Uma Poderosa em Twilight

Crepúsculo ao vivo e a cores


Hoje faz três anos que eu namoro o João. Estou preocupada; ele não se lembrou. Um formigamento na mão esquerda me dizia para escrever logo uma frase qualquer que o fizesse se lembrar de mim e acabar com essa angústia de uma vez. Mas meu coração e meu orgulho me diziam que a iniciativa tem de ser dele.

A aula já de História já estava quase acabando e nada. Meus olhos não estavam no Apolo, apesar de todas, absolutamente todas as meninas do colégio suspirarem por ele. Meus olhos estavam no caderno; e minha mão esquerda se distraía com formas de corações que enchiam a folha rapidamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ah, sim! O Apolo é o professor de História. O nome dele verdadeiro é Paulo, mas as meninas o apelidaram de Apolo, o deus grego, o mais lindo do Olimpo... Mas é claro que Apolo não está sabendo (e espero que nunca saiba) desse apelido. Mesmo porque ele é padrasto do João...

O sinal tocou. Já era! Ele não vai mais lembrar. Melhor deixar pra lá, Joana Dalva... Talvez não tenha tanta importância quanto eu imaginei que tivesse. Senti um cutucão no ombro e olhei para trás. Bia estava guardando os cadernos na mochila e me encarava séria.

- Joana, o que aconteceu?

- Nada não... – menti.

- Ótima tentativa. Joana Dalva, eu te conheço... E não é de hoje, você sabe. Tem alguma coisa errada com você. Fala logo, o que foi? Já estou ficando preocupada!

- Tudo bem, você tem razão... – bufei. – É... É o João.

- O que ele fez? – ela perguntou com os olhos curiosos.

- Você quer dizer o que ele não fez, não é?

Fitei seus olhos que passaram de curiosos a confusos. Revirei os olhos e tive de explicar:

- Hoje fazemos três anos de namoro e...

- E ele não lembrou? – Bia soltou um palpite. Palpite certeiro demais, eu deveria dizer. – Então é isso? – Ela riu. Fiz que sim com a cabeça. – Não se preocupe, os homens são todos iguais – ela concluiu, colocando a mochila nas costas e me puxando para fora da sala.

Senti uma pequena vibração no meu bolso. Peguei o celular.

- Alô? – perguntei assim que atendi.

- Oi, Joana. É a Salete.

Salete é minha sogra. E minha cabeleireira, e manicure e vidente. Foi ela que leu a palma da minha mão esquerda e descobriu o poder que ela tem e a sorte que eu tenho.

- Oi, Salete! – Eu sorri.

- Será que dá pra você dar uma passadinha aqui em casa hoje de tardinha?

- Claro que sim, Salete. Mas por quê?

- Preciso conversar, e tem de ser num horário que nem o Paulo nem o Júnior estejam em casa. Tudo bem pra você?

Paulo era o marido dela, meu professor de História, como eu já mencionei. O Apolo. E Júnior era como Salete chamava João. Ele não se dava muito bem com o pai e não gostava de ter o mesmo nome que ele. Então eu lhe inventei este: João. E me acostumei a chamá-lo assim.

- Tudo bem, eu vou – respondi, tranqüilizando-a. – Pode me esperar.

- Obrigada, Joana. Tchau.

E ela desligou.

Olhei para Bia com meu olhar confuso. Qual o problema que Salete pode ter? E por que Apolo e João não estariam em casa quando o sol finalmente se pusesse? Alguém interrompeu meus pensamentos me abraçando por trás.

- João... – murmurei, esquecendo completamente de que há pouco tempo estava chateada com ele. E por um motivo justo, o que era raro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele virou meu rosto para me beijar.

Bia sorriu, mas não ficou segurando vela por muito tempo. Foi salva pelo Samir.

- E aí, mô? Vamos?

Eu sorri. Mesmo em três anos, João não perdera a mania de me chamar de “mô”. Eu ainda gosto quando ele faz isso. É uma forma carinhosa de ele tratar a namorada de 16 anos.

Despedi-me de Bia e Samir – que a essa altura estavam ocupados demais para responder – e peguei no braço do João. Ele me levou até a porta de casa.

[...]

A hora de ir pra casa da Salete estava se aproximando. E a minha curiosidade aumentava a cada segundo. Minha mãe foi à reunião de pais da escola do Xandi. O Xandi está na escola também. O Xandi é Alexandre, o meu irmão de onze anos.

Fiquei sozinha em casa esperando a hora de sair. Tomei um banho, vesti a velha e amiga dupla jeans & bata preta e fui calmamente ao elevador. Na portaria, seu Esteves tirava seu longo e eterno cochilo, como sempre, e nem me viu sair do prédio.

Tomei um táxi até a casa da Salete e estranhei ao encontrar todas as luzes de todas as janelas apagadas. Toquei a campainha; ela atendeu quase que imediatamente. Me conduziu até a escada que levava até a parte de cima do sobrado; casa em cima, salão em baixo.

Lá também estava escuro. Assim que Salete acendeu a luz, eu tive uma surpresa: a sala estava toda decorada com corações vermelhos e um arco de bexigas vermelhas e brancas rondava a mesa repleta de doces e salgados diversos.

Em volta da mesa, todos em casais. Salete correu pros braços de Apolo assim que acendeu a luz. Minha mãe e o Lipe; meu pai e a Xirlei com x; Xandi com a nossa vizinha de dez anos (quem diria?); Leninha e Marcelo; Vó Nina e Henrique; Bia e Samir... Só o João estava sozinho, segurando uma caixa enrolada com fita vermelha e outra bem pequena com fita branca.

- SURPRESA!

Que droga! Eu pensei que o João tinha esquecido; como fui injusta!

- Pensou que eu tinha esquecido? – ele se apressou em perguntar, me fazendo imaginar se ele lia mentes, igual ao Edward Cullen. Fiz que sim com a cabeça.

- Por que você não me falou nada? – perguntei para Bia, acusando-a com os olhos.

- Ué! Eu teria estragado a surpresa – ela se defendeu.

Eu sorri.

João me entregou a caixa maior e fez sinal com a cabeça me encorajando a abrir. Puxei a fita e quase tive um ataque ao abrir a caixa e ver seu conteúdo.

- Eu não acredito! João... Você comprou a saga Crepúsculo inteira pra mim...?

- Eu sabia que você ia gostar.

E eu tinha mesmo gostado. Melhor, eu tinha amado. Já havia lido todos aqueles livros emprestados da Bia, e desde então, me apaixonara pelo romance. Mas eu não invejava Isabella Swan. Eu já tinha o meu Edward.

E, naquela hora, eu beijei o meu Edward.

Ele se afastou e começou a abrir a caixinha menor. Tinha um brilho dourado. Era um colar com pingente de coração. Ele colocou na minha mão e eu abaixei a cabeça para observar o pequeno coração cintilando. Abri o pingente e encontrei lá dentro uma foto de nós dois. Eu sorri e pedi para que ele colocasse em meu pescoço e todos aplaudiram quando nos beijamos mais uma vez.

[...]

Enquanto eu bebericava em copo de refrigerante, Leninha folheava meus presentes – os livros da Stephenie Meyer – e Bia a observava pacientemente. Eu estava sentada no meio das duas.

- Eu tenho um pôster gigante do Edward Cullen no meu quarto – comentou Leninha.

- Você já me mostrou – eu a lembrei – dezenas de vezes.

- Já mostrou a minha também – completou Bia.

Silêncio curto. Curto demais. Leninha o quebrou como está acostumada a fazer.

- Eu queria ter um Edward Cullen pra mim...

- Leninha, você já não tem o Marcelo?

- O Marcelo está mais pra Jasper, Joana! – ela se defendeu.

- Concordo. – Bia levantou a mão como se tivesse votando o sabor da pizza.

- Mas o que eu queria mesmo... – Leninha fez suspense – Era poder “entrar” pro filme, sabe? Como se eu fosse mais uma personagem. Deve ser tudo de bom poder viver no mundo de Edward Cullen...

- Leninha – eu a chamei, tirando daquele suspiro estranho.

- O que foi? – ela perguntou sem tirar os olhos do nada.

- O mundo de que você fala é de Bella Swan, o Edward é um personagem secundário, por mais que seja difícil de aceitar.

- Claro que é difícil de aceitar, Joana Dalva! Você está chamando o meu Edward de personagem secundário! Garota, o que tem nesse seu refrigerante? – Eu não previra essa reação. Eu me assustei. Bia se assustou. A festa se assustou. Ai, meu Deus, o que essa minha amiga tem na cabeça? Imagina se ela soubesse do meu poder? Nem quero pensar no que ela pediria pra mim, só de pensar me dá calafrios.

Toda a festa encarava Leninha, que nem percebera que era o alvo das atenções. Ela tinha a expressão monótona e nervosa, as narinas infladas e os olhos vermelhos e molhados de lágrimas de raiva. Eu pensei que essa garota fosse só infantil, nunca imaginei que ela levasse Edward Cullen tão a sério, a ponto de reagir assim diante de alguém que só disse que ele não é o personagem principal da série.

Juro, eu amo o Edward. Mas eu amo mais o João, todo mundo sabe, ou deveria saber. Mas, caramba, a personagem principal de Crepúsculo é a Bella, não é a toa que é A BELLA QUEM NARRA A HISTÓRIA!

Marcelo veio correndo acudir à namorada – que tinha falado há poucos segundos que ele parecia o Jasper – e a levou imediatamente para fora dali.

- Nossa. Que medo – foi só o que Bia conseguiu dizer.

- O que foi que eu disse de tanto? – perguntei, querendo ter a certeza absoluta de que eu sabia o que tinha feito.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Você só disse que o Edward não é o personagem principal. E ela ficou assim, fazer o que? Ninguém pode prever a reação da Leninha. Qualquer que seja a situação.

Assenti, concordando. Pensando bem, eu não podia concordar nem discordar de mais nada hoje. Já estava bom demais.

- Joana, eu posso dormir na sua casa? Não tenho dinheiro pro táxi e não passa mais ônibus a essa hora...

- Tudo bem, Bia. Eu preciso mesmo conversar.

[...]

- Joana, você está mastigando o que a Leninha disse na festa, não é?

- Acho que sim – eu disse estendendo o colchonete no chão do meu quarto.

- Não estou falando sobre o ataque dela. Estou falando sobre “entrar” pra Crepúsculo. – Ela deu um sorrisinho difícil de ignorar. – Você sabe que pode fazer o que a Leninha e mais um zilhão de pessoas dariam tudo pra fazer.

- Você está cogitando a idéia de eu...

- Entrar no livro? Isso aí.

- Mas...

- Não perca tempo, Joana – Bia me interrompeu. – Escreva logo uma frase qualquer e entre no livro de uma vez! Você não gostaria de encontrar Bella Swan?

- Acho que sim.

- E você vai fazer isso? – Seus olhinhos curiosos brilhavam.

- Eu não sei... Acho que sim – eu sorri.

- Garota, não pense duas vezes. É a maior oportunidade que você pode ter em toda a sua vida! Basta uma frase no rodapé de uma sacola de papel ou na bula de um remédio! Qualquer papel; qualquer caneta. É simples.

- Como respirar – completei.

- O que você vai fazer agora, Joana?

- Eu vou pensar. É o melhor que eu posso fazer – declarei, jogando-lhe um lençol e apagando a luz. – Boa noite.

[...]

Ah, claro! Eu não dormi. Fiquei com aquilo na cabeça, enquanto Bia mergulhava em seu sono profundo e nem se mexia no colchonete. Minha cabeça borbulhava com a idéia de entrar para a saga Crepúsculo; um sonho podia ser realizado.

Como Bia disse, é a maior oportunidade que alguém pode ter. Foi uma coisa estranha que me fez ligar a luz do abajur e pegar meu diário para escrever diante da insônia.

Sim, eu tinha na minha mão esquerda a maior oportunidade que um fã poderia ter. Eu tinha a chance de conviver com meus personagens favoritos. Eu podia \'entrar\' dentro do livro.

Era maravilhoso!

Eu tinha esse poder. Eu sabia que meu poder podia tudo. Então, provavelmente, também podia me realizar um desejo. Entrar para Crepúsculo... Sonho... Não. Eu podia tornar aquele sonho realidade se eu quisesse. E eu queria. E bastava uma frase...

Eu tinha de pensar rápido; uma coisa dessas não pode ser adiada. No desespero da felicidade, abri a gaveta e tirei papel e caneta. Escrevi com uma letra desesperada:

Eu estou na saga Crepúsculo.

Aí eu só tive tempo de abraçar meu diário (que eu tinha de levar comigo) e fechar os olhos, rezando para que minha frase tivesse o mesmo efeito imediato de sempre e que eu pudesse, finalmente, assistir Crepúsculo ao vivo e a cores.