Vital Signs

Parte 1 - Capítulo 3


Sam - Terceira Pessoa

Aquilo tinha sido realmente cruel e Sam tinha que concordar com isso. A garota estava mais do que desolada, ela estava acabada e estava gritando com ele! Ele só queria ajudá-la. Ele entendia como ela se sentia e queria poupá-la da culpa de matar alguém. Olhando-a daquele jeito, Sam questionou que se ela viesse a fazer o que ele havia visto, será que ela sentiria culpa?

Ela caminhou de costas para a rua, soluçando e tentando fugir o mais rápido o possível, mas suas pernas não se mexiam rápido o bastante. Desceu da calçada e caminhou até o meio da rua. Sam ia gritar para que ela voltasse quando um carro apareceu do nada na esquina e veio correndo até o meio da rua. Eve percebeu o carro com um desespero saltando dos olhos e deu mais alguns passos para trás. Sam se pôs em movimento, pois sabia que ela não ia conseguir sair da frente dele a tempo. Mas não fora rápido o bastante.

Ela acabou sendo atingida pelo carro e arrastada por alguns metros até o motorista parar, dar ré e sair da rua pelo mesmo jeito que entrou. A última coisa que Sam ao chegar perto dela viu fora seus olhos: as esmeraldas que, antes sólidas e agora líquidas, choravam por algo que ele não poderia compreender nunca.

Ele sentiu que era sua obrigação ligar para a ambulância e acompanhar Eve até o hospital, pois ele não havia tirado-a de frente do carro. Ele não ousou mexer em seu corpo imóvel, mas seus olhos doíam ao observar o sangue saindo de seu rosto belo e delicado. Ele se apresentou como o namorado da moça assim que a ambulância chegou, mas deu o nome de Sam ao paramédico. Se ela acordasse e algum deles dissesse que Alex estava lá, é provável que ela tivesse outra crise.

O caminho até o hospital foi tenso. Eve usava um colar cervical e seus olhos estavam tão imóveis quanto o resto do seu corpo. Algum dos paramédicos fechou-os ao perceber o desconforto de Sam. Ela ainda estava respirando, mas um dos paramédicos sussurrava com os outros sobre uma perfuração no pulmão. Além disso, Sam imaginava que ela havia sofrido alguma contusão cerebral, além de alguns ossos quebrados. Que droga, ele pensava. Será que ele não podia ter se esforçado mais, talvez até convencido de levá-la de volta para o bar ou deixá-la em seu apartamento? Tudo isso seria evitado: a descoberta da traição, o nervosismo, o acidente, a dor. Se essa garota morresse, ele seria o culpado. Sam até se esqueceu do que estava pensando antes sobre ela; ela era inofensiva, nunca mataria ninguém. Nem mesmo uma mosca.

A chegada no hospital foi intensa e corrida. Os paramédicos correram com ela na maca para o pronto socorro e Sam teve que ficar para fora, na sala de espera. Seus passos enchiam a sala, pois ele não conseguia ficar parado. Ele andava de um lado para o outro, preocupado e nervoso. Seu celular tocou em seu bolso e ele o atendeu.

- Fala – disse ele, rapidamente.

- Onde você está? - perguntou Dean na outra linha.

Sam relaxou os ombros e esfregou a testa do mesmo jeito que Eve fazia, mas ele estava apenas cansado.

- Estou no hospital municipal.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou Dean, com um tom de voz subitamente preocupado.

- Não, não, eu estou bem. O problema é Eve...

- Quem?

- Eve, a garçonete.

- Ah, sim. O que tem ela?

- Ela foi atropelada por um carro.

O telefone ficou mudo e Sam tirou-o da orelha para ver se a ligação havia caído.

- Dean, você está aí? - perguntou.

- Estou chegando aí – ele respondeu apenas.

Alguns minutos depois, Dean ia ao encontro de Sam na sala de espera.

- Oi, o que aconteceu? - perguntou ele, apressado.

- Ela foi atropelada.

- É, isso você me contou. Mas como?

Sam parou um pouco e se sentou em uma das cadeiras cinza da sala de espera. Ele suspirou e bufou ao mesmo tempo, cansado, irritado, nervoso e preocupado.

- Ela viu o namorado e a outra menina e saiu correndo. Eu tentei falar com ela, mas ela não deixou. Aí foi para o meio da rua e um carro veio e a atropelou.

- E você não fez nada? - perguntou Dean, incrédulo, mas ao perceber a careta de Sam, ele completou: - Pelo menos, ela não vai matar ninguém hoje. Você fez um bom trabalho, Sammy.

- Bom trabalho? A garota está numa sala de cirurgia! E aquela Jasmine é uma vadia. Acho que foi um erro vir aqui.

Sam se levantou e voltou a andar de um lado para o outro. Dean pegou seu lugar na cadeira e observou o irmão de um lado para o outro. Dean não achava que havia sido um erro. Por mais que a garota pudesse morrer, ela pelo menos não havia matado ninguém.

- Não foi um erro. Essa garota vai nos agradecer pelo resto da vida, Sam. Nós a impedimos de ser uma assassina.

- Dean, se ela é como eu, e ela é, essa foi só a primeira vez que ela teve a chance de matar alguém. Mais chances virão e ela vai matar. Além do mais agora, depois do que aconteceu. Isso deve ter a mão do demônio por trás.

- Talvez não. Não significa que ela vai matar, Sam – disse Dean, tentando confortar mais a si mesmo do que ao irmão.

- Você viu o poder dela? Ela mata com os olhos! COM OS OLHOS! Ela vai matar alguém e logo, e vai se tornar mais uma das coisas que nós caçamos e eu não vou estar pronto para matá-la, porque se eu fizer isso, serei um assassino também!

Sam havia perdido todo o controle e algumas das enfermeiras olharam feio para ele. Sua sorte era de que não havia outras pessoas na sala de espera, apenas algumas enfermeiras e os dois. Dean abaixou a cabeça e apertou os olhos, pensando.

- Vamos ter que ficar, então. E controlá-la.

- Não, nós não vamos ficar. Eu vou embora assim que ela acordar, só quero falar com ela e dizer que se ela matar alguém... Descubra tudo o que puder sobre ela, ligue para Ash ou sei lá. Preciso saber quem ela é – retrucou Sam e saiu da sala.

Tudo o que ele mais precisava agora era de cafeína para ficar acordado e não pirar por completo.

Dean ligou para Ash quando Sam voltou e lhe disse o nome inteiro da garota. Eve Crenshaw. Não havia muito sobre ela. Não tinha registros criminais e nem passagens pela polícia, mas seus pais morreram quando ela tinha quatro anos. Primeiro a mãe e uma semana depois, o pai. Tem três irmãos, mas todos foram separados dela. Foi adotada por Harry e Judy Brondi e viveu na casa dos pais adotivos até os dezoitos anos. Depois, foi para Gainesville para entrar na faculdade e conseguiu uma boa bolsa na Universidade da Flórida. A menina devia ser mesmo muito geek, pensou Dean. A Universidade da Florida era uma das melhores universidades do mundo. Dean não se surpreendeu muito quando Ash disse que ela estava fazendo Direito. Todas as crianças iguais a Sam eram realmente parecidas com ele.

Dean contou tudo isso a Sam; sobre a perda dos pais e a separação dos irmãos.

- Então a mãe dela não foi morta quando ela tinha seis meses de idade no berçário dela? - perguntou Sam.

- Não. Ela morreu quando Eve tinha quatro anos. Ou seja, ela sai do padrão.

- É. Mais uma que sai do padrão – disse Sam, respirando fundo.

Nessa mesma hora, ele viu peitos de longe. Saltando e correndo. Era Jasmine Heathers, correndo até a sala de espera. Ela caminhou até a recepcionista, que lhe respondeu com algumas palavras ríspidas. Jasmine voltou-se para as cadeiras ao lado de Dean e sentou-se em uma delas. Logo depois, apareceu Alex. Ele estava tranquilo e até exibia um olhar satisfeito, como se estivesse feliz por ter traído a namorado e ter pegado a melhor amiga gostosa dela.

- E aí? - ele perguntou, se sentando ao lado de Jasmine – Onde ela está?

- Não me disseram. Odeio enfermeiras. Primeiro me chamam aqui e depois me mandam sentar. Eu realmente não mereço isso – disse ela, com uma voz mimada e inconformada.

Sam se sentou em outra cadeira longe deles, pois estava com a cabeça a mil e tinha que se controlar para não dar um soco na cara deles. Como eles podiam ser tão ridículos e cruéis? Ah, se ele pudesse... Se ele pudesse, ele já teria matado os dois. Se ele tivesse o mesmo poder que Eve, esses dois já estariam mortos.

- Enfermeiras são gostosas, ponto final – disse Alex e encostou as costas na cadeira.

Suas mãos procuraram as coxas de Jasmine e quando acharam, ficaram acariciando-as. Jasmine não o olhou feio e não o proibiu, apenas mandou um sorriso malicioso para ele. Sam achou que aquele sorriso significava: “Se eu pudesse, já estaria sem a minha blusa”.

As horas passaram e ele teve que aguentar os amassos de Alex e Jasmine e as caretas de Dean, mas pelo menos isso o fez rir. Ao encontrar os olhos do irmão, viu que ele estava querendo sair do seu lugar, mas não podia porque os dois estavam escorados em cima dele. Sua expressão era nojo e confusão e isso fez Sam dar uma boa risada, debochando do irmão.

O médico apareceu e se dirigiu apenas para Sam, mandando um rápido olhar constrangido para o casal entrosado do outro lado da sala de espera. O doutor Salverin se inclinou e cochichou para Sam:

- Ela já acordou e quer falar com você.

- Ela está bem? - perguntou Sam, surpreso.

- Sim, não foi nada muito grave. Algumas costelas e a perna quebradas, uma perfuração no pulmão e uma contusão cerebral. Ela vai ficar bem. Quer que eu chame aqueles dois para ir com você? - o médico apontou Jasmine e Alex.

Sam negou com a cabeça e deu um sinal para Dean, dizendo que já voltava. Ele acompanhou o doutor Salverin por um longo corredor branco; enquanto andava até o quarto de Eve, ele continuava a pensar no que lhe diria. Bocejou e seus olhos se encheram de lágrimas, mas secou-as. Ele não podia simplesmente lhe dizer que ela era uma assassina e que, se tentasse algo contra alguém, ele saberia e a caçaria até matá-la. Ele não queria dizer isso, por que: 1) não queria matá-la; 2) não queria acreditar que podia realmente se tornar um assassino, mesmo que estivesse matando outro assassino e 3) não sabia como explicar que ele via as coisas e que ele saberia se ela machucasse alguém.

O médico parou abruptamente na porta de um quarto e estendeu um dos braços, convidando Sam a entrar. Ele entrou e a porta atrás de si foi fechada. Eve estava sozinha, não havia nenhuma enfermeira no momento e era a hora mais certa para contar algo como aquilo. Talvez não a mais certa, mas era a única hora para Sam.

- Oi – ela disse, com a voz muito fraca – Sente-se aqui.

Ela indicou uma poltrona bege ao seu lado. Sam se sentou lá e abaixou a cabeça, se sentindo mais confuso do que podia.

- Sam, me desculpe por gritar com você. Eu realmente não queria, eu estava um pouco nervosa aquela hora – ela pausou e sorriu, mas tímidas lágrimas desceram de seus olhos porque Sam sabia que ela não estava apenas nervosa naquela hora – O doutor Salverin me disse que você ligou para a ambulância e se apresentou como meu namorado.

Ela deu uma risada fraca que pareceu envolver tudo ao redor de Sam.