Ventos que me Levam

Capítulo 6: Papai, eu e Gilan, e Abelard.


Nos cartões e flores em sua janela

Todos os seus amigos irão implorar pra que você fique

Às vezes começos não são tão simples

Às vezes o adeus é o único jeito

E o sol irá se pôr pra você

O sol irá se pôr pra você

E a sombra do dia

Irá envolver o mundo em cinza

E o sol irá se pôr pra você

Echos - Shadow Of The Day

Na praça no meio das pessoas o menino dirigia-se de cabeça um tanto baixa, impedindo de alguém ver a sua face nervosa. Will não era alto, esgueirando-se como um guaxinim entre o mundo adulto. Ao conseguir sair do castelo com a maior naturalidade das suas travessuras; pular o muro, escalá-lo como uma lagartixa sem quebrar seus ossos. Tarefa boba. A feita nem conseguia ver o menino usando uma sacola nas costas, passando aqui e acolá com naturalidade ligeira. Passou de um ombro ao outro a sacola, pensando se seria suficiente o conteúdo; pão fresco de viagem, algumas frutas secas, geleia e carne seca e um pedaço de queijo. Tudo achado na dispensa, e no momento, ele mastigava um bolinho, "pegado emprestado" de cima da mesa. Ele riu imaginando, caso tivesse sido descoberto.

Deu de ombros.

Iria até à cabana de Halt.

Só não imaginava nessa sua astúcia, era que, havia mais um par de olhos o seguindo.

Cassandra.

Ela havia visto sair pela janela. Estranhou. Então, seguiu-o sem chamar atenção. Parecia uma aventura, sendo criada no castelo com guardas e damas de companhia, nunca tivera chance de andar livremente sem ter olhos, mesmos distantes, a observando como abutres. E lá estava ela, rindo como boba atrás de Will. Usava uma capa cinza dos criados que encontrou na fuga. E nada mais.

Enquanto ele passava como um gato pelos cantos, ela abria caminho pôr o outro lado, entrando atrás de uma comitiva de senhoras e crianças. Nãos sendo descoberta sendo a filha do Rei, buscou não fazer alarde, ela não poderia perdê-lo.

Will cujo coração saltitava, começou a andar mais rápido. Saindo triunfalmente das paredes que separava o seu mundo fantasioso para a realidade. Era agora andar até lá. E foi o que fez, parando deves em quando, com medo, até parar vendo uma mecha clara se esconder atrás de um tronco. A espinha gelou, voltou rapidamente mordendo o beiço, até gritar:

"Eu te vi!" Fungou " Atrás do pinheiro" a voz sumindo, esganiçada.

Cassandra suspirou descontente e chateada, saindo mostrando o rosto vermelho de vergonha.

"Me pegou, agora fale mais baixo Will, se não os guardas iram vim". Comentou olhando para seu ombro direito, conforme foi dizendo, achegou-se ofegante, descabela, suada e com os fios dos cabelos despenteados.

"Uh! Eu já tinha te visto sua nariguda!" Berrou.

Não foi o seu melhor insulto. Mas era Cassandra que estava ali, não qualquer outro, como Horace.

"Não sou, e eu falei, para de gritar". Ela apontou para a floresta "Pode ter alguém nos espreitando".

"Sim, você, claro!". Disse bufando. Já estava fazendo algo errado, saindo sozinho, ainda por cima, ela estava o deixando cada vez mais com a corda no pescoço. Qualquer coisa que tentasse dizer, provavelmente Cassandra rebateria, mesmo com pouca idade, ela era muito inteligente. Ficariam até o anoitecer.

Do dia seguinte.

"Não fala para o seu pai, mas eu irei para a cabana de Halt". Convincente das suas escolhas ele se estufou sério.

"E fazer o que lá, ele..."

"Eu sei, meu pai não está lá" Fez uma careta emburrada, "Quer vim, ou não?"

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A trilha do castelo até à residência do arqueiro pareceu ser do outro lado do mundo. Entretanto, não passava de algumas milhas, ela olhava para o seu amigo, Will parecia mil vezes determinado a ver seu pai, nem que isso tivesse que caminhar para uma cabana suja e empoeirada. Ela pôde ver que um pouco do arco saía da pouca bagagem das suas costas. Will sentia que era observado, em alguns meses faria onze anos, podia se virar por alguns dias sozinho, conseguia até caçar coelhos com o arco que tinha. Depois que retomou o treinamento solitário, ele guardou uma esperança consigo, como animação, se tornaria o melhor arqueiro de Araluen.

Tão bom quanto Halt.

Ouviu um suspiro vindo de Cassandra, ela apontava para uma construção de madeira; com um cercado, e um estábulo, muitas árvores em seu redor, uma varanda. Eram boas lembranças. Eles haviam chegado até ali. Will correu eufórico com a esperança de encontrá-lo sentado no sofá com os pés para cima, como em seus sonhos, ou até mesmo Gilan, rindo de alguma coisa, e Abelard relinchando trotando até si.

Seus amigos

Sua família.

Mas ao atravessar o solo conhecido, uma flecha de tristeza passou como uma furação. Estava escuro e frio, a lareira não queimava reluzente e cheirosa, nem, o calor confortante o esquentou. Parado, Will sentiu as lágrimas rolar pelo rosto, e, um soluço, nascer no fundo da garganta.

A menina não sabia o que fazer na hora, Will era uma imagem desolada pintada nas suas vistas, ele era um soldadinho derrotado pela vida. Ela sabia que nada que fizesse poderia trazer ele novamente. Como duas crianças de pouca idade poderia mudar uma situação amarga?

Ela não sabia.

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" Aqui parece ser legal". Ela buscou alegrá-lo, "Que tal limparmos?" Perguntou subindo o degrau. "Não podemos viver assim". Entrou espirando com o pó formando quase um novo chão.

Will enxugou-se, virando para a amiga com os olhos abertos, a sobrancelha quase colada no topo da testa.

"Olhe, a sala está precisando de muita limpeza". Buscou entretê-lo com o falatório.

Ele um dia disse, que meninas falavam muitas coisas, mas que pouco entendia.

Não era hora para desesperar. Assim, ambos correram até o rio próximo, com baldes e algumas pedras um tanto velhas que encontraram de sabão, vassouras e começaram removendo à sujeira. Levando tudo para fora, deixando com que alguma luz preenchesse naquele lugar. As cortinas encostadas na parede, a porta aberta e um baú com antigas pinturas de criança, com datas, memórias.

Will estava ao lado da menina. Cassandra sentada nos joelhos, seu vestido sujo, assim como ele. A sala que cheirava melhor por causa do tempo, agora sorria para eles, alguns desenhos eram tão grotescos e sem quase forma, fazia-a rir, também não era uma pintora ou desenhista, mas Will era de fato péssimo.

Em sua mão segurava o que parecia ser um cavalo, ou pônei, em outros desenhos de arcos, flechas, flores e até panelas.

Até ver rostos.

Tortos, mas que muito lembravam um certo homem.

Halt.

Will olhava para um em específico desenho. Era de alguma festa

Papai, eu e Gilan, e Abelard.

Segurou com carinho para aquele.

"São lembranças, não são?" Ela sentou mais perto encostando em seu ombro. Rindo vendo as feições ali apresentadas.

Ele concordou. Sentindo seu corpo ficar mais tranquilo.

"Vamos fazer um segredo". A menina cochichou de cabeça baixa.

"O que quer? "

"Treinar, quero praticar o arco, mas papai não pode saber, eu não conto que viemos para cá, em troca, de aulas e de você nunca me deixar". Ela rebateu bastante séria.

Will não era o especialista no arco. Porém, tinha o que foi passado para sim, antes de Halt ir embora. Estava enferrujado, o com o tempo apenas vivendo no castelo pareceu que se tornou um garoto menos atlético. Ainda fazia suas peripécias, escalando arvores, e a cozinha de vez em quando.

O menino aceitou. Ambos levantaram, agora havia um segredo que os unia.