Vida Difícil

Capítulo 21-Não acredito!


Capítulo 21

Falar com Luís era uma das coisas mais perturbadoras para mim nesse momento, ele é muito imprevisível, nunca sei como está seu humor. Fora que essa conversa traria a tona inúmeros sentimentos que pretendo guardar a sete chaves... Não é justo! Logo agora que eu estou conseguindo “viver”.

–Eu não quero...

–Mas não tem que querer! Vou falar e você terá que me ouvir.

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Estranho porque aquilo me soou como uma súplica e não uma grosseria.

–Já disse que vou descobrir por mim mesma... Não precisa gastar seu tempo aqui. Não tem mais o que fazer a não ser me seguir? –Ataquei.

–E quem disse que estou te seguindo? Não sou paparazi.

Todos riram menos eu, é obvio, e o Felipe.

Eu não contei, mas ele foi muito contra o meu namoro com o Luís. Acho que é ciúme besta... Felipe sempre dizia:

“Se eu pudesse dar uma surra no “idiota” toda vez que eu visse você chorar por culpa dele, ele estaria ferrado”.

E quando ele me via chorando:

“-Por favor, não me diz que é por causa daquele cara? Ele não te merece, você sabe disso, mana. Cadê ele? Me mostra, me fala, onde ele está...Por favor me aponta ele, é só você apontar... Aposto que depois de caírmos na porra ele fica desdentado.

E, então, eu sempre o acalmava dizendo que eu iria resolver tudo da melhor maneira possível e sem violência. Mas agora, eu daria tudo para ver ele quebrar-a-cara do Luís... Nesse instante seria ótimo!

–Então já fez a piadinha. Agora pode ir. Não precisamos da sua ajuda. –Falou Felipe sem emoção na voz. Frio, como eu nunca tinha ouvido antes.

–Meu papo não é contigo. É com ela. –Luís respondeu com seu tom sempre grosseiro.

Tratei de me virar, imagina o Lipe quebrando o Luís? Com a raiva que eu estou do “idiota” seria hilário!

A cena com que me deparei era de pura testosterona, Luís apontava pra mim e Felipe o olhava com cara de desprezo como se Luís fosse um cão sarnento.

–Não estou sendo arrogante com você. Quero que me respeite do mesmo modo que estou lhe respeitando... –Felipe estava tão compenetrado, tão sereno.

Felipe estava com um clipe de papel em uma das mãos ele o passava entre os dedos, com tanta destreza, sem deixa-lo cair. Era dificil parar de olhar, Felipe parecia estar em outra dimensão, bricando com uma arma letal...

Ve-lo agindo assim com tamanha frieza é novidade pra mim, o Felipe que eu conhecia sempre foi estourado e não pensava duas vezes antes de agir.

Olhei ao redor e vi Diana desesperada se descabelando com medo de que aquilo terminasse em briga. A coitada roía as unhas que não tinha. Já, para Milena parecia não fazer a mínima diferença. Ela simplesmente estava sentada lixando as unhas quando Luís chegou e assim permanece até agora.


–Desculpa, como te chamam mesmo... ”Lipe”? Como é que é? Estou esperando você me tirar daqui! –Debochou Luís enquanto tocava o ombro do Felipe se afastava. –Desistiu?

Odeio quando ele fala nesse tom de superioridade. Poxa pra que brigar com todo mundo? Ele não era assim quando estávamos juntos. Porque ele mudou tanto?

Ele era sexy quando reclamava de algo ou se sentia pressionando, eu adorava os sarcasmos dele, mas agora tudo tem um fundo de agressividade...

Minha mente girou e logo pensei na briga entre ele e o Nando. O sangue...

Pensando melhor não vai ser legal, eles vão sangrar e eu vou entrar em pânico... E se alguém tem que quebrar-a-cara do Luís esse alguém sou eu... Mesmo que o meu quebrar-a-cara seja diferente, vou arranhar a cara dele e uma marca eu juro que deixo.

–Mas é um "inseto" mesmo... Te recomendo sair daqui por bem ou por mal. – Felipe falou passando uma das mãos, em sua careca e com naturalidade e muita confiança apoiou e cruzou as pernas em cima de uma cadeira que estava em sua frente.

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Meu Deus. Que isso? Que sexy ele nunca falou assim antes. Acho que ele anda vendo muitos filmes de ação ultimamente.

Diana deve estar babando.

Mas o que está acontecendo nesse colégio, todo mundo está mudando de personalidade? Não reconheço o Luís, mais sentimental do que de costume. Não reconheço o Felipe, ele está mais confiante do que nunca... Não reconheço a Camilla, está mais chata do que o normal... Que estranho. Será que eu sou anormal?

Enquanto Felipe brincava com seu clipe, como se nada estivesse acontecendo, Luís faltava babar de tanta raiva.

-Do que você me chamou? -Falou ele partindo para a agressão física.

Mas logo foi pego por Pablo.

-Me solta.- Retrucou Luís.

-Calma cara relaxa. Quando você se acalmar eu solto numa boa.

-Solta "viado".

Pablo levantou a mão em sinal de submissão e se afastou.

–Você se referiu a mim? Inseto? Com quem você pensa que está falando? –Falou Luís indo em direção a Felipe.

- Felipe parecendo ignorar a aproximação do Luís. Olhou para o Pablo como se estivesse perguntando:

"Ele te ofendeu cara?"

Pablo retribuiu o olhar e sacudiu a cabeça negativamente como se estivesse respondendo.

"Não cara, ele não me ofendeu... Não vale a pena comprar minha briga."

Eu não conseguia parar de observar. Era tão hipnotizante ver o que estava acontecendo.

A atitude do Felipe está piorando a situação, e o pior é que ele sabe disso. Luís odeia se feito de idiota, e no momento ele parecia um...

Não vai prestar...

-Não me faça de idiota. Eu estou falando com você...

–Você está sendo tratado do jeito que merece... Como um completo "IDIOTA"... –Felipe levantou e a cadeira voou para trás com a pressão feita pelo movimento brusco.

Esse é o Felipe que conheço!

Diana desesperada tentava de todo jeito impedir a briga.

-Gente pelo amor de Deus, não é pra tanto... Isso aqui é uma biblioteca e não um ringue!

Mas ninguém a escutava. Falando em escutar...

A biblioteca é gigantesca e o pessoal nunca vem, pois ela é cheia de histórias. A maioria morre de medo, nós e os góticos fazemos parte da minoria.

Essa biblioteca não é comum, silenciosa até demais. Ela é uma sala a prova de som, porque, podíamos gritar da frente que lá de atrás não se ouvia e vice e versa o que é estranho, pois era para fazer eco e não faz. Nossa mesa fica no fim do saguão a direita onde se localizam os livros de suspense, no final do corredor. Escolhemos de propósito a mesa mais próxima do corredor do suspense porque ali é o local mais escondido da biblioteca, atrás da pilastra principal.

Muitas vezes ficamos presos na biblioteca na hora do almoço, ninguém nos via então nos trancavam sem querer. Nunca reclamamos, às vezes gostávamos... Fazíamos lanches e quando não tínhamos fome, brincávamos de verdade nua ou crua.

–Cara eu nem te conheço... Então abaixa seu tom de voz pra falar comigo! –Luís havia sussurrado no começo da frase como se estivesse pensando e depois começou a gritar a partir do “Então”.

Não deu tempo do Pablo segurar novamente. Ele havia mantido distância porque acreditava que o Felipe iria manter a calma como parecia.

A mesa que estava na diagonal entre os dois não foi barreira física forte o suficiente para impedir que eles colidissem. Felipe com as mãos fechadas em punho foi com a intenção de acertar o rosto de Luís que desviou e acertou um cruzado em cheio o rosto de Felipe que bateu contra a mesa e caiu no chão.

Pensei que havia terminado com a derrota do Lipe, mas do nada o maninho fez tipo uma dança break, acertando as pernas do Luís que girou e caiu por cima de uma cadeira antes de bater no chão sendo imediatamente imobilizado pelas costas.

Pablo não sabia o que fazer... Tentou, no meio do emaranhado de pontapés, desenroscar os dois, mas a força que Felipe estava colocando era gigantesca, eu conseguia ver as veias, saltando, de seu braço!

Olhei ao redor e percebi que Milena havia mudado sua postura. Estava de pé ao lado de Diana, torcendo para que nada acontecesse com Pablo que tentava separar os dois.

–Agora imbecil... Pede desculpas... Vai, pede, tô esperando! –A voz do Lipe, entrecortada, por causa do esforço que estava fazendo pra manter o Luís ali, me fez ter novos fleches da briga entre o Luís e o Fernando.

–Solta cara. Como ele vai falar se não consegue respirar? –Pablo, assim como eu, estava ficando preocupado porque o Luís começou a mudar de cor...

–Felipe, solta. –Gritei.

–Vocês estão defendendo esse idiota? Eu aqui tentando fazer com que ele peça desculpas por ter humilhado vocês, e vocês ai pedindo pra eu soltar?

–Não, não é isso... Eu juro que agradeço pelo esforço! Mas é que ele desmaiou. Pelo amor de Deus para de apertar aí!

–Ai caramba... Mas é fraco mesmo! Não aguenta nem um estrangulamento.

Deixei passar. Aposto que nem ele aguentaria tanto tempo.

Felipe o soltou, Pablo pegou Luís nos braços e o colocou em cima da mesa. Parece que Pablo andou malhando...

E logo foi abordado por Milena.

-Você se machucou? -Perguntou ela.

-Só foi um arranhão, nada de mais.

–Ei, psiu... Acorda pelo Amor de Deus... Não me assusta assim! -Falei dando tapinhas em seu rosto.

–Não vai nem perguntar como eu estou né, Fafá? –Reclamou Felipe, que estava sendo amparado por Diana.

Senti que Diana ficou com ciúmes, mas a culpa não era minha. Ou era?

–Desculpa, mas é que o estado dele é pior. Poxa... Não seja incompreensível. Aí a Diana, do seu lado! Diana, você iria à enfermaria pedir algodão à Márcia? Diz que é pra fazer as unhas que ela não vai reclamar. Eu tenho acetona aqui, acho que não tem problema se passarmos acetona, podemos ao menos desinfetar os ferimentos deles.

–Pode deixar. Ei... – Ela chamou Felipe. –Espera que vou cuidar direitinho de você!

Que saidinha, rolou até uma piscada no final.

Felipe riu.

–Tudo bem Di, eu espero!- Piscou ele em retribuição.

Ela riu e saiu apressada pelo corredor.

Pelo menos a briga rendeu algo de bom! Acho que finalmente o maninho percebeu que ela é a fim dele, Aleluia!

O momento descontraído foi logo interrompido...

–Foi... O Fernando... Eu vi... Foi ele. –Balbuciou Luís.

–Quê? O que você disse? Gente ele está delirando... Temos que levá-lo para a enfermaria.

–Não, eu não estou delirando. É sério o assunto. Foi o Fernando... –Luis falava tão baixo que estava me incomodando ter que colar minha orelha em sua boca.

–Hei, isso é sério. Para de palhaçada... Se você estiver mentindo eu mesma parto sua cara...

–Flavia o que foi? –Perguntou Pablo.

–Ele acabou de dizer que foi o Fernando quem roubou a sua roupa no vestiário masculino... Levei as mãos à cabeça, minha incredulidade era tamanha que pensei alto.

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– Não acredito não pode ser... Ele não é assim.

–Calma senta aí e relaxa, quer uma água? Eu busco. –Ofereceu Milena.

–Quero, quero e muito. –Falei sentando após perder o chão.

–Cara será que foi o Fernando? Eu até gostava do cara... –Falou Felipe, mais para si do que para alguém ali da sala.

–Se tiver sido ele... E se você estiver mentindo... Eu nem sei o que faço! É sério Luís nunca mais irei falar com você. Ai, cara, que merda... -Meus olhos marejaram.

Todos se calaram... Eu não conseguia ouvir nada que não fosse meus pensamentos, o que era assustador. Pensar nunca foi o meu bom... Geralmente pensando, eu me dava altos “foras”, me reprimia, ou como agora, pensava negativamente.

Meia hora depois...

Milena já havia buscado água para mim e agora se encontrava ao lado de Pablo, mas até agora nada de Diana.

Felipe estava sentado de frente para Luís e o encarava ameaçadoramente. Luís estava com as mãos para trás, e passava por um interrogatório pesado, sem direito algum de reclamar dos métodos usados por nós.

-Que horas isso ocorreu? –Perguntou Felipe.

-Não sei cara, eu não estava com relógio. Mas era a educação física do último ano.

-Viu gente? Não pode ter sido ele... Educação física do TERCEIRO ANO. –Falei aliviada.

-Não, Flávia nesse dia eu fiz a prova de educação física junto com os alunos do terceiro ano. Era a minha segunda chamada.- Indagou Pablo.

-Tá, mas o Fernando é do SEGUNDO ANO. –Reforcei minha tese.

-É, e nesse horário eles estariam tendo aula de Português. - Completou Milena.

-Você esqueceu que a nova professora está de licença médica? Ela está com dengue. A turma dele estava em tempo vago...

-E como você sabe disso? Tem espionado o Fernando, Luís? –O interrompi.

Luís não me deu atenção e continuou como se ninguém o tivesse interrompido.

-Ficar na detenção tem seu lado bom. Eu ouvi uma conversa entre a diretora, o vice-diretor e o coordenador, que mencionava que a turma do Fernando não podia ficar sem professor durante esses dias, porque nosso colégio vai participar de uma olimpíada aí... Para resolver o problema ela pediu que os professores se candidatassem a cobrir a turma da professora, a 2001. Mas até agora ninguém se prontificou. Então por tempo indeterminado a turma do Fernando está com o tempo, antes do intervalo, livre.

Um balde d’água caiu sobre minha cabeça.

-Será?-Pensei alto.

-Não acredita em mim? -Perguntou Luis.

-Ultimamente sua palavra, pra mim, é lixo.

Todos ficaram em silêncio.

Quando eu finalmente consegui dizer o que queria que ele ouvisse, me senti mal. Vi o rosto dele mudar de expressão, como nunca antes tinha visto, pelo menos não daquele jeito. Foram os segundos mais longos de percepção que eu já tive. Vi cada linha de expressão mover-se para baixo, passando do sarcasmo para o nada em apenas uma piscada. Não me lembro de tê-lo visto tão chateado daquele jeito.

Um nó subiu por minha garganta e logo tratei de beber a água. Nada de choro.

O silêncio foi quebrado por Diana que chegava esbaforida.

-Gente desculpa pela demora, mas consegui todo que precisávamos.

Ela abriu a sacola que carregava e lá havia gazes, mertiolate, algodão, cotonetes, água oxigenada e uma pomada.

-Como conseguiu tudo isso? -Perguntei.

-Roubei!

Sorrisos discretos apareceram em alguns rostos. Diana não é de fazer esses tipos de coisas, se fosse a Milena... Diana é tímida e reservada, foi um avanço e tanto!

Ignorando o fato do Felipe estar o interrogando o Luís, Diana entrou no meio dos dois e começou a limpar o sangue do nariz de Felipe, que reclamou, mas nada fez para impedi-la.

Peguei a água oxigenada e o algodão na sacola, me aproximei do Luís e pedi sua mão que estava pra trás.

-Você não precisa limpar lixo. –Luís olhava parao chão, me ignorando completamente.

Engoli a seco e respirei com o nó novamente voltando a minha garganta.

-Os lixos podem ser reciclados é só se deixarem separar. – Sussurrei entendendo a mão novamente para ele.

Por um instante ele hesitou, seu olhar encontrou o meu e ele estendeu a mão, até agora fechada atrás das costas, pra mim.

Agachei ao seu lado e comecei a limpar a palma de sua mão. O sangue estava começando a secar, dava para ver que não era um corte superficial. Havia sangrado bastante, como eu não vi antes?

-Onde você cortou a sua mão? Você sabe? –Perguntei.

-Foi quanto eu cai em cima da cadeira acabei me cortando em alguma coisa. Era por isso que eu estava tentando me soltar com apenas uma mão... Se eu estivesse com as duas você não conseguiria me apagar. –Provocou Luís.

-Hum, babaca. –Ironizou Felipe.

-É, mas não fui eu quem levou um soco na cara... –Riu Luís.

-E nem que eu quem desmaiou...

Os dois trocaram sorrisos amarelos e declararam:

-Empate.

Hum, meninos.

Vistoriei a cadeira procurando onde ele poderia ter cortado a mão e logo vi de ponta-cabeça um parafuso, com uns quatro centímetros de ponta sobrando, que estava enferrujado.

-Vamos pra enfermaria agora. –Falei o puxando pelo ombro.

-O que foi? Por quê? O sangue já secou. –Retrucou ele.

-Vamos, levanta.

-Não é nada grave se fosse teria sangrado muito mais... – Falou Pablo.

-É verdade, não deve ser nada grave. Mas o prego está enferrujado? –Perguntou Milena.

-Está. Levanta Luís, não custa nada ir ver isso.

-Não precisa. Eu não quero ser reciclado.

-Para de infantilidade, por favor? Eu apenas disse que o que você diz pra mim, não vale de nada, não sei pra que tanto drama. E se você não levantar, eu te reboco corredor afora. Consegue imaginar a cena?

-Tá... Mas não pense que eu esqueci. –Ele levantou estranho, meio desengonçado, como se estivesse escondendo algo.

-Que seja. Por que você tá assim? –Perguntei.

-Nada, é que...

-Se ajeita, vai andar assim? Corcunda?

Fui ajeita-lo e quando apalpei suas costas pude senti-la molhada.

-O que é isso? –Quando vi minha mão suja de sangue entrei em desespero.

Ele se virou e pudemos ver sua camisa ensopada de sangue.

Diana não se conteve, ficou horrorizada, e gritou. Eu não tinha fala.

Milena ficou espantada, mas continuou limpando o arranhão que Pablo ganhou, de brinde, tentado separar a briga.

Eu fiquei imóvel com a mão suja pra cima igual a uma mongoloide e minha visão ficou preenchida pelo vermelho que não acabava em sua blusa. Todo aquele vermelho me fez perder o raciocínio lógico, tive que sentar.

-Flávia, respira, não foi nada. Já parou de sangrar. Toma a água. Luís me segurava com um dos braços apertando meus ombros.

-Me deixa por uma gaze aí... E vamos para a enfermaria agora. –Recomendei ainda meio tonta.

-Tá, tudo bem você parece que está precisando mais do que eu.

***

-Como vamos sair daqui sem que o bibliotecário perceba? –Perguntou Diana.

-Ele está conversando com os góticos. Nem vai perceber... – Indagou Milena.

-Mas por precaução, Pablo, dá uma olhada lá pra gente? –Pedi.

-Tá. Se estiver tudo limpo eu faço o sinal. – Falou, ele, mostrando com uma das mãos um sinal de positivo.

Todos assentiram positivamente com a cabeça e Pablo partiu pelo corredor extenso. Ansiosa, pelo sinal, comecei a roer as unha. Depois de alguns segundos de expectativa, que pareceram uma eternidade, uma mão com o sinal combinado apareceu na última estante.

-Vamos. –Comandou Felipe.

Começamos andar rápido, mas em total silêncio. Fazíamos uma espécie de defesa de guerra chamada Tartaruga, que consiste, basicamente, em colocar homens com escudos em volta dos arqueiros impedindo que sejam alvos fáceis para as tropas adversárias. Luís era o arqueiro enquanto nós éramos o escudo.

Estávamos quase chegando, quando a mão de Pablo apareceu novamente mostrando a palma vidada para nós.

Paramos. O sinal que se seguiu nos deixou nervosos. Pablo balançava a mão mostrando que tínhamos de voltar.

-Por que voltar se já estamos tão perto da porta? –Perguntou Felipe.

Ao mesmo tempo Pablo voltava. Seu rosto estava branco, uma das mãos ele passava pelo pescoço como se fosse uma faca, um sinal que para nós significava abortar missão ou simplesmente “fodeu”.

Entramos no primeiro corredor transversal do lado esquerdo, com Pablo logo atrás.

-O que aconteceu? Por que nos mandou voltar? –Perguntei.

-Cara, vocês não vão acreditar. Quando eu fiz o sinal de positivo estava tudo bem, dava para vocês saírem pelos fundos, mas do nada a diretora apareceu com vários fotógrafos e eu não sabia o que fazer.

-Ok, vamos pensar em algo. - Indagou Felipe.

-Tudo bem eu tenho um plano, vocês... –Explicar era fácil o difícil era fazer. O importante é ter um plano, tratei de explicar o melhor possível.

Dois minutos depois...

- Vamos! - Puxou Pablo.

- Não se esqueça do sinal.

- Pode deixar, eu sou atriz isso pra mim, vai ser moleza. –Sorriu Diana.

Pablo, Diana, Felipe e Milena pegaram cada, um livro qualquer e foram pra o corredor principal em direção ao saguão da biblioteca. Eu e Luís saímos logo após para ficar na estante mais próxima da saída dos fundos.

Visto de fora, aposto que, parecia um filme policial. Quatro policiais dando cobertura a duas testemunhas. Acho que todos ali se sentiam em um filme de ação, o problema é que se desse errado e a diretora visse a quantidade de sague na camisa do Luís as consequências seriam reais e não fictícias. Uma suspensão para os briguentos e no mínimo uma advertência para os comparsas.

Diana era a mais encrencada. Roubar, aqui no Prado, é estritamente proibido. Já rolaram expulsões por roubo diversas vezes... Mas, se depender dos soldados a missão será cumprida!

Os quatro viraram a última estante, indo para a direita, enquanto eu e Luís entramos no último corredor a esquerda. Dali dava para ver pouco, mas o suficiente para entender o porque do Pablo ter nos mandado voltar.

Eram muitos fotógrafos, mais de dez, fiquei espantada.

-Gente, pra que tanta divulgação da escola? Aposto que vamos participar de um reality show! – Fiz a piada, ri sozinha, mas depois me arrependi. Luís adorava me zoar quando eu fazia piadinhas, sem graça, e que só eu ria.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Mas logo percebi que havia silêncio, nenhum deboche, nada. Olhei para trás e lá estava ele, quase no final da estante foleando um livro meio surrado.

-Luís! Vem logo, pra cá, garoto. Mais que coisa, estamos fazendo isso por você. – Sussurrei.

-Calma... Estou vendo se esse é o livro... – Ele parecia realmente interessado.

Olhei para cima, procurando a plaquinha que indicava a categoria dos livros do corredor, e me espantei quando li romance.

-Pronto, era esse mesmo. –Falou, sacudindo o livro para mim enquanto se aproximava e o enfiava nas calças. Tive que ri.

-Eu não sabia que você gostava de romance, você...

-Tem muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe, mas não precisa revirar lixo, né? Porque, se não, você vai acabar suja como ele e você não está a fim de se sujar, não é?!

Ser interrompida não foi legal, mas a resposta que recebi por uma observação que fiz, doeu no fundo do meu útero. Não respondi, apenas engoli o mesmo nó que insistia em aparecer nas piores horas. Ele não precisava ser tão grosso eu já expliquei o que quis dizer.

Tratei de prestar atenção no plano, era o melhor a ser feito.

De longe vi Diana começar seu show e Milena tumultuar ainda mais a situação. Diana fingiu estar passando mal e Milena começou a falar alto do nada. Um grito seria nossa deixa.

-Socorro! Pega ela no colo. –Gritou Milena.

-Essa é a senha. Vamos.

Puxei Luís pelo braço e saímos em disparado para a porta dos fundos. Virei a última estante e ainda puxando Luís, me joguei com tudo pra cima da porta, que não abriu, ela estava emperrada.

-Mais que droga, a porcaria da porta não abre. –Reclamei, ainda dando “ombradas”, digno de um filme policial.

-Mas é claro! Não é pra empurrar. –Luís puxou e a porta se abriu como num passe de mágica. A cara que ele fez era digna de um emoticom. Ri por dentro, mas não deixei transparecer.

Todas as saídas dos fundos, que são portas de incêndio, dão em escadas cujos corredores são mal iluminados. Geralmente o inspetor vivia subindo e descendo, aquelas escadas, em busca de casais que se aventuravam por ali.

Mal sabe ele, que temos um point da azaração...

Saímos deixando o emaranhado de pessoas para trás. Fiz questão de olhar pela última vez antes de fechar, completamente, a porta. Pude ver Diana sendo carregada por Felipe e Fleches e mais fleches iluminando-os. Não pude deixar de rir, Diana encenava muito bem.

-Que bom que conseguimos! –Suspirei.

-É. – Luís falou sem emoção.

-Vem cá, qual é o seu problema? Nada, ultimamente, parece estar bom pra você. Não consigo mais saber o que vai acontecer quando você está perto. Estou começando a ficar com medo de você...

Minhas palavras ecoaram pelas escadas, mas ele parecia não me ouvir. Era como se estivesse fugindo de minhas palavras ou não estivesse entendendo o que eu dizia.

O silêncio tomou conta do ambiente, um silêncio desesperador. Pelo menos para mim, que queria ouvir o Luís, que eu realmente conhecia. O que não levava desaforo para casa.

Ele poderia estar fazendo aquele joguinho idiota, novamente, mas eu o conheço. Tem algo de diferente em seu olhar, algo que eu não sei explicar.

-Está bem, não vou discutir com você. E... Pode deixar, não quero que fique com medo de mim. Não vou mais te encher com meus problemas.

Falou ele tirando a camisa que ainda estava molhada.

Tentei fingir que não estava vendo seus músculos bem definidos e que eles não me faziam perder a linha e continuei, meio desorientada, no assunto que ele havia puxado.

-Com seus problemas? Que problemas? E eles necessitam da minha preocupação? – Ironizei.

Luis parecia sentir dor, como se eu o estivesse machucando. Também me senti estranha, essa nova personalidade dele estava me incomodado, ele nunca havia se importado com que eu falava ou deixava de falar sobre ele. Por que essa mudança repentina? Será que ele está atuando?

-Ahhhhh!-Rosnou. - Você esta me irritando. Como se já não bastasse ter terminado comigo sem motivo algum e me ignorado sem retornar minhas ligações, agora você deu pra me... – ele parou, e sua expressão era de nojo, como se fosse vomitar só de pensar na palavra - me, humilhar? – Não ele não estava atuando.

Consegui sentir sua dor. Era como se doesse em mim.

Luis não conseguia se conter, parecia confuso, sacudia os braços e andava pra lá e pra cá.

-Ah, e os meus problemas?- Ironizou.

Novamente silêncio. Ele parou e olhando para baixo como se estivasse envergonhado, sussurrou:

-Os meus problemas são sentimentais. Eu ainda amo, mas não sou correspondido. Só isso... Eu amo uma pessoa que me chama de lixo. Sei que não sou santo, acho que até mereci esse codinome, mas não sabia que ouvir da sua boca seria tão doloroso pra mim. –Pude ver lágrimas cair de seus olhos.

-Luis... – Me surpreendi. O nó que tanto me perturbou aquela tarde novamente se formou e dessa vez subiu por minha garganta e parou em meus olhos. Senti minhas lágrimas, quentes, rolarem por minhas bochechas. Vê-lo daquele jeito era doloroso, ele deveria estar sofrendo mais do que eu, mas por que não tentar seguir em frente?

Como se ouvisse meus pensamentos ele respondeu:

-Eu tentei sair com outras garotas, mas nenhuma delas é você! Nenhuma delas me completou como você. – Sussurrou.

Ele se aproximou, colocou sua mão em meu rosto e ainda chorando encostou sua testa na minha. Aquela aproximação era boa de mais, me sentia protegida, mas eu tinha que me afastar. Eu fiz uma promessa, a mim mesma, e pretendo cumpri-la.

Cheguei pra trás, me afastando dele, e fiquei um pouco sem noção de espaço. Achei que estava mais perto da parede, e fui com tudo para me encostar, mas não estava. O baque foi forte e me fez perder o fôlego por alguns segundos.

Luís sorriu de lado e se aproximou ficando a um palmo de distância do meu rosto.

-Não precisa ficar nervosa, posso te garantir que estou mais nervoso do que você. Como eu disse não vou mais te encher com meus problemas em relação a você e também não quero que sinta pena de mim. Só quero um beijo... - Falou ele limpando as próprias lágrimas. - Esse vai ser nosso último beijo e pode parecer clichê, mas espero que seja o melhor de todos...

Virei o rosto, não era justo com Fernando, minhas lágrimas insistiam em descer.

Então ele beijou meu pescoço. Me arrepiei. Era involuntário, seu toque em meu corpo fez com que meus olhos revirassem de prazer.

- Juro, será o último. –Sussurrou em meu ouvido. As pontas de seus dedos puxaram meu rosto para si e me sentindo desprotegida, pois, minha armadura estava prestes a cair, cedi.

Seus lábios tocaram os meus e meu corpo se arrepiou novamente, ele estava intenso, como nunca antes esteve. Nossas línguas estavam em tão perfeito movimento que se fundiam em uma. Meus braços que evitavam contato, até o momento, pareciam possuídos de uma insaciável vontade de abraça-lo, de senti-lo. Minhas mãos queriam puxar seu cabelo, tocar seu rosto. Meu corpo o quer, mas minha mente ainda resiste.

A mão de Luís escorregou para minha nuca e puxou meu cabelo. Uma... Duas vezes. Na terceira, sua mão se abriu puxando maior quantidade. Ofeguei. Meus braços e mãos fizeram o desejado. Como um imã, posto em uma geladeira, eu sabia exatamente onde grudar.

O beijo entrou em outro nível, nos mordíamos, as carícias estavam mais vorazes. Por diversas vezes perdi o fôlego, não estava mais aguentando de desejo. Eu o queria dentro de mim.

Meus pensamentos eram distorcidos, só o presente importava.

Ainda o beijando, e arranhei seu abdômen, seu peito e suas costas.

Ouvir os gemidos dele me fazia delirar, eu queria mais, mais e mais.

O corpo dele no meu precionando contra a parede e fazendo movimentos lentos e fortes de baixo para cima o excitou, pude sentir, e me fez ter um orgasmo silencioso. O apertei, calorosamente, e ele sorriu aumentando o ritmo.

Abaixei minha mão direita e o masturbei por cima da calça e em retribuição ele abaixou a mão e fez o mesmo por cima da minha. Gemi por diversas vezes. Estávamos suando, o lugar além de pouco iluminado era mal arejado.

Desabotoei, e enfie a mão em sua calça o surpreendendo. Então ele subiu a mão e tocou meus seios, com firmeza.

Aquilo estava saindo do meu controle, aquela não era eu.

Luís era bom de cama, mas eu não sabia que era melhor ainda de corredor. Essa insanidade parecia natural, como se fizéssemos sempre, havia muita química entre nós.

Minha boca desejava a dele como um viajante do deserto deseja água. Quando parávamos de nos beijar, gemíamos.

Quanto mais eu aumentava a velocidade da punheta, mais Luís gemia e mais orgasmos eu tinha. Gozei lenta e calorosamente por diversas vezes.

Senti com prazer suas mãos apertarem minha bunda e seu corpo pressionar o meu com mais força contra a parede.

-Aaai... Ele gemeu, não de prazer, mas de dor e me fez cair na real.

O empurrei e tentando me recompor, ainda um pouco ofegante e tonta de prazer, falei:

-Vamos logo para a enfermaria. Sua mão está muito feia... Não se esquece de fechar a braguilha da calça.

Descendo o primeiro deck de degraus pude sentir novamente minhas pernas.

-Não Fla, volta aqui... Droga de mão!-Reclamou, ele, fechando a braguilha.

-Vamos logo... –Sussurrei.

***