Make it truth(tornar verdade)

Agora o loiro tinha mais motivos para se esforçar. Ele sabia quem era o culpado. Agora é fazer com que sua própria culpa recaia sobre ele. O loiro parecia ter decretado guerra. Ele arregaçou as mangas. Olhou para a estagiária - cuja eu ainda não sei como agüenta trabalhar com ele - e ajeitou os óculos dele. Ele a olhou de forma firme e ela balançou a cabeça positivamente. Estava pronta para prender esse cara. Ele deu um passo e pareceu ponderar. Olhou para mim com a mesma expressão. Abri a porta:

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-Vamos prendê-lo.- Ele abriu um sorriso mínimo de satisfação. E seguiu em frente, sempre em frente. O que, aliás, foi um problema, pois tive que murmurar algumas vezes em aviso a ele para que ele não fosse para a direção errada. E é assim que se sai de uma marra pra uma lerdice. Mesmo assim ele parecia determinado. E continuou parecendo quando passou direto e reto pela cena do crime. A marra foi tanta que não viu a fita de contenção. Eu com certeza virei babá.

Quando consegui trazer meu chefe de volta para onde ele deveria ter vindo, a estagiária já coletava digitais. A casa era meio afastada, portanto não havia muitas lojas nos arredores para conseguir imagens de alguma câmera de segurança, como fizemos questão de conferir. Tudo que havia era um semáforo em frente a casa, que, devido a calmaria da rua, parecia estar ali tão somente pelo capricho de algum governante.

Não havia marcas de sapatos e após scanearmos as digitais e compararmos rapidamente com as já arquivadas, descobrimos, simplesmente eram todos da vítima e de seu amigo. Quem quer que fosse o contratado para fazer o trabalho sujo, este conhecia luvas. O detetive puxou alguns arquivos de sua pasta. Relatório do necrotério.

- Sem sinais de luta...- disse alto o suficiente para que nós ouvíssemos

-Faz sentido -murmurou a estagiária-, ele estava caído sobre a poça de sangue e havia pólvora na parte de trás da camisa, isso revela que o tiro não foi a queima roupa, pois não conseguiríamos achar pólvora no tecido devido ao tamanho do estrago por ele causado e também indica que o tiro veio por trás.

-É provável que ele nem tenha o visto, o som podia já estar alto quando o assassino chegou, ele apenas arrombou e atirou. O amigo da vítima disse que nossa vítima insistiu que o que os caras faziam era errado, que ele pretendia voltar e filmá-los, pouco depois ele fez uma ligação desesperado, mas ao menos conseguira fugir...

- Por pouco tempo...- Petter ajeitou os óculos- porém explica também a arrumação, se quem o fez foi contratado também para tentar achar qualquer prova que ligue os culpados ao crime, ele pode muito bem ter arrumado tudo para disfarçar o fato de ter procurado algo.

-A questão é como conseguir descobrir quem ele é. -Olhei para os resultados parciais que a estagiaria nos passava.- Luvas de látex? São muito comuns e são vendidas em grande quantidade, sem falar que são baratas e provavelmente foram pagas a dinheiro, nem um registro existiria...

-Qual era a altura da vítima?-O detetive esticou os braços imitando a posição de um atirador.

-Mais ou menos a do Matsuda- disse a estagiária que percorria a carpete procurando algum rastro até então não visto.

-Ah ótimo,entrei na brincadeira.

-Como foi a trajetória da bala?-ele fixou o olhar num ponto fixo do ar.

-Foi reta, e a vítima estava parada, provavelmente lendo o jornal que depois de retirado o corpo, foi-se achado. A distância calculada pela quantidade de pólvora dispersa acabou de ser inferida. O legista disse de três à quatro metros.- A estagiaria parecia não se conformar em não encontrar nada e continuava checando, pela segunda vez, o mesmo carpete.

O detetive olhou para a marca do sangue do chão e andou contando os passos. Se virou e esticou os braços. Em posição de atirador novamente.Olhou para mim e acenou o lugar da vítima com a cabeça. Andei até lá sem entender muito bem o porquê. Ele pegou uma caneta laser e projetou num ponto da minha camisa.

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-Baixo... o assassino era mais alto que eu, o tiro pegou mais a acima e, se eu mudasse de posição - ele se abaixou e apontou a luz ligeiramente para cima-, mudaria a trajetória... eu sou alto, um e oitenta e cinco, por aí, as probabilidades maiores são de que ele seja homem e de meia-idade.

-Meia idade?

-Já cresceu o que havia para crescer e como ainda não é mais idoso, não houve desgaste de articulações ou envergamento da coluna, coisas que poderiam afetar sua altura.

- Mas isso não ajuda realmente a localizá-lo... apenas nos dá provas para incriminá-lo após o achemos. - o detetive continuou com seu raciocínio - não há traços de suor, nem fios de cabelo pelo chão... ele tem que ter deixado uma pista, me nego a acreditar que tenha sido um crime perfeito.

-Se a menos pudéssemos ver o que houve, quem foi...-murmurei olhando para a cena do crime. Tinha que haver uma peça faltando. Esse rapaz foi morto por tentar fazer a coisa certa, me nego a acreditar que não prenderemos os culpados. Que não impediremos que eles continuem tirando vidas inocentes. Nosso trabalho simplesmente não pode ter sido em vão.

- Ver... Matsuda você é um gênio!- a estagiária se levantou num pulo e saiu em disparada pela porta.

-...Eu não ouço isso todo dia...-corri atrás dela juntamente com o detetive que ria. Acho que ele já havia entendido. Ela sabia de alguma pista...

Ela correu para frente do semáforo na frente da casa e acenou para o radar como uma criança, que, ao detectar o movimento virou a câmera em sua direção.

- É por essas e outras que amo quando o governo põe essas coisas em áreas inúteis.- Ela riu e acenou mais uma vez. Nossa resposta agora estava naquela pequena câmera. Entramos em contato com o pessoal do departamento de trânsito e em pouco tempo tínhamos o filme e nosso atirador. John Smith, trinta e dois anos, um metro e oitenta e cinco. E era esse homem que, depois de preso por uma viatura, esperava sentado numa sala de interrogatório. E eu que o interrogaria.

-Muito bem, quem lhe pagou?- entrei e me sentei na frente dele

-O que?- John riu. - Sem nenhuma negociação? Por que lhe diria?

-Por que não? Você está morto camarada, não quer levar ninguém com você?

-Ora acredite, já levei muita gente comigo...- Ele se divertia.

-Então me fale do que achou na casa da vítima... Afinal, você achou algo, não? Você sorria satisfeito, feliz com um envelope na mão ao terminar seu serviçozinho.

-Ora, policeman, você está bem informado, mas, já que está tão bem informado, me diga onde eu escondi?

- Não se preocupe, vamos achá-lo, temos seu endereço, afinal alguém deveria ter menos multas de trânsito.-joguei os arquivos sobre a mesa.

- Não sabe se está lá.

-Sei que não está bem escondido e que não o entregou.

-Explique-se...

-Estava barganhando comigo, não estava? Você ainda o tem. E você tomou tanto cuidado para que ninguém o visse, estava tão certo que não conseguiríamos que estava passeando pela rua quando encontraram. - Vi a estagiária balançando um papel em frente a porta. “A gravação estava no carro”. Sorri levemente, nosso trabalho estava feito.- Pois bem, adeus.

- Te vejo no inferno.- o cara tentou se levantar mas como estava algemado a mesa, foi em vão.

- Desculpe, meus planos são totalmente diferentes.- Saí da sala e esperei enquanto outros policiais, levavam além do criminoso as ordens de prisão dos mandantes que nunca mais iriam machucar pessoa alguma.

-Mais um caso fechado - disse o detetive - o triste é saber que não salvamos ninguém, nós trabalhamos para os mortos.E esses nunca vão voltar a vida.

-Não, nós trabalhamos para quem fica. Para os parentes, os amigos, os conhecidos. Trabalhamos para garantir que eles não sofram outra vez a dor da perda. Para que ninguém mais a sinta. Trabalhamos mais do que salvando vidas que poderiam ser tiradas pelos mesmos canalhas. Nós trabalhamos construindo esperança, mostrando que há uma chance para a justiça do homem, por mais falha que ela possa parecer afinal.

-E quem lhe ensinou isso? Seu querido chefe L?- perguntou o detetive que deixara de lado pela primeira vez a marra.

-Há certas coisas que só podemos aprender por nossa conta.-sorri.

A estagiária se levantou e beijou minha bochecha, o que me fez corar instantaneamente.

-Talvez nós também tenhamos muito para aprender com você policial- ela riu, e esse tempo foi o suficiente para que o detetive levantasse uma “plaquinha” improvisada, de papel, com os dizeres “Mandou bem, Policeman...Com quem será? Com quem será?” e rir baixinho. Engraçado, para me zoar ele tem senso de humor. Há há há. Corei mais um pouco e sai, trombando na porta, mas certo que por hoje nós havíamos feito nosso trabalho. Espero que de onde quer que estejam me vendo, meus amigos estejam orgulhosos e que continuem torcendo por mim.