais velho, Dean, deu em cima dela. Estranho; Benny disse que eles estavam juntos até quando soltaram Lúcifer de sua jaula.

- Pois é, só está Sam aqui. Enfim, você vem ou não?

- Sim, sim. Estarei aí em meia hora.

Eles desligaram o telefone e Liz se virou para o fogão novamente. Havia se esquecido totalmente do aniversário de namoro. Droga, ela teria que inventar uma desculpa muito boa mesmo. Do contrário, não poderia sair de casa.

- Eric, bebê? Precisamos conversar – chamou ela e ele desceu as escadas correndo novamente.

- Quem era no telefone?

- Um antigo amigo, Benny Harrison. Ele acabou de me contar que sua mãe faleceu – inventou na hora – e eu vou ter que ir a Salt Lake City. Ele mora lá e as coisas estão meio difíceis para ele. Você não se importa, não é?

Eric pareceu triste, mas compreensivo. Liz jogou-se em seu pescoço e lhe deu um beijo, tentando poupá-lo do pequeno sofrimento que ia lhe causar aquela noite. Ele nem teve muito tempo para reclamar ou protestar sobre algo, pois ela logo pegara o casaco do armário e estava caminhando até a sala de jantar para pegar a bolsa e as chaves do carro. Em menos de cinco minutos, Liz já estava na garagem e dava a partida no carro.

Eric observou-a sair, completamente atônito e infeliz. Eles moravam juntos há pouco tempo, desde o momento em que Eric se recusou que ela pagasse uma diária do motel para continuar na cidade e então a chamou para ir morar com ele. Eles nem eram namorados oficiais, mas ela aceitou, pois pretendia ficar em Park City. Desde então, ele disse ao seu advogado que queria tomar conta do Deer Valley, pois tinha uma casa para tomar conta e uma vida de casal para sustentar. Foi assim que voltou a trabalhar na estação de esqui, que ficava um pouco parada nessa época do ano, mas não havia nada a se preocupar. O dinheiro da herança de seus pais era suficiente para uma vida inteira, apesar de ele se recusar a sacá-lo no banco.

Liz dirigia inquieta; seus dedos às vezes tamborilavam o volante, às vezes procuravam por uma estação boa de rádio, às vezes faziam o caminho das cicatrizes no olho esquerdo, mas nunca ficavam quietos. Ela tinha que se concentrar hoje, tinha que se controlar, não podia desapontar Eric, que havia sido tão bom para ela todo esse tempo. Então ela ia manter o foco, não ia se descontrolar e não ia se jogar para cima de Sam como sempre fizera. Além do mais que ele achava que ela estava morta e o mínimo que podia fazer era assustar-se e ameaçar matá-la. Liz respirou fundo quando entrou em Salt Lake City e procurou o celular para ligar para Benny. Procurou nos bolsos do casaco e nos bolsos da calça, mas não o encontrou. Puxou a bolsa do banco de trás com apenas uma mão e jogou todo o conteúdo em cima do banco do passageiro, mas não encontrou o celular.

- Droga – murmurou ela e estacionou o carro em uma rua qualquer, procurando um telefone público.

Pegou algumas moedas, a chave do carro e desceu, logo depois acionou o alarme. Caminhou até o telefone apressadamente; Benny se estressaria se ela não chegasse a tempo onde quer que ele estivesse, afinal ele já passara dois meses procurando por Sam e era só um favor. Ela chegou ao telefone e discou o número da casa; após três toques, Eric atendeu.

- Oi, bebê, sou eu – respondeu ela – Deixei meu celular aí e não me lembro do número de telefone de Benny, você poderia procurar para mim?

- Claro, onde está seu celular?

- Não sei, acho que está na cozinha.

O telefone ficou mudo por um tempo e depois Eric voltou.

- Pronto, achei.

- Ah, sim. Diga-me o número de Benny; procure-o nas últimas chamadas.

Eric procurou e assim que encontrou o último número que havia ligado para ela, ditou o número. Ela agradeceu e pediu que ele repetisse, para ela guardar o número na mente. Após fazer isso, eles se despediram e ela desligou.

Pegando mais algumas moedas e colocando-as na máquina, Liz discou o número de Benny e esperou que ele atendesse.

- Alô?

- Benny?

- Liz? Onde você está?

- Em Salt Lake City, mas eu quero saber onde você está.

Benny lhe deu o endereço do bar, mas lhe disse que foi em vão, pois Sam já havia ido embora. Ela suspirou e esfregou os olhos, dizendo que ia embora para casa, então. Benny lhe disse que ia ficar de olho nele, mas era provável que ele ficasse na cidade por mais uns dias e lhe perguntou se ela não queria ficar também. Ela respondeu que não podia, mas que estaria por perto se ele precisasse ligar.

Suspirando novamente ela colocou o fone no lugar e se dirigiu ao carro com calma, atordoada e decepcionada. Tudo que ela mais queria era falar com Sam e lhe perguntar sobre tudo que a confundia, mas se ela conseguisse conversar com ele, ele poderia mesmo lhe dar todas as respostas? Com essa dúvida, ela chegou até o carro e apertou um botão na chave para desligar o alarme, mas quando estava prestes a entrar, uma sombra apareceu por trás e ela se virou.

Era um homem alto e ruivo, parecia perdido por aquelas redondezas e estava confuso, mas mesmo assim Liz se inclinou sutilmente até o banco do passageiro e puxou a arma que sempre guardava. Destravou e escondeu a mão atrás das costas.

- Com licença, você pode me ajudar? – perguntou o homem, soturno.

- Claro – disse ela, amigavelmente – Do que você precisa?

- Eu preciso... – ele pausou e piscou, exibindo olhos inteiramente negros – do seu corpo inerte embaixo da terra e sua alma queimando no inferno.