Utopia

Capítulo 30 - Estrela de Pedra


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– Não precisa se preocupar, alguém vai achar a gente – Biene disse tentando acalmar Bill – Tem uma igreja aqui do lado, além de que sempre tem um jardineiro que cuida do cemitério, se gritarmos de manhã, vão nos achar. Além de que Gustav e os outros vão perceber que sumimos.

– Mas se não nos acharem rápido, podemos morrer – Bill disse tentando ligar para Tom pelo celular – E essa droga está sem sinal!

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– Bill, você tem que se acalmar, vai ficar tudo bem. Vão achar nosso carro na frente do cemitério e vão nos procurar aqui.

Bill desistiu de ligar e se sentou no chão, perto da bancada, com as mãos na cabeça. Agora sim ele estava encrencado, estavam presos em um maldito mausoléu antigo com uma porta pesada que só se abre pelo lado de fora. Mas Biene estava certa, vão conseguir achá-los, ele só precisava se acalmar e ser um pouco paciente.

– Depois que sairmos, sempre que nos lembrarmos dessa noite vamos rir – Biene disse se sentando ao lado de Bill – E você vai ter mais uma história a contar, o vocalista do Tokio Hotel, preso em um mausoléu!

– Como consegue ser tão positiva? – Bill perguntou sorrindo levemente.

– Não faço ideia, só sei que se eu ficasse falando “Estamos ferrados, vamos morrer, ninguém vai nos achar” pioraria toda a situação e ficaríamos mais desesperados.

– É, mas não consigo ser tão positivo nesse momento.

– Pelo menos achamos o que procurávamos – Biene disse olhando para os objetos que estavam no mausoléu, com a lanterna ligada, tentando iluminar o máximo que podia – Quando sairmos daqui nós poderemos dar uma bela olhada, vamos descobrir tudo o que queremos.

– Espero que valha a pena...

– Vai valer – Biene disse desligando a luz da lanterna, fazendo o mausoléu ficar escuro, apenas contando com as réstias de luz que vinham por baixo da porta.

Ele sentiu a cabeça dela deitar em seu ombro e era capaz de escutar sua respiração calma e o coração batendo normalmente, em comparação ao dele que batia descompassadamente talvez por causa do medo ou por causa do contato. Por mais que seus batimentos denunciassem o que sentia, Bill conseguiu acalmar sua mente que parecia um turbilhão. De repente tudo estava focado na garota que estava ao seu lado, como se ela conseguisse transmitir o positivismo para ele.

As imagens de sua última visão ainda vinham à tona, por mais tristes e desesperadas que elas parecessem, havia uma esperança para William e Johanna. Talvez descobrir sobre o passado de ambos fosse uma maneira não só de libertá-los, como libertar a si mesmo. Bill passara tanto tempo pensando apenas em sua carreira, que estava se esquecendo da vida que sonhava quando criança, decididamente não era a mesma que tinha agora. Ter uma banda não era tão fácil, mas ele teria que aprender a conciliá-la com sua vida, com a vida que sempre quis ter. E pelo incrível que parecesse, uma parte da vida dele estava também naquele mausoléu.

Suas mãos que estavam apoiadas em seu colo decidiram abandonar este local e envolveram o corpo de Biene, enquanto seu rosto procurava pelo dela. Seus lábios acabaram encontrando o rosto dela, onde beijou suavemente sua maçã do rosto, fazendo-a tremer sob o contato. Quando finalmente ambos os lábios se encontraram, ambos sabiam que não poderiam parar, não agora quando se queriam há bastante tempo e tentaram lutar contra isso.

Sob o chão de pedra do mausoléu, na tapeçaria ricamente bordada, ambos os corpos foram despidos em flashes que se modificavam através dos olhos de Bill. Em um momento, estavam no mausoléu, no outro parecia que estavam sendo transportados para os colchões da mansão dos Baumgärtner, entre os lençóis de linhos com cheiro de lavanda.

Ela era sua Johanna, sempre fora, mas só agora percebia a influência que ela tinha sobre ele. Não importava em que época estavam, quem eles eram ou que sobrenomes traziam, aquele momento era deles, e os poucos minutos valeriam por anos ou até séculos. Tempo já não era mais um problema quando o presente está ao seu favor. Mãos entrelaçadas, lábios unidos e uma confusão de cachos loiros e negros, o presente e o passado nunca tiveram tão unidos para criar um futuro.

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Os peitos de ambos subiam e desciam, tentando obter a maior quantidade de oxigênio que podiam. O suor escorria por suas peles, aquecendo-os contra o frio europeu que atingia a cidadezinha naquela madrugada. Biene estava encostada no ombro de Bill, que a envolvia com seus braços, enquanto observavam o teto do mausoléu, com pequenas estrelas incrustadas na abóbada, algumas tão desgastadas que nem poderiam ser chamadas de estrelas.

Aos poucos só se ouvia o cricrilar dos grilos ao longe ou uma coruja piando de vez em quando, Biene dormia calmamente ao seu lado, mas Bill ainda ficou um bom tempo acordado. Ele se sentia vivo como não se sentia há muito tempo, sempre aguardando pelo momento exato que se apaixonaria por alguém, como nos filmes que sempre assistira. Mas aquilo não era mais um filme ou flashes da vida de um artista, era a realidade que atingira a porta com baques fortes. Pela primeira vez desde que chegara a Aach, ele dormiu de verdade, sem memórias o atormentando.

– Bill! Onde você está? – ouviam-se gritos, atravessando a porta do mausoléu.

– Sabine! Sabine!

– É o meu avô! – Biene despertou rapidamente com o susto, fazendo Bill logo em seguida também acordar não só com os gritos de Eleazar como também de Tom, Gustav e Georg.

Ambos começaram a recolher as roupas que estavam jogadas pela tapeçaria e correram em direção à porta, gritando e batendo o mais forte que podiam para chamar atenção dos que estavam do lado de fora. Quando pensaram que ninguém ia ouvi-los, uma sombra passou pelo vão embaixo da porta.

– Biene? Você está aí? – era a voz forte de Eleazar, logo em seguida ele tentou abrir a porta.

– Estamos trancados – Biene disse, pedindo a Bill a chave – Só dá para abrir pelo lado de fora. Vou passar a chave pelo vão.

Biene se abaixou e conseguiu passar a chave por baixo, Eleazar a pegou e em menos de alguns minutos a porta foi aberta. A luz forte fez que os dois apertassem os olhos, estavam tão acostumados com aquela escuridão, que o sol agredia suas pupilas.

– O que aconteceu, afinal? – Eleazar perguntou, olhando feio para Bill.

– Nós achamos a chave do mausoléu e decidimos dar uma olhada, acabamos nos trancando sem querer. Vovô, tudo que precisamos saber sobre os Baumgärtner está aqui!

– Espero que não aconteceu nada enquanto vocês dois estiveram aí – ele disse lançando um olhar carrancudo para Bill. Biene ficou totalmente vermelha, mas engoliu a vergonha rapidamente.

– Vô, não seja desagradável. Ajude-nos a pegar os livros e levarmos para o carro, não vejo à hora de estudá-los – Biene interveio, voltando para o mausoléu e pegando os livros que se encontravam espalhados pelo local – Vocês dois vão ficar parados aí? Ajudem-me!

Tom, Gustav e Georg chegaram logo em seguida, ao perceberem o rebuliço que estava acontecendo. Biene pegou não só os livros, como também levou a tapeçaria com a árvore genealógica da família Baumgärtner para o carro. O mausoléu praticamente ficou vazio, apenas guardando os restos de uma família que desaparecera com o tempo.

– Você e a Biene ficaram a noite inteira trancados aí? – Tom perguntou, olhando maliciosamente para Bill, enquanto carregava alguns livros empoeirados – O Gustav deve estar querendo te matar agora.

– Por quê? – Gustav perguntou, olhando bravo para Tom – Bill não faria nada mesmo. O problema é se você estivesse trancado com ela!

Bill não conseguiu conter o riso, mas tratou de parar antes que alguém desconfiasse de algo. Ele apenas olhou para Biene ao longe, extremamente animada, arrumando todos aqueles livros e objetos empoeirados. Como se ela tivesse sentido que alguém a observava, seu olhar encontrou o dele. Então ela sorriu de forma tão brilhante como o sol daquela manhã.