Harley abre os olhos devagar, a primeira coisa que vê é o teto do quarto, ela tateia a mão em seu lado mas só reconhece um espaço vazio.

Ela se senta segurando o lençol contra seu corpo, ao olhar ao redor ela percebe que o quarto está quase completamente destruído, tem vidros no chão por toda parte, móveis fora do lugar, quadros quebrados no chão, até mesmo a cabeceira da cama eles fizeram o favor de destruir.

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Ela sorri quando todas as imagens voltam a sua mente, ela ergue a mão para tocar os próprios lábios e sente uma forte dor nas costas. Ela se levanta da cama ainda enrolada no lençol e vê um banheiro no lado esquerdo, caminhando até ele, era um banheiro completamente gigante e tão bem decorado quanto o resto do lugar, ou pelo menos o resto do lugar costumava ser. Pelos menos esses mexicanos tem bom gosto — Ela pensa caminhando até um espelho.

Seu pescoço estava com marcas roxas que passavam pelo ombro e iam até suas costas, as articulações de seus braços e pernas estavam doloridos, como se tivesse estado em uma longa tarde de academia. Seus braços estavam com hematomas claros que mais tarde escureceriam, assim como suas costelas. Ela busca em suas próprias lembranças aqueles momento de dor, mas não consegue. Ela não se lembra quando ele a abraçou forte demais, a empurrou ou a bateu em alguma coisa, ela só se lembra que não importa o que ele fazia, seu corpo pedia por cada vez mais.

Agora que andava, Harley tinha mais noção da dor, mas não era algo tão desagradável. Desagradável era ter pensado que o Coringa estaria lá quando amanhecesse.

Ela recolhe seu vestido do chão e arregala o olho ao ver que ele estava rasgado em três partes diferentes, ela tenta se lembrar de como isso aconteceu, parecia que tinha sido atacada por um tigre.

— $4.700. Que ótimo, vou ter que ir embora com a roupa de bombeiros. — Ela revira os olhos

Ela ai até a parede de vidro e vê infinitos carros e pessoas em movimento, era como se os eventos da noite passada não tivesse afetado ninguém, ela fica surpresa do quanto conseguiram "abafar" o caso. Ela toca o vidro com uma mão, enquanto segurava o lençol com a outra.

— Temos que ir. — Uma voz grossa faz Harley se assustar e sorrir

Ela se vira feliz e o Coringa a olhava da porta com o olhar duro e cínico. O primeiro instinto de Harley foi se perguntar se tinha feito algo de errado, mas não via uma única lembrança amarga, apenas a feliz afirmação de que ela pertencia a ele. Há algo que deixou passar?

— Você está aborrecido? Eu não entendo, a noite passada foi...

— Nada que deva ser lembrado. — Ele responde frio e ríspido

Harley sente uma fincada no coração e sente seu maxilar travar, ela choraria e sabia disso. Ele não se mexeu.

— Eu pensei que... — Ela fala baixo devido ao nó estranho na garganta — Eu... nem posso lhe dizer, estou tão feliz

— Se valoriza minha sanidade, vista isso e desce. Agora! — Ele grita a última palavra e joga algumas roupas no chão, dando as costas

Harley vê ele fechando a porta e caí no chão com as mãos no rosto, chorando pelas palavras que ouviu. Estava tudo tão perfeito, por que ele teve de estragar tudo? A dor em seu corpo aumenta com o rápido movimento que ela fez, ela espera todas as lágrimas saírem antes de se levantar.

Ela tenta procurar mais uma vez o que fez de errado, o que terá acontecido para deixar o Coringa tão irritado? Ela recolhe as roupas do chão e começa a vestir, enquanto tentava inutilmente secar as lágrimas, era uma camisa social e uma calça preta, provavelmente de um dos homens que mataram, mas não havia nenhuma marca de bala ou sangue.

Do outro lado da parede, Coringa segurava a cabeça com as mãos e se apoiava na mesa. Foi uma das melhores noites de sua existência e a pessoa que lhe proporcionou isso estava chorando pois ele não queria encarar seu recaimento. Para ele era isso, uma recaída, uma falha que ele não cometeria de novo, mas após todos os momentos que ele a salvou até hoje, ele tem feito a mesma promessa.

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Ela sai com os olhos vermelhos e encara o palhaço que ainda estava curvado e não notou sua presença, o que era completamente estranho visto que ele sempre estava preparado para o que viesse. Harley anda com seus sapatos de saltos altos e faz barulho no piso, fazendo o palhaço olhar depressa para cima, ela passa direto por ele sem encara-lo e entra no elevador. É melhor assim — ele pensa em silêncio.

(...)

Ao chegar em casa, Harley sobe depressa para o quarto, ignorando qualquer ser humano que entrava em seu caminho. Ela tira "sua" roupa e tranca o banheiro, indo para a banheira onde suas lágrimas pareciam tão pequenas.

Após meia hora seu corpo parecia que tinha se esquecido de toda a leve dor que emanava de seus músculos e ela percebe que é hora de sair da água. Ela veste uma de suas roupas novas e deixa seu cabelo se secar naturalmente, aproveitando para descer e comer alguma coisa, ela pedia mentalmente para que o Coringa estivesse no escritório, não conseguia olhar em seu rosto no momento.

— Harley? — Ela escuta uma voz gritando ela, voz que ela conhecia muito bem

Coringa estava dentro do escritório e sua voz estava sendo abafada pela porta que estava fechada, Harley parou no lugar e instintivamente seu coração acelerou.

— Sim? — Ela grita um pouco mais baixo do que ele

A porta se abre e Harley dá um sobressalto para trás, Coringa estava sério e faz um sinal com a cabeça para que Harley entrasse, ele entra e Harley o segue. Ele enche um copo de whisky e se senta, Harley fica parada em frente sua mesa com o olhar baixo.

— Está precisando de alguma coisa? — Ela pergunta séria

— Eu não sei o que você está pensando, mas...

— Não. O senhor não sabe o que o senhor está pensando e eu não tenho respostas para você. — Harley diz firme, ela se surpreende com as próprias palavras mas não mais do que o palhaço

— O que disse? — Ele manda um olhar assassino a Harley, que recua para trás

Ele deposita seu copo na mesa e seus dentes trincam de raiva, Harley engole em seco.

— Eu... — Ela tenta formular uma frase

Coringa arremessa o copo na parede, que se quebra em vários pedaços. Harley se assusta e ele se levanta com raiva.

— Você precisa parar de ser tão tola. — Ele diz com fúria nos olhos indo em direção a ela, Harley se encolhe e tenta dar passos para trás

— Me desculpa. — Ela pede começando a tremer

Coringa levanta a mão e toca o rosto de Harley, por instinto Harley fecha os olhos mas ele apenas passa uma mecha do cabelo dela para trás.

— Desejo torna-se rendição — Ele diz baixo, Harley segue seus movimentos com os olhos — E rendição torna-se poder. — Ele sorri

Coringa transbordava medo, os olhos de Harley começam a se encher.

— O que você quer de mim? — Harley pergunta trêmula

— Eu só quero... — Ele coloca a mão do outro lado do rosto de Harley — Que você sorria...

Ela dá mais um passo para trás, se livrando dos dedos de Joker sobre ela.

— Você pode não ter sentimentos... — Ela diz sem pensar, seus olhos já se transbordando — Mas eu tenho...

Ele fecha o rosto com expressões de raiva e Harley caminha até ele com as lágrimas caindo, ela coloca as duas mãos em seu rosto e ele a encara chorar.

— Me diga o que eu fiz de errado. — Ela pede baixo

Ele coloca as mãos sobre as delas e as tira de seu próprio rosto.

— Você me fez ter mais uma recaída. — Ele responde olhando suas lágrimas caindo de seu queixo

Ela o encara sem o entender.

— O que você está tentando guardar? — Ela pergunta dessa vez com a voz mais alta

Coringa levanta um olhar furioso. Ele dá um tapa no rosto de Harley, que provoca um estalo forte, sua mão volta molhada pelas lágrimas enquanto ela sente seu rosto doer. Ele segura com força o rosto dela, fazendo ela olhar para ele.

— Não venha dar uma de doutora para cima de mim agora, Harley Quinn — Ele diz com fúria nos olhos, Harley segura os pulsos dele com as próprias mãos — Por que você está aqui? O que você quer de mim? — Ele grita a última pergunta

Harley engole em seco e o encara calma.

— O que você quer de mim, Coringa? — Ela diz com a voz fraca — Eu te pedi para me matar e foi você quem se negou. Por que eu estou aqui?

Ele arregala os olhos e começa a pensar em uma resposta, o que ela dizia fazia sentido e isso era imperdoável.

— Você está aqui para me obedecer. — Ele diz apertando mais as bochechas dela, era parte da verdade, mas não totalmente

Harley junta toda a força que conseguia e acumula a raiva que estava em ouvir tal resposta, ela tenta falar pelo aperto que ele estava lhe dando.

— Eu não sou sua cadela. — Ela diz com raiva apertando os dentes

— Engraçado — Coringa diz sorrindo — É exatamente o que você é.

Ele dá um soco forte no rosto de Harley, fazendo ela cair no chão quase inconsciente. Ele acerta seu estômago com um chute e ela sente o gosto de sangue na boca, ele se abaixa e puxa Harley pelos cabelos, jogando-a para fora do escritório. Ele bate a porta com força e Harley cospe o sangue no chão, sua visão está turva e escura.

Seu corpo e sua cabeça dói de forma persistente e ela se esforça para ficar em pé, com dificuldade ela caminha até as escadas em direção ao seu quarto. Quando chega, ela fecha a porta e se senta no chão, seu estomago dói e o sangue pinga de sua boca se misturando com as lágrimas.

Ela coloca as mãos na cabeça, que dói como se fosse explodir. Ela chora e escora em seus próprios joelhos, abraçando-os e ouvindo algo como se fosse sua consciência falando com ela.

Eu estou com medo. Eu preciso sair daqui. Mas eu não posso deixa-lo. Eu acho que o amo. Mas ele me machuca. Ele vai me matar. Eu vou me matar. Eu preciso ficar ao seu lado.

Ela balança o corpo de um lado para o outro conversando com sua própria mente, ela sorri de lado e arranha sua própria pele.

(...)

Harley não conseguia dormir, sua dor mental era mais forte do que a física e o peso em seu coração a deixava com dificuldade para respirar. Ela se sentia culpada pelo que aconteceu, eles brigaram por causa dela, pois ela o enfrentou. Ela jurou devoção a ele e estava deixando seus sentimentos interferirem em sua obrigação: Estar ao seu lado.

Ela se sentia como se pudesse entregar tudo a ele, inclusive seu próprio corpo foi entregue quando ela mergulhou e retornou. Ela estava o atrapalhando a seguir sua vida e percebia que a única razão em estar lá era ele, e não seus próprios sentimentos, eles não importavam. Talvez ela o amasse, talvez ela queira mais do que ser alguém que mate por ele. Mas para ele era tudo que ela seria, ela poderia viver com isso.

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Ela o seguiria eternamente, e ele precisava saber.

Harley bate duas vezes na porta de seu escritório, mas na segunda batida percebe que a porta estava entreaberta e iluminada por alguma coisa. Ela abre a porta lentamente e em silêncio, todo o ambiente cheirava a álcool e a velas derretidas.

Ela reconhece Coringa deitado no chão do lugar, todos os papéis estavam espalhados e havia duas velas no canto de seu corpo, ele estava com os olhos fechados e havia um copo de whisky ao lado de sua mão.

— Por que está aqui? — Coringa pergunta de olhos fechados, Harley se assusta

— Eu vim para me desculpar. — Ela diz baixo, sabia que isso era algo que o prepararia para ter uma conversa

— Já pode sair. — Ele diz seco se levantando e se sentando em sua cadeira, Harley o segue com o olhar

Ele em momento algum a encarou, apenas ficou de lado para ela tomando de seu copo.

— Eu não queria te deixar... — Ela em um momento pensou em usar a palavra "magoado" mas não era essa a palavra — ... Nervoso. Eu só queria que você me visse de outra maneira que não fosse sua — Ela respira fundo, sabia como a palavra a machucava — Cadela

Ele sobe o olhar para ela e coloca o copo na mesa, ainda de lado ele volta a encarar o nada.

— Eu só sei que não estou conseguindo me concentrar em mais nada, Harley. E a culpa é sua. — Ele diz baixo

Ela dá a volta na mesa e se abaixa em sua frente, se ajoelhando em frente a sua cadeira, obrigando ele a encara-la. Ela levanta as mãos e segura o rosto dele, que recua de sua mão.

— Não. — Ele diz se afastando

— Eu quero. — Ela diz se aproximando novamente, dessa vez ele não se afasta das mãos dela

— Eu vou te machucar. — Ele diz finalmente a encarando

— Eu não me importo. — Ela diz com um meio sorriso

Harley se ergue e o beija, ele não corresponde e apenas fica imóvel, ela para e o encara sem entender. Ele puxa a nuca dela e a beija desesperadamente, Harley tenta corresponder da mesma forma. Eles acabam se separando por falta de ar, mais depressa do que desejavam.

— Você precisa parar de fazer isso — Coringa diz baixo — Eu sempre vou te machucar, amanhã pode ser pior.

— Então por que não me liberta?

— Porque eu não quero que vá. — Ele diz finalmente

Harley arregala os olhos com tamanha resposta, ela sorri de felicidade.

— Amanhã eu vou estar aqui. — Ela diz sorrindo

Harley o beija sem esperar uma resposta, o que ele disse já havia sido tudo que ela precisava ouvir. Ele a ajuda a se sentar sobre ele, Harley passa os braços sobre o seu ombro.

Não importa o que acontecer amanhã, vai terminar sempre do mesmo jeito.