Capítulo 26

Sakura, você precisa escutar!

I

Hospital universitário da Universidade de Deusto

Bilbao, Euskadi, Espanha

17 de janeiro de 2016

— Eskerrik asko, medikua Sakura! (muito obigada, doutora Sakura!) — disse uma jovem com um menino de três anos no colo.

— Mila esker eta ongi jarraitu. (Eu que agradeço! Fique bem!) — respondeu a Cardcaptor.

Depois de seis meses escutando euskara na televisão, vendo os jornais, revistas e ouvindo o povo falar na rua, aquela língua estranha começou a ficar mais compreensível para Sakura.

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A nova cidade onde estava também ajudava. Em Bilbao, o povo valorizava muito o uso da língua ancestral do povo basco em tudo quanto era parte e, em pouco tempo, começou a pegar as manhas da língua. Em Guipúscoa, o povo usava muitas gírias e Sakura acabava se confundindo.

Bilbao também ofereceu a chance para Sakura ter a paz que precisava. A distância de Chitatsu ainda doía e doía por igual no filho também. Mesmo não querendo, aquela distância ajudou a cardcaptor a repensar algumas coisas. Bilbao era uma cidade muito grande. Comparada com Donostia, era a mesma diferença do subúrbio para a cidade grande. Era lá também que estava o maior campus da Universidade de Deusto.

Alugou um pequeno apartamento no bairro de Deusto, o mesmo bairro onde ficava a faculdade e dava nome à instituição de ensino. O ambiente de lá respirava estudo e juventude. Mal saia do apartamento e já sentia o cheiro das tapas e paellas dos restaurantes do lado. Pagava barato, coisa de cinco euros por dia. Andava mais um pouco e já estava nas livrarias. Tinha uma só pra medicina e, muitas vezes, fazia os trabalhos de faculdade por lá mesmo.

Mesmo só há menos de um mês em Bilbao, já se sentia em casa. Aproveitando a mudança dela, Sakura recebeu as amigas, Chiharu, Rika e Naoko, em um dos restaurantes de tapas e paellas favoritos da cardcaptor.

— Nossa! Esse vinho daqui é bom, né? Você fica bêbada rapidinho! — disse Naoko, segurando uma garrafa de txakoli onde se lia: Bizkaiko Txakolina.

— Ele é daqui de Biscaia mesmo, Naoko! Se você quiser, pode pedir umas garrafas pra levar. — disse Sakura.

— Sério mesmo? Vou aproveitar, viu, amiga? — respondeu Naoko, chamando o garçom para que lhe arranjasse mais garrafas da bebida.

— Tô vendo que você já se acostumou com Bilbao, né, Sakura? — peguntou Chiharu.

— Sabe… Eu sou uma pessoa de cidade grande! Aqui tem de tudo mesmo! É tudo tão perto da gente! Essa é a terceira maior cidade da Espanha!

— Não é Sevilha, Sakura? — perguntou Rika.

— Que Sevilha o quê! Vocês se esqueceram de Valência! — disse Naoko.

— Puxa! Até você, Rika, esqueceu de Valência? — perguntou Chiharu.

— Ninguém se lembra de Valência! — disse Sakura. Todo mundo sorriu. — Daqui a pouco tão pedindo a independência também, que nem o povo daqui e onde a Tomoyo mora!

— Deus nos livre! — encerrou Naoko. Todas as meninas gargalharam mais uma vez e Sakura voltou a falar da cidade onde morava.

— Bem, aqui também é legal… — respondeu Sakura. — Sabe, eu sempre fui um espírito livre… E fora que vocês tão conhecendo esse canto exótico do mundo que é o País Basco.

— Deu pra ser filósofa e guia turística agora, é? — perguntou Naoko.

— Isso foi uma coisa que um dos meus colegas me falou, ele fez filosofia e agora tá fazendo medicina. Ele achou que eu fosse muito soltinha… Até já recebi convites pras festas daqui! Puxa vida! Parece que eu tô com 19 anos de novo — disse Sakura, ligeiramente sob efeito do txakoli. Naoko, Chiharu e Rika se olharam.

— Sakura… Você não tem mais 19 anos… — disse RIka.

— Eu realmente não podia esperar outra coisa de você… — disse Sakura, bebendo um copo de txakoli.

— Você tá praticamente solteira, né, amiga? E aí, será que esse gato aí que é médico e filósofo vai te soltar mais ainda? — perguntou Naoko.

— Não sei, Naoko, não sei… — disse Sakura, colocando o copo na mesa. A cardcaptor começava a chorar. — Vocês pensam que eu tô achando isso legal, é? Vocês pensam que é fácil acabar com um casamento de sete anos? Vocês pensam que é fácil sair de Donostia pra vir pra Bilbao? Sair de uma cidade parecida com Tomoeda pra vir pra uma que é como se fosse Tóquio, grande que só?

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— Sakura… — disse Rika, colocando a mão nas costas da amiga.

Sakura baixou a cabeça e cobriu os olhos com as mãos, com a cabeça apoiada nos cotovelos.

— Sakura, a gente tá aqui pra saber como você tá! A gente sabe que não tá fácil! — disse Chiharu.

— Vai fazer um ano que seu pai e o Touya foram sequestrados! — disse Naoko. — A gente também tá preocupada.

— E outra, Sakura: a última vez que a gente se viu foi em Outubro, no aniversário da Sonomi. Daí, quando a gente ia voltar pro natal, você fala pra gente que se separou! Eu falei um monte pro Shoran — disse Rika.

— É complicado… Muita coisa acontecendo… — disse Sakura.

— Mas, no meio de tanta coisa, eu só acho que você devia escutar um pouco mais o Shoran… — disse Rika.

— O que você acha que eu vou escutar dele? — perguntou Sakura.

— A verdade, o porquê de tudo isso… — explicou Naoko.

— Sakura, querendo ou não, ele é uma das pessoas que te entende aqui, entende o que você passou com toda essa coisa das cartas… — explicou Rika.

Sakura chamou o garçom e pediu a conta para ele. Remexeu a bolsa e tirou algumas notas de euros para pagar os vinhos da amiga.

— Meninas, não faz nem um mês que eu me mudei e, pra certas coisas, eu vou precisar de tempo. Eu só peço que vocês me dêem esse tempo. Eu vou falar pra vocês: nem a droga da polícia Harrypotteriana desse lugar conseguiu encontrar meu pai e meu irmão, imagina passar por uma separação como eu tô passando!

— Que palavra difícil essa aí! Acho que esse euskera não tá te fazendo bem não… — disse Naoko.

Sakura não respondeu. Chiharu, Rika e Naoko não falaram mais.

— Eu vou conversar com o Shoran, eu vou querer entender essa situação sim, quando eu tiver que conversar… Vamos indo, meninas! A cidade é muito grande e a gente tem muito que ver ainda…

II

Apartamento de Sakura

Mesmo dia

Já era de noite.

Sakura abriu a porta e deitou-se no sofá, cansada. A sala estava escura e não dava para ver nada, exceto pela luzes de Deusto que entravam pelos vidros das janelas.

De repente, A cardcaptor foi empurrada para o chão e tomou um choque.

— Hoe!!!

— Deitou em cima de mim, sua monstrenga!

— Kero-chan! Você tá aí, é? — Sakura correu e acendeu a luz da sala.

— A Rika me falou que você tava aqui e eu vim fazer uma visita… Cadê elas?

— Tão no hotel… Ainda tô sem muito móvel por aqui… Não tenho nem cama pra elas…

— Tô ligado…

— Mas não é só por isso que você saiu voando de Madrid sem nem me avisar por mensagem, não é mesmo?

Kero se transformou em leão alado e sua cara estava coberta de preocupação.

— Não aconteceu nada com o Chi, né, Kero?

— Não.. Ele tá bem… A questão era outra…

— Que questão é?

— Eu tava hoje com a Bea Fanjul do ministério… Ela me disse que tem informes de que a Ordem vai atacar…

— A Ordem vai atacar? Quando? Onde? — Sakura ficou em alerta e já foi sacando o báculo da estrela.

— Não é assim… Sakura, você precisa escutar!

— Escutar o que?

— A versão do Shoran…

Sakura ficou frustrada e jogou o báculo no sofá.

— O que eu tenho pra escutar, Kero-chan?

— A mesma pessoa que tá pensando em te atacar foi a mesma que atacou o Shoran há… sete anos atrás mais ou menos…

— Sete anos? Como assim?

— Se lembra quando o Shoran ficou dois meses de baixa por lesão?

— Sim, eu me lembro! Você ficou com ele, né, Kero-chan?

— Pois é… Eu vi muita coisa nesse tempo, muita coisa mesmo… Coisa que você não vai gostar, mas eu tenho que falar. — disse Kero, cabisbaixo.

Sakura sentia que todo o txakoli no estômago estava se revirando.

— Então, desembucha, Kero-chan! Nada mais vai me chocar mesmo… — respondeu Sakura.

Continua…