Alice

Os olhos perfeitamente azuis, o cabelo loiro perfeitamente arrumado, um sobretudo vermelho com golas pretas e um nome que ecoava em minha mente: Hector Verzaly.

Renne nos encarava com uma expressão de preocupação, ele estava tão diferente do habitual que eu demorei um pouco a me acostumar, seus olhos estavam avermelhados, seu cabelo ruivo estava penteado para o lado esquerdo, deixando alguns fios caírem na testa, ele usava uma blusa larga preta e um colete de lã também cinza escuro, uma calça branca e uma bota preta, provavelmente de camurça.

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Alli estava atrás de mim, confuso e preocupado, Will e Roy estavam ao lado do ruivo magrelo e da menininha, e Clarisse estava a minha frente, me encarando com tanta raiva que podia ver seus olhos faiscarem, ela prendia os longos cabelos ruivos em uma bela trança, usava uma sombra negra por volta dos olhos, ressaltando seus orbes outrora castanhos, mas que agora possuíam um tom avermelhado, um vestido vermelho que ia até o joelho, com mangas pretas, algo nela parecia diferente, ou será que era apenas eu tentando projeta-la como uma estranha?

— Alice? É mesmo você? – Hector questionou, ao lado de Clarisse ficava óbvio que faziam um belo casal.

— Pergunto o mesmo. – Retruquei e ele sorriu, se aproximando lentamente.

— Receio não ser o melhor ambiente para uma menina tão... – O loiro parou, tocando meu rosto. — Nem ao menos sei como defini-la.

De canto de olho, vi que atrás de mim Alli estreitou os olhos, ameaçando dizer algo, porém me adiantei, erguendo minhas mãos na direção da dele, que ainda tocava meu rosto.

— Não precisa querido. – Eu sorri docemente, podia ver em seus olhos a soberba que carregava em si, antes que minha mão alcançasse a dele, parei-a no ar. — Por sorte eu sei me definir sozinha. – Cerrei os punhos, mirando e acertando em seu nariz. Ele cambaleou e foi apoiado por Clarisse. — Vamos esclarecer as coisas, não me toque e não dirija a palavra a mim, não tenho costume de dar moral a trapos do passado e não estou a fim de cansar minha beleza com você. Tenho algo a tratar com o príncipe desse lugar.

Virei-me a Renne, que estava boquiaberto, alguns guardas ameaçaram se aproximar, mas ele os impediu.

A ruiva tosca me lançou um olhar furtivo, porém algo a impediu de qualquer coisa, ao meu lado Renne começou a rir descontroladamente, o ruivo magrelo tentava faze-lo parar, mas ele apenas ignorou.

— Licy você é incrível. – Ele praticamente se jogou nos meus braços, e eu o retribui sorrindo, a alegria dele sempre foi do tipo contagiante, mas de algum modo o sorriso dele diminuiu um pouco, dando lugar a um sentimento de melancolia. — Pensei que esse dia nunca chegaria.

— Não achou que eu me esqueceria de você, achou? – Brinquei, ainda abraçada a ele, que agora derramava algumas lágrimas de emoção, eu podia sentir, de alguma forma, que eram puras e carregadas de saudade e felicidade.

Ele se afastou, sorrindo.

— Ainda estamos aqui e você bateu nele. – Clarisse interferiu, bufando de raiva. — Isso vai ficar assim? Ótimo. Agora qualquer um pode bater nele sem problema algum?

Renne a encarou, suspirando. — Clary, por favor, cala a boca. A Licy está aqui para falar comigo.

— Fala sério que vai dar ideia para ela e me ignorar, Renne eu sou sua irmã, e olha que essa louca saiu agredindo o Hector na frente da Ames, o que quer ensinar a ela?

— A como não namorar imbecis. Aprendeu a lição fofa? – A pequena menina apenas assentiu sorrindo. — Então o que querem?

— Ah... – Will começou ainda um pouco chocado. — Um menino nosso foi sequestrado.

Renne diminuiu o sorriso, lançando um olhar raivoso a irmã quando ela fez cara de desdém.

— Queremos ele de volta. – Roy interveio, suplicando. — Faria qualquer coisa para aquela criança voltar para a mãe.

— Nosso? – Renne interrogou, me encarando confuso. — Vo-.

— Você é de Jadis? – Clarisse interrompeu, abismada. — Quer dizer que... Ah! Ótimo, o que foi? O pirralho é um colega escravo?

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Trinquei os dentes, a arrogância em sua voz me incomodou profundamente. Porém não fui a única, Roy se pôs a nossa frente, nada sorridente.

— Veja como fala dela, não há escravo algum entre os nossos.

— Tem certeza? – Hector interferiu, sorrindo secamente, com o nariz sangrando um pouco menos.

— Fala de mim? – Alli questionou, passando o braço por meu ombro e uma mão pelo meu cabelo, sorri, amando aquela sensação, era como um cafuné que minha mãe me fazia antes de eu ir dormir. — No dia que tiver metade da posição de Zeck, que a propósito é seu rei, venha me dizer se sou ou não escravo.

— Nossa que medo, e Alice é o que? – Clarisse sorriu. — A faxineira da princesa mimada de Jadis?

Eu suspirei me desvencilhando dos braços de Alli e sorrindo para ela, enquanto tinha que aturar essa menina arrogante, aquele menininho poderia estar sofrendo, era isso o que me importava, não queria saber se Hector havia ou não voltado, eu só queria saber de uma coisa: Recuperar aquela criança.

— Por favor, devolva o menino. – Pedi com um pouco de educação. — Ou então-

— Ou então o que? Faxineira. – Clarisse ergueu as mãos, fazendo com que uma espada surgisse. Ao meu redor o clima se tornou tenso, mas não era dessa forma que eu resolveria as coisas por aqui. Com tantos guardas, uma briga com ela poderia acabar com um pouco de paz que o povo tinha e, por mais que eu quisesse espancar Clarisse, não queria prejudicar as pessoas.

Uma criança dependia do meu desempenho, uma mãe esperava a volta de um filho, um povo esperava um pouco de justiça, mas o que tivemos até agora? Tudo sempre tão injusto. Pensei no sorriso daquele menino, no quanto me parecia puro. .

— E se eu não estiver a fim de uma briga inútil? Francamente Clarisse, eu pensei que já havia passado dessa fase, não estou com paciência.

— Jeremie pega a pipoca. – Renne pediu, sorrindo e cutucando o ruivo magrelo.

— Não me dê lição de moral. – Clarisse guardou a espada. — Você sempre foi cheia de manias irritantes.

— Ninguém liga! Sua patricinha irritante. – Resmunguei, me acolhendo nos braços de Alli.

— Alguém me ajuda, eu to confuso. – Roy pediu.

— Estou apenas esperando a linda aqui nos fazer o favor de sumir de vista. – Esclareci e ela virou a cara.

— Quero ver me obrigar.

— Licy eu acho melhor irmos nós para um lugar mais privado. – Renne propôs, sorrindo, eu encarei Will e Roy e segurei o braço de Alli.

— Esperem aqui, eu cuido disso. – E dizendo isso, sai puxando Alli para a direção que Renne apontou.

~ ~ # ~ ~

Entramos em um quarto pequeno, com apenas uma cama e um guarda-roupa cinza. Renne se sentou de um lado da cama e eu e Alli nos sentamos no outro, o homem magrelo nos encarava da porta, visivelmente preocupado.

— Não se incomodem com o meu amigo Jeremie, ele é a pessoa que eu mais confio no mundo. – Renne esclareceu e o homem sorriu ternamente, se aproximando e ficando em pé ao lado do jovem.

— Entendo, esse é Allister, a pessoa que eu mais amo no mundo. – Alli sorriu e me acenou para Renne. — E Alli esse é Renne, meu melhor amigo de muitos anos. Pensei que jamais o veria de novo.

— Eu também pensei, ainda mais quando vim parar aqui, demorei a me acostumar com esse lugar. Mas então me falem sobre a criança.

Encarei Alli e ele começou a explicar o que aconteceu, Renne permaneceu pensativo, provavelmente planejando algo.

— Isso pode ser um problema, alguns dos nossos homens são bem ousados mesmo, mas entregar a criança diretamente a vocês poderia ser perigoso, eles poderiam atacar se visse vocês com ele. – Jeremie comentou, e eu tive que concordar.

— Então o que faremos?

— Crianças brincam umas com as outras não é mesmo? – Renne questionou. — Temos que arranjar uma criança que possa vir buscar o menino de modo natural, uma criança que saiba fingir que não é nada de mais. Eu vou buscar o menino e entregar nas mãos dessa criança. Acho bom usar a Ames para tirar o menino daqui de dentro, ninguém ousaria chegar perto dela.

— Realmente, mas isso seria seguro? – Alli perguntou, um pouco receoso.

— Certamente, mandarei os que eu confio observarem eles de longe.

— Se é assim, a única criança que conheço, com astucia e coragem suficiente para fazer isso e fingir que nada está acontecendo é o Jas. – Comentei e Alli sorriu, Jas era a criança mais desnaturada do mundo, era perfeito para isso.

— Aquele psicopata mirim realmente serve. – Alli concluiu. — Temos que combinar melhor a hora e o lugar.