Hoje é domingo e estou na biblioteca onde geralmente passo todo o meu final de semana fazendo os trabalhos e estudando para as provas já que eu não tenho tempo durante a semana. Hoje ainda são 14:00h e eu já terminei tudo o que tinha acumulado. Suspiro. Não tenho nada para fazer agora... Bryan, Fabrina e Val não ficam no colégio no final de semana... Quer dizer Bryan e Val até ficam, mas é melhor não interromper. Bryan, porque, bem, é o Bryan. Eu não preciso de outra imagem dos seus estranhos fetiches. E a Val insiste em pedir que a deixe trabalhando sozinha de final de semana... Talvez ela tenha um projeto à parte sei lá mas enfim, eu sei como ela é dedicada não tem nem como julgar. As vezes ela só precisa de um tempo para pensar sozinha... Às vezes acho que a expressão que ela carrega quando está comigo e quando a encontro trabalhando sozinha é tão diferente, comigo ela é mais alegre, descontraída, quando a vejo sozinha tem uma expressão tão focada e concentrada que é quase assustador... Suspiro de novo e encaro a fileira de livros à minha frente. Por que é que o Lio tinha que marcar um encontro bem hoje? Não poderia ter sido ontem? Agora que começamos a nos reaproximar eu realmente queria passar mais tempo com ele... Se bobear foi ideia daquele namorado dele, o Isoces. Ai tédio. A paranoia já está batendo. Não é como se o cara pudesse ver o futuro. Gemo e baixo a cabeça em direção a mesa mas acabo indo muito rápido e bato com tudo.

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— Ai! Caralho!

— Shhhhhhh! – A bibliotecária olha feio para mim. Estreita os olhos ao me reconhecer e me encara com ódio.

É isso. O meu dia vai ser ótimo. Longe das poucas pessoas que gostam de mim e sem ter o que fazer. Suspiro me levantando, tentando não fazer barulho e chamar atenção da “adorável senhora” bibliotecária. Já vou ter que lidar com merda o suficiente hoje. Preciso arranjar alguma coisa ou eu vou entrar em depressão. O que aconteceu com os meus hobbies? Não. Ficar enfurnada no quarto lendo não é um hobbie.

— Senhorita Katia, por favor se direcione à Direção. Está sendo aguardada. – Eu escuto através do autofalante da escola. Bom, pelo menos eu vou ter o que fazer agora. Vou indo em direção às escadas para subir à Direção. Nem é pronunciada a segunda e terceira chamada, afinal não é necessário, ele sabe que já estou a caminho.

O diretor é uma criatura estranha mas é legal. O fato de ele me entender e simpatizar comigo é provavelmente o único motivo de eu não ter sido expulsa ainda, afinal ele tem que lidar com a pressão de quase todos os professores e com as famílias dos alunos. O bom é que ele não está nem aí... Isto de diversas formas. É difícil ver ele pela escola porque geralmente nem vive neste tempo. Ele é o que chamamos de Oráculo, sim, como o das lendas Humanas, mas é um pouco mais complexo. Ele não apenas vê o futuro e passado, ele vive dentro deles. Enquanto ele estiver vivo, a sua consciência vai viver em todos os tempos de uma vez. Então ele é meio louco, mas muito sábio também... Mais louco do que sábio na maioria das vezes. Rio. Ainda assim é um membro muito respeitado dentro do nosso mundo e temido por muitos. Sinceramente não sei como ele se localiza, existem tantas opções de futuro que são criadas a partir de tantas opções de caminhos durante cada dia, e ele vive em todas elas...

Finalmente chego à uma grande porta de madeira toda trabalhada à mão. Lentamente a abro e entro. A porta dá para um salão onde fica a secretária do Diretor e algo como que uma “sala de espera” com vários sofás, mesinhas e revistas. Como o Diretor geralmente não está disponível é a secretária que lida com todas as questões, dentro do que lhe é permitido, enquanto ele não está. Por sorte eu só venho aqui quando o Diretor me chama, porque olha, oh Serzinho difícil de se lidar. A Ignoro e sigo diretamente para a porta da direção. Ela nem fala nada porque o diretor deu um ultimato da última vez que ela, bom, me atacou e imagino que não queira ser demitida. Mas não acho que serve para muita coisa... Duvido que ele lembre de ter dito qualquer coisa. Não que ela precise saber disso. Rio baixinho.

Entro na sala do diretor sentindo o olhar queimante dela me seguindo. A sala é como uma típica sala de direção, eu imagino, a única diferença é que no lugar do homenzinho de cabelos brancos e barrigudo que, desculpa, é a minha imagem de um diretor de escola, tem um adolescente ruivo com sardas esverdeadas e olhos da mesma cor. Nem parece que tem, o que? Mais de 200 anos? Sorrio em cumprimento quando reparo no senhor sentado à sua frente. Digo senhor por causa dos ralos cabelos brancos e da pele fina marcada pelo sol coberta de rugas que se acumulam principalmente no canto dos olhos... Mas seu porte físico parece de no mínimo 20 anos a menos que sua idade. Quanto tempo um homem dessa idade tem que ficar na academia para manter esses músculos?

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Enfim. Olho de volta para o Diretor como em pergunta da presença do homem e tenho que segurar a risada... Talvez eles devessem trocar de lugar... Qualquer um que não conhecesse o diretor pessoalmente com certeza iria ficar confuso. Chego à cadeira ao lado do senhor e o cumprimento antes de sentar. Ele me dá um grande sorriso em resposta aumentando as suas rugas mas ainda assim isto o deixou mais jovial. Nunca vi olhos tão vívidos quanto os deste homem. Sorrio de volta e me viro ao Diretor esperando que comece a falar.

— Nós nos reunimos aqui hoje para celebrar a união... – Escancaro a minha boca e olho para o Diretor com um ponto de interrogação na cara. Olho de canto para o senhor, ele está quase com a mesma expressão que eu. – Ah! – Exclama o Diretor. – Época errada. Época errada. – Meus olhos esbugalham e levanto as sobrancelhas... Eu vou casar com este homem no futuro? Não pode estar sério. – Hahahahahah Estou brincando, estou brincando. Tinham que ver a cara de vocês... Hahahahah – Reviro os olhos... Não disse? Louco. Vejo o senhor rindo um pouco e balançando a cabeça. – O que? Não é como se fosse tão diferente... Eu vou conduzir o seu casamento menina, e você vai estar lá. – Diz apontando para o senhor. – Só não vai ser o noivo. – Dá de ombros.

— Você, meu amigo, não mudou nada. Em tempos bons ou ruins consegue sempre deixar alguém desconfortável. – Agora eu rio. Ainda mais com a cara do Diretor que agora parece uma criança emburrada. Sério, vai atingir a maturidade quando? Aos 500? Balanço a cabeça.

— Enfim. Agora que estamos mais relaxados... Vou fazer as introduções. Esta é Katia, a moça exemplar que lhe falei. Pode aprender coisas com ela que em tantos anos de vida nunca achou que seriam possíveis... Katia, este é o meu amigo...

— Anthor. É um prazer finalmente te conhecer. Ouço histórias suas faz mais de cem anos já. – Diz sorrindo para mim. Eu nunca vou me acostumar com a idade dessas pessoas. 100 ANOS!?? Qual é a idade dessa gente!? Tento rir mas sai de um jeito estranho.

— Anthor, – O Diretor faz uma cara feia por ter sido interrompido e Anthor levanta as mãos em defesa – será o novo professor de “História dos Seres”. Eu gostaria que lhe mostrasse a escola e que fique à disposição para qualquer dúvida. – Pisca um olho para mim.

— O que aconteceu com o professor Tison? Minhas aulas extras continuarão normais? – Todos os alunos tem a última aula de cada dia livre para escolher uma matéria e professor que mais lhe interessam e eu sou fanática por História. Tanto antiga quanto atual. Tanto Humana quanto de Seres. E tem tanta coisa... Que nem me importei se não me dou bem com o professor. Ele acabou me aturando só por causa da paixão em comum, por que se não...

— Ele pediu transferência para uma escola humana, não me deu as razões. Mas não se preocupe, não acredito que seja nada por sua causa. – O Diretor pisca um olho para mim. Ok, vamos fingir que acreditamos nisso. Dou um pequeno sorriso. – Quanto às aulas extras... Poderá discutir isto com Anthor. Agora vão, eu tenho um lugar para ir. – Diz mexendo as mãos nos mandando para fora. Dou um sorriso tímido para Anthor e me levanto. Ele logo me segue e vamos em direção à saída.

— K! – O Diretor me chama no meio do caminho. Não pode ser coisa boa... Ele sempre me chama de “menina”, se for “K” sei que é sério. Olho para trás e ele faz sinal para eu me aproximar, retorno até a mesa. – Aprenda tudo o que este homem puder lhe ensinar. Vai fazer grande diferença no futuro. – Faço que sim e me viro. – Ah. – Ele berra. Levo um susto e viro para ele de novo. – Cuidado em quem você confia... Pessoas escondem segredos sombrios. O ódio é um veneno para a alma... – Ele dá um grande sorriso – Acho que era isso. Espero não ter esquecido de nada, se não... Bom, não tem problema. Qualquer coisa você se vira, é uma menina esperta. Agora xo, xo. Eu tenho mais o que fazer. – Louco. Além de louco é bipolar... Quase não dá para levar os avisos dele a sério... Vou seguindo de novo para a saída. O que ele disse? Pessoas que eu confio tem segredos sombrios? Olha... Se ele estiver falando do Bryan... Já sei mais que o suficiente Diretor. Muito mais do que o suficiente.

— Bom, o quanto conhece da escola? – Pergunto para o... An? ...Antom? Cara. Como sou ruim com nomes.

— Eu diria que nada. Segui direto para lá acompanhado do Diretor... É muita coisa para ver? – Ele dá um sorriso meigo.

— Sim. Vamos provavelmente levar o resto do dia... A escola é enorme. Você começa segunda, certo? – Ele faz que sim. – Então espero que seu senso de direção seja bom. – Yay. Tenho o que fazer o resto do dia.

Ele não parece má companhia e eu adoro ser guia turística Sem contar que posso mostrar meus conhecimentos históricos quanto à escola... Não que eu saiba muita coisa, construções não são muito minha praia mas eu estudo aqui, tenho que saber pelo menos o básico.

Fomos passeando pela escola, fui mostrando os caminhos e lugares enquanto conversávamos sobre vários assuntos. Ele é realmente uma boa companhia. É bom ter mais alguém com quem conversar... Chegamos à biblioteca e ele ficou encantado com a coleção de livros antigos e eu tenho que admitir, nossa biblioteca é maravilhosa. Aproveitei a oportunidade para falar dos meus conhecimentos sobre a história do lugar e construção e... Me ferrei. É claro que eu me ferrei. Esperava o que de um renomado professor de história?

— Você sabia que a escola está localizada próxima à uma alcateia? Mais ou menos 300 anos atrás houve uma guerra entre as Alcateias aqui, onde está pisando. Houve enorme destruição. Incontáveis mortes. Não sobrou praticamente nada daquela época, restam apenas um muro aqui, um pedaço de ponte ali... A guerra durou gerações e traumatizou mais algumas. Mas não se culpe, na época este lugar era pouco povoado e existem poucos escritos do que ocorreu. A história se manteve mesmo sendo passada pelos lobos, de pai para filho. – Caralho. Quem diria? Adoro conhecer a história de mutantes... Sinto que são próximos a mim. Tanto que não arrisco copiá-los, somos muito compatíveis. Capaz de eu desenvolver a transformação completa. Espera...

— Só os lobos conhecem a história então? Isso significa que é um? – Ele sorri e acena com a cabeça. Gente, amei. Não tinha como ser melhor essa troca de professor. – Que legal. Bom, se o Diretor falou de mim por tanto tempo deve conhecer as minhas habilidades. – Ele assente. – Então, só para avisar, se eu perder o controle, não me toque. – Digo piscando um olho. – Agora. Continua a história. Como se acertaram? Como as Alcateias vivem hoje? – Ele sorri.

— Bom. Acabou como qualquer guerra, ou com a soberania de um dos lados... Ou, como foi o caso, com um acordo de paz. Ninguém mais suportava a situação. Hoje, as alcateias se dividem nas maiores: Lobos do Norte e do Sul e as menores: Lobos do Leste e do Oeste. Vivemos em paz, mesmo ainda existindo uma rixa entre as do Norte e do Sul, mas sempre há alguém com sede de poder... – Ele diz e seus olhos se tornam mais sombrios. Ele para de andar. – Você ouve isso? – Ãn? Presto mais atenção e escuto baixos gemidos. Olho em volta para me localizar. Enfermaria! Coro e puxo ele pelo braço.

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— Esquece o que ouviu e segue em frente. Vem! – Puxo ele para longe.

— Que lugar é aquele? – Suspiro e o solto quando estamos longe o suficiente.

— A enfermaria. – Ele me olha curioso. – Papo para outra hora. – Ele assente e continuamos andando em silêncio até que chegamos na área da floresta. – Bom, aqui é a última parte da excursão, a floresta da escola. – Ele assente.

— Alguém faz uso dela? Quero dizer para alguma aula ou coisa do gênero? – O olho curiosa, o Diretor comentou isso também?

— Só eu. Na aula de Desenvolvimento treino a habilidade que copiei na floresta, é mais seguro. Os outros se mantém longe dela porque não vão muito com a minha cara e aquele é o meu “território”. Que eu saiba não teria nenhuma matéria que precisaria do uso da floresta...

— Nem defesa pessoal? – Arqueio uma sobrancelha.

— Você quer dizer, luta corpo a corpo? – Ele faz que sim – na floresta? – Assente de novo. – Não. Não temos essas aulas... Treinamos o que temos de habilidade, se essa for a habilidade de alguém ou se tiverr haver com ela, a pessoa vai receber o treinamento mas de resto... – Ele abre os olhos surpreso.

— E se alguém anular a habilidade? E você, se não copiar ninguém? Isso não pode ficar assim. Vocês precisam de treinamento melhor. – Levando as sobrancelhas. – Vou ter que discutir com o Diretor sobre isso...

— Boa sorte com isso. – Ele me olha surpreso. – Não vai conseguir encontrar o Diretor e mesmo se conseguir, minha tia... Quero dizer, a professora Val não vai gostar nada disso. Vai ter que falar diretamente com ela. – Ele suspira.

— Tudo bem. Vou fazer isso. Mas você. Vai treinar comigo nas aulas “extras” que você tem. Fica muito indefesa sem sua habilidade. – Levanto uma sobrancelha.

— Eu consigo me virar muito bem sem copiar ninguém. – Digo brava.

— É o que vamos descobrir. – Olha moço está me dando nos nervos. – E usar a sua energia como arma não conta. Este deveria ser seu último recurso e não o único. – Suspiro e aperto a ponte entre as sobrancelhas... “Aprenda tudo o que este homem puder lhe ensinar”. Suspiro. Não tenho muita escolha então. Aceitei a oferta, acertamos os últimos detalhes e nos despedimos. Exausta fui em direção aos dormitórios só querendo dormir. Esta noite sonhei com o combate com um lobo gigante na floresta da escola. Foi intenso.