V E N U S - Origin

1.11 Casulo Metálico


Steve corria o perímetro designado de quarenta metros em solo seguidos de nado, em aproximadamente mais vinte metros. Seu corpo já não doía mais como há três semanas, seus pulmões não queimavam a ponto de parecer que iam explodir, sua visão já não ficava turva à medida que o exercício ia se intensificando e sua cabeça já estava livre das dores.

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Assim que retornou até onde Harriet estava, sentava sob as raízes de uma grande árvore, permitiu jogar-se aos seus pés. Pôde ouvir o "click" soar ao desligar do cronômetro.

Harriet logo tomou nota.

— Quanto tempo? – indagou aos sopros, recuperando o fôlego.

— Foram quarenta e dois minutos. – relevou – Um tempo exuberante para quem fazia o mesmo circuito em uma hora e meia.

— Não é o suficiente. – disse ameaçando levantar-se. Sendo inesperadamente impedido pela mão da jovem, que o empurrou de volta á grama.

— Sem exageros, Steve. – aconselhou analisando os dados coletados escritos na prancheta. – Tivemos um avanço de 89% ideologicamente comprovados desde que começamos com as vacinas e vitaminas.

— Podemos melhorar. – insistiu o garoto franzino.

— Sim, poderíamos. – ela sorriu com pesar.

— O governo pegou no seu pé novamente? – ele se ergueu, sentando-se próximo á jovem e apoiando suas costas no tronco da árvore. Haviam ficado consideravelmente próximos nas últimas semanas. Afinal, passavam cerca de dezoito horas juntos em seis dias por semana.

— Eles têm reclamado do atraso nas pesquisas. – admitiu abaixando a tonalidade de sua voz. Funcionários que passam por perto poderiam sequer cogitar nas finalidades dos estudos. – Garanti que o fortalecimento do seu sistema era de extrema importância e ainda ontem apresentei os progressos.

— E eles?

— Disseram que foi o suficiente. Este – apontou para o lago – é o seu ultimo teste.

— Como se soubessem do necessário para isto mais do que você. – o rapaz ironizou rindo anasalado. – Estou farto da forma como acatam suas imposições e decisões como se não fossem relevantes. Certamente têm contribuindo para a nação mais do que eles mesmos e ainda assim não lhe dão o devido reconhecimento.

— Eles escutam o Erskine, - Harriet sorriu de lado, dando de ombros em seguida – o Erskine me escuta e acaba dando no mesmo. Se eu afrontar esse pessoal eles podem me tirar da pesquisa, então, o que posso fazer?

— Fico abismado com a injustiça que existe do reconhecimento do trabalho de uma mulher nos dias de hoje. – rosnou ele – Foi por isso que saiu cantando pneus ontem?

— Aquilo? – murmurou desviando-se dos olhos azuis do rapaz. – Não exatamente.

— Foi seu irmão? – insistiu cuidadoso.

Harriet respirou fundo e encarou-o nos olhos. E como se eles fossem uma alavanca qual destravava seu resguarde e permitisse que ela pudesse falar de assuntos pessoais e até íntimos, revelou:

— Mais uma carta não entregue.

— Oh, Harrie – murmurou ele com pesar, passando seus braços pelo ombro da morena e trazendo-a para perto. – Eu sinto muito.

— Sei que ele não deve estar em território seguro e sigiloso, afinal, é guerra. Mas não ter noticia de James, não saber sequer se está vivo, me desestrutura de uma forma que eu mal consiga respirar. – admitiu controlando seu choro na garganta, guardando-o para quando estivesse sozinha e em seu quarto.

— Ele deve estar bem, não se preocupe. – o rapaz confortou-a. – Geralmente quando cartas não são entregues, é porque a localização da base está em constante mudança, talvez para despistar nazistas. – sugeriu – Se algo tivesse acontecido você já teria ciência. Noticias ruim chegam rápido.

— Tem razão. – concordou, afastando-se do peito do amigo e limpando as lagrimas que ameaçavam desabar. – Não tenho por que entrar em desespero ainda.

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— Sabe, tenho um amigo que é sargento de uma divisão em terras inimigas. Bucky. Não sei da sua localização atual. – ele comentou – Não tenho tido noticias dele, como noticias do resto do mundo daquele portão para fora. Mas algo, dentro de mim, me diz que ele está bem. Não sei dizer certamente o que é, mas essa coisa não me faz entrar em desespero porque no fundo eu sei que ele ainda está bem.

— Fé, Steve. – ela sorriu. – Religiosos dizem que é o que conforta um individuo quando o mesmo se vê perdido ou em meio ás trevas.

— Chame-o de como quiser. – ele deu de ombros sorrindo – Isso é o que você precisa ter. Fé nos outros como fé em si mesma.

Harriet sorriu e acariciou o braço do amigo levemente, antes de puxar de volta a prancheta e desconversar:

— Vou começar o questionário, atenção. – ele se endireitou – Repito que para a base concreta dos resultados preciso que seja o mais honesto possível. Tudo bem?

— Ora, têm mesmo que repetir isso toda vez que for me entrevistar? – ele riu. – Sei as perguntas de cor.

— Sim. – ela sorriu, lendo o papel. – Sentiu alguma dor no peito ao praticar as atividades propostas?

— Não.

— Certo, - disse anotando na prancheta - Você apresenta algum desequilíbrio devido à tontura e/ou perda momentânea da consciência?

— Não.

No dia seguinte o maquinário já estava disposto no laboratório, sendo ajustado por engenheiros em posições milimetricamente calculadas. Howard andava apressado de um lado ao outro, coordenando as ações e verificava a qualidade do trabalho. Assim como Harriet igualmente avaliava os materiais para primeiros socorros, identificadores de pressão, batimentos cardíacos e transfusão de sangue.

Ela reuniu o máximo de sangue compatível com o de Steve que pôde para qualquer emergência.

Erskine observava os convidados chegando à sala de vidro acima do laboratório, homens de ternos com pastas os quais tinham postura sofisticada e ar rude com suas medalhas e cargos expostos em suas faces.

Medíocres, era o que achava.

Mas precisava de seu investimento e aprovação, por esta razão concordara em fazer o experimento assistido. Portanto escolheram um laboratório escondido sob uma velha loja de antiguidades, cercada de agentes e protegida por soldados disfarçados.

Quando a porta dupla se abriu e Steve passou por ela pela primeira vez, todos pararam para observar por um instante. Este ficou levemente desconfortável, logo seguindo os passos de Peggy. Eles desceram as escadas e se aproximaram vagarosamente da equipe, que continuou com seu trabalho normalmente.

Ele seguiu na direção de Erskine e eles selaram o aperto de mãos.

— Bom dia, – disse o doutor com seu sotaque puxado, sendo rudemente interrompido por um flash de uma máquina que registrava o tão aguardado momento. – Por favor, agora não.

O fotógrafo, com o rosto avermelhado, se afastou dos dois.

Steve observou a máquina ao centro do salão. Parecia-se com um foguete metálico com lugar para uma pessoa. Observou as agulhas postas ao lado e, pela primeira vez, sentiu-se incerto da decisão que tomara tão veemente.

— Está pronto? – indagou o doutor, observando a hesitação do rapaz. Este só assentiu. – Ótimo. Tire a camisa, a gravata e o quepe.

Steve se adiantou e foi entregando seus pertences á uma enfermeira.

— Bom dia Steve, - cumprimentou Harriet, se aproximando do rapaz. – Peggy.

— Confiante, Harrie? – indagou a mulher.

— Muito! – afirmou a jovem sorrindo. – Não se preocupe, Steve. – se aproximou vagarosamente do rapaz para declarar – Estou com muita fé referente a isto.

— Me deixa mais tranquilo. – admitiu ele.

— Preciso medir sua pressão e batimentos antes de começarmos, tudo bem? – ela informou e ele assentiu.

A habilidosa jovem logo apresentou seus acessórios e prendeu-os ao rapaz.

— Tenho que monitorar constantemente, principalmente durante a transfusão. – alertou-o. Manuseou os dois objetos e declarou em seguida: – Tudo normal, pressão 11 por 7 e batimentos á 65 por minuto.

A enfermeira tomou nota enquanto Harriet digitava a informação nas máquinas.

— Podemos dar inicio ao projeto. – declarou Harriet para o irmão, que assentiu. – Boa sorte, Steve.

O rapaz abraçou a amiga rapidamente e subiu os degraus em direção ao foguete no centro da sala. Ele se deitou e acomodou-se, respirando fundo para não desistir naquele exato momento. Seu país precisava dele.

Erskine se aproximou do grande casulo metálico para falar com o rapaz.

— Confortável?

— É meio grande. – respondeu, causando risadas leves ao doutor. – Guardou um pouco de Schnnapps?

— Não tanto quanto devia. Desculpe.

— Não me diga que beberam ontem. – pronunciou-se Harriet, fazendo falsa pose de desaprovação.

— Tenho outra garrafa para mais tarde, - o doutor respondeu – pode se juntar á nós, doutora. Se quiser.

Harriet sorriu.

— Senhor Stark, como estão os níveis? – indagou Erskine.

— Em 100%.

— Ótimo!

— A energia do Brooklyn vai cair, mas estamos mais prontos do que nunca. – respondeu o rapaz com excitação soltando faíscas de seus olhos.

— Peggy, - Harriet chamou-lhe a atenção, que estava sob o rapaz no casulo metálico. – não ficaria mais confortável na cabine?

— Sim, claro. – disse constrangida pela obsessão referente à preocupação com o soldado, que Harriet não passou despercebida. – Até mais.

Erskine chamou a atenção dos homens na cabine, quais distraídos jogavam conversa fora e se endireitou. Todos se posicionaram e esperaram pelo anuncio do doutor, que se iniciou assim que o mesmo pegou o microfone.

— Me ouvem? Está ligado? – certificando-se de que sim, prosseguiu: - Senhoras e senhores, hoje não damos mais um passo em direção á aniquilação, mas o primeiro passo a caminho da paz. Começaremos com uma série de microinjeções nos principais grupos musculares.

Harriet, junto de outros médicos, ajeitaram o dispositivo de injeções assim como os recipientes com o soro de líquido de cor azulada.

— A infusão do soro causará alteração celular imediata. E para estimular o crescimento, o individuo será saturado de raios-vita.

Harriet pegou o recipiente de penicilina e sorriu á Steve, indicando a injeção enquanto pedia sua permissão. Que foi concedida com um aceno.

Erskine se aproximou quando o rapaz fechara os olhos.

— Não foi tão ruim. – admitiu depois que Harriet se afastou.

— Isso foi penicilina. – informou o doutor com um sorriso de pesar. – Infusão de soro. Iniciando em 5, - todos ao redor do casulo prenderam a respiração. – 4, – Harriet tornou a checar os indicadores cardíacos. – 3, – Howard procurou o olhar da irmã, criando uma conexão de esperança quando encontrado. – 2, – as agulhas se posicionaram automaticamente próximo á pele clara dos braços do rapaz e Erskine pousou a mão ao seu ombro como forma de apoio. – 1.

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Harriet empurrou a alavanca de liberação do soro e assim foi feito. Quando já inserido, Erskine mirou Howard:

— Agora, Senhor Stark.

Dado o comando, Howard aciona os propulsores que fecham a capsula com Steve lá dentro. Em seguida engenheiros conectam os tubos de liberação da radiação.

O ambiente se torna cada vez mais tenso.

Erskine bate no casulo e chama a atenção de Steve: - Está me ouvindo?

— É tarde para ir ao banheiro, certo? – o rapaz brinca, com a voz abafada pelo casulo fechado.

Erskine ri e manda prosseguir com os procedimentos. Então Howard aciona a energia e todos na sala colocam os óculos protetores.

— 10% - anuncia o rapaz.

— Ritmo cardíaco segue normal. – segue anunciando a jovem.

— 20%.

— Batimentos em 75 por minuto.

— 30%.

— Pressão 13 por 85.

— Em 40%.

— Batimentos em 86 por minuto.

— 50%.

— Ainda em 13 por 85.

— 60%.

— Howard ele vai entrar em taquicardia! – Harriet esbravejou.

— 70%.

Um grito agoniante sai de dentro do casulo e todos se amedrontam.

— Steve! – Harriet grita, aproximando-se da caixa, agora espalhando luz por todo o ambiente.

— Steven! – esbraveja Erskine igualmente se aproximando.

— Pare tudo! – Peggy surgiu no alto da escadaria.

— Steven! – Erskine bateu no casulo.

— Pare tudo! – Peggy ordenou mais uma vez.

Harriet se aproximou dos tubos de radiação e ameaçou arrancá-lo.

— Desative o reator, Howard! Agora! – vociferou Harriet.

Antes que o rapaz desligasse e Harriet puxasse os tubos, com a voz forte e ofegante, Steve respondeu em agonia:

— Não!

Todos pararam em seus lugares.

— Não desligue! Eu consigo!

Assim Howard volta ao propulsor de energia e acelera-o hesitante.

— 80%...90%.

Harriet, ainda com as mãos sob o tubo de radiação, sente-se presa. Como se por elétrodos sua mão estivesse magnetizada ao tubo.

— 100% - vociferou Howard.

A este ponto, a luz cegava toda a sala e as máquinas começaram a entrar em curto circuito. Harriet tentava puxar as mãos, mas estas permaneciam presas ao tubo. Ela forçou-se com os pés para longe da máquina, contudo sua força era mínima.

Quando a máquina entrou em combustão e o tubo explodiu, a força jogou Harriet contra a parede do outro lado do laboratório.

Todas as máquinas se desligaram.

A energia do laboratório, assim como de todo o quarteirão, caiu.

Todos estavam tão ansiosos para ver o experimento sair do casulo em sua mutação cientifica que demoraram a perceber a garota desmaiada caída ao chão.