Vestido Da Sorte

Porque fugir é sempre a melhor opção.


18. Porque fugir é sempre a melhor opção.

– Adoraríamos tê-la em nossa agência de modelos. – Escuto o homem de cabelos loiros e lisos grandes que estava no outro lado da mesa com um sorriso que demonstrava perfeitamente os seus dentes brancos e retos.

Jogo meu corpo para trás e deixo minhas costas baterem no encosto confortável enquanto olhava para Fred como se estivesse vendo um fantasma. E de certa forma eu estava. Frederick estava sentado na minha frente. Aquele Frederick. Aquele que havia me largado há meses atrás assim que soube que eu não faria mais parte da agência, aquele mesmo que eu não era tão apaixonada assim, mas que havia namorado por um bom tempo e aquele mesmo cujo nome eu tinha esquecido totalmente desde que havia voltado para Seek.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Você está dizendo que a agência vai me aceitar de volta? – Indago para me certificar, porque aquela proposta era tão absurda quanto o próprio Frederick estar na minha frente naquele momento.

– Sim, percebemos que perder você foi uma grande besteira. – Confirmou com o seu charme natural aproximando seu corpo para mais perto da mesa como se fosse contar um segredo para mim. – E eu percebi que foi um erro dispensá-la gatinha. – Sussurra soltando uma piscadela logo em seguida.

Reviro os olhos com aquilo. Eu pensei em respondê-lo, mas decidi que era mais fácil e menos doloroso ignora-lo. Eu já não queria nada com Frederick, ele era um passado do qual eu havia superado e seguido em frente, apesar dos apesares.

– E porque dessa proposta repentina? – Questiono, pela segunda vez.

Frederick bufou de inquietação e deixou seu corpo reto.

– Eu já expliquei Madalene, você faz uma grande falta para a agência, e não é exatamente justo despedir alguém por dois quilos. – Explica, pela segunda vez.

E eu continuava não acreditando naquela versão da história.

Eles não tiveram problemas para me despedir por dois quilos, muito menos me despejar de casa ou mandar minhas coisas para cá. Na verdade, eles só trouxeram desgraça para a minha vida. Desde o fato de eu não falar com meus pais até o fato de eu ter tido o trabalho de ir procurar uma nova renda para me sustentar. E então, quanto tudo parece estar se acertando, Frederick aparece na minha vida com essa proposta. Eu acho que fiz algo de errado para os céus, porque quando minha vida entra nos eixos, algo precisa acontecer.

– Ok Frederick, ok. – Afirmo impulsionando meu corpo para frente e apoiando meus braços na mesa do escritório enquanto olhava para ele. – Quando você irá precisar de minha resposta?

– Vou embora amanhã de noite. – Anuncia. – E espero que você vá comigo. – Diz erguendo seu corpo e ficando de pé. – Foi bom vê-la Mada, continua uma gata como sempre. – Elogia-me antes de andar até a porta e desaparecer por ela.

Fico naquela mesa posição por tempo suficiente dos meus braços começarem a doer por causa do peso do meu corpo e quando isso acontece, me jogo para trás batendo com tudo no estofado da cadeira e faço a mesma girar pensando no que devia fazer.

Eu queria voltar a ser modelo desde o dia em que fui despedida. Eu queria voltar a fazer parte daquele mundo, eu queria voltar para os palcos, eu queria ser Madalene Gegory, a modelo do Texas mais uma vez. Eu queria isso há tanto tempo que não tinha certeza do eu que queria agora.

– Eu notei um ser iluminado saindo da sua sala minutos atrás. – Escuto a voz de George e depois seus passos entrando na minha sala e a porta sendo fechada. Não viro minha cadeira para vê-lo, mas tinha consciência de que ele estava me olhando preocupado. – O que aconteceu Mada?

– Aquele era Frederick, o famoso Frederick! – Anuncio e viro minha cadeira para olha-lo e o encontro sentado na cadeira que minutos antes estava ocupado por Fred. – Ele veio me oferecer meu emprego de volta. – Conto sem rodeio para meu chefe, porque era mais fácil eu dizer de uma vez do que ficar quieta e deixa-lo descobrir o que estava acontecendo por outra pessoa, porque do jeito que meu ex-namorado era, a cidade toda saberia o que ele havia vindo fazer em Seek em um piscar de olhos.

– E você irá aceita-lo? – Perguntou em um tom sério e eu quase me arrependi de contar isso para George. Ele era meu chefe, mas ao mesmo tempo, havia se tornado um amigo nos últimos dias e eu me sentia na obrigação de conta-lo a verdade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Eu não sei. – Digo sinceramente. – É a vida que eu queria de volta, mas ao mesmo tempo, eu amo esse emprego e amo estar em Seek agora. – Concluo.

– Você precisa tomar uma decisão muito importante Madalene, você vai querer desistir de tudo o que você conseguiu até agora por algo que talvez não seja a mesma coisa que antes? – Questionou e eu fiquei sem saber o que responder. – Eu talvez não seja a pessoa mais indicada para te ajudar nessa situação, mas se isso fosse comigo, eu optaria por ficar em Seek do que voltar para o lugar onde já havia me chutado uma vez. – Opinou George levantando da cadeira e indo em direção a porta, mas antes de abri-la falou: – E não estou falando isso porque eu irei perder minha melhor funcionária, mas sim porque eu sei do que você passou até chegar aonde está. – E com essa frase saiu da minha sala me deixando sozinha com meus pensamentos 120km/h mais uma vez.

Tudo o que George havia dito fazia sentido. Tudo o que ele havia me dito era tão verdadeiro que eu quase acreditei que eu devia ficar naquela cidade e não ir para Nova Iorque. Mas olhando por outro lado, era tão mais fácil largar tudo e embarcar naquela aventura pela segunda vez, era tão mais fácil deixar meus pais para trás, deixar Noah com seus mistérios, era tão mais fácil pegar um avião e ir embora mesmo que eu fosse quebrar a cara pela segunda vez.

Porque fugir sempre é a melhor opção.

Passo o restante da tarde adiando a decisão e me concentrando em escrever a última página da revista da qual era a única que eu escrevia realmente, os meus demais trabalhos para a revista estavam ligados a arrumar tudo, achar preços e fazer tudo menos escrever. E normalmente a última página da revista eu contava casos da minha vida de modelo, tentava ajudar os leitores a encontrar suas respostas, enquanto eu mesma não achava as minhas próprias. Era tão irônico que chegava a machucar.

Quando acaba o meu expediente, junto minhas coisas e saiu do prédio ainda sem uma resposta. Haia ficado tentada a ligar para Sophia buscando ajuda, mas ela estava em sua lua de mel com Max e eu não estragaria o momento deles por algo como isso... afinal, eu não era mulher o bastante para decidir o que eu queria da vida? Eu já não tinha tanta certeza disso.

Minha intenção era andar até meu apartamento e fica deitada na minha cama dormindo para sempre. Porém, eu estava tão envolta em meus pensamentos que quando percebi estava na porta da casa de meus pais pronta para bater na porta.

Eu não sabia ao certo porque estava ali. Na verdade, eu nem queria estar ali. Mas era tão involuntário o fato de eu sempre parar na casa de meus pais nessas horas que meus pais já conheciam o caminho e eu os seguia sem questionar aonde estava indo.

Dou um passo para trás e analiso a porta pensando se devia tocar ou não. Eles deviam estar sentando na mesa para jantar, ou meu pai deveria estar contando para minha mãe como havia sido chato o seu trabalho enquanto ela cozinhava e Cris corria pela casa com seus brinquedos. Eles estavam levando uma vida do qual eu não participava mais e isso me quebrava mais do que eu admitiria.

E tudo por causa do emprego que estava sendo oferecido a mim novamente. Era como se eu estivesse tendo uma segunda chance para consertar o que havia quebrado. O problema era que eu não tinha certeza se devia conserta-lo dessa maneira, se devia me distanciar novamente dos meus pais, de Sophia e de Max, e até mesmo de Noah para agradar minha mãe e ter minha vida de volta.

Levo meu punho e estava pronta para bater a porta de meus pais quando escuto alguém falar atrás de mim, e eu acabo levando um susto que caiu no chão gelado e olho com raiva para a pessoa que havia me assustado e que estava rindo com aquilo.

– Você poderia parar de rir e me ajudar, não acha? – Resmungo apoiando minhas mãos no chão e erguendo meu corpo. – Idiota! – Xingo passando minha mão pela minha bunda e a sentindo molhada.

Era tudo o que eu precisava naquele momento.

– Desculpa Mada, mas achei que era melhor avisar que seus pais não estão em casa. – Noah informa tentando para de rir da minha situação. – Não achei que ia se assustar comigo.

– É claro que eu ia! Está anoitecendo e você é um vampiro, acha que eu não me assustaria? – Replico descendo os poucos degraus e o analisando.

Noah estava usando uma jaqueta preta do estilo que motoqueiros usavam, calças pretas e camiseta branca por baixo da jaqueta. Faltava apenas óculos escuros e uma moto que faz um barulho infernal e eu ia correr de Noah por pensar que ele não era gente boa.

– Eu sou o que? – Pergunta sem entender.

– Nada. – Respondo torcendo para ele esquecer aquilo. – Você sabe aonde meus foram? – Questiono abraçando meu próprio corpo e o olhando séria.

– Sarah disse algo sobre ir para um parque de diversões, disseram que iria voltar amanhã de manhã. – Noah informa e eu fico um pouco surpresa por ele sabe daquilo, mas então lembro que Sarah provavelmente vem pedindo informações de mim para Noah e que os dois eram "amigos", além de vizinhos. – Ela me deixou com a chave da casa, caso algo acontecesse.

– Ah, então, acho que amanhã irei aparecer. – Respondo Noah e passo por ele começando o caminho para a minha casa. – Obrigada por avisar. – Agradeço e faço um gesto de tchau para ele.

– Mada, espera. – Pede Noah e eu paro virando para ele com certa relutância.

Eu ainda estava magoada com o fato dele não ter aparecido no casamento da minha melhor amiga. Eu ainda estava irritada pelo fato de tudo nele ser um grande mistério, por toda vez que eu conseguia juntar uma peça com a outra, outras apareciam e eu não compreendia mais nada. Eu estava irritada com Noah. Simples!

– O que foi? – Pergunto tentando manter o meu tom de voz neutro.

– Hm, está a fim de sair para jantar?

– Não, porque vai que você não apareça no restaurante. – Resmungo.

Noah me olha e vejo seus olhos se arregalarem por um segundo, antes de voltarem ao seu tom neutro de novo. Eu odiava o fato dele sempre estar tão sereno, tão neutro, sem demonstrar suas emoções com tanta clareza quanto uma pessoa normal.

– Como?

– Você não apareceu no casamento de Sophia e Max, lembra?

– Sobre isso...

– Não quero ouvir suas desculpas, até mais. – Digo e começo a andar, mas Noah me segura pelo braço puxando meu corpo e fazendo com que choque com o seu corpo. Olho para os olhos de Noah pronto para xinga-lo, mas quando fui falar, Noah acabou me beijando e eu me senti entregue a ele naquele momento.

Cavalcanti sempre conseguia as mais diversas sensações em mim. Eu o odiava por ser um babaca total, por ser um enigma sem solução. Porém, parte de mim derretia apenas em vê-lo, o desejava ainda mais quando seus lábios estavam juntos aos meus. Por um segundo havia esquecido o mundo em minha volta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Mas tudo voltou como um turbilhão ao sentir seu toque deixando meu corpo.

– Me desculpa Madalene, eu devia ter ido, eu queria ir... mas não deu. – Respondeu suspirando perto o suficiente para eu sentir sua respiração.

– Porque não deu? – Indaguei mantendo o tom baixo enquanto o olhava nos olhos buscando respostas, mas eram sempre aqueles olhos que nada revelavam.

– Eu não posso explicar, apenas não deu para ir.

Bleh, resposta errada.

– E é por esse motivo que não irei sair hoje com você. – Respondo sentindo aquela irritação voltar e eu o empurro para longe.

– Gregory... – Escuto ele chamar, mas eu começo a andar para longe. – Espera, vamos conversar.

– Desculpa Cavalcanti, eu cansei dos seus mistérios. – Digo virando para trás e o vejo, porém continuo andando mesmo de costas tentando ao máximo afastar nossas distâncias. – E eu preciso ir arrumar as malas.

– Vai viajar? – Pergunta parando e me olhando sem entender.

– Eu estou indo embora.