Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas

Uma grande felicidade para todos nós


Capítulo 58

Uma grande felicidade para todos nós

I

Madrid, Espanha

2 de agosto de 2016

Palácio Real de Madrid

Era tarde, depois do meio-dia. Fazia um dia de sol forte de verão em Madrid, ofuscado de vez em quando por uma nuvem passageira.

Diante de um espelho, Tomoyo se observava. Estava vestida com um vestido fino de linho e seda, todo branco, com alguns detalhes em marrom, sua cor favorita. Ela estava em um amplo aposento do palácio real, cercadas por cortinas de seda, com paredes de cinco metros de altura.

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Dona Uxue Ferrer de Borbón, irmã mais velha de Felipe, penteava seus cabelos longos e ondulados nas pontas, além de sua franjinha que cobria a testa toda.

— Dona Uxue… Eu quem deveria pentear os cabelos da senhora…

— Pare com isso! Você é a noiva do meu irmão, Moyo! Você vai ser a rainha de Espanha em, breve. Não precisa me chamar de "Dona Uxue", só "Uxue", tá bom? — disse a princesa, sorrindo.

Tomoyo calou-se e sorriu timidamente.

— Não precisa ficar envergonhada… Eu sou humana também, além de ser princesa é claro… — Uxue continuou a pentear os cabelos da morena enquanto Tomoyo ficava em silêncio. — Sabia que esse quarto foi da minha vó, Petra Iriarte?

— Um quarto só pra ela? Eles não viviam juntos?

— Meu avô, Sergi, não gostava dela e por isso, deu esse quarto só pra ela. Tudo o que era dela, ela cuidou com muito carinho, inclusive esse espelho que você está se olhando…

— Nossa! Parece até que está novinho em folha. Nunca imaginei me olhar em um espelho de mais de cem anos…

— Então… Agora você vai aprender a conhecer uma porção de coisas que você nunca imaginava! O que acha? — perguntou a princesa.

Tomoyo se calou e seu olhar ficou coberto de melancolia, pensando no que Uxue lhe disse. A princesa desconfiou de algo.

— Tá tudo bem, Tomoyo?

— Claro que sim, só estou um pouco cansada com os preparativos da festa…

— Não me parece… Você tá tão calada… Nem parece que está feliz por se casar com meu irmão… — disse Dona Uxue, encarando Tomoyo nos olhos.

A arquiteta tentava buscar respostas dentro da alma para as perguntas de Uxue quando a porta do quarto abriu de repente. Era Sophia, toda atrapalhada. Ela tinha subido nas costas de Carmen para abrir a maçaneta e caiu quando a porta abriu. Ela sorria.

— Sophia! O que você tá aprontando, menina? Ainda tá envolvendo a Carmen nisso, né? — disse Uxue.

A princesinha correu e abraçou as pernas de Tomoyo. Carmen se levantou educadamente e ficou olhando as duas.

— Quis ver a minha mamãe antes de todo mundo, Tia! Eu sou a herdeira do trono, eu tenho meus direitos! — disse Sophia.

— Olha a arrogância, Sophia! Você tem que se comportar e ser educada se quiser ser uma boa rainha um dia! — repreendeu a tia. Sophia estava tão feliz que a princesa Uxue ficou pensativa com a advertência que deu. Seja lá por qual canto do palácio andava, a pequena não escondia o quanto estava feliz com a novidade.

— Agora sim, você vai ser a minha mãe! Não é Tomoyo? — perguntou Sophia, com os olhos marejados de felicidade. Tomoyo sorriu timidamente e afagou a cabeça da menina.

— Sim, Sophia, minha filha! Minha filha! Vem cá também, Carmen! — disse Tomoyo.

— Chega junto, Carmen! — pediu Sophia.

Tomoyo ajoelhou-se e abraçou as pequenas.

II

Bilbao, Euskadi, Espanha

Mesmo dia, mesma hora.

Nos corredores do hospital infantil de Bilbao, Sakura e a professora Begoña caminhava até a sala de higienização. Enquanto andavam, a professora repassava os detalhes da cirurgia para a Cardcaptor.

— Só vai ser nós duas, Fessora? — perguntou Sakura.

— Nós e o anestesista, os enfermeiros, os técnicos do coração artificial, os calouros da cirurgia… Fazer cirurgia cardíaca não é fácil, Sakura! A gente tem que preparar a equipe, os equipamentos, as instalações… Lembre-se disso quando você tiver que fazer suas operações, está bem?

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Sakura ficou em silêncio e não respondeu a professora. Entraram na sala de higienização e saudaram o resto da equipe.

— Arratsalde On, Jendeak! (Boa tarde, pessoal!) — disse Begoña.

— Arratsalde On, irakaslea! (Boa tarde, professora!) — responderam um por um.

— Eskularruak eta txanoak ahaztu ez! (não esqueçam das luvas e das toucas!) — disse Begoña. O pessoal já tinha lavado as mãos e começou a entrar na sala de cirurgia. Sakura abriu a torneira e ficou um bom tempo olhando para a água.

— Sakura? Tá tudo bem?

— Sim, Fessora, não entendi sua pergunta…

— Você tá calada desde que a gente chegou. O que tá acontecendo? — perguntou a professora, olhando no fundo dos olhos da cardcaptor. Ela já sabia de toda a história com Tomoyo e o resultado dela. Sakura buscou as palavras para se explicar, mas a professora se antecipou, como se lesse a mente dela.

— Se você não estiver se sentindo bem, a gente para, tá bom? — disse Begoña.

— Eu estou bem, professora, vamos continuar! Eu tenho que aprender a fazer uma ponte de safena, não tenho? É com isso que eu quero me preocupar agora.

A professora deu um tímido sorrindo para ela, pouco triste pelo estado emocional da sua aluna.

III

Madrid, Espanha

No salão principal do palácio, haviam dois tronos. Estavam em cima de uma plataforma elevada de cinco degraus de altura. Um tapete vermelho se estendia dos tronos até a imensa porta de madeira do salão.

De uma das portas laterais, ao lado esquerdo do trono, Tomoyo saiu junto com Uxue. A costureira caminhava a passos lentos pelo salão, repleto de pessoas e olhares para ela. Carmen e Sophia corriam por toda a parte, felizes, sem se preocupar se esbarravam nas pessoas ou não. Tomoyo usava também uma tiara dourada que chamou muita a atenção de quem estava lá.

Sua mãe Sonomi estava lá, acompanhada por Marcela, a advogada de Felipe e primeira amiga de Tomoyo na Catalunya.

— Você está esplêndida, minha filha! Sempre sonhei em te casar assim um dia! Agora, rainha, já superou minhas espectativas! Como eu tô feliz! — disse Sonomi, aos prantos, acariciando o rosto da filha com os olhos cheios de brilho. Tomoyo beijou as mãos da mãe de volta.

— É só uma festa de noivado, mamãe.

— Imagina se isso vira um casamento real? — disse Sonomi, sorrindo.

A costureira não pode chamar nenhum dos amigos de trabalho do Barça, porque eles odiavam a monarquia. Nem sequer chamou seus colegas da igreja, pois ninguém sabia que Felipe era Rei. Aquela era uma festa apenas para a família, conhecidos e nada mais.

Da parte de Felipe, estava seu tio, Dom Miquel, sua irmã mais velha, Uxue, e os filhos e o marido dela com Francisco Ramos, agricultor e Conde de Badajoz, e alguns amigos da nobreza da Estremadura e Portugal, próximos ao conde.

Dom Miquel Tossel Ferrer de Borbon i Santamaria era o mais velho Ferrer de Borbon em atividade. Tinha 97 anos e nem parecia que o tempo tinha algum efeito sobre ele. Era filho do rei Sergi I com sua esposa favorita, a Rainha Soraya. Sua mãe morreu esquizofrênica, pulando da janela, quando ele tinha cinco anos apenas. Depois da morte dela, Dom Sergi I se tornou um homem profundamente amargurado e dizem que nunca mais sorriu. Quando contou ao pai que queria ser padre, viveu a vida inteira sendo pressionado pelo rei a mudar de posição. Nem mesmo quando os Acerbispos de Barcelona, Madrid e Toledo, se reuniram com Dom Sergi ele mudou de ideia. Sempre contou com o apoio do irmão, Príncipe Albert das Astúrias, nos anos de convivência mais difíceis ao lado do rei cruel, como era conhecido Dom Sergi naqueles anos.

Criança prodígio, Miquel foi ajudado pelo irmão Albert e fugiu para Barcelona com só 10 anos para entrar no seminário. Chegando lá, adotou o sobrenome de "Tossel" para se esconder do pai. Espírito livre e mente aberta desde sempre, com 18 anos, ousou e se candidatou à vice-presidência da Catalunya pela Esquerda Republicana e ganhou. Mal teve tempo de exercer o mandato, pois o governo democrático foi tomado por um golpe militar do General Antônio Ciuxart. O golpe visava restaurar a ordem do reino depois da morte do Rei Albert, provocado por facções radicais dos republicanos. Foi forçado a se exilar por 35 anos da Espanha por fazer parte de um partido republicano e só voltou em 1973, para ajudar o irmão Andoni. Ajudou na transição democrática quando foi eleito presidente da Generalitat em 1976. Ficou no cargo até 1980, quando assumiu a função de Cardeal Bispo de Óstia e carmelengo de sua santidade no Vaticano. Até teve chances de virar Papa em mais três conclaves, mas não quis. Sempre disse que suas preocupações são a sua família e seu país, Catalunya.

Uxue Ferrer de Borbón i Pozueta era botânica de formação e trabalhou por vinte anos numa perfumaria, mesmo sendo uma princesa. Foi ela quem reformou os jardins do palácio real de Madrid. Sempre lutou para manter a família unida e preservar as tradições reais. Sempre esteve ao lado do irmão, Felipe, e sempre manteve contato com Maitê e Jordi, irmãos dos dois.

Maitê, a primogênita do Rei Andoni com a rainha Begoña Pozueta, não estava lá. Ela foi uma das participantes do ataque da Ordem do Dragão contra Sakura há um ano. Estava foragida da justiça, acusada falsamente pela autoridade mágica de tráfico de drogas.

Maitê Ferrer de Borbón i Pozueta, a primogênita, foi a escolhida pelo Rei Andoni para assumir o trono espanhol, mas renunciou ao direito de primogenitura junto com Uxue em prol do terceiro irmão, Felipe, porque as duas acreditavam que os republicanos tomariam o poder mais cedo ou mais tarde. Formada em Economia, chegou a trabalhar num banco e arrependeu-se amargamente da decisão de recusar o trono, vendo que o irmão Felipe só queria saber mais do Exército do que ser Rei. Abandonou a família real em 1996 e foi viver uma vida discreta de empresária na Galícia, ao lado do marido, Xosé Feijoo, empresário da pesca e Duque de Pontevedra.

Outro irmão de Felipe que não estava presente era Dom Antoni Ferrer de Borbón i Lekuauribe, o irmão caçula que decidiu ser padre desde cedo. Antoni, Felipe e Jordi eram os filhos do Rei Andoni com sua segunda esposa, Mari Lekuauribe, que morreu cedo quando deu a luz à Antoni. Criado pelo tio, Dom Miquel Tossel, subiu na hierarquia da Igreja até alcançar o posto de Pontífice, agora chamado de Papa Antoni I. Mesmo longe em Roma, ele mandou sua mensagem ao irmão.

— Espero, Felipe, que você deixe a vida dupla que vem levando em Barcelona e assuma suas responsabilidades com o reino! Você puxa muita sardinha pros trabalhistas e um rei deve ser neutro antes de qualquer coisa! — disse Dom Antoni, numa videochamada pelo whatsapp.

— Eu tenho pouco tempo, meu irmão, pra ser neutro! — disse Felipe, sorrindo, olhando para o celular. — Tudo o que eu posso pedir para o senhor é sua bênção, meu irmão.

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— Uma pena que você só me veja como um operario fazendo um serviço pra você. Sou seu irmão e seu Papa. Pode contar comigo para o que precisar! Cristo, em três anos, mudou o mundo, o que você não pode fazer com o tempo que lhe resta? — disse Antoni. Ele fez o sinal da cruz e se despediu. — Vai em paz, Felipe! Mais tarde eu falo com vocês… Quero casar vocês quando o dia chegar, ouviu?

— Vai sim…

— Espero que você tenha convidado o Jordi.

— Ele vai vir de qualquer jeito, nem precisa convidar… — disse felipe, encerrando a chamada, melancólico.

Jordi Ferrer de Borbón i Lekuauribe era o irmão do meio. Quando Felipe partiu para a guerra no País Basco, foi ele quem assumiu o trono e as funções de chefe de estado no lugar de Felipe, como vice-rei da Espanha. Ficou vinte anos como “Virrey”, pois Felipe se negava a abandonar a carreira militar no País Basco para assumir como Rei. Com raiva do irmão, publicou um artigo explosivo, detalhado, cheio de fotos e extenso no jornal conservador “ABC” em 1999, acusando-o de querer se divertir e não levar com seriedade a carreira de Rei.

Os dois brigaram feio e Jordi exerceu as funções de Vice-rei até o ano 2000, quando abandonou a família real definitivamente, deixando os títulos de Vice-rei, príncipe de Espanha e primeiro na linha de sucessão do trono para trás. Com a renúncia de Jordi, Antoni assumiu o posto de primeiro na linha de sucessão, coisa que Dom Miguel não fez quando seu irmão, Rei Albert I, morreu sem deixar herdeiros.

Pensando em tudo isso, Felipe olhava o imenso retrato do Rei Andoni, seu pai, na parede ao lado do trono, e o seu próprio, logo em seguida. O Rei refletia sobre tudo isso, sobre seus irmãos e sua vida até aquele momento. Vestia o terno bege do exército de terra, cheio de medalhas, com as ombreiras e as divisas de General de Brigada, o posto mais alto que alcançou na hierarquia militar.

Sentiu as mãos de Tomoyo agarrarem calorosamente essas obreiras, que tanto orgulho tinha por ostentar.

— Eu estou pronta, Felipe. Seu pai teria orgulho de você, vendo o homem que se tornou. — disse Tomoyo, animando-o. El Rey derreteu-se todo num sorriso e beijou as mãos da noiva.

— Queria que ele te conhecesse… Queria muito ter meu pai aqui comigo hoje… — disse Felipe, em prantos. Tomoyo abraçou a cabeça dele, derramando uma lágrima também.

IV

Bilbao, Espanha.

Na sala de cirurgia, Sakura olhava para o peito nu do paciente. Era um menino de apenas seis anos que tinha uma das veias do coração um pouco fracas. Era a mesma idade de Chitatsu. Para melhorar a circulação no órgão e evitar que o músculo necrosasse, tanto Sakura quanto a professora concordaram que era necessário fazer uma cirurgia de ponte de Safena no rapaz em vez de um transplante, o que seria mais complicado e evasivo.

— Taldeak, prest al zalde? (Equipe, tá todo mundo pronto) — perguntou Begoña.

— Bai! (sim) — responderam todos.

— Eu também estou pronta, Fessora… — disse Sakura.

— Eu sei que você está… Seu pai e seu irmão ficariam felizes por você… — disse a professora. Sakura estranhou.

— Peraí, como a senhora sabe do meu irmão e do meu pai? — perguntou a cardcaptor.

— Quando a gente terminar, eu te conto. Agora, foco, Sakura, foco! — disse a professora, deixando a cirurgia a cargo dela. Sakura ficou com muitas dúvidas na cabeça, mas olhou para o rapaz e focou de vez na operação.

— Taldea bat, Ireki bularra dezagun, Taldea bi, Hankatik Ildoa hartu dezazun! Hasi! Hasi! (Equipe um, vamos abrir o peito, equipe dois, tirar a veia da perna! Começar, começar!) — disse Sakura.

Sakura pegou o bisturi e começou a fazer a incisão.

V

Palácio Real de Madrid.

Tomoyo e Felipe sentaram-se nos tronos preparados para eles. Alguns dos guardas reais mais próximos da família real espanhola estavam vestidos com roupas de época, cerimoniais do século 15. Todos os convidados estavam de um lado e de outro do trono, deixando o tapete vermelho livre. Sophia e Carmen estavam do lado deles, e parecia que tinha uma pulga dentro da roupa da princesa, de tão animada que ela estava. Ela não conseguia ficar quieta no pequeno trono montado para ela.

Um corneteiro da guarda real tocou a trombeta e todos pararam de conversar. A princesa Uxue deslocou-se para o meio do tapete vermelho, ficando na frente de Tomoyo e Felipe.

— Atenção todos! Agora chegou a hora do presente dos noivos! Representando a Família Bengoetxea, Amaya Bengoetxea, irmã do Coronel Unai Bengoetxea, superior hierárquico de sua majestade, El Rey, durante a guerra civil basca. — disse Uxue. Dois guardas reais abriram a porta do salão e, pelo tapete vermelho, entraram Amaya, Koldo e Xabi. Eles eram os irmãos mais velhos de Unai Bengoetxea. Atrás deles, por ordem de idade, vinham Koldo, Ander e Gotzone, os três filhos de Unai. Por fim, atrás de Gotzone, vinham Iñaki e Iñigo, a nova geração da família. Sophia, no pequeno assento onde se sentava, ao lado de Felipe e Tomoyo, não deixou de fazer cara de estranheza quando viu os meninos.

— Papai, o que esses moleques tão fazendo aqui? — perguntou Sophia.

— Eu não contei pra você, mas a família Bengoetxea sempre foi muito parceira da família real espanhola ao longo do século vinte, filha. Foram os esforços do Coronel Gaizka Bengoetxea, pai do Unai, meu superior, que ajudou a pacificar Guipúscoa durante o golpe republicano de 1936. — disse Felipe. Sophia fez cara de que não entendeu nada.

— Eles brigaram comigo na praia, pai!

— Trate de se tornar amiga deles, minha filha! — disse Felipe, sorrindo para ela. Sophia voltou-se para Tomoyo e ela disse:

— Eu fico imaginando a cara da Sakura, vendo a família Bengoetxea reunida aqui, com tudo isso de gente! — comentou Tomoyo. Sophia aproveitou e provocou a mão de coração.

— Ela não vai vir, Tomoyo! — disse Sophia, mostrando a língua. A roxinha apenas sorria enquanto o restante da família se aproximava do trono. No fundo, aquelas palavras de Sophia doíam em Tomoyo. A princesinha arteira não era boba e percebeu os olhares diferenciados da costureira para a cardcaptor.

VI

Hospital infantil de Bilbao.

As portas da sala de cirurgia se abriram. Sakura e Begoña saíram para uma antesala, descartando máscaras e toucas numa lixeira próxima.

— E então, o que achou, Sakura, da sua primeira cirurgia?

— Até que foi simples, né? Não demorou muito…

— Ponte de safena demora umas cinco horas, levamos cinco e uns quebrados… Você foi muito bem mesmo! Um cirurgião iniciante ia levar umas sete horas, no máximo.

— Fessora, a senhora sabe que teria durado mais, se a senhora tivesse me deixado fechar o menino…

— Não precisava… Eles fecham… Eles são calouros, não são? Deixa eles se aprenderem um pouco também… Temos assuntos mais importantes a tratar…

— Hoe? — perguntou Sakura, confusa. A professora sorria com malandragem para ela.

— Promete que não vai contar pra ninguém o que você vai ver agora?

— Ver o quê? — perguntou Sakura, com um frio na barriga.

— Vem comigo! — a professora apertou a mão de Sakura e as duas desapareceram num redemoinho que apareceu no ar do nada. Era como se estivessem escorregando pela privada.

— Hoeeeeeeeeee! — gritou Sakura.

VII

Palácio real de Madrid

Já era de tarde. Os céus da capital espanhola começaram a ser tingidos de laranja. Como num salto no meio do nada, Sakura e Begoña caíram no meio de uns arbustos.

— Professora! Onde é que a gente tá? — perguntou a Cardcaptor.

— Não tá vendo? Esse é o Palácio Real de Madrid… — respondeu a médica.

— Palácio Real? Hoe! Como a gente veio parar aqui! A gente tava em Bilbao agora pouco! Não me diga que… — disse Sakura, tremendo. A professora Begoña enfiou a mão no pescoço de Sakura e retirou a chave do lacre.

— Eu já sabia, Sakura, que você tem poderes especiais. Um mago reconhece o outro, não tem jeito… — disse a professora. Sakura ficou com o rosto vermelho.

— Eu sou uma sonsa mesmo! A professora que eu tanto admirava tem poderes mágicos! Puxa vida! O que eu vou fazer agora?

— Você não queria vir aqui, Sakura? Você não tava preocupada a cirurgia inteira se conseguiria vir ou não para a festa de noivado da Tomoyo? Pronto! Você tá aqui! Agora só aproveitar, menina! — disse a professora, agarrando com força os braços de Sakura. A cardcaptor ficou mais vermelha ainda.

— Bem…

— Paradas aí! — disse uma voz grave e masculina. De repente, vários soldados de terno azul cercaram Sakura e Begoña. Portavam submetralhadoras e apontaram para as duas. Médica e aluna se olharam, perguntando silenciosamente o que fazer. Sem ter muita opção, levaram ao mesmo tempo as mãos à nuca.

— Peraí, eu só queria ver a Tomoyo! Ai, ai, ai, ai! — disse Sakura. Os guardas agarraram as mãos delas e colocaram algemas.

VIII

Sentada no trono, Tomoyo observava a procissão de convidados entregando presentes para ela e Felipe. Ela sequer podia se levantar para falar com os convidados, nem podia pegar os presentes pessoalmente. Os convidados chegavam, faziam uma reverência, entregavam o presente para um guarda real de farda azul e voltavam para o lugar onde estavam, ao lado do tapete vermelho. Os guardas se revezavam para levar os presentes para uma sala ao lado.

Vendo aquela procissão de gente deixou Tomoyo profundamente entediada. Felipe percebeu.

— Tomoyo? Algum problema?

— Essa recepção real… Tem muito protocolo, não é? Nem minha mãe pode vir e falar comigo. Acho isso absurdo. — disse Tomoyo. Felipe sorriu.

— É o protocolo, Tomoyo! Não fica chateada! Você vai poder falar com todo mundo daqui a pouco…

— Preciso me acostumar com isso… Esse rigor todo…

— Você vai se acostumar rapidinho… — disse El Rey, beijando a mão dela. Um guarda real apareceu por uma das portas laterais e cochichou uma mensagem na orelha de Felipe. Tomoyo virou o pescoço e percebeu que alguma coisa estava acontecendo pela cara séria que El Rey fazia. Ele levantou-se do trono e disse:

— Deixem-nas entrar! Deixem-nas entrar aqui e agora!

— Sim, majestade! — disse o guarda real que veio dar o aviso. Ele pegou o rádio e mandou uma mensagem aos guardas fora da sala.

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— Deixar entrar? Deixar entrar quem, Felipe? — perguntou Uxue.

Ninguém entendeu o berro que Felipe deu e ficaram atordoados. As portas da sala do trono se abriram e uma série de guardas reais apareceram. No meio da nuvem de soldados, Sakura e Begoña surgiram. Sophia e Carmen arregalaram os olhos.

— Sakura! — disse Tomoyo, se levantando do trono com o coração na mão.

— Tomoyo-chan! Essa guarda real não dá moleza, né? — disse Sakura, coçando a cabeça. Todos os presentes olharam com surpresa para as duas mulheres, vestidas ainda com a roupa azul de hospital.

IX

O cardeal Dom Miquel Tossel, Marcela e El Rey foram até a biblioteca do palácio, para conversar mais reservadamente. Os outros convidados também estavam lá, conversando com Sakura e Begoña. Eles davam muito valor ao relato delas, por se tratarem de duas médicas e mal sair de uma cirurgia.

— A vinda da Sakura aqui é uma grande felicidade para todos nós, não concorda, sobrinho? — perguntou o Cardeal para Felipe.

— Ele fica com ciúmes ainda por causa da Sakura! É assim que um cinquentão se garante com uma novinha de quase trinta, Fê? — perguntou Marcela, rindo da cara que ele fez.

— Eu fico um pouco enciumado, Marcela, Você já sabe disso… E outra: você pare com essas informalidades. — respondeu El Rey, envergonhado.

— Deixe disso, sobrinho! As duas são amigas há anos e a participação quer de uma, quer da outra num momento tão importante como esse era inevitável… — respondeu o Cardeal. Felipe ainda estava contrariado. — Vou indo, meu sobrinho, Marcela. Vou falar um pouco com a Tomoyo e amanhã estou de volta. Fiquem com Deus.

— O senhor também, meu tio… O senhor também… — disse Felipe. Dom Miquel fez o sinal da cruz na testa dele e El Rey beijou as mãos do tio.

— Eu também vou indo… Preciso preparar a sua defesa, não é? Os próximos dias prometem ser duros, esteja preparado! — disse Marcela, se retirando também.

A

Do outro lado da biblioteca, Tomoyo conversava com Sophia e Carmen. A princesinha insistiu porque insistiu em ficar no colo da costureira, e as duas deram adeus para Marcela quando ela passou pela porta.

— Quem disse que ela não ia vir, hein, mocinha? — perguntou Tomoyo.

— Não gosto como a Sakura olha pra você e pronto! Você é a minha mãe! Não daquele menino doido! — disse Sophia, apertando o pescoço de Tomoyo.

— Sophia, olha a compostura! Você é uma princesa, precisa se comportar! — disse Carmen.

— Toca aqui! — disse Tomoyo para a pajem. As duas bateram as palmas das mãos e Sophia pediu para descer do colo. Ela pegou nas mãos de Carmen e as duas saíram corrrendo para fora da biblioteca.

— Absurdo, Carmen! Nem pra me defender! Puxa! — disse Sophia.

— E eu falei alguma mentira? — disse Carmen.

Tomoyo sorriu vendo as duas correrem. Dom Miquel apareceu ao seu lado.

— Oh, Dom Miquel, que coisa, não é?

B

Todos os convidados de Felipe e Tomoyo conversaram com Sakura e Begoña, exceto a família Bengoetxea, que achou melhor tomar distância. Iñigo tomou iniciativa e correu até a jovem médica.

— Iñigo…

— Sakura, Chitatsu ona da! Gure etxea da! Ama asko gustatu du ere! (Sakura, o Chi tá bem! Ele tá na nossa casa! A mamãe também gosta muito dele!). — disse Iñigo.

— Mila esker… Mila esker… (brigada, brigada…) — respondeu Sakura, timidamente. Iñigo ainda estava sorridente. Gotzone se aproximou dele e puxou o menino.

— Gabon On (boa noite), Goti, pensei que você não estivesse aqui… Eu né esqueci que seu pai foi chefe de Felipe VII — disse Begoña.

— Vocês já se conhecem, é? — perguntou Sakura.

— Muito… Até demais… — respondeu Begoña, meio sem jeito.

— Begoña é a minha amiga também, Sakura. El Rey é o Comandante Supremo da Ordem do Dragão. Espero que não se incomode com isso. — explicou Gotzone.

— Eu não ligo com nada disso não! Não mesmo! Só não se mete na minha vida mais que você se meteu! — disse Sakura, cruzando os braços e fazendo cara feia.

— Está bem, Sakura, essa conversa nem deveria ter existido para começo de conversa. — disse Gotzone. Ela pegou Iñigo e puxou a orelha dele.

— Vai com seus tios. Preciso ter uma conversa com sua majestade… — disse Gotzone. Amaya, Koldo, Xabi, junto com seus irmãos Koldo e Ander estavam com Tomoyo e depois de um tempo, se retiraram do palácio.

C

Na porta de entrada da biblioteca, Uxue apareceu correndo. Felipe e Tomoyo se assustaram.

— Irmão… Não deu pra avisar… — disse Uxue.

— Nem precisava — disse Felipe.

Uma série de guardas reais atravessaram a porta antes do recém-chegado. Foi a mesma forma que Sakura entrou na sala do trono. Por trás deles, estava um homem de cabelos negros, bem penteado e olhos azuis claros. Um dos guardas anunciou:

— O vice-presidente do partido conservador e ex-virrey de Espanha… Dom Jordi Ferrer de Borbón i Lekuauribe.

— Cheguei tarde, mas ainda não tão tarde a ponto de não passar para meu irmão a mensagem que eu tenho que passar… Creio que seja o mais útil agora para toda a nossa família. Para o bem dela, que eu tanto zelei por mais de vinte anos… — disse Jordi.

— Jordi… — disse Felipe. Todo mundo se calou quando ouviu o nome do irmão mais jovem do rei sendo anunciado pelos guardas reais.

— Felipe… — disse Jordi, olhando para Tomoyo. Sonomi, que estava do lado dela, apertou com força o braço da filha diante dos olhares gelados do irmão do rei. — Entendi… Entendi o que está acontecendo aqui. Meu tio Miquel me contou. Você gosta dessas moças de olhos puxados mesmo, não é? Se bem que essa outra senhora, de olho puxado também, com esses cabelos curtos cor de vinho está mais pra sua idade… — comentou Jordi, olhando para Sonomi. Outro silêncio sepulcral apareceu, até Sonomi abrir a boca.

— Seu insolente! Como se atreve a desrespeitar minha filha! — disse Sonomi, irritada. Todo mundo ficou esperando pela reação de Jordi. Foi Tomoyo quem quebrou aquele gelo primeiro.

— Jordi… Eu já conheço a história do Felipe.

— Então ele te passou tudo mesmo?

— Tudo. Não há segredos entre nós, o essencial de um casal. Por isso eu estou aqui, noivando com ele. Se você veio para transmitir sua mensagem, se você veio também para cumprimentar a gente e saudar seu irmão, por mais que Dom Miquel tenha te pedido, é bem vindo. Se veio aqui espalhar a discórdia nesse nosso momento de felicidade da família real, então eu convido a se retirar daqui, por ele ser seu rei e pelo respeito que todos aqui têm pelo figura do chefe de estado da Espanha! — disse Tomoyo, com o olhar sério e firme. Um frio percorreu a espinha de todos esperando para ver o que Jordi falaria.

— Você fala como uma rainha… Não é à toa que ele te escolheu, não é à toa que a Sophia te considera como mãe. Só espero que ele tenha te contado tudo mesmo. Helena era do mesmo jeito que você… Não conseguia segurar a língua. — disse Jordi. Ele deu alguns passos em direção á Felipe.

— Eu preciso falar com você, em particular. Pode me conduzir ao escritório? — perguntou Jordi. El Rey e ele saíram juntos da biblioteca.

X

Em um dos corredores do palácio, Sakura, Tomoyo, Sonomi e Begoña caminhavam, observando os retratos de antigos membros da família real pendurados na parede.

— Eu nem imaginava que você ia conseguir vir, Sakura! Não sabe como eu tô feliz! — exclamou Sonomi, com alegria no olhar.

— Mamãe, a Sakura estava treinando… A gente sempre guarda a esperança no fundo do coração… — disse Tomoyo.

— Na verdade foi a professora Begoña que me teleportou… — disse Sakura. Sonomi e Tomoyo ficaram impressionadas.

— Não se acanhe em falar de “magia” na minha frente, Tomoyo. Eu não tenho que me intimidar com uma coisa que eu nasci com… — disse a professora. Ela pegou um vaso numa mesinha próxima e jogou no chão. Todas se assustaram. Bastou alguns poucos segundos para a médica apontar a mão para os cacos e um círculo mágico branco aparecer na palma de suas mãos. Em instantes, o vaso voltou a ser o que era, sem nenhuma fissura. Tomoyo e Sonomi aplaudiram.

— Hoe! A professora consegue consertar coisas? — perguntou Sakura.

— Não é bem consertar. Meu poder tem a ver com o tempo dos objetos. É como voltar atrás em um vídeo. Cada coisa nesse mundo tem uma linha temporal. Já ouviram falar do fio da vida e das irmãs parcas? — perguntou a professora.

— Agora entendi. São as deusas que tecem o fio da linha da vida! — disse Sonomi.

— Exato. Eu faço a mesma coisa, só que com objetos… Eu consigo avançar e recuar na linha de tempo das coisas… — explicou Begoña.

— Mexer com tempo precisa de muito talento mesmo, mas também puxa muita energia, já dizia o Kero. — disse Sakura. A cardcaptor, Sonomi e Tomoyo admiraram o talento da professora de Sakura.

— Você está certa, Sakura, por isso só consigo voltar alguns segundos no tempo. Por falar no seu guardião, cadê ele? — perguntou Begoña. — Adoraria conhecê-lo.

— Ele está com a nova amiga dele, a Ami Mizuno. Ele conseguiu passar aqui mais cedo e deixou presente! — disse Tomoyo.

— Presente que ele comprou usando meu dinheiro, é claro! — esclareceu Sakura. — Mudando um pouco de assunto… Eu agora entendo um pouco mais por que você quis ficar do lado do Felipe, Tomoyo, da luta que ele tem que passar. Aquele homem me deu arrepios, sério mesmo — disse Sakura, pegando gentilmente as mãos da amiga querida, cobertas por uma longa luva da ponta dos dedos até o cotovelo.

— Eu só via esse Jordi pela TV, Sakura minha filha, mas só de ver, eu já me irritava. — disse Sonomi.

— Entendo, Sonomi-san. Eu senti a mesma coisa… — disse Sakura, se voltando para Tomoyo. — Agora você sabe como essas luvas pinicam, né? Você me fazia vestir elas direto… — disse a Cardcaptor, olhando diretamente nos olhos de amiga. A morena ficou vermelha. — Você está linda mesmo…

— Obrigada, Sakura, obrigada. O que eu mais temo mesmo é essa guerra psicológica que o Felipe tem que travar contra o irmão dele… Eu sei que o Felipe não fez nada! Ele não é esse monstro que todo mundo fala! — disse Tomoyo.

— Olha, eu sou bizkaina e me lembro bem desse tempo da guerra do Felipe VII… Houve um tempo que o Exército de libertação basco controlou a província por uns meses, prometendo nos libertar do jugo espanhol. Libertaram nada. Uma vez que tomaram controle da província, implantaram a própria ditadura deles. Até mesmo falar espanhol era arriscado… — explicou a professora.

— Eu sei que o Felipe não é nenhum santo, erros foram cometidos nessa guerra pelos dois lados. O que mais me dá medo é usarem essas coisas para tentar destruir a família do Felipe, a Sophia… Eu tenho muito medo por ela, eu tenho até medo que possam fazer alguma coisa comigo mesma. — disse Tomoyo. Sakura, instintivamente, segurou as mãos e os ombros dela.

— Não fala assim! Vamos enfrentar o que a gente tiver que enfrentar! Você não tem culpa de nada e a Marcela vai tentar dar um jeito! Por você e pela pestinha daquela Sophia! — disse Sakura. As duas estavam tão juntas que se separaram na hora, quando suas faces ficaram muito perto uma da outra.

— Sei não, vai lá saber se esse julgamento do Felipe não é armação do irmão dele. Como boa basca que sou, não sou muito lá fã da monarquia, nem de nenhuma mas há de se reconhecer que Jordi nunca gostou do Rei. Pra mim, ele é capaz de tramar qualquer coisa pra tirar o irmão do trono… — disse Begoña.

— Será? Acha mesmo, Begoña? — perguntou Sonomi.

— Eu senti um frio correndo a minha espinha quando aquele Jordi entrou… No País Basco ele não ganha uma eleição! Parece até que veio do inferno só pra causar! Cruzes! Representou, hein, Sonomi? — disse Begoña.

— Fiz o que qualquer mãe faria por uma filha. Essas duas, eu defendo com unhas e dentes! — disse Sonomi.

Enquanto ela e Begona continuaram a conversar, Tomoyo ficou tão preocupado com o noivo que se afastou delas, andando até uma das janelas do corredor. Ela ficou olhando melancólica para o pôr do Sol. Sakura ficou preocupada também com a feição da morena.

— Felipe… — disse Tomoyo.

XI

No escritório do palácio, Jordi olhava para um retrato do pai, o rei Andoni I. Atrás dele estava Felipe, sentado no sofá. O móvel estava na frente de sua escrivaninha.

— Sabe o que o pai disse antes de levar aqueles tiros nas costas, Felipe? "Proteja o reino, Jordi, proteja Espanha, contra todos os inimigos internos e externos. Você pode não ser o rei, sei que você é um príncipe infante por nascimento, mas você tem uma função mais importante ainda, que é proteger o rei…" — disse Jordi. Felipe começou a sorrir.

— Me proteger? — Felipe sorria. — Você me protegeu onde, Jordi? Me fala, vai? Até mesmo quando eu tava no campo de batalha, você aproveitava qualquer oportunidade pra me atacar!

— Eu confesso que eu não consegui proteger você meu irmão. Eu confesso que eu não consegui proteger você contra o seu maior adversário: você mesmo, o próprio rei de Espanha! — disse Jordi, sentando-se diante de Felipe. — Mas ainda eu posso proteger a coroa e o trono, se é que me entende… — disse Jordi. El Rey ficava cada vez mais contrariado.

— Anda logo, Jordi! Fala logo o que você pretende com tudo isso!

— Os juízes da suprema corte já terminaram de recolher os depoimentos, não é? Inclusive o seu, acredito…

— Ainda vou ter que voltar lá e confirmar o meu depoimento…

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— Você se lembra, meu irmão, que o pai fez um referendo nos anos setenta, perguntando pro povo se queriam monarquia ou república?

— Sei sim, o povo escolheu manter a monarquia, não é?

— Mas o referendo não valeu porque a mãe foi assassinada naquele ataque terrorista. Aquela maldita bomba debaixo do carro dela, se lembra?

— Não é a toa que eu tô fardado até hoje, né? Pra vingar o pai e a mãe.

— Os trabalhistas pensaram que devido à comoção pela morte trágica da mãe, o povo votou pela monarquia. O pai fez questão de repetir o referendo no futuro só pra calar a boca deles e fixou a data para daqui há cinquenta anos, ou seja, se o primeiro referendo aconteceu em 1975, o próximo seria em 2025…

— Sei, o pai mesmo me contou essa história. Mas o que isso tem a ver com a sua visita? — perguntou Felipe.

XII

Do outro lado da porta do escritório, Sophia escutava tudo. O rosto da menina estava coberto de preocupação.

— Sophia? Sophia! O que você tá fazendo aí? Eu tava te procurando o palácio todo!

— Me deixa, Carmen, me deixa aqui um pouquinho, vai…

— Como te deixar? A guarda real pode pegar a gente! El Rey pode sair daí a qualquer momento! — disse Carmen, desesperada. Ela começou a falar tão alto por conta do desespero que Sophia pediu silêncio para a amiguinha.

— Carmen, cala a boca! Eu preciso saber porque o pai fica assim quando o tio vem visitar a gente! Eu preciso saber! Você fica comigo, Carmen? — implorou Sophia. Os olhos da princesa lacrimejaram. A pajem hesitava.

XIII

Do outro lado da porta, a conversa entre Felipe e Jordi continuava.

— Tem tudo a ver. Se você for condenado, os republicanos querem antecipar esse referendo. Imagina o resultado que vai dar nessa votação com um rei atrás das grades: a monarquia vai ser destituída, você e a mana Uxue vão perder seus privilégios e, do dia pra noite, um monte de títulos reais na Espanha vão ser cancelados. Imagina se os milionários com títulos de nobreza visse uma coisa dessas? Eles têm isenção de alguns impostos, não tem? — perguntou Jordi. Felipe continuou calado, entendendo onde ele queria chegar.

— Eles iam transferir a sede das suas empresas para algum paraíso fiscal, como Mônaco, pra continuar com os benefícios. Imagina o impacto na economia? Não que você se importe com isso, é claro… — disse Jordi, sorrindo de leve.

— Então…

— Então, é aí que eu surjo, pra salvar a nossa família! Eu não posso permitir que o Rei da Espanha seja julgado e condenado. Mas o cidadão Felipe Ferrer sim…

— Você tá dizendo que…

— Você tem que se afastar meu irmão. Eu já acertei tudo com o partido conservador. Assim que você se afastar, vamos tirar seu retrato de todos os edifícios públicos do reino e vamos colocar o de Sophia.

— A minha filha, Jordi? Ela só tem seis anos! Deixa ela ter a juventude dela em paz! Você não tem vergonha na cara não? — disse Felipe, nervoso, levantando-se do sofá na hora. Jordi agarrou os ombros dele novamente e sentou o irmão de novo.

— Calminha aí, calminha aí! Você pensa que está em posição de negar a minha proposta? Pensa mesmo? Sophia, mais cedo ou mais tarde, vai se tornar a rainha. O pai foi rei com 16 anos e ninguém falou nada! Nosso vô, Dom Segi, foi rei com 17 anos! O que tem a Sophia ser rainha só com seis? Isso é, se ela tiver um bom regente do lado dela… E você vai ser condenado.

— Como você tem tanta certeza assim?

— Se esqueceu que metade dos juízes da suprema corte foram indicados pelos partido conservador? Eu tenho conversado com eles… Eles já me adiantaram que você está por um fio! — disse Jordi, sorrindo.

— Olha que coisa! Vai lá saber que não é você quem tá ditando a sentença na orelha deles! — disse Felipe, indignado.

XIV

Atrás da porta, Sophia chorava. Carmen estava agoniada com a possibilidade de aparecer um guarda real a qualquer momento. De repente, alguns passos foram ouvidos pelo corredor.

— Sophia! Eu falei pra você! Eles estão vindo! — disse Carmen, quase chorando.

— Vamos pra trás da cortina! — disse Sophia, arrastando a amiga para uma das cortinas que estavam ao lado das janelas do corredor.

Abraçadas, as duas tremiam, vendo a silhueta dos homens e ouvindo o passo deles através do tecido.

— Sargento, conseguiu localizar a princesa?

— Ainda não, tenente! Acho que elas devem estar nos jardins.

— Já tem uma equipe por lá! Dona Uxue tá preocupada. Vamos andando! El Rey está atrás daquela porta e Dom Jordi não vai querer ver a gente aqui — disse o tenente. Os dois soldados andaram em direções opostas. Dentro da cortina, Sophia abraçava o corpo trêmulo de Carmem com força, enxugando as lágrimas que saía no cabelo dela.

XV

Do outro lado da porta, a conversa entre Felipe e Jordi continuava.

— Se fosse eu quem estivesse ditando a sentença, eu já teria te tirado do trono na década de noventa, rapaz! Motivo não faltava. Eu e a Maitê já sabíamos das suas merdas no País Basco faz tempo. Mas ela acreditou em você, eu acreditei em você até onde deu e não jogamos essa merda toda no ventilador que só saiu agora porque a gente acreditou que você ia ser um bom rei. Que engano! — disse Jordi. Felipe ouvia resignado.

— Então… Já era, né? Não tem mais salvação pra mim segundo o que você disse? — perguntou Felipe.

— Tem sim. Tudo passa pelo seu afastamento… Mas antes, vou garantir que a Sophia seja treinada como uma rainha de verdade por um bom regente…

— A Uxue pode cuidar muito bem dela.

— A Uxue não. Eu! — disse Jordi, arregalando os olhos.

— Como assim você? Você nem é parte da família real mais! — disse Felipe, indignado.

— Eu sei, e é por isso que você vai fazer o seguinte: vai ter eleição no final do ano, não vai ter? Os trabalhistas estão no poder, mas eu sinto aqui, pelas enquetes, que a gente tá pau a pau com eles. Sei de um truque que vai fazer as intenções de voto aumentarem a favor dos conservadores e não só isso: vou deixar os republicanos quietinhos no canto deles com essa ideia deles de antecipar o referendo. Vou até usar o argumento que Sophia ainda é jovem demais para que façam um referendo sobre monarquia e república. A gente vai ganhar mais tempo, fica vendo. Mas, lembrando: tudo começa com seu afastamento…

— Sabia que tinha coisa podre sua aí no meio…

— Nada é pode quando se trata de garantir o futuro da família Borbon, o futuro da sua filha e o futuro da coroa de Espanha! — disse Jordi. Felipe preferiu continuar calado diante do olhar acusador do irmão em vez de responder. — Sei que os trabalhistas nunca vão aceitar que o candidato conservador seja nomeado regente da Espanha do dia pra noite, em pleno avanço do processo contra você. Mas vão ter que engolir, sim, o fato de que o regente da Espanha vai ser presidente de governo também.

Felipe nem prestava atenção para o que ele dizia. Preocupou-se em polir as medalhas do terno de General. Jordi continuou o monólogo.

— No final, eu não vou ter culpa de nada. Quem foi que mandou El Rey escolher seu próprio irmão mais novo, do nada, como regente? Como El Rey ousa interferir na carreira política dele, sabendo que seu irmão pediu pra se afastar da família real? Aí vem El Rey e o nomeia como regente mais uma vez… — explicou Jordi. — Você entende, irmão? Apesar de confuso, tudo vai ser bem explicado no final e vão me aceitar como regente, afinal quem melhor para cuidar da Rainha quando o pai dela está preso? — perguntou Jordi, segurando o ombro dele, já sabendo que o irmão não dava atenção para ele. Felipe parou de polir a medalha e olhou para o Jordi, querendo meter a mão na cara dele. — Eu vou virar um herói, o herói que afastou o Rei vilão, o herói que lutou contra o Rei criminoso de guerra, e, ao mesmo tempo, o Virrey que salvou a coroa, colocando Sophia lá, na hora certa e no tempo certo! — disse Jordi, dando um leve tapa no rosto de El Rey antes de continuar. — Os trabalhistas e os republicanos vão cair pra trás, vou ser eleito presidente de governo e vou usar essa juventude de Sophia que você tanto fala ao meu favor, afinal, quem resiste à um rosto bonitinho de criança? — disse Jordi. Ele saiu de perto de Felipe e pegou o retrato de Sophia na escrivaninha. Felipe não se aguentou mais e agarrou o pescoço dele, sufocando o irmão. — Você acha que pode resistir, Felipe? Sério mesmo? Você já era! — Felipe apertou com mais força ainda o pescoço de Jordi e encostou ele na parede. — O seu erro foi achar que seus inimigos usavam boina vermelha e farda preta. Cada bala que você disparou neles, você cavava sua própria cova. Seu pior inimigo é você mesmo! — continuou a dizer Jordi. Felipe se cansou de sufocar o irmão e jogou-o no sofá, virando o móvel. Jordi se levantou e voltou a encarar El Rey. — Eu vou salvar a minha família irmão, eu vou salvar a realeza das suas mãos ineptas! Se você quiser mandar tudo para o espaço e continuar a ser Rei até a sua prisão, que se dane! Fica acreditando nas mentiras daquela sua advogada e da japonesinha que você arranjou pra sua cama! Fica!

— Não toca no nome da minha mulher! — gritou Felipe, dando um tapa na cara de Jordi.

— Sua mulher? Tem certeza? Eu também investiguei essa japonesa, meu irmão! Não pense que eu vim desarmado! Eu sei da historinha da Tomoyo com a Sakura! Soube até que as duas estiveram juntas num restaurante em Barcelona há uma semana, enquanto você tava aqui, tomando um belo par de chifre na cabeça! — disse Jordi, sorrindo. Felipe ameaçou partir para cima, mas Jordi foi ousado e segurou o pulso de Felipe antes que tomasse mais um tapa.

— Não preciso te tocar, irmão, eu até poderia, mas não quero perder a minha energia com um tranqueira como você! Uma carta fora do baralho com o prazo de validade vencido! Eu só preciso olhar pra essa sua cara de fracassado, saber se no meio dessa chafurda que você vive, você ainda pensa como um rei de verdade ou pensa no seu orgulho acima de tudo! — disse Jordi. Felipe não tinha nem mais ânimo para continuar a falar que nem quis responder o irmão mais ele queria.. — Eu vou indo! Se quiser pensar, pode pensar, mas não demore muito. Quando voltar do recesso parlamentar lá pra setembro, os republicanos vão apresentar a proposta. Eu só fui o primeiro dos barões conservadores a pedir pessoalmente o seu afastamento, e olha que fui gentil. O presidente da Galícia não vai ser tão bonzinho assim e vai querer a sua renúncia de imediato! — disse Jordi, pegando a maçaneta da porta.

A

Felipe começou a gargalhar freneticamente, tão histérico que nem mesmo Jordi entendeu. Ele ficou realmente preocupado com aquele comportamento imprevisto.

— Agora eu entendo. É incrível como o partido conservador cavou a própria cova quando te pôs no comando.

— Você tá louco, é?

— O único louco aqui é você que não enxerga a realidade. Prefere viver dentro da fantasia que você mesmo criou.

— O que você tá dizendo, Felipe? Que fantasia? Essa é a realidade! Você está condenado!

— Você quem pensa… Eu estou exatamente onde eu queria estar. Agora, você não…

— Eu sempre fui um político! Fui mais chefe de estado que você!

— Você pensa que é político quando não é. Aceitou uma esmola dos conservadores e vive dela até hoje!

— O que você chama de "esmola", eu chamo de manter o país unido! Salvar o trono!

— Se a Espanha vai ficar unida ou não, se a família ainda vai continuar no trono, eu não sei. Eu deixo com a minha filha daqui pra frente. Tudo o que sei é que a Sophia nunca, nunca vai ser manipulada por um cara mesquinho como você!

— Quem vai garantir isso, irmão?

— A Sakura que você tanto ignora.

Jordi quis sorrir, mas se segurou.

— Você é um corno manso mesmo!

— Eu sei de Barcelona, a Tomoyo me contou tudo e tá aqui, do meu lado, noivando comigo quando podia ter desistido de tudo!

— Ela tá te fazendo uma caridade, isso sim!

— Vamos falar de caridade agora? A Maribel tá bem? Tem falado com o Pablo recentemente? — perguntou Felipe. Pela primeira vez, Jordi mostrou que estava estressado de verdade e virou-se para Felipe — Ah, é mesmo, eles não tão aqui mais. Já morreram naquele carro velho que você arrancou o freio fora e nem avisou pra eles! Que coisa, né? Será que foi acidente mesmo? — disse Felipe, irônico. Jordi estava quieto. — Pensa que eu não sei, Jordi?

— Não fala deles assim! — berrou Jordi, com os olhos úmidos de lágrima e vermelhos de raiva, alterado.

— E você não venha falar porcarias da Tomoyo na minha frente! Cai fora da minha casa e respeita a minha família, se quer que eu respeite a sua é claro! — disse Felipe, sério, empurrando o irmão.

XVIII

Do outro lado da porta, Sophia chorava sem parar.

— Pai, eu prometo que vou unir o reino! — disse Sophia, determinada.

— Vamos embora, Sophia! Vamos! Seu pai já está vindo! — disse Carmen, puxando a amiga. A princesinha deixou-se guiar pela amiga, por aqueles corredores sombrios do palácio.

XIX

Era tarde da noite e a festa já havia acabado.

Uma tocha conduzia Felipe, Tomoyo e Gotzone por estreitos e sombrios corredores do Palácio Real de Madrid. A loira de tranças ia na frente enquanto El Rey e Tomoyo eram conduzidos por ela.

À medida que caminhavam, as paredes de pedra dos calabouços do palácio eram ficavam mais vermelhas e escamosas.

— Gotzone… Essas paredes são feitas de escamas! — exclamou Felipe.

— Não é só isso… Tem sangue escorrendo delas. — disse Tomoyo, desgrudando a sola do sapato do chão repleto da substância vermelha.

— Não se surpreendam. As armaduras da Ordem do Dragão são vermelhas por causa desse sangue. Quanto mais raro a criatura de onde vem esse sangue, mais poderosa a Ordem se torna… — explicou Gotzone.

— Isso é cruel demais! — disse Tomoyo.

— Não se preocupe. Lluis Soler caçou dragões e homens o suficiente para que ninguém mais pudesse derramar tanto sangue por muito mais tempo na Ordem.

— Dragões e homens? — perguntou Felipe.

— A conquista das Américas não foi um evento bonito. Muito menos nossa magia pode se desenvolver sem esse sangue. — Felipe e Tomoyo ainda estavam muito contrariados com a explicação dela. — Não se preocupem, meu senhor. A chegada de Lluis Soler no México só foi um estopim para que os inimigos dos Astecas e dos Incas se sentissem mais fortes para lutar contra eles. Ganhar a América durante essa confusão toda foi consequência. Quem melhor para mediar essa situação toda de luta de tribos que comem homens do que nós? E ainda somos os vilões dessa história toda… — explicou Gotzone.

— Vilões ou não… Qualquer massacre é intolerável. — disse Tomoyo.

— A Ordem sabe disso. Lluis Soler sabe disso. Perdemos nossas colônias nas Américas e nas Filipinas, mas nossa língua comum, o castelhano, ainda sobrevive nelas. Então, alguma coisa a gente fez de bom, não? — disse Gotzone, com um sorriso no rosto. Deram mais alguns passos até ela falar de novo — Chegamos! — disse Gotzone, tocando numa parede de escamas daquele longo complexo de túneis e corredores.

Era um corredor sem saída. De repente, um círculo mágico vermelho apareceu na parede e o túnel começou a tremer. As escamas saíram do lugar, revelando um salão enorme. Felipe e Tomoyo ficaram boquiabertos.

O salão era todo escuro, mas não precisavam da tocha de Gotzone para ver os objetos do lugar. Uma ponte feita de pedras amareladas conectava os corredores sombrios do castelo com uma parede dourada no final da ponte. De lá, vinha todo o brilho da sala. Na parede, haviam duas imagens gigantescas: a cabeça do Deus Quetzalcoatl e o corpo do Deus Viracocha. As duas divindades estavam repletas de joias e de plumas. Um arrepio percorreu a espinha dos três.

— Eu sinto que essas imagens têm um poder gigantesco… É como esse poder quisesse entrar dentro de mim e me esmagar por dentro… — disse Tomoyo.

— É como quando a Sakura capturava uma carta Clow, não é? Não se assustem, eles não vão fazer nada contra vocês… — disse Gotzone. Ela se aproximou da boca de Quetzalcoatl e recitou algumas palavras de olhos fechados. De repente, a boca do deus esmagou a mão da loira. Ela gritou e Tomoyo correu para ajudá-la.

— Não precisa vir! Faz parte! O líder da Ordem do Dragão tem que estar disposto a se sacrificar se quiser liberar o poder das armaduras reais! Esse é o ritual de deuses sangrentos! — disse Gotzone, agoniada. Uma espada que estava nas mãos do Deus Viracocha saiu da parede e atravessou o corpo da jogadora. Tomoyo ficou chocada. Uma poça de sangue se formou. O sangue que escorria de Gotzone começou a subir pela parede, por linhas douradas incrustadas nela até os dois deuses. Os olhos cheios de pedras preciosas brilharam.

Duas das pedras enormes que formavam a ponte afundaram, revelando um alçapão. Do alçapão, saíram duas armaduras douradas. Elas eram exatamente como a armadura de Gotzone, com capacete, saiote, peitoral, caneleira para o antebraço e as pernas, braçadeiras, cotoveleiras, joelheiras. manoplas, ombreiras, calçados e uma capa escarlate. Nas capas estavam os escudos da Coroa de Castela e Aragão, respectivamente. O deus Quetzalcoatl abriu a boca e Gotzone tirou de lá a mão que antes estava esmagada. Tirou também a espada de Viracocha do peito e devolveu para a mão dele. Não tinha nenhum ferimento mais. Um brilho vermelho circulou por ela e a mão voltou a ficar inteira mais uma vez. O mesmo aconteceu com seu corpo.

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— Felipe… Essa foi a armadura que você usou há cinco anos no Japão, não é? — perguntou Tomoyo.

— Sim. É ela mesma. Foi eu quem invoquei para El Rey naquele momento, no instante que a Ordem foi atrás das Cartas Sakura pela primeira vez.

— E teve essa violência toda? — perguntou Tomoyo.

— Não. Como era só uma, só precisei chamar mesmo, mas como são as duas, sacrifícios precisam ser feitos… — Explicou Gotzone. Felipe e Tomoyo chegaram perto das armaduras, contemplando-as. A loira continuou com a explicação.

— Só o Interventor da Catalunha pode entrar nessa sala, nenhum outro pode. Quando eu consegui invocar essas armaduras e entrar nela, eu percebi que o Interventor comandante estava podre por dentro. Ele não é um Interventor de verdade. Tenham isso em mente, meus senhores! — disse Gotzone. Felipe e Tomoyo se assustaram.

— Como a gente lida com uma coisa dessas, Gotzone? — perguntou Felipe.

— Essas armaduras foram criadas por Lluis Soler para a Rainha de Castela e para o Rei de Aragão. Ele acreditou que Espanha, se quisesse ser um império global, teria que ter um Rei e uma Rainha fortes para fazer frente aos outros impérios da época. Mesmo se o Rei e a Rainha não tivesse magia, como você, Tomoyo, o poder da Ordem seria mais que o suficiente… Considerem isso como uma defesa nesses tempos difíceis que estão para começar… — disse Gotzone.

O casal real se encarou e os dois fizeram um sim com a cabeça. Gotzone pegou a palma da mão deles e desenhou um círculo mágico com uma faca. Doeu como uma tatuagem e sangrou, mas à medida que a loira de tranças desenhava, o sangue cicatrizava e a dor diminuía. No fim, um brilho vermelho apareceu no lugar do corte.

— Com esse círculo mágico, vocês vão poder evocar a armadura a qualquer hora que se sentirem ameaçados.

— Gotzone, será que o perigo é tão grande assim? — perguntou El Rey.

— O irmão do senhor já mostrou que pode ser uma pedra no sapato maior que a gente pensa… — Explicou Gotzone.

De repente, o celular de Tomoyo tocou. Era Sakura.

— Alô, Sakura? Você foi atacada, é? Era o Victor da Ordem? — disse Tomoyo, chocada. Felipe ficou preocupado.

— Como eu falei… O perigo é maior que a gente pensa… Meu rei, minha rainha… Precisamos agir! — finalizou Gotzone.

Continua…