Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas

Não vou vender essa derrota tão barato!


Capítulo 72

Não vou vender essa derrota tão barato!

I

Gijón, Espanha

2 de agosto de 2017

Victor fincou a arma no chão e cruzou os braços, esperando. O homem de cabelos pretos curtos e cavanhaque apenas cruzou os braços e alongou o pescoço. Nenhum dos três entendeu o que ele fez. Eles ficaram rodeando em volta dele, esperando uma reação. Sakura tentou apontar o báculo para ele, mas Lorenzo o impediu.

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— Calma, Sakura! Se ele está tão tranquilo assim é porque coisa boa não vem daí! Repare! Ele tá com as defesas prontas, a gente que não tá! — explicou Lorenzo.

— Mas como assim? Eu não entendo disso! Que droga que o Kero não tá aqui pra me explicar! — disse Sakura, irritada. Victor começou a rir, de tanta graça que ele viu na fala de Sakura.

— É hoje que eu acabo com dois Interventores e pego a chave do lacre! — disse Victor, finalmente pegando a arma do chão.

Aquilo não era uma espada, muito menos se parecia com uma, apesar de que a largura dela dava duas Claymores que Gotzone usava. Aquilo era uma suíte de equipamentos que Victor pegava, montava e desmontava a seu bel-prazer, de acordo com a necessidade.

Ele retirou a arma do chão e separou-a em duas, estendendo os braços. Só uma parte da arma ainda ficou fincada no chão.

— Como vocês estão em três… Nada mais certo que eu dividir as responsabilidades… — disse Victor. Os dois ombros dele estouraram e os braços flutuaram no ar. Mais dois novos braços saíram do toco dos braços originais e mais dois corpos completos de Victor, usando a armadura negra como o ônix, saltaram dos braços suspensos. Agora eram três Victors que estavam na frente deles. Jéssica, Lorenzo e Sakura estavam chocados.

“Foi a mesma coisa que a Tomoyo me falou por telefone! Agora, esses caras não só soltam tentáculos, eles também criam clones deles mesmos!”, pensou Sakura, suando frio.

Os três deram um salto no ar e sumiram, aparecendo logo depois na frente de Jéssica. Um Victor golpeou a cabeça de Jéssica com um só golpe veloz da arma, outro golpeou as pernas e o último golpeou o tronco. Os três rebateram o que restou dela para o penhasco, fazendo-a cair no mar. Lorenzo suou frio com a velocidade dele, Sakura tremia.

— Imagina o que eu não vou fazer com vocês com esses poderes novos que eu recebi, hein? — disse um dos Victors. Acordado do choque, ouvindo a voz do ex-interventor, Lorenzo apertou o martelo com força nas mãos e fagulhas elétricas saíram de lá.

— Não vou vender essa derrota tão barato! — disse Lorenzo, os dentes trincados.

II

Barcelona, Catalunya, Espanha

Mesma hora

As quase mais de cem agulhas vermelhas que cobriam o corpo de Ignacio doíam mais do que a dor de ter o ombro ferido há quase um ano. Se pudesse gritar, gritaria, mas nada disso surtiria efeito. Nada traria seu braço de volta, nem seus olhos.

Deitado numa cama de pedra de uma sala escura, onde a única fonte de luz vinha de um alçapão no teto, Ignácio tremia. O Interventor da Catalunha estava ao lado dele, fazendo o tratamento com as agulhas. A orientação era ficar parado, mas mal conseguia ficar assim. Já estava com um novo braço e novos olhos, só que agora o membro nunca mais seria o mesmo de antes. O membro era negro como a armadura que usava.

— Você disse… Que esses poderes me ajudariam a ser mais forte, né? Pelo menos, na Ordem, meu braço se regeneraria… — disse Ignácio.

— Você foi envenenado pelo sangue do Marcos… Não reclame, fiz o melhor que pude fazer…

— E você não sabia disso? — gritou Ignacio, agoniado, morrendo de dor.

— Você sabia muito bem, Ignacio, que essas armaduras negras estavam em fase experimental. Se você não tivesse sido envenenado, eu não teria feito uma coisinha na armadura do Victor que vai colocar a gente a um passo da vitória… Não reclame! — disse o Interventor da Catalunha, retirando as últimas agulhas.

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— Eu também quero essas “melhorias”! — reclamou Ignacio.

— Mais do que você não ter morrido em Ceuta? Você tá fazendo parte de um projeto pioneiro, pioneiro mesmo, mas vejo que você ainda tem dúvidas, não tem? Me fale, que dúvidas você tem… — disse o Interventor, encarando Ignacio.

— Nada não… Só quero que um dia você também tire essa armadura vermelha e mostra quem tá por trás dessa máscara! Eu me arrisquei muito tirando a armadura da Ordem que eu tanto lutei pra conseguir… — desabafou Ignacio. — Eu matei meus Interventores, matei muita gente mesmo, cara! Me arrisquei muito seguindo suas ordens! Tô até achando que você tá tirando uma com a minha cara!

— Não vou continuar a discutir com você. Ignácio Velázquez, seu antecessor, não queria que você fosse o Interventor da Andaluzia e interveio pelo Fernando, mas eu intervi com ele na época por você. Se eu tivesse tirando uma com a sua cara, eu teria pegado a Armadura da Andaluzia escondido, até de mim mesmo, sabe? Agora, o que eu ia fazer com essa armadura? Nem mesmo eu sei… — disse o Interventor da Catalunha, olhando Ignacio olho no olho. Os olhos dele brilharam em vermelho e Ignacio recuou daquele olhar com medo na alma, caindo da cama de pedra — Não é só você quem tá se arriscando aqui. O Victor também… Ele tá em Gijón lutando contra a Sakura.

— Contra a Sakura? — perguntou Ignacio, espantado.

— Não pense que eu não sei de nada. O Lorenzo e a Jéssica estão lá também. Vá lá ajudar ele. — ordenou o Interventor comandante. Ignácio se levantou do chão sem jeito e se retirou.

III

No rochedo de Gijón…

— E então, Lorenzo, me venda essa derrota cara, então! — disse Victor. Os três clones dele tentaram repetir os golpes que tinham dado em Jéssica, mas Sakura foi mais rápida. Ela correu para a frente de Lorenzo com o báculo em mãos e gritou:

— Retorno!

Os três Victors que apareceram na frente de Lorenzo recuaram como se fossem parte de uma fita VHS rebobinada. Cada um voltou para seu lugar antes de começar o ataque. Nem Victor entendeu.

— Sem essa, cara! Sem essa de vir partir pra cima dos outros como se a gente fosse barata! Você matou uma mulher e vai pagar é caro sim! — disse Sakura. Ela correu até Victor na loucura total. Sacou uma outra carta e gritou:

— Água!

Uma onda gigante apareceu na praia como se de um maremoto se tratasse. O rochedo tremeu. Aquele monumento da natureza de vinte metros de altura viu uma onda crescer até trinta metros de altura. Victor não sabia como reagir. A face agressiva da carta água surgiu na onda, engolindo os três Victors. A água recuou, mas a terra ainda não parou de tremer.

— Você foi incrível, incrível mesmo! Que diabos foi aquilo? — perguntou Lorenzo, admirado com o poder mágico de Sakura. A Cardcaptor ajoelhou-se no chão. Cansada, deixando o báculo cair na grama.

— Isso é uma coisa que eu nunca senti antes. Isso foi raiva. Raiva pura. O Kero-chan me falou que eu não sabia controlar isso. Eu tô vendo que eu não sei mesmo… Gastei toda minha energia…

— Que é isso! Você tava se borrando de medo até agora pouco e partiu pra cima dele com tudo! Você foi genial!

— Fui nada! Ele ainda tá aí! — disse Sakura.

Uma tromba d’água surgiu no penhasco. Dois dos Victors saíram de lá, com o rosto coberto de raiva. O terceiro não estava mais lá.

— Depois que eu tiver meu braço de volta, vou acabar com você, Sakura! Já são duas vezes! Nem aquele maldito vai me impedir disso! — disse Victor, com o rosto rubro. De repente, o bastão vermelho de Jéssica, a arma lendária das Astúrias, passou pelo peito do segundo Victor, o que estava com o rosto menos rubro. Mais uma vez Victor não entendeu o que aconteceu. O corpo atingido pelo objeto ficou paralisado, sem poder se mexer. Victor tentou tirar o arma do outro corpo e tomou um choque.

— Veremos… — disse Lorenzo. Ele se espelhou em Sakura e avançou contra Victor, acertando o martelo na cabeça do corpo parado. — Eu não vou recuar mais, Victor! Não mais! Não depois do que você fez com a Jéssica! — disse Lorenzo, acertando o martelo em seguida na cara do segundo Victor. Ao contrário do que aconteceu com o outro, o martelo não fez nenhum mal para a cabeça dele.

— Você pensou mesmo que esse “martelinho” ia fazer algum efeito em mim? Você pensou mesmo, Lorenzo? Não ia fazer efeito nem nele, imagina em mim agora! — disse Victor, lembrando à Lorenzo da ameaça que o Interventor da Catalunha fez à ele e à sua família faz dois anos.

— Mas esse bastão fez em você, não é? Ou melhor, não você, mas o seu braço, não é? — disse uma voz saída do penhasco. Sakura se levantou da grama e admirou-se com a visão.

— Jéssica? — perguntou a Cardcaptor. Asas enormes de dragão começaram a aparecer. A mulher erguia-se aos poucos do penhasco. Do tronco para baixo, seu corpo era o de um dragão. Garras, cauda e escamas, todas as partes do corpo que havia perdido foram substituídas pelas partes de dragão.

— Sou eu… Voltei do inferno só pra te devolver o favor, Victor! Agora toma um pouco dos poderes que eu ganhei por lá! — disse a mulher de cabelos encaracolados. Ela apertou o punho direito, e ele se tornou uma garra de dragão. Com as enormes asas e as garras afiadas, Jéssica golpeou o tronco de Victor. Nada foi obstáculo para ela. Ela passou por ele tão fácil como papel. Sakura e Lorenzo ficaram surpresos.

Mas foi por pouco tempo.

O tronco de Victor dividiu-se com o ataque da mulher e as duas partes aglomeram-se uma massa negra no ar. Não havia mais o tronco no lugar, nem pernas mas uma massa disforme de fibras negras como petróleo. O que mantinha o corpo de Victor unido era essa energia disforme que saía cada vez mais de dentro dele.

“É como a Tomoyo tinha dito pra mim…”, pensou Sakura.

Jéssica não se intimidou. Continuou a atacar a massa monstruosa de fibras negras vez após vez. Quanto mais atacava, a teia se multiplicava a ponto dessa massa se prender no corpo da Interventora. Depois de tantos ataques seguidos, uma parte da monstruosidade ficou grudada nas garras e braços da mulher de cabelos castanhos. Ela começou a crescer e se multiplicar em volta do corpo da Interventora, sufocando-a.

— E então, Jéssica, não vai continuar? — perguntou Victor. Asas de dragão apareceram nas costas de Lorenzo e ele atacou Victor vez, tentando liberar a colega. Um som de metal seco soava toda vez que batia nas fibras do ex-Interventor. Jéssica cada vez mais era envolvida por aquela coisa gosmenta, como se estivesse sendo absorvida pelo ex-interventor.

— Mas que droga! Que droga! — disse Lorenzo, voando no ar, repetindo os golpes de martelo. Sakura tentou se levantar e superar o cansaço que tomava conta do seu corpo.

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— Cadê? Cadê o seu poder, Lorenzo? — perguntou Victor. Um brilho avermelhado surgiu dentre as fibras gosmentas de Victor. Era um ataque de Jéssica, vinda de dentro daquela fibra que a prendia. Ela não era mais uma Interventora, agora era um dragão completa.

Todos ficaram surpresos.

Ouvindo a zombaria e os esforços da colega, Lorenzo agarrou a grama do penhasco com os pés fincados no solo. Suas mãos viraram garras. Escamas cresceram em metade de seu rosto e seus dentes caninos também cresceram como as presas de um leão. Ele abriu a boca e cuspiu uma rajada azul contra as fibras gosmentas de Victor, que ainda insistiam em se multiplicar e tentavam agarrar a colega. Enquanto o Interventor das Canarias atacava o homem de armadura negra, Jéssica tentou abocanhar a cabeça de Victor, mas outro homem de armadura negra o retirou do perigo.

— Ignacio? O que você tá fazendo aqui? — indagou Victor.

— Eu tô te salvando antes que você vá a merda de uma vez!

— Mas… Eu ainda não terminei essa luta!

Jéssica voou atrás de Ignácio. Abriu a boca e acumulou energia. Ignácio tomou um impulso e fugiu da rajada de Jéssica antes que a energia pudesse aniquilar os dois.

V

Era uma hora da tarde.

Jéssica não voltou ao normal mais depois de ter se transformado em Dragão. A Interventora das Astúrias estava na beira do penhasco, conversando com Paco, que mal havia despertado de todo aquele combate. A armadura da Ordem nas Astúrias estava perto dos dois, com o bastão, sua arma lendária, ao lado dele.

— Eu tô vendo que você não vai voltar mais, Jéssica… — disse Paco.

— Não, Paco, nem muito menos vou voltar a ser Interventora da Ordem… Esse trabalho eu deixo pra você agora…

— Mas eu sou só um comum, sem magia nenhuma… — disse o rapaz.

— A armadura tem toda a magia que você precisa… — disse a Dragão.

Paco não conseguiu se segurar mais e abraçou o corpo quente e escamoso da companheira, chorando.

[...]

Há alguns metros de distância, Kero, Sakura e Lorenzo acompanhavam a cena. O grande leão dourado havia voltado de Madrid assim que sentiu as energias daquele combate.

— Eu não podia ter saído do seu lado! Eu não podia ter saído em momento nenhum! Olha pra isso! Agora aqueles caras vão vir atrás da Sakura! Vão descobrir nosso segredo! — disse Kero, agoniado.

— Não se preocupe, Kero. Sei que vocês têm a Carta Clow “Apagar” com vocês já… É assim que vocês dois tem escapado das câmeras de segurança, não é? O Interventor comandante tem gente no Ministério só pra rastrear vocês e até agora não pegaram. Só pode ser isso… — disse Lorenzo. Sakura ficou surpresa com a Informação e Kero ficou chocado de vez.

— Como é… Como é que você conhece as cartas? — disse o Guardião, gaguejando.

— Eu vi tudo. Eu vi que a Sakura tá recuperando as Cartas Clow aos poucos e nós já temos um banco de dados delas há muito tempo… — disse Lorenzo. Kero olhou para Sakura com repreensão.

— Eu falei pra você não usar o poder das cartas, não disse? Você podia ter morrido! Olha só! Agora você tá toda cansada!

— Kero-chan, eu não tenho controle sobre isso! Foi uma urgência! — disse Sakura.

— Por mais que fosse urgência, Sakura, não usa as cartas! Se a gente já tá sendo descoberto pela Ordem, imagina pelos caras da Torre e pela Dona Beatriz! — gritou Kero.

— Não precisa ficar assim. Como eu já disse, a Ordem já conhece todas as Cartas Clow e o que cada uma delas consegue fazer… Eu só deduzi. A Sakura não tem o livro das Cartas Clow mais, mesmo assim usou uma carta agora mesmo. Se ela não tá recuperando as cartas, então é o quê? Ela tem um poder mágico fascinante. Agora, como ela tá fazendo isso, eu não sei… — disse Lorenzo, elogiando Sakura com um sorriso tímido nos lábios.

— É melhor você manter essa boca calada, meu chapa! Ou eu vou fazer churrasco de você! Tá ouvindo? — disse kero.

— Nossos objetivos são os mesmos, Kero. — disse Lorenzo, ainda com o sorriso tímido no rosto, olhando para a colega Interventora.

— Ela não vai voltar mais ao normal? — perguntou Sakura.

— Não mais. É o preço que a gente paga por usar o “poder do Dragão”. Tomamos um pouco dele pra gente, retornamos esse poder grande que nos é dado com o sacrifício da nossa própria carne e nosso próprio sangue… — explicou Lorenzo.

Na beira do penhasco, Jéssica bateu as asas e saiu voando pelos ares, rumo ao norte. Paco a acompanhou com o olhar até onde não pode mais.

— É um preço bem alto mesmo… Falando de outra coisa, diz pra gente, Kero, diz como foi em Madrid… — sugeriu Sakura.

— Tô vendo que as coisas não foram bem em Madrid, Kero. Eu não sinto mais a presença da Idoia… — disse Lorenzo.

O guardião baixou a cabeça e tomou um pouco de ar.

— É uma história meio complicada essa da Idoia… — começou o Guardião, deitando-se na relva para contar o relato dos dias que se seguiram em Madrid.

Continua…