— Peeta? Até que enfim. - Meu alívio foi tanto que eu caí de bunda no chão. Queria que tivesse sido tão dramático quanto as cenas que eu via nas novelas, mas não foi. Doeu pra caramba.

- Katniss, o que houve? - A voz era de Finnick. Pelo visto eles estavam juntos.

— Falo com o Finnick também? - Perguntei às duas, após ter afastado o telefone de mim.

— Katniss? - Era a voz de Peeta. - Confie em mim, o que houve?

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— Acho que a Prim está com problemas. - Disse após as duas terem concordado com as cabeças. - Problemas sérios.

Pude ouvir um suspiro do outro lado da linha, acompanhado de um "Estou indo para aí". A única coisa que me restava fazer era esperar. Esperar por aqueles infinitos trinta minutos. Eu não consegui lidar com aquilo. Um sentimento horrível aflorava no meu peito, então eu decidi que quanto mais pessoas de confiança pudéssemos reunir, melhor seria. Então Peeta e Finnick passaram para buscar Madge, Glimmer e Marvel. Quando ouvimos um tumulto enorme, que parecia ter vindo da sala de estar, sabíamos que eles haviam chegado.

Contamos tudo para eles. Não tive medo de qualquer julgamento que pudesse surgir. Eu já confiava naquelas pessoas como nunca confiei em amigo algum. Houve uns minutos de silêncio. É claro que aquilo ia ocorrer. Ninguém estaria preparado caso aquilo fosse verdade. Mas teve um olhar, um olhar em específico que me intrigou. Madge não estava com a gente. Ela não estava pensando em Prim, mas sim em algo que só a Madge poderia saber. Eu daria muita coisa que tenho para voltar no tempo e poder perceber o que aquele olhar queria dizer, o que ele implorava. Mas, infelizmente, a vida não funciona assim.

— A Prim não está fazendo isso. - Glimmer quebrou o silêncio. - Ela não pode. Quero dizer, a Prim sempre foi forte... ela se respeita.

— Não tem a ver com respeito, Glimm... - Marvel comentou. Ele pode ter percebido. Ele pode ter suspeitado.

— Porra, Prim! - Madge gritou, se levantando num pulo. - Eu sei onde ela está. - Terminou após nossos olhares confusos.

— Então diga logo. - Finnick comentou alterando sua voz.

— É óbvio, gente. - Johanna lançou uma típica cara de "pare com esse drama", antes de Madge voltar a falar - Para onde a Prim vai sempre que está afastada da gente?

— Gloss. - Peeta respondeu e todos pareceram concordar.

Eu não sabia qual era a história de Prim com Gloss, na verdade, não sabia de quase nada da vida dela. A única informação concreta que eu tinha era de que os dois estavam juntos, porém não sempre.

Decidimos logo em seguida como tomaríamos o rumo em direção à casa do Gloss. Peeta achou melhor irmos andando, já que era relativamente perto. Aqueles poderiam ter sido os minutos mais demorados da minha vida. Eu não conseguia ouvir ninguém, quem dirá dar atenção necessária quando me perguntavam algo. Os passos iam se acelerando, mas eu parecia não estar saindo do lugar.

A casa de Gloss parecia estar numa parte do bairro que eu nunca havia visto. Enormes mansões tomavam conta da minha visão, e um verde enorme parecia invadir meus olhos em contraste com as luzes dos postos. Algumas pessoas andavam bêbadas pelas ruas, e o primeiro sinal de que uma festa estava rolando apareceu. Um barulho enorme acompanhado de uma música podia ser ouvido de uma casa de três andares. Era a casa de Gloss.

Passamos pelo portão principal, haviam alguns casais se beijando perto da entrada. Assim que entramos demos de cara com uma bar, onde eu supus que deveria ser a sala de estar. Um pouco mais à direita tinha um cômodo com um visual bem psicodélico, com uma luz de neon gritante, que chegava a invadir um pouco o bar. Seguindo em frente havia uma porta de vidro de correr, que dava direto nos fundos da casa, onde havia uma enorme piscina.

Eu processei tudo aquilo numa fração de segundos. Meu único objetivo ali era saber se Prim estava bem. Pela primeira vez aquele ambiente típico de festa não me agradava. Segurei com força na mão de Johanna, ela devia estar tão preocupada quanto eu. Peeta saía empurrando as pessoas na tentativa de abrir caminho para o grupo. Finnick virava bruscamente todas as meninas loiras que via pela frente, mas não obtia sucesso. Meu coração começava a acelerar, eu queria encontrar a Prim o mais rápido o possível. Tinha medo de encontrá-la fazendo alguma merda, mas seria pior não encontrá-la.

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Tudo parecia perdido. Uma multidão de jovens começava a deixar a passagem quase impossível.

— Que tal a gente se dividir? - sugeriu Finnick, ficando na ponta do pé enquanto tentava procurá-la.

— Acho uma boa ideia. - Johanna pegou um drink no bar e virou rapidamente. - Vou dar uma olhada no andar de cima. Quem vem comigo?

E assim ficou decidido: Glimmer, Johanna, Marvel e Finnick iriam para o segundo andar, enquanto eu, Annie, Madge e Peeta procuraríamos no primeiro.

Nós andávamos sem rumo. Passamos pela área da piscina pelo menos umas três vezes antes de concordarmos em não voltar mais lá. Eu olhava constantemente meu celular na esperança de alguém que estivesse no segundo andar me desse boas notícias. Meu corpo girava constantemente em 360 graus à procura de Prim.

— Ei, aquele não é o Rory? - disse Peeta, fazendo com que todos focassem nele.

Rory estava usando uma blusa jeans e uma calça preta. Ele era um garoto muito bonito, não tinha como negar. Uma de suas mãos estava segurando uma garrafa de cerveja enquanto a outra tentava chegar até a cintura de uma menina com quem estava conversando.

Não pude me conter nem por um segundo. Fui bruscamente até o menino, que me olhou com uma cara de interrogação por um tempo. Não liguei para o que ele pensaria, puxei-o pela mão e o levei até um canto silencioso. Todos os outros me acompanhavam.

— Oi, gente... - disse ele um tanto sem graça.

— Rory, é o seguinte...- começou Peeta. -, cadê a Prim?

— Ela ta por aí. - respondeu ele, parecendo meio chateado só em pensar nela.

— Isso não é de muita ajuda. - comentei.

— Ah, sei lá. Ela não me deu muita atenção, ficou fazendo merda... - disse ele olhando para a garota com quem estava, como se quisesse ter certeza de que ela continuaria lá. - Daí eu larguei o foda-se e to tentando aproveitar o resto da noite.

— Espera, como assim fazendo merda? - exclamei preocupada.

— Ah, é que tem uns caras aqui com umas paradas bem legais, daí ela decidiu usar. - disse ele enquanto ajeitava o cabelo.

— Droga? É isso? - perguntou Annie.

— Aham, mas não é nada que eu esteja acostumado. - completou Rory. - Eu disse pra ela que era melhor deixar isso de lado, mas a Prim é muito teimosa...

— Valeu, Rory. - disse Peeta. - Mas você sabe por onde ela está?

— Provavelmente lá em cima, em algum quarto.

Mandamos mensagem para Johanna, que nos encontrou logo em seguida. Eu não conseguia acreditar na capacidade que aquela menina tinha para fazer merda, era como se ela até fizesse de propósito. Meu único objetivo era encontrá-la e levá-la sã e salva para casa.

Fomos em direção a todos os quartos daquela casa, e acreditem ou não, tinham muitos. Acabamos topando com um que estava trancado, e algo me dizia que ela estava lá dentro. Finnick havia começado a bater na porta e mandar que abrissem. Não podíamos ouvir vozes vindas de dentro.

— Ela não deve estar aí. - concluiu Marvel.

Alguns minutos depois a porta foi aberta, Gloss saiu por ela. Ele era um cara bonito, cabelos loiros meio arenados e um sorriso perfeito. Parecia ser apenas um ano mais velho do que eu. Estava sem camisa e tratou de nos cumprimentar assim que nos viu. Pude perceber, um pouco antes de ele ter fechado a porta, que havia uma garota morena no quarto.

— Deixa de graça, Gloss. - disse Johanna recusando seu aperto de mão. - Cadê a Prim?

— Ela tava aqui faz um tempinho, depois desceu pra beber. - disse ele.

— Não faz sentido, procuramos por ela em todos os lugares. - exclamou Peeta.

— Ah, tenho certeza que vão encontrar ela perto do bar. - disse Gloss sorrindo. - Mas aconteceu alguma coisa?

— Não! - exclamou Johanna bruscamente. - Só queremos resolver uma coisa, e sem ela não da.

— Enfim, obrigada pela ajuda. - disse Madge

Nós fomos em direção ao primeiro andar. Pude perceber alguns olhares trocados entre Peeta e Finnick, os dois pareciam conhecer melhor o Gloss. Eu já estava perdendo as energias, mas um alivio tomou conta de mim a partir do momento em que soube que Prim estava segura dentro daquela casa.

Eu havia imaginado que o primeiro andar estaria insuportável, mas, por alguma razão desconhecida, ele estava bem tranquilo. Foi como se um raio magnético tivesse virado minha cabeça em direção à um aglomerado de jovens dançando, e lá pude vê-la, completamente descabelada, pulando no rítimo da música.

Os olhos dela não chegaram a encontrar os meus. Pude sentir minha respiração mais pesada. Johanna estava do meu lado, com um olhar de pura raiva. Foi ela quem deu o primeiro passo em direção ao lugar que Prim estava.

Eu disparei em sua direção, sentindo cada passo que dava mais pesado do que o normal. Conseguia ver os cabelos castanhos de Johanna com algumas mechas vermelhas sacudindo em minha frente.

— Qual é o seu problema, sua retardada? - disse Johanna, agarrando-a pelo braço.

Prim lançou um olhar assustado em sua direção. Sua respiração estava completamente acelerada e seus olhos começavam a ficar vidrados. Pareceu que os parafusos começaram a funcionar em sua cabeça; ela começava a perceber todos que estavam ao seu redor.

— O que ela ta fazendo aqui? - perguntou à Johanna, se referindo a mim.

— Todo mundo veio porque tava preocupado com você. - disse Johanna, voltando a arrastá-la para um lugar mais calmo.

Eu havia esperado muito por aquele momento, desde que tiramos ao pés de casa, mas fiquei diante dela sem conseguir dizer ao menos uma palavra. Deixei que Johanna cuidasse do esporro, algo que ela sabia fazer muito bem.

— Me solta, porra. - gritou Prim. - Eu não pedi pra ninguém vir atrás de mim.

— Não vou te soltar! - gritou Johanna em resposta. - Nós vamos conversar, e vai ser agora.

Apesar dos protestos de Prim, conseguimos nos reunir em um dos quartos do segundo andar. Ele não estava vazio quando chegamos, mas não foi muito difícil expulsar um casal bêbado de lá. Johanna jogou a garota bruscamente na cama.

O quarto estava uma completa bagunça. As paredes rosas estavam repletas de manchas, provavelmente causadas por bebidas derramadas, e era difícil distinguir se o pôster pendurado ao lado da cama era do Justin Bieber ou do Liam Payne. Obviamente se tratava de um quarto de garota, mas somente poderia conter minha curiosidade de perguntar.

Poderia ter sido somente mais uma cena cômica. Prim estava visivelmente alterada, algo que me deixou com profunda raiva, sentada na beira da cama com os braços cruzados na altura do peito e o rosto virado para o lado oposto eu todos estavam. Finnick olhava para a menina como se ela tivesse cinco anos e foi pega fazendo alguma besteira.

Eu estava começando a entender um pouco da conexão que cada um tinha entre si, mesmo que fosse somente no meu subconsciente.

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— Prim, será que você pode me dizer o que diabos está fazendo perto do Gloss? - perguntou Finnick, finalmente quebrando o gelo.

— Eu sou uma pessoa livre, sabia? - disse Prim, após ter escutado a pergunta novamente, vinda da voz de Peeta. - Posso fazer o que bem entender, e não preciso de ninguém me perturbando por isso.

— Deixa de ser infantil... - comentou Marvel de longe. - Você sabe que isso não te faz bem.

— Eu não sei por que vocês fodem tanto a minha paciência por causa disso. - grunhiu Prim, se levantando. - Eu vou voltar pra lá. É o melhor que faço...

Ela tentou ir em direção à porta, como se o assunto tivesse sido encerrado, mas foi segurada por Finnick. Prim perdeu o equilíbrio rapidamente, e foi amparada pelo garoto que a segurou num movimento desesperado.

— Me solta, seu imbecil. - disse Prim perdendo a força na voz. Ela começou a proferir golpes no peito de Finnick, que retribuiu apenas tentando prende-la num abraço.

Peeta foi em direção dos dois tentando ajudar de alguma maneira, mas sua atitude só fez com que fosse agredido pela mesma. Prim berrava, como se estivesse sendo agarrada por pessoas horríveis. Johanna suspirava constantemente como se esperasse por aquilo. Prim já não aguentava mais gritar, mas ela começou a se apoiar no braço de Peeta ao ter noção que seu senso de equilíbrio estava indo para o espaço.

— Tá tudo bem? - perguntou Annie se aproximando dela.

Prim deslizou até o chão, mantendo o olhar fixo na porta. Ela parecia estar ou pensando seriamente em algo ou tentando manter seu controle.

— Tá. - respondeu secamente. - Gente, é só que eu já sei me cuidar. Não precisam ficar se preocupando comigo, aproveitem a festa. - completou ela, adquirindo um tom alegre rapidamente enquanto recuperava as forças para se levantar.

— Ah, a gente vai aproveitar a festa sim... - começou Johanna. -, mas a senhorita ta completamente chapada, e não vai sair daqui.

— Que porra! Você não manda em mim. - respondeu Prim vorazmente, voltando ao seu estado normal. - Já não basta a Katniss me enchendo a porra do saco. - completou com o olhar pesado; lágrimas de raiva brotavam em seus olhos.

Eu continuava quieta, apenas acompanhava a situação; não sabia o que pensar, muito menos como começar a conversa que pretendia.

— Nem tente colocar o foco em mim agora. - pude sentir a resposta sair automaticamente de minha boca.

— É né, você consegue fazer isso muito bem sozinha... - resmungou Prim. - Eu só sei que não vou ficar aqui enquanto todos se divertem lá em baixo. - completou, enrolando um pouco nas últimas palavras.

— Não tem problema, eu fico aqui contigo, pirralha. - disse Johanna, arrastando-a até a cama.

Nós decidimos que os meninos desceriam, enquanto eu, Johanna, Annie, Madge e Glimmer ficaríamos para tentar descobrir o que estava acontecendo com a Prim. Nós não contávamos que a saída deles tornaria tudo mais difícil.

Tentamos começar com assuntos mais leves, foi a melhor ideia para tentar chegar no resultado final. Perguntamos se ela estava ficando sério com o Gloss ou se era apenas uma diversão.

— Ah, é um caso complicado. - disse Prim, apoiando a cabeça nas mãos, esboçando um olhar pensativo. - Nem eu mesma sei definir o que a gente tem...

— Eu acho estranho, ele é bem mais velho do que você. - comentou Annie enquanto analisava cada detalhe do quarto em que estávamos.

— Eu sei disso... - disse Prim, parecendo ter vontade de ser sincera. - Mas é que... eu me sinto bem com ele, sabe? Eu sei que ele se acha superior só porque é mais velho, só que eu to bem assim. - completou.

— Prim, você é maravilhosa, cara. - disse Madge, segurando em sua mão. - Merece alguém muito melhor do que aquele cara.

Aquilo pareceu tocá-la de uma maneira que só alguém que estivesse bem atenta no momento, feito eu, poderia perceber. Prim disfarçou e largou a mão de Madge.

— Você já deu pra ele, né? - perguntou Johanna, com a cara amarrada, como se já soubesse a resposta.

— Claro, sua idiota. - respondeu Prim. - Até parece que um cara ele ficaria comigo se eu não topasse.

Resolvi guardar para mim mesma a informação de que ele estava com outra garota no quarto, apenas minutos após Prim ter descido. Aquele não era o momento para contar.

— Aliás, eu soube que o Gloss foi detido por bater num cara nesse ano novo... - comentou Glimmer, visivelmente tentando evitar o prolongamento do assunto anterior. - E vários amigos dizem que ele não é um cara legal.

— É óbvio que o papaizinho deu logo um jeito de livrar a cara dele... - disse Johanna.

— Só uma pergunta, se você sabe que essa cara não presta, por que se envolve com ele?

A minha voz pareceu despertar algo dentro de Prim. Ela me lançou um olhar de incredulidade, como se eu estivesse a afrontando no momento em que me meti no assunto. Prim parecia não me querer presente em sua vida de maneira alguma. Annie percebeu o que viria em seguida, pois lançou-me um olhar de conforto.

— O que te faz achar que pode fazer esse tipo de pergunta pra mim? - perguntou Prim calmamente, algo que me surpreendeu. - Você não entende nada... - Completou em baixo tom.

— Apenas perguntei porque quero entender o que se passa na sua cabeça. - disse assim que recuperei forças para dizer algo quando todos os olhares se focavam em mim. - Não vou te julgar nem nada... já passei pela fase de me interessar por babacas, acredite ou não.

— Como se isso fosse mudar alguma coisa na minha vida. - respondeu sem seu costumeiro tom de arrogância.

Os minutos começavam a se passar de uma maneira mais rápida. Uma hora ou outra Johanna olhava para mim, indicando que tentaria começar o assunto que procurávamos, mas Prim não aprecia preparada para responder. Aconteceu muito rápido, estávamos conversando sobre o suposto relacionamento de Marvel e Glimmer, foi quando Prim adormeceu com a cabeça apoiada nas pernas de Johanna. Nós cinco trocamos olhares, e, a partir deles, chegamos à conclusão de que era melhor deixá-la dormindo.

— Tudo bem, nós deixamos para conversar com ela sobre isso no colégio. - disse Johanna quando saímos do quarto. - Agora só preciso encher a cara.

— Não é perigoso deixar ela dormindo aí sozinha não? - perguntou Annie.

Ela tinha razão, não tinha cabimento deixar uma garota chapada de dezesseis anos dormindo sozinha, num quarto qualquer, em uma festa.

— Eu vou cuidar dela. - disse rapidamente, tentando me forçar a acreditar que aquela seria minha ideia inicial.

Me despedi das meninas e voltei para o quarto. Annie não pareceu estar muito confortável com a ideia de ficar sem mim numa festa desconhecida, mas, por final, acabou aceitando.

Acendi as luzes torcendo para que a ação não despertasse o pequeno monstro que dormia profundamente na cama. Naquele momento pude perceber o quanto seu rosto se mantinha sereno quando dormia, talvez aquele fosse o único momento que pudesse realmente relaxar.

Me deitei ao seu lado, tirei meu celular do bolso e me permiti ficar apenas acompanhando a vida dos outros pela internet; por sinal, era capaz de acompanhar a própria festa que estava pela internet.

Estremeci quando Prim se mexeu na cama. Ela ia despertando aos poucos, como se estivesse acordando de uma longa noite de sono; mal sabia ela que havia dormido menos de vinte minutos.

— Por que você ta aqui? - perguntou ela com uma voz sonolenta.

— Porque eu não ia te deixar dormindo aqui sozinha. - respondi calmamente.

— Ta bom, vou voltar pra festa. - disse ela, se levantando prontamente.

— Okay, mas está mesmo em condições? - perguntei, sentindo uma ponta de preocupação, mas cansada o suficiente para contestá-la.

— Eu sei me virar...

Ela se levantou, passando por cima de mim, subiu um pouco a saia que estava usando e terminou indo em direção ao espelho. Eu a observava quietamente.

— Ei, por acaso você viu o Rory lá em baixo? - perguntou Prim enquanto procurava algo em sua bolsa.

— Vi sim. - respondi, após ter associado que ela estava realmente falando comigo. - Nós fomos atrás dele pra te achar, mas ele tava meio ocupado com outra garota.

— Ah, sim...

Pude ver sua cabeça abaixar e ficar parada por um instante. Na hora só pude perceber que as palavras que eu disse haviam mexido com ela. Seu tom de voz era sereno, como se estivesse sob efeito de algo muito relaxador, tão relaxador que a fazia perder o interesse em brigar comigo. Prim se dirigiu à porta, parou por um instante e me disse o que eu menos esperava.

— Você não vem não?

Não precisei de outro aviso. Me levantei rapidamente da cama e fui em direção à saída; apaguei a luz e fechei a porta.

Desci as escadas ao lado de Prim, que parecia ligeiramente sóbria. Não trocamos uma palavra até chegarmos no primeiro andar. A festa continuava no mesmo ritmo de antes, a diferença era que, mesmo esticando o pescoço, não via meus amigos em lugar algum.

Prim ia se dirigindo para a área da piscina, sem ao mesmo falar comigo.

— Ei, pra onde você pensa que vai? - perguntei, segurando-a pelo braço.

— Encontrar meus amigos. - disse ela, puxando seu braço com força. - Me solta!

— Não! - disse um tanto agressiva. - Não quero ficar sozinha...

— Ah, é isso? - disse Prim, rindo debochadamente. - Não pode andar sem sua sombra ao lado?

— Que sombra, garota? - retruquei, soltando-a, por fim.

— A Annie... - respondeu Prim. -, não é isso o que ela é? Mas pelo visto ela se dá melhor sozinha do que com você... - completou, fazendo um gesto com a cabeça para a direita.

Olhei para onde ela me indicou, boquiaberta, já pensando numa resposta para lhe dar, mas, diante do tumulto, pude avistar Annie sendo agarrada por Finnick. Tudo foi muito rápido; em um momento eles estavam se beijando, e no outro a ruiva já havia lhe afastado.

Troquei olhares com Prim, que estava igualmente em estado de choque. Tentava me decidir se ia lá para intervir ou não.

— Será que finalmente o Finnick vai sossegar? - perguntou a Prim, mais para ela mesma.

— Eu nem quero saber. - disse enquanto caminhava na direção dos dois. - Só sei que não vou deixar ele foder a cabeça dela por causa disso.

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Larguei Prim com a multidão e me dirigi até o local que havia visto Annie; infelizmente só pude ver Finnick parado, com uma cara de incredulidade.

— O que você fez com ela? - perguntei, segurando forte seu pulso.

— Mais fácil perguntar o que ela fez comigo. - retrucou Finnick, que continuava olhando para todos os cantos, à procura dela.

— Finnick, eu juro que se você fizer algum mal à ela... - comecei, num tom de aviso.

— Eu nunca faria mal à uma pessoa que eu gosto. - ele respondeu de maneira severa. - Achei que você já devia ter percebido isso. - completou num tom divertido.

— Quer saber, vocês ainda vão me deixar maluca... - comentei, ao ver Prim dançando provocadoramente com um cara qualquer.

— Essa é minha única intenção... - surpreendeu-me Peeta.

Seus cabelos estavam um pouco bagunçados, e, pela maneira que se movia, pude concluir que ele já estava bêbado. Na verdade, pude concluir ao ver o típico copo vermelho em sua mão.

— É, da pra perceber. - retruquei, de uma maneira grossa.

— Ei, calma... - disse Peeta, passando o braço ao meu redor. -, isso é uma festa, e você parece ser a única que não ta se divertindo.

— Eu to me divertindo. - me desvencilhei dele exageradamente.

— Não parece. - comentou Peeta, fazendo um biquinho. - Olha, só relaxa. Eu sei que você se preocupa com a Prim, mas ta tudo bem com ela.

— É só que... - não consegui terminar minha frase.

— A gente resolve tudo amanhã. Só aproveite o agora.

Eu precisava daquilo; precisava de um pouco de diversão.

— Quer saber, tudo bem... - disse, pegando o copo rapidamente de sua mão, para vira-lo logo em seguida. -, me mostre como posso aproveitar essa noite, senhor diversão. - Completei após ter sentido o líquido rasgar minha garganta.

— Assim é que se fala.

E lá fomos nós, rumo a pista de dança. Peeta sempre gostou de dançar; nós costumávamos dançar sozinhos, enquanto nenhum adulto olhava; era um dos momentos mais divertidos. Mas, ao contrário de antigamente, agora ele dançava de uma maneira bem sexy, e dava para ver pelo seu olhar que ele sabia que estava seduzindo bastante gente com seus movimentos.

Nossos corpos se encontravam em meio a música eletrônica; a multidão tornava a proximidade inevitável. Pela primeira vez eu não estava preocupada com qualquer um que não fosse eu mesma; só queria esquecer qualquer coisa que pudesse perturbar minha cabeça.

— Ei, vamos lá pra piscina um pouco? - gritou Peeta, devido ao alto volume.

— Claro! - gritei em resposta; já podia ver o ambiente se transformar em algo indefinido, não conseguia ao menos andar sem esbarrar em alguém.

— Se segure em mim. - sugeriu Peeta; eu não pude recusar.

Fui arrastada até a área externa da casa. Lá pude ver alguns rostos conhecidos do colégio, mas ninguém era tão importante no momento; queria ficar apenas com Peeta.

Me joguei na primeira cadeira de praia que vi. Pude sentir meus pés doerem mais do que nunca. Levei a mão até a sandália que estava usando e a tirei. Suspirei aliviada.

— Ta cansada? - perguntou Peeta, se jogando em cima de mim.

— Garoto, sai. - gritei, tentando empurrá-lo; óbvio que não deu certo, então continuei sufocada.

As pessoas nos olhavam, achando tudo bem divertido.

— Kat, me empresta seu celular? - ele perguntou calmamente.

— Pra que? - perguntei, desconfiada.

— Preciso mandar uma mensagem...

— Tudo bem.

Desbloqueei o celular com minha digital e entreguei inocentemente à ele. Eu não podia pensar que o Peeta teria coragem de fazer o que fez. Em uma fração de segundos ele colocou o celular em cima do meu sapato (que continuava no chão ao lado da cadeira) me pegou no colo e nos atirou na piscina.

Eu não tive como sair de seus braços; sentia uma mistura de raiva e descontração. Olhei para ele; o sorriso presente em seu rosto me contagiou. Poderia usar muitas palavras para descrever aquele momento, mas basta falar que eu estava extremamente feliz.

— Vem, vamos sair. - disse Peeta, após ter dado um mergulho.

Subimos pela borda da piscina; devo admitir que estava bem desajeitada. Peeta estendeu a mão para me ajudar, e logo em seguida deitamos no chão.

— Você é louco, sabia? - disse entre risos.

É... - respondeu ele, se virando em minha direção. -,costumam me dizer isso.

Passamos menos de um minutos deitados naquele chão frio; algumas pessoas nos olhavam. Minha temperatura começou a diminuir; podia sentir minha boca tremendo ao respirar.

— Peeta... - comecei, chamando sua atenção. -, acho que isso não foi uma boa ideia.

— Por que? - ele perguntou num tom decepcionado. - Não se divertiu?

— Claro que me diverti. - afirmei rapidamente. - É só que eu to morrendo de frio, e não tenho nenhuma roupa pra trocar... - completei, me sentando, ao mesmo tempo que me envolvia em um auto-abraço.

- Não tinha pensado nisso... - disse Peeta, com a mão no queixo. - Vem comigo! - disse ele, exageradamente, me puxando pela mão. Peguei meu celular e o acompanhei; acabei não ligando muito para meu sapato.

Em um momento estávamos atravessando às pressas o ambiente da festa, e em outro estávamos subindo as escadas que dariam no segundo andar.

- Por que a gente ta vindo pro mesmo quarto que ficamos com a Prim? - perguntei ao perceber onde estávamos.

- Esse é o quarto da Cash... - disse Peeta, enquanto revistava algumas gavetas. -, ela não se importaria em te emprestar alguma roupa. - concluiu após ter visto minha expressão de reprovação.

- Certeza? - quis confirmar. - Não quero atrapalhar ninguém. - Completei, me jogando na cama.

- Melhor se trocar no banheiro. - comentou ele, após ter me encarado sem jeito, ao me ver tirando a camisa encharcada no meio do quarto.

Comecei a rir de sua cara, o que o deixou completamente vermelho. Após meu ataque de risos me senti fraca; me joguei na cama e fechei os olhos. Naquela hora admiti para mim mesma que estava completamente alta.

— Ei, nem pensar... - falou Peeta, assustado. -, você não vai dormir toda molhada não.

Ele se colocou em minha frente e me levantou; tirou minha blusa e colocou uma nova sobre meu corpo. Me deitou na cama e depositou um beijo carinhoso na minha testa.

Ele não mudou nada... Foi o que pensei. Durante alguns anos pude perceber Peeta se afastando, e, aos poucos, deixou de ser quem era. Percebi que tudo aquilo era uma enganação; era o Peeta enganando ele mesmo. No fundo ele continuava aquele menino doce de sempre, continuava o mesmo menino que chorava ao perceber que alguém estava triste.

- Peeta... - resmunguei, enquanto ele ia em direção à gaveta, provavelmente ajeitar o que havia bagunçado. -, pode ficar um pouco comigo? To vendo tudo rodar. - disse, suplicando e enrolando exageradamente a língua.

- Kat, acho melhor não... - comentou ele,se contradizendo enquanto se dirigia até mim.

Seus olhos já demonstravam um certo cansaço; talvez por conta da bebida que já não era mais ingerida.

- Só quero que fique aqui. - disse, puxando-o desajeitadamente até a cama.

Ele me acolheu numa espécie de abraço; ficamos deitados por um tempo, com os corpos colados. Seu rosto estava tão perto do meu que podia sentir o doce cheiro de bebida que vinha de seu hálito.

- Kat... - chamou ele, enquanto começava a fazer carinho no topo de minha cabeça; o movimento fez com que eu me aconchegasse mais em seus braços. - Posso te contar uma coisa?

- Pode. - respondi, novamente com a voz arrastada; não pude impedir uma risada de sair da minha boca.

- Promete não contar para ninguém? - perguntou, num tom inocente.

- Prometo.

- Eu acho que to louco por você... - disse Peeta, largando uma enorme risada, acompanhada da minha.

- E você tem certeza disso?

- Absoluta. Há muito tempo não tenho tanta certeza sobre algo na minha vida. - disse ele, se aproximando.

- Então me beija.

Ele o fez.

O beijo de Peeta era algo que meu subconsciente era louco para experimentar, ainda mais depois do nosso afastamento. Eu sabia que ele era um cara legal, completamente diferente dos outros com quem já havia saído.

Nossos movimentos iam ficando mais intensos; Peeta assumiu uma posição por cima de mim. Minhas mãos deslizavam pelo abdome dele, arranhando cada parte. Há muito tempo não experimentava daquilo; era como se nossos corpos estivessem colados por pura vontade e desejo.

- Espera... - disse Peeta, se desvencilhando de mim. -, eu não quero que seja assim.

- Do que você ta falando? - perguntei, impacientemente.

- Você ta completamente bêbada, Kat... - respondeu, se levantando. - E eu também. - completou ele ao se deparar com um indício de raiva em meu rosto. - Eu quero que seja eu e você, não uma versão alterada de nós dois; pelo menos não agora.

- Eu odeio quando você tem razão.

Dei um beijo leve em sua boca; deitamos da maneira que estávamos antes. Era ótimo ter Peeta presente de novo; eu não queria me afastar dele de novo.

Não sei quanto tempo se passou, só sei que apaguei naquele momento; não me lembro com o que sonhei, mas lembro como fui acordada.

- Que porra é essa?

O grito ensurdecedor fez com que eu e Peeta nos levantássemos subitamente. No momento não pude processar muita coisa, afinal. o álcool ainda estava atuando em minhas veias. Pude perceber somente que era uma garota loira e bonita, talvez um ano mais velha do que eu; sua expressão era de pura raiva.

- Qual é o seu problema, garoto? - gritou ela, tacando o primeiro objeto que achou em Peeta; ele se defendeu falhamente.

- Cashmare, isso machucou! -retrucou ele em protesto, se levantando da cama; eu ainda não havia encontrado forças para fazer o mesmo.

- Era pra doer muito mais! Como você ousa trazer uma de suas putinhas pra minha cama? Seu babaca! - as palavras dela me levaram de volta para a realidade.

- Ei, olha bem como você fala comigo. - disse, reunindo forças para levantar. - E não é nada disso que você ta pensando! Peeta é só meu amigo. - completei, ao ver que ela havia se controlado para me dar atenção.

- Ah é? Mas isso não faz tanta diferença pra ele. - observou ela, chegando perto o suficiente de Peeta para dar-lhe tapas apressados no peito. - Você espera eu sair de perto pra ficar com outra? E no meu quarto? - suas palavras saiam como se já quisessem ser ditas há muito tempo.

- Peeta, você ta com ela? - perguntei, calmamente, controlando meus sentimentos, enquanto me levantava.

- É complicado... - ele respondeu, me encarando com uma expressão de culpa.

- E ela ainda ta com as minhas roupas?

O choque parecia invadi-la cada vez mais; era como se ela já esperasse tal tipo de atitude vinda dele, mas, mesmo assim, não queria aceitar.

- Olha só... - disse, começando a compreender o que estava acontecendo. -, não foi nada demais. Eu caí na piscina acidentalmente, e fiquei morrendo de frio; Peeta disse que poderia me arrumar algumas roupas, e...

- 'Olha só' digo eu garota. - esbravejou ela, como se de repente um monstro nascesse em seu interior. - Será que você pode pelo menos ter a decência de nos deixar a sós para conversar?

Eu estava boquiaberta, sem saber o que fazer.

- Tudo bem, eu... - comecei a falar, fazendo um movimento que deixava claro que iria tirar a camisa.

- Pode ficar. - disse ela com rapidez. - Você ta precisando mais do que eu agora. - completou Cashmare, como se estivesse com raiva por estar fazendo apenas o que era certo.

- Está enganada. Não preciso disso. - retruquei, atirando a blusa no chão e batendo a porta logo em seguida.

Eu entendia um pouco o lado dela, mas nunca seria atacada sem motivo. Desci as escadas descalça, sem blusa e furiosa. Meus passos eram pesados, apesar de ter tido que me apoiar na parede diversas vezes, em busca de estabilidade.

Ainda podia ouvir o tumulto vindo da festa; conferi no celular que só havia dormido por meia hora. Eu já não tinha mais tanta vontade de ficar ali. Será que ele foi verdadeiro? Será que gosta mesmo de mim? pensei, dominada por um sentimento infantil.

- Katniss, ainda bem. - gritou Johanna em minha direção assim que cheguei perto do bar. - Onde você estava? Quer saber, não importa. - completou rapidamente.

Não tive muito tempo para processar algo, só sei que fui puxada pela mesma, em direção à área da piscina. Não precisei de todos os neurônios funcionando para assimilar a situação. Um bolo de gente podia ser visto de longe, e foi para lá que Johanna me arrastou.

- O que está acontecendo? - perguntei, temendo a resposta.

- Annie ficou esperando lá. - disse Johanna, com os olhos percorrendo o ambiente inteiro, sem realmente responder minha pergunta

- Mas por que a Annie... - tentei dizer, mas fui impedida pela cabeleira ruiva que chegou ao nosso encontro.

Ela parecia estar tranquila, levando em consideração o que aconteceu com o Finnick anteriormente. Reparei que tanto a Annie quanto a Johanna tinham expressões preocupadas no rosto; alguma coisa de errado estava acontecendo.

- Que porra! - gritei, me soltando do Johanna. - Será que alguém pode me dizer o que ta acontecendo? - disse, após a atenção ter caído sobre mim.

- Olha, Kat, não fica nervosa ta... - Annie tentou começar a falar, sendo interrompida por Johanna em seguida.

- Olhe você mesma.

Ergui a cabeça para aquela muvuca, mas não via nada demais naquilo. Aos poucos fui me chegando para perto, na esperança de entender o que estava acontecendo.

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- Parem com isso, vocês dois. - ouvi uma voz conhecida gritar; sons de batidas no chão eram ouvidas.

O grito veio de Prim; ela estava tentando, falhamente, separar uma briga que ocorria entre Rory e Gloss. Seu olhar de desespero era nítido; os garotos estavam se batendo com tudo que tinham, e as pessoas ao redor apenas incentivavam.

- Rory, me escuta, porra. - gritou Prim, se deslocando até os dois novamente, mas dessa vez foi segurada por um cara, aparentemente bêbado, que estava se divertindo com a briga.

Atravessei a multidão rapidamente, sem saber ao certo o que faria; só queria chegar até a Prim.

- Ei, parem com isso. - chegou Finnick, gritando e se metendo no meio dos dois.

- Sai da minha frente, Odair. - esbravejou Gloss, que estava nitidamente ganhando a luta; sua condição física era muito melhor do que a de Rory, que não devia estar tão acostumado a brigar.

Gloss empurrou bruscamente Finnick, que retribuiu dando-lhe um soco; e no momento seguinte ele já tinha entrado na briga. Annie tapou a boca com as mãos, ao ver Finnick levando um soco e despencando no chão; ela empurrou todos que estavam no caminho e foi até ele.

- Ei, larga ela. - gritei para o garoto que ainda tinha Prim nos braços.

- Garota, ta maluca? - retrucou ele, em minha direção. - Ninguém manda em mim. - falou, apertando Prim mais forte; a garota proferia palavrões direcionados a ele e tentava se soltar.

Foi tudo muito rápido; não pensei direito, apenas meti um soco na cara dele. Prim pisou em seu pé; o ato fez com que o garoto a largasse. Nós fomos em direção à briga séria (até porque outras pessoas começaram a brigar entre si), deixando o garoto aleatório caído no chão.

- Valeu. - murmurou Prim enquanto caminhávamos até o meio.

Não tive tempo para responder, pois Prim se dirigiu rapidamente até Gloss.

- Ei, Gloss. - disse Prim, se aproximando dele, que contemplava debochadamente a imagem de Rory se levantando, com um corte na testa, e Finnick no chão, com o nariz sangrando e sendo amparado por Annie. - Por favor, para. Vamos conversar, vem comigo. - completou Prim, tentando persuadi-lo.

O olhar dele demonstrava pura raiva; até o momento eu não sabia o que tinha acontecido.

- Me solta. - esbravejou ele, afastando Prim num movimento brusco; ela não desistiu, e foi até ele novamente.

- Não encosta nela. - gritou Finnick, reunindo forças para se levantar; Gloss ignorou ele.

- Por favor, não liga pro que esse moleque disse. - falou Prim, referindo-se a Rory, segurando o rosto de Gloss carinhosamente; o movimento fez com que sua respiração se aliviasse.

- Ta, com você eu converso. - afirmou ele, enquanto ainda encarava Rory.

Gloss arrastou Prim pela mão e abriu caminho entre a multidão. O ato fez com que todos parassem de brigar e prestassem atenção na gente; parece que quando você está no meio de uma roda, a atenção é voltada a você.

Eu estava preocupada com a Prim sozinha com ele, mas, provavelmente, ela já devia estar acostumada. Só pude atribuir minha atenção a Finnick e Rory; os dois estavam sangrando.

- Fica calmo, Finnick. - disse Annie, apressadamente, enquanto o apoiava em seu ombro. Talvez aquela fosse a primeira vez que se falaram depois do beijo; deduzi pela feição de compreensão dos dois.

- Vamos lá para a sala. - sugeriu Peeta, indo em direção ao Rory, que estavam bem fraco.

- Gente, o que aconteceu? - gritou Madge, vindo em nossa direção, acompanhada de Marvel e Glimmer.

- Marvel, me ajuda aqui com o Rory. - exclamou Peeta.

- Eu posso andar sozinho. - disse Rory, vacilante.

Marvel foi em sua direção, mesmo com as reclamações, e o amparou.

- Alguém me diz o que houve. - exclamou Glimmer; seus olhos percorriam de Finnick para Rory.

- Lá em cima a gente explica. - disse Johanna, guiando todos até o segundo andar.

Procuramos por um quarto vazio, algo que não foi tão difícil de achar; Annie e Madge procuravam por algo para limpar os machucados dos meninos. Me encontrava novamente no quarto de Cashmare, contra minha vontade. Não troquei olhares com o Peeta desde aquele momento.

Minha consciência parecia ter voltado ao normal,afinal, com uma dose de adrenalina daquelas, não teria como ser diferente. Minha mente ainda estava em Prim, e na curiosidade de como as coisas chegaram naquele ponto.

Annie e Madge voltaram antes mesmo de nos darmos falta das duas. Finnick mantinha a pose de astro do colégio mesmo fora dele; ele agia como se sua luta fosse o centro das atenções, sem ao menos saber o motivo da briga. Annie colocava um pano molhado perto de seu nariz.

- Você até que fica sexy assim, Odair. - disse Johanna, quebrando o silêncio.

- Fico de qualquer jeito. - retrucou Finnick, com um sorriso.

- Okay, será que dá pra alguém dizer o que houve lá embaixo? - perguntei, fazendo com que Johanna e Annie adquirissem um olhar sério.

- Acontece que eu não suporto aquele cara. - gritou Rory, chutando um móvel qualquer.

- O que ele fez dessa vez? - perguntou Madge, tocando de leve no ombro de Rory.

- Eu ouvi uma conversa dele e fiquei com raiva. - falou ele, parecendo ter se arrependido segundos depois.

- Que conversa, Rory? - perguntou Peeta, sentando-se na cama; na cama em que dormíamos minutos antes. Nosso pensamento deve ter sido o mesmo, pois, logo em seguida, ele olhou em minha direção e se levantou.

- Ele tava falando com uns caras sobre a Prim e... - ele pareceu pensar duas vezes antes de continuar. -, ele disse o quanto foi fácil comer ela e mais três garotas na mesma noite.

- Espera, o que? - disse, por impulso.

- Não é? Eu fiquei muito puto, daí tentei discutir com ele... - continuou Rory, parecendo feliz em finalmente desabafar. -, mas sabem como aquele cara é, né? Quis partir logo pra agressão.

- E a Prim ainda defende esse cara? - perguntou Annie, chocada.

- Defende! - repetiu Rory, como se tivesse finalmente achado alguém que concordasse com ele. - E justo quando eu ia falar com ela...

- Ia falar o que, Romeu? - perguntou Johanna, tentando amenizar o peso da situação.

- Ah, eu... eu ia... - ele corou rapidamente, mas mantinha o olhar enraivecido. -, vocês já sabem né. É muito óbvio.

- Você é um imbecil. - comentou Marvel. - A Prim não vai ficar contigo simplesmente porque você é amigo dela. - completou ele, direcionando um pequeno olhar a Glimmer.

- Eu já não ligo mais pra isso. Na verdade, tenho ignorado ela desde que começou a sair com o Gloss e aquele pessoal nojento. - desabafou Rory, jogando-se na cama.

- Ela nunca foi disso... - comentou Johanna, vagamente. - , ficou estranha depois de conhecer esse cara. - completou, agressivamente.

- Eu vou é arrastar aquela imbecil de lá agora. - disse eu, bruscamente; me levantei e puxei Annie pelo braço.

Pude ouvir algumas pessoas chamando meu nome, mas não liguei. Só queria fazer com que a Prim tomasse vergonha na cara e parasse de se envolver com gente que não prestava, somente para chamar atenção.

Annie continuava a falar que não devíamos fazer aquilo, mas continuei seguindo até o quarto de Gloss. Eu não sabia o que faria, era apenas guiada por puro instinto.

Não entendia o motivo de garotas feito a Prim se desfazerem tanto de garotos feito o Rory. Eu continuava em dúvida se deveria ou não me preocupar com Prim. Nosso relacionamento continuava abalado, como sempre foi, mas um pequeno momento que tivemos anteriormente me fez tomar aquela decisão.

- Ei, esperem. - gritou Johanna, correndo em nossa direção. - Eu vou lá com vocês. E vou dar uma surra naquele cara, se necessário.

- Ta legal. - disse, sem entender o que ela realmente tinha dito.

Apressamos nossos passos até chegarmos na porta; não tive tempo para prender a respiração ou fazer um drama básico, sai empurrando, crente que pegaria os dois num momento constrangedor e daria uma lição de moral na Prim. O que encontrei pode ter sido bem pior.

Gloss estava deitado numa linda cama de casal, que parecia ter custado milhões; minha mente se perguntou rapidamente quantas garotas já deviam ter dormido com ele ali. Prim estava sentada no chão, encostada na cama, chorando silenciosamente; ela secou as lágrimas assim que nos viu.

- Ei, o que houve? - perguntei, abandonando rapidamente minha vontade de repreendê-la; ela não me respondeu, apenas abaixou o olhar.

Johanna se aproximou cautelosamente dela, não sem antes lançar um olhar de desgosto para Gloss.

- Pirralha, quer sair daqui? - perguntou ela em baixo tom, sentando-se ao lado de Prim.

Gloss se remexeu na cama; ele estava sem roupas, coberto apenas por um lençol.

- Quero ir pra casa. - respondeu Prim, com uma voz fraca.

Uma dor enorme invadiu meu peito ao ouvi-la falando de uma maneira tão fraca. Olhei para Annie, que parecia dividir os mesmos pensamentos que os meus.

- Ta bom, eu te levo. - disse Johanna, se levantando e estendendo a mão para ajudar Prim.

Eu me sentia apenas uma telespectadora; não conseguia reagir.

- Obrigada. - murmurou Prim, tentando se levantar; mesmo apoiada por Johanna, ela parecia sentir dor.

- O Gloss fez alguma coisa com você? - perguntou Johanna, desesperadamente, enquanto passava a mão nas bochechas de Prim.

- Não, relaxa. - disse Prim, tentando adquirir uma postura normal. - Ele não fez nada. - completou ao encarar nossas feições de preocupação.

Ela estava mentindo; eu percebi que ela estava mentindo.

- Mas você ta toda... - começou Annie, sendo interrompida por um olhar rígido de Johanna.

- Eu quero falar com o Rory... - comentou Prim, assim que saímos do quarto. -, ele não devia ter se metido com o Gloss. - completou, apreensiva.

- Larga de ser imbecil. Ele foi te defender. - retrucou Johanna.

- Eu sei me defender sozinha. - disse Prim, de cara emburrada. - E o que vocês estão fazendo aqui? - perguntou a mim e Annie.

- Na verdade eu vim na intenção de brigar com você. - respondi, simplesmente. - É disso que você gosta, não é? Que eu brigue com você?

- Ah, cala a porra da boca. - disse Prim, visivelmente sem argumentos.

Antes de nos dirigimos ao quarto, Johanna me puxou para um canto.

- Olha só, a gente conversa sobre isso depois. - cochichou ela. - Eu disse pro pessoal deixar o Rory sozinho no quarto, e quando eles terminarem de conversar você leva a Prim para casa, pode ser?

- Claro que levo... - afirmei, abraçando-a. -, nem que seja pelos cabelos. Mas, vem cá, você acha que...

- Sim, aconteceu alguma coisa. - confirmou Johanna, me puxando ainda mais para longe. - A Prim é assim, ela não gosta demonstrar fraqueza nenhuma; ela jamais diria o que houve facilmente. E é por isso que todos tentamos descobrir por conta própria.

Prim chegou logo em seguida, injuriada, dizendo que Johanna estava de complô comigo; foi até engraçado poder vê-la irritada, e não triste. Ela foi até o quarto falar com o Rory.

Eu e Annie ficamos esperando por ela; nós ficamos conversando sobre as infinitas possibilidades do que poderia estar acontecendo, e, como sempre, Annie tentou me convencer de que minha preocupação com Prim não estava sendo algo saudável. Johanna já havia indo embora junto dos outros. Combinamos de falar sobre o assunto no colégio; todos já tinham começado a sentir os efeitos da ressaca e, sabiamente, decidiram voltar para casa.

Minutos se passaram, e o bater da porta pôde ser ouvido. Prim saiu com os olhos vermelhos, enquanto Rory caminhava decidido na direção contrária.

- Vamos logo, por favor. - pediu Prim, com os olhos voltando ao normal.

- Vamos... - disse, seguindo em direção à saída. -, temos muito o que conversar.

— Katniss... - disse Annie, com as sobrancelhas arqueadas. -, por que está sem camisa?

Por onde passávamos havia resquícios da festa. Pessoas bêbadas continuavam a dançar e conversar, em contrapartida, os mais afetados pelo álcool já estavam dormindo no chão. Queria sair dali o mais rápido possível; já não aguentava mais aquele ambiente.

Fiquei feliz ao passar pela porta de saída. Annie pediu um táxi e fomos direto para minha casa.

A noite toda começou de uma maneira tão divertida, e acabou se tornando naquele desastre. Mas isso era uma coisa que eu tinha que aceitar, afinal, a vida funciona assim; nunca sabemos o que esperar dela.