Vidas Em Guerra

Treinamento e Chegada


A saída deles da vila foi o que poderia se chamar de tranquila. Não houveram despedidas, mas todos os moradores saíram para vê-los passar. Alguns se impressionavam com os dois, outros pareciam reprovar o que eles estavam fazendo. E, ao vê-los sumir no horizonte todos tiveram a certeza de que nenhum dos dois voltaria a por os pés ali. Mas, aqueles que conseguiram ver a expressão no rosto de Sarah, souberam que ela já não era a garotinha que eles haviam visto crescer. Ela era agora uma mulher que iria contra o senso comum do mundo deles para preservar os próprios ideais. A Sarah que saiu daquela pequena vila já era a guerreira que não permitiria que nada entrasse em seu caminho. A garotinha que vivia a pregar peças nas pessoas do vilarejo já não existia mais.

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Seu treinamento começou de imediato, como Sarah esperava. Os dois primeiros dias foram de adaptação para ela e para o pai. A primeira metade da viagem seria feita a pé e Eliot pretendia fazê-la se adaptar ao ritmo de caminhada que ele queria seguir. O que o surpreendeu foi que, já no segundo dia, a filha não precisava se esforçar para acompanhá-lo. As primeiras lições foram mais como conselhos; como racionar os suprimentos, por exemplo (ele dizia que um bom soldado nunca ficava sem comida). No terceiro dia eles não pararam para as refeições, comendo enquanto caminhavam. Ao final da primeira semana Sarah só tinha permissão para comer antes de começarem a andar e depois de pararem para dormir.

Eliot calculava que levariam quase três meses para chegar, assim, na terceira semana ele iniciou os treinos reais. Acordava a filha muito antes do sol nascer e mandava-a fazer flexões e abdominais até que o sol aparecesse no horizonte, depois deixava-a comer enquanto recomeçavam a caminhada. Quando ela terminava a refeição ele mandava que ela voltasse até determinado ponto da estrada e o alcançasse correndo. Isso se repetia até o meio dia quando ele dava uma pausa rápida para ela comer, mas logo voltavam à mesma rotina de corridas. A cada dia ele a fazia correr mais e carregar mais peso, até que no final da quarta semana ela corria carregando a bagagem dos dois.

Foi quando eles chegaram a primeira grande cidade onde fizeram a primeira parada já que antes vinham evitando as vilas que encontravam. Mas, aquela altura, eles já precisavam de mantimentos e Sarah de uma bota descente. A primeira parada dos dois foi o mercado (que na verdade era um conjunto de ruas cheias de lojas e vendedores ambulantes com suas carroças). Por sorte, logo depois de comprarem a comida encontraram um sapateiro em uma das carroças. Com ele Sarah encontrou uma nova e boa bota de couro preto e macio e de cano longo (ia até quatro dedos antes de seu joelho). Eliot então decidiu que eles tinham direito a uma cama e um prato de comida quente. Assim, naquela noite, se hospedaram em uma pequena estalagem ao lado de uma casa de banhos onde os dois tiveram seu primeiro banho de verdade em quasee um mês; apesar de Sarah preferir as águas geladas de um rio a quente que teve de enfrentar em uma das tinas reservadas as mulheres.

Para dormir os dois dividiram um quarto pequeno apenas com duas camas estreitas. Quando ela tirou as botas velhas (as novas ainda estavam na bolsa desde que ela as comprará) e Eliot pode vero estado dos pés dela ele se espantou por não tê-la ouvido se queixar uma única vez. Não havia um único centímetro dos pés dela que não estivessem em carne viva ou coberto por bolhas e calos e Sarah agia como se não sentisse nada, mesmo ao limpar os ferimentos antes de se deitar. Mas isso era apenas o que Eliot podia ver. Sarah tinha ainda manchas roxas nas costar já que por causa da exaustão ela nunca olhava se haviam pedras ou galhos onde se deitava para dormir. Suas pernas e costas pareciam competir para ver qual delas doía mais, e isso começou quando ela fazia as corridas, agora todo o resto de seu corpo parecia ter decidido entrar na competição também. Não havia um único músculo ou articulação no corpo dela que não doesse.

Na manhã seguinte o pai não exigiu que ela fizesse os exercícios matinais, não por pena dos ferimentos que havia visto, mas porque queria sair logo da cidade. No dia seguinte, depois da sessão de exercícios (que ele aumentava em tempo e quantidade todos os dias), Eliot entregou a ela uma espada que havia comprado quando se separaram para ir à casa de banhos e que tinha guardado em suas coisas para que ela não visse. Era uma espada velha e sem corte (mesmo que tentasse afiá-la), mas que seria útil para o propósito de treiná-la. Dalí em diante, todos os dias, depois dela terminar os exercícios (que ele começou a chamar de aquecimento), Eliot ensinava a ela técnicas e táticas com a espada, desde o posicionamento correto até quanta força era necessária em cada golpe. Você pode até estar pensando que não era assim tão ruim, mas tente se imaginar seguindo a rotina dela em pleno inverno. Levantar antes do sol nascer, fazer o aquecimento e treinar com a espada sem luvas, fora que eles nunca paravam para dormir nas cidades e sim perto da estrada e dentro da floresta, muitas vezes sob neve. Agora acho que você pode entender um pouco do que ela passou.

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Mas não era apenas o corpo de Sarah que Eliot estava treinando, ele treinava a mente dela também. No começo eram charadas e enigmas que a faziam entender melhor como formular e anular estratégias em ma batalha. Eliot sempre soube que a filha era muito inteligente, mas nem ele esperava que ela se mostrasse uma estrategista tão hábil. Não demorou muito e ele teve de começara fazer o que chamava de desafios. Cada um deles era uma situação pratica de confronto ou movimentação de tropas nas quais Sarah tinha de achar a melhor forma de chegar até um objetivo pré estabelecido pelo pai. No inicio ele desenhava esquemas e mapas no chão para ela memorizar, mas depois de um tempo ele passou a simplesmente descrever detalhadamente as situações enquanto ela fazia seus exercícios matinais. Sarah sempre tinha até a hora de dormir para apresentar a solução perfeita. No segundo mês Eliot já não tinha mais desafios bons o bastante para mantê-la ocupada por um dia inteiro. Quando paravam para almoçar ela lhe dava uma resposta e ele não mais conseguia achar uma única brecha nas soluções propostas por ela. E muitas foram às vezes em que ele passou toda a tarde pensando sem encontrar nenhum modo de tornar ineficaz a solução dela.

Você deve estar pensando que ela o surpreendeu muito nessa viagem e está certo. Entretanto houve algo que superou todos os outros feitos dela. Um fato que não só surpreendeu, mas também impressionou Eliot, principalmente porque aquilo deveria ser impossível para qualquer pessoa. Em menos de dois meses Sarah aprendeu e se aperfeiçoou no manejo de todas as armas conhecidas por Eliot (ele sempre parava em uma cidade, vendia a que ela tinha dominado e comprava a próxima arma que iria ensiná-la a usar), essa velocidade de aprendizado era mais do que incrível. Ele tinha precisado de 10 anos para chegar ao nível que ela atingiu em dois meses. É claro que ele não podia imaginar o quanto ela tinha aprendido sozinha nos anos em que ela e John “brincavam” de treinar e duelar. É claro que isso também não seria muito significativo no fato dela ter, em dois meses, se tornado capaz de lutar de igual para igual com ele em termos de técnica de manejo de uma espada; o que foi exatamente o que Sarah fez. Já quanto ao treino físico que ele propôs a ela este se mostrou simples e leve demais para ela.

Foi assim que, 89 dias depois de saírem do vilarejo eles chegaram à cidade que circundava o enorme castelo que era a Academia. Com Sarah sendo capaz de manejar qualquer arma e tendo força física suficiente para enfrentar a maioria dos homens que eram alunos de lá. E não se esqueçam também de um Eliot preocupado sobre como faria o velho amigo concordar com a loucura que a filha queria fazer. Vamos adiantar um pouco e partir do momento em que o nome Eliot Hawkey e o titulo de Capitão que ele apresentou no portão principal foram o suficiente para que os guardas fossem correndo informar ao Diretor-Comandante da presença dos dois. De modo que não demorou muito e eles já eram conduzidos até a porta da sala do Diretor.