Capítulo 85

É o nosso maior orgulho!

I

Iruña, Nafarroa

12 de agosto de 2017

Não era costume na Ordem do Dragão manter estruturas como palácios e casarões. A própria moradia do mago era um ponto de reunião, reflexão e preparação para os desafios vindouros. Além, é claro, de um ponto para recrutar mais discípulos.

Nunca foi uma ambição da Ordem em si crescer demais, pois não queriam perder o controle sobre seus membros, muito menos chamar a atenção das autoridades mágicas espanholas e europeias.

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Foi pensando nisso que Lluis Soler, o oitavo Interventor comandante da Ordem, criou o palácio flutuante, usando o sangue derramado de todos os olmecas com quem lutou no México. Ele tentava resguardar o diminuto exército espanhol naquelas terras exóticas das américas antes que fosse massacrado pelos nativos.

Isso levou muitos Interventores a quererem seu palácio privado também, principalmente os mais poderosos, que podiam arcar com uma coisa dessas. Oriol Junqueras, sucessor de Lluis, tomou um prédio só pra si em Barcelona. Rosa Varela fez o seu em A Coruña no século XIX e Carlos Garaikoetxea, nacionalista basco ferrenho, montou sete palácios nas sete províncias que formavam o País Basco, incluindo aquele onde elas estavam reunidas.

Era uma sala ampla e grande, Gotzone estava sentada numa poltrona grande e confortável, olhando as chamas da lareira. Ester Ramírez, a nova interventora das Astúrias, estava de pé, ao lado dela. Na mesma sala também estavam Nerea Sagastizábal, sentada também numa poltrona e mais três meninas ao redor dela, todas com o mesmo cabelo branco dela.

— Gotzone, me chamou? — perguntou Ester.

— Sim. Quero que você deixe esse palácio e vá com o Lorenzo pras Canárias. Agora que a Dona Beatriz retirou a denúncia de cumplicidade numa rede internacional de tráfico de drogas, ele pode finalmente voltar pra casa. Você vai se juntar aos outros e não vai sair de lá até segunda ordem. — disse a loira, num tom mórbido e sério.

— Goti… Por que afastar a gente do continente? A gente mal viu a Marta e a Mercè de volta, agora isso? — questionou Ester.

— A Marta, a Mercè e os outros estão lá também… Não entendi seu questionamento — disse Gotzone, seca. — Eu só sei que uma coisa muito grave vai acontecer aqui no continente e eu quero manter a Ordem a salvo de qualquer coisa. Passamos por anos de sucateamento e estamos num estado de penúria. Se alguma coisa acontecer com vocês, vai ser o fim da gente, entendeu?

— Goti… Você podia contar com todos os Interventores aqui do seu lado! A gente podia lutar juntas! Mas não! Você manda a gente se esconder nas Canárias! Como pode?

— A Ordem não está preparada pra enfrentar o que eu vou enfrentar…

— E você sozinha pode?

— Eu vou tentar. Retire-se — ordenou a loira. Hesitando, Ester abriu a porta da sala e saiu. Deu para ver a jovem voando no céu, com seus cabelos dourados esvoaçados por causa das asas transparentes vermelhas.

Só ficaram Gotzone e Nerea. A loira levantou-se da poltrona, colocou sua longa espada de duas mãos nas costas e ficou olhando para a janela da sala imensa.

— Você não acha que tá carregando muita coisa sozinha? — perguntou a albina.

— O bastante pra garantir a segurança de todos e de todas. O comandante da Ordem me quer, eu sinto isso pelo padrão dos ataques dele. Ele deve ter mandado o Ignacio atacar a gente desde o sul, o Victor deve ter ficado com o norte, a Maitê com o oeste e ele abocanhou o leste. Pela linha dos ataques, traçando desde as baleares, o próximo ataque dele vai ser aqui… — disse a Loira. Nerea entedia, mas não aceitava as palavras dela.

— Seus filhos…

— Eu não tô pensando em morrer, se é isso que você tá pensando. Eu tenho muito o que viver. Eu tenho dois filhos pra criar e…

— Mas é neles que eu tô pensando!

— Eles vão ficar bem… Suas meninas também — disse Gotzone. Ela se levantou da cadeira e ficou olhando para as três adolescentes ao lado de Nerea, todas as três eram trigêmeas — Beatrix de Iruña, Estefânia de Lumbier, Arantza de Oiz. — As três olharam com temeridade para a Interventora com espada longa nas costas. — Vocês também tem que partir.

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— Goti, eu queria esperar minha mãe… — disse Beatrix.

— Amanhã ela vai com você… Vão agora as três pras Canárias! — disse Gotzone, com um tom mais sério. Nerea levantou-se da poltrona e olhou para as filhas.

— Vocês se esqueceram do que eu disse? Temos que estar prontas para o sacrifício! É isso que faz a gente ser da Ordem! Não vou falar com vocês mais uma vez! — disse Nerea, sem olhar para as filhas. As três albinas mais novas não quiseram continuar a discutir com a mãe. Pegaram suas alabardas da parede e saíram da sala. A albina mais velha se aproximou da janela para ver as filhas partindo.

— Goti, eu tô com uma sensação ruim aqui dentro de mim…

— Isso é normal, já senti isso tantas vezes que nem me incomoda mais… respondeu a loira. As meninas já partiam em revoada pelos céus escuros daquela noite. De repente, Estefânia começou a cair.

— Oh, minha Mari! — disse Nerea, olhando para os céus. Ela quebrou as janelas da sala do palácio para socorrer a filha. Ela agarrou a menina, mas os olhos dela estavam revirados. Estava morta. Uma flecha negra estava cravada em seu pescoço. Nem dava tempo dela se desesperar. Gotzone voou até onde ela estava.

— Nerea…

— Goti! Foge daqui! — berrou Nerea, aos prantos. A jogadora viu o ferimento no pescoço da filha da colega e sentiu um arrepio subir a espinha. Beatrix e Arantza voaram de volta para acudir a mãe e a irmã, mas Gotzone segurou as duas, impedindo-as de avançarem mais.

— Vocês duas, pras Canárias agora! — ordenou.

— Mas… Ela é nossa irmã! — disse Arantza.

— A nossa mãe! — disse Beatrix.

— Eu sei disso, por isso, vão pras Canárias! — disse Gotzone, arrastando as meninas pelo ar. O palácio branco da Ordem no centro de Iruña se afastava cada vez mais delas, mas as mãos das trigêmeas ainda continuavam tentando alcançar a mãe e a irmã, cada vez mais distantes. Choravam.

— Ama… — disse Beatrix, chorando.

— Oras, seja forte como uma mulher, Beatrix! Você é a futura Interventora de Navarra, não é? — disse Gotzone.

Nos céus daquela noite, a cidade onde nasceram e foram criadas ficava cada vez mais pequena.

II

Nerea colocou o corpo frio da filha no topo de um dos prédios do centro histórico da cidade. Levantou a mão para o alto e chamou sua alabarda.

— Apareça, canalha! Vai ficar se escondendo até que horas? — perguntou a Interventora, agarrando a arma mágica de Navarra.

— Você se lembra da Uxue Araitz, a terceira interventora de Navarra? — perguntou a voz.

— Claro que sim! Aqui, em Navarra, a gente sabe que ela não morreu lutando contra a Neus Artells como os demais Interventores! Ela foi morta pelo safado do Enric Miró! — disse Nerea.

— Pena que você vai ter o mesmo destino que ela… — disse o Interventor da Catalunha, aparecendo. Uma flecha negra atingiu o pescoço dela. Seu rosto se contorceu de dor, mas ela não caiu. Puxou a flecha da ferida como se não fosse nada. Pequenas escamas de dragão cresceram em volta do ferimento, estancando-o.

— Isso não vai te ajudar, Nerea! Essa flecha negra foi feita pra vocês morrerem envenenados! — disse o Interventor. A albina não se importou. Partiu para cima do interventor como se não estivesse ferida. Ele atirou uma, duas flechas, mas a mulher rebateu todas com a alabarda em suas mãos, enquanto corria. Alcançou o homem, mas ele voou. Ela voou junto também. Asas de dragão apareceram em suas costas, mais rápidas e velozes que as asas transparentes vermelhas.

No ar, Nerea continuou os ataques contra ele, mas ele se defendia dos golpes de alabarda com o arco.

— É inútil, Nerea! — disse o homem. Ele deu um rápido rodopio no ar e mirou para as costas dela. Acertou três flechas e a albina caiu num dos telhados dos prédios do centro histórico de Iruña. O Interventor comandante voou para ver se ela tinha morrido.

Nerea caiu de pé no prédio, rodopiando a alabarda. Ela estava pronta a atacar a qualquer momento. A Interventora não cessaria os ataques. Os dois ficaram se encarando por um tempo, girando e encarando-se, até que Nerea investiu contra ele. O Interventor mascarado tentou tentou parar o golpe com o arco, mas não conseguiu. A alabarda quebrou o arco e furou a mão dele. Pela primeira vez, a mulher viu o homem gritar de dor.

— Esse não é o arco Yoichi, que Lluis Soler ganhou no Japão… Essa não é a nossa arma lendária, miserável! Você não é Interventor! — disse Nerea, enfiando a alabarda mais fundo na mão do homem. Ela energizou sua arma lendária e um raio vermelho deu choques na mão do Interventor comandante.

— Eu posso não ser, mas… O dono desse corpo pode ser, não é? Vai matar ele mesmo? — disse o mascarado. Nerea deu um passo e mais outro, tentando acertar a garganta dele com a arma. O homem reagiu. Ele fechou o punho ferido e agarrou a arma com a outra mão, empurrando-a de volta. Um verdadeiro cabo de guerra surgiu entre os dois.

— Desista, mulher!

— Nafarroa Inoiz… Errenditu! É o nosso maior orgulho! (Navarra nunca se rende!) — disse Nerea. Ela deu mais um passo e tropeçou no próprio sangue, que escorria do ferimento em suas costas. Quando caiu, a armadura e a arma lendária de Navarra desmontou do corpo dela e partiu pelo horizonte negro da noite.

— Morra com esse orgulho! — disse o Interventor da Catalunha, olhando para a mão ferida e para o arco quebrado — Mas que droga! Vou ter que adiar o plano… Mas só dessa vez! — Ele fechou o punho ferido com força e fitou os céus.

Continua…

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.