Andavam juntos em direção à Sede, uma construção rústica de madeira ainda mal acabada, que abrigava as crianças e mulheres imunes salvas das garras do Cruel. Sentada à sombra de uma árvore, brincando com algumas flores estava Lisa, uma menina órfã de apenas 7 anos que Brenda estava ensinando a ler e escrever. Brenda acenou para ela.

–Bom dia Newt! – Gritou Lisa, acenando alegremente. Brenda admirava Lisa, pois era uma das poucas crianças que não sentiam medo de Newt, pelo contrário, ela adorava ficar por perto apenas para poder conversar com ele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Newt respondeu o cumprimento com um quase imperceptível levantar de cabeça. Brenda tinha uma leve impressão de que Newt não gostava de Lisa, algo que em uma próxima oportunidade, ela o questionaria.

–Você viu o Minho por aí? – perguntou Brenda

–Acabou de passar correndo por aqui- Lisa fez um gesto com os braços que Brenda achou divertido- ele estava na cabana do Thomas, mas não vi pra onde foi depois.

Brenda acenou agradecendo e voltou seu olhar para Newt que estava com uma expressão vaga.

–Tom não apareceu no desjejum hoje, vou ver se está com algum problema e depois vou até a Sede te ajudar com o jardim.

Brenda tinha arranjado um trabalho para Newt, cuidar do jardim e da horta. Ele gostava de poder ajudar e com o trabalho ele tinha menos tempo para pensar sobre o fulgor.

– Você, assim como todos nós, sabe porque Tommy está assim hoje. – com um olhar triste Newt completou- Faz um ano hoje Brenda, um ano que ela se foi. E Tommy até hoje se culpa, assim como eu o culpo por estar assim.

E sem mais uma palavra Newt se virou e começou a mancar em direção à sede.

***

Delicadamente Brenda entrou na cabana de Thomas e foi em sua direção. Thomas estava com a cabeça sobre os joelhos e com os braços fortemente apertados contra o próprio corpo, como sentisse algo que misturava dor e raiva.

– Já disse Minho, me deixe sozinho! – Disse Thomas com a voz rouca – Não quero e não vou sair desse lugar de mértila hoje...

–Tom, você precisa comer alguma coisa – Thomas levantou a cabeça e seus olhares se encontraram – Já não o vi ontem no jantar e tem de admitir que para Minho se preocupar, alguma coisa está muito errada. Brenda disse as ultimas palavras com um intuito de fazer Thomas se sentir melhor, o que claramente não funcionou. Ele estava com os olhos muito inchados, mesmo na penumbra da cabana era visível que Thomas não tinha dormido ou estava chorando há algum tempo e Brenda infelizmente sabia que aqueles olhos, era uma consequência dos dois.

Thomas não respondeu e Brenda sentou-se ao seu lado, era quase palpável o sofrimento de Thomas. Imaginou em como seria se Jorge tivesse morrido para salva-la, e não aguentou o pensamento por muito tempo. Mas para Thomas era muito pior. Teresa tinha morrido em seu lugar e Thomas a odiava por aquilo, mas não era somente aquilo que tirava seu sono e que provocava as constantes lágrimas, o que estilhaçava o coração de Thomas era saber que ele tinha odiado Teresa por muito tempo antes de ela morrer em seu lugar. Tinha odiado quando ela escolhera Aris, tinha odiado quando ela o traíra e tinha odiado suas últimas palavras, quando ela se desculpou por tudo aquilo que tinha feito Thomas odiá-la. Thomas sentia-se como a pior pessoa do mundo, e com esse pensamento riu. Brenda o olhou, espantada.

– Do que está rindo Tom?

– É apenas engraçado, eu me sinto a pior pessoa do mundo, mas isso talvez não seja tão difícil, não é mesmo?

Thomas ainda estava com os olhos inchados, mas mesmo assim ria. Era uma cena tão improvável e contraditória que Brenda riu também.

– Levando em conta que o mundo é formado por 179 pessoas, sim talvez não seja tão difícil.

– Eu ainda me lembro das últimas palavras dela, ela disse que sentia muito. Alguns dias fico me perguntando se ela sentia muito por tudo o que fez ou por ter morrido em meu lugar.

– Você sabe que ela gostava de você, assim como todos nós gostamos de você Tom...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Todos com exceção de Newt, você quer dizer- O olhar de Thomas se entristeceu novamente e sua fala saiu embargada- Eu não pude fazer o que ele me pediu, simplesmente não pude. Ele é como um irmão e eu o amo. Nunca me perdoaria.

– Tom, Newt te ama. A doença tem piorado e o deixa confuso constantemente, mas ele o ama e sempre amará. - Brenda baixou os olhos para o chão e disse com pesar aquilo que há alguns dias vinha consumindo seus pensamentos – Tenho medo Tom, já faz mais de um ano que Newt está doente, tenho medo pois eu já vi o que acontece quando a doença deixa de comandar só a cabeça e se espalha por todo o corpo. E posso confirmar, não é nada bonito.

Ditas essas palavras, Thomas a abraçou e recomeçou a chorar.