Um Segredo Entre Nós

Quando descobrimos a verdade sobre o nosso passado


“Ninguém disse que seria fácil, é uma pena que tenhamos nos separado. Ninguém disse que seria fácil, mas ninguém jamais disse que seria tão difícil assim. Oh, leve-me de volta ao começo”

The scientist – Coldplay

Depois que saiu do banheiro, a primeira pessoa que viu foi seu namorado. Daniel a olhou com tanta ternura e compaixão, a abraçando tão carinhosamente e beijando sua testa enquanto a segurava em um balanço delicado. Regina adorava o modo como ele se preocupava com ela, com as duas na verdade. O homem era realmente um refrigério em meio aquele caos e ela com certeza não o merecia, não depois da maneira como seu coração a traiu mais cedo ao ver Robin.

Foi tirada de seus pensamentos quando o ouviu perguntar se queria que ele levasse Louise até Belle. Regina só acenou, entretanto, tomou sua menina ainda mais forte em seus braços. A pequena não queria soltá-la na mesma proporção que ela também não queria deixá-la ir, parecia sentir que algo muito ruim tinha acontecido.

My sweet baby— se afastou apenas o suficiente para olhá-la nos olhos – preciso que você vá com tio Daniel e fique com Belle por algumas horas, prometo voltar o mais rápido possível e então, nós vamos ficar agarradinhas e ninguém vai tirar você do abraço da mamãe, ok? – forçou um sorriso para acalmar a menina.

Vendo a aflição no olhar de sua namorada Daniel se pronunciou:

— Não se preocupe, vou ficar com elas no seu apartamento e ninguém vai passar por aquela porta – Regina suspirou aliviada concordando. Ainda que não a tenha tranquilizado totalmente. Infelizmente ela tinha que voltar ao trabalho, então soltou-a mesmo que relutante, pois não queria perdê-la de vista.

Cada passo que sua filha dava para longe de seu aconchego era como se uma parte de seu coração se quebrasse. Louise a fitava com uma carinha de choro, enquanto caminhava segurando a mão de Daniel. Porém, o que ela poderia fazer? Entortou a lateral da boca suspirando em seguida, os observava cruzar a porta com abertura automática dupla.

Foi preciso uma força interior que não sabia possuir para não correr e partir com eles, pegar o primeiro avião e sumir sem deixar rastros. Todavia, não podia se dar o luxo de perder esse trabalho, não podia apostar na incerteza tendo uma criança que dependia dela, além de ter certeza que seu chefe iria querer uma explicação pela cena na audiência.

E não estava enganada, quando entrou na sala, Gold a esperava ali. Sentado em sua cadeira, com as mãos cruzadas e imparcialidade estampada em cada traço seu. Não era de se espantar. O senhor a encarou dos pés a cabeça, com certeza percebendo sua bagunça, mesmo que tivesse tentado melhorar um pouco sua aparência antes de retornar ao seu andar.

— O que aconteceu hoje senhorita Mills?! – ele arrumou a postura – Problemas pessoais não podem ser expostos assim em uma audiência. Não no meu escritório.

— Perdão senhor Gold, se o senhor tiver alguns minutos tentarei lhe explicar tudo – percebendo que sua funcionária não estava muito bem, ele acenou e gesticulou com as mãos, pedindo que se sentasse.

A morena lhe relatou o mais breve que pode sua história, sem entrar em tantos detalhes e quando terminou, era impossível que não estivesse com os olhos marejados outra vez. Gold a encarou novamente, parecendo muito mais complacente. Lhe ofereceu um lenço e pediu para que continuasse seu trabalho em casa. E partiu, mas não sem antes lhe prometer ajudá-la em uma possível disputa judicial contra Eleanor Locksley. Uma antiga rival sua. Ele até apareceu ansioso e a Regina restou apenas agradecer sua boa vontade esperando não precisar usar o favor.

* * *

Regina ligou para Emma. Era muito cedo ainda nos Estados Unidos. Nem tinha percebido, foi a última coisa com a qual se importou na verdade. Ela precisava juntar peças de um quebra cabeças agora. Quando viu a loira atender a ligação e reclamar um palavrão pelo horário foi que se tocou. Mesmo reclamando, sua amiga perguntou se estava tudo bem. E então a morena falou algo que a fez saltar da cama em dois segundos e parecer totalmente acordada:

— Eu encontrei Robin em uma audiência hoje e ele descobriu sobre Louise.

— Puta merda! Como assim? MEU DEUS! – ela começou a piscar várias vezes os olhos verdes e encarar seu marido – Kilian me belisca por favor, eu estou sonhando? É isso?

— Emma! Me escuta! – a morena chamou sua atenção.

— Regina, me desculpe. Eu só, só... não consigo acreditar – ela saiu pelo cômodo, cruzando uma porta e um corredor até entrar na cozinha, sentando e pedindo – E o que aconteceu?

— Eu tinha um caso muito importante contra um inglês, Robin era o advogado dele. No final da audiência eu estava tão confusa, tão perdida, ele queria conversar e eu só queria fugir. Havia ensaiado tanto o que dizer pra ele quando finalmente estivéssemos um de frente para o outro mas... eu simplesmente fiquei sem palavras.

Emma torceu os lábios no que Regina acreditou ser um sorriso compadecido. E tinha certeza que se elas estivessem próximas, teria apertado sua mão e lhe dado um abraço.

— E como foi vê-lo? O que você sentiu? Eu não sei porque, mas sinto que algo muito ruim aconteceu, porque conheço sua carinha inchada de choro. Devo cancelar todos os meus compromissos e ir atrás do senhor Locksley fazer o que não fiz muito tempo atrás e cortar as bolas dele?! – tentou descontrair, porém, Regina só soltou um suspiro cansado, inquirindo:

— Emms – buscou os olhos da amiga através do celular – o que foi que você não me disse? – a loira ainda não tinha entendido sobre o que ela falava, então fez questão de ser precisa – O que aconteceu no dia em que Robin foi me procurar?

— Regina, aconteceu o que eu te disse – Swan estreitou os olhos, como se tivesse buscando algo que poderia ter lhe escapado de seus áuricos de memória.

— E o que você não me disse? Eu preciso saber de tudo! Porque estou vivendo um pesadelo! – gesticulou veemente – Robin descobriu que Louise é sua filha da pior forma possível. Ela estava chegando com Daniel, ele pensou que nós éramos casados e então Louise o chamou de tio. Eu não preciso nem te dizer que depois disso as coisas ficaram muito ruins, tentei tomar as rédeas da situação, para contar para ele, mas já era tarde demais, Lou Lou disse quantos anos tinha e ele não precisou de muito para ligar as coisas... Agora eu preciso que você me diga exatamente o que aconteceu no dia em que ele foi atrás de mim, porque se você me deixou algum detalhe de fora, preciso saber Emma – sua amiga a encarava como se considerasse algo – Robin me disse que foi atrás de mim na minha casa e está ameaçando tirar minha filha. Agora necessito entender o que aconteceu.

— Filho da puta! – soltou sem pensar. Não seria ela se não amanhecesse o dia com tantos palavrões – Mas quem esse cara pensa que é?! Ele não pode fazer isso! Nós não iremos permitir! – a loira bateu a mão na mesa, começando a irritar-se.

— Não pode? – ironizou Regina – Você esqueceu quem é a família dele?! Agora me diga, por favor. O que aconteceu?

— Eu te disse aquele dia no seu apartamento. Ele foi atrás de você, queria falar contigo, eu disse que você tinha ido embora e ele pareceu desesperado. Eu disse algumas verdades na cara dele, inclusive que não sabia para onde tinha se mudado. Ele saiu arrasado. A única coisa que não te contei. Foi que... – ela vacilou – foi...

— Diga!

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6 anos atrás

Boston, Universidade de Direito de Harvard...

Assim que Robin passou pela porta Emma a fechou com raiva. Por causa dele sua amiga estava sofrendo e estava indo embora. Regina era sua melhor companhia há tanto tempo que viver sem ela seria difícil. Olhou a cama vazia, sentindo seu peito apertar lembrando-se de como ela tinha passado seus últimos dias ali, chorando por ter sido enganada. A loira pensou um pouco. Se ele realmente a tivesse trocado e não se importasse não teria ido ali procurá-la para conversar, certo?

Ela não pensou muito mais, calçou o primeiro par de tênis que achou e correu para encontrá-lo. Ele já estava chegando no estacionamento, com a cabeça baixa, quando ela gritou seu nome e ele virou-se assustado:

— Robin! Espera! – ela parou, colocando as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego. Era péssima com esportes.

— Emma? O que foi?

— Eu não deveria, mas vou te dar um voto de confiança – os olhos dele brilharam de esperança e um sorriso começou a se formar nos lábios finos de ambos – você ama minha amiga?

— Sim, tanto! Errei, sei disso, mas eu a amo sim e quero tentar reparar as coisas.

— Ok, então se você realmente a ama, procure-a. Não a deixe partir por favor. Não peço só por mim, mas ela... – droga, controle-se Emm, você prometeu não falar nada! – ela precisa de você, ok? – ele só acenou, não entendendo muito – Regina ainda não foi embora, mas vai, então corra até a casa dos pais dela agora mesmo e diga tudo isso que acabou de me dizer à ela. Minha amiga está sofrendo muito.

— Eu também estou sofrendo por ter nos colocado nessa situação – o loiro abaixou a cabeça, triste.

— Então vá até lá e conserte as coisas – Swan incentivou apertando seu ombro e lhe dando um meio sorriso.

— Obrigada Emma – ele a abraçou esperançoso – Você só... – coçou a nuca sem jeito – poderia me passar o endereço?

— Robin você namorou Regina 1 ano e não sabe aonde ela mora?! Como é possível?

— Você sabe que o pai dela não gosta de mim, eu nunca a deixava em casa. Ela preferia assim.

Revirando os olhos, a loira escreveu o endereço no celular dele. Robin agradeceu a abraçando novamente.

— Ok, agora chega de abraços e vá até ela. Estou confiando em você!

— Não irei te decepcionar – Locksley sorriu e entrou no carro rumo ao endereço que a loira o havia dado.

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— Regina, eu não te disse aquele dia, porque só traria sofrimento, Robin disse que iria até você, mas nunca foi... Ele tinha me prometido e não cumpriu. Foi por isso que omiti ter ido atrás dele praticamente implorar que ele te procurasse.

Regina sentiu o coração bater ainda mais forte, o que ele tinha falado... era... verdade.

— Emma... – engoliu a seco, estava difícil falar, tinha um nó formado em sua garganta – Robin diz ter ido até minha casa esse dia e diz que meu pai não o deixou me ver.

Oh shit! — a loira arregalou os olhos e abriu a boca – Você acha que seu pai faria isso?

— Eu estou começando a achar que sim... – só a possibilidade fez suas pernas falharem e ela foi até sua cadeira sentando-se.

— Rê, sinto muito, pois essa é uma acusação muito grave e só existe uma pessoa que pode te esclarecer tudo. Juro a você que a única coisa que não te contei foi isso. Eu só não queria que você sofresse mais do que já estava naquela época.

— Entendo Emma. Se você tivesse me contado, eu teria sofrido muito em pensar que mesmo você pedindo para que Robin me procurasse, ele não tinha vindo. Entretanto... agora me sinto perdida, porque – sua garganta secou com a possibilidade, até seu coração perdeu a batida – se ele foi... você tem noção do que isso significa?

— Isso mudaria tudo não é mesmo?! – Emma indagou baixo e vacilante enquanto Regina passou as duas mãos pelo rosto, encostando os cotovelos contra a mesa de escritório, sentindo o começo de uma enxaqueca chegando.

— Emma – sua voz saiu fraca e derrotada. Ela já estava sem energias e ainda teria uma conversa difícil pela frente – eu... eu preciso desligar, ok? Preciso ligar para meu pai.

— Re, eu não sei o que dizer e gostaria muito de estar aí contigo. Mas tudo bem, ligue para ele, pois seu pai é o único que pode te dar essa resposta. Te ligo assim que sair da minha primeira audiência essa manhã. Conta comigo ok? Nós vamos passar por isso juntas, como sempre fizemos – Emma lhe deu um sorriso encorajador e Regina apenas acenou. Agradecendo e encerrando a vídeo chamada.

* * *


Henry sempre se levantava cedo, fazia uma corrida pela vizinhança e voltava para tomar sua xícara de café. Arrumava a mesa para Cora e subia as escadas para seu banho, pois as sete e meia da manhã eles religiosamente saiam para o trabalho para não pegar tanto trânsito.

Já estava caminhando para fora da cozinha quando viu o telefone sobre o balcão vibrar. Estranhou, mas seguiu até o aparelho, rindo quando a foto de Regina e Louise apareceu na tela.

— Hey maçãzinha, bom dia! – cumprimentou feliz – Porque uma ligação tão cedo essa manhã? Aconteceu alguma coisa? – ao olhar um pouco mais atenciosamente o rosto da filha se assustou. Alguma coisa tinha sim acontecido. Seria sua neta?— Onde está Louise?

— Louise está em casa com Belle – ele soltou um suspiro aliviado.

— O que aconteceu então meu bem? – pediu preocupado.

Regina sabia como interrogar pessoas quando precisava receber respostas. Havia participados de vários julgamentos simulados na época da faculdade. Ela seria direta, porque ele não estava esperando a pergunta, então, não teria como fugir ou contornar a resposta. Se o fizesse, saberia que estaria mentindo. Ou usando qualquer articulação para não dizer a verdade.

— Papai, vou te perguntar uma coisa e quero só a verdade – Henry a encarava através da tela sem entender aonde ela queria chegar – Porque você não me disse que Robin tinha ido me procurar?

Ele abriu os olhos e suas sobrancelhas se ergueram. Culpado! Não era uma reação de supresa ou espanto pela pergunta feita, mas sim por ela ter descoberto. Engolindo a seco, seu pai continuou em silêncio.

— Oh Deus... – Regina se levantou e levou as duas mãos à cabeça, cobrindo os olhos – É verdade mesmo, então? – voltou a encará-lo – Ele foi me procurar e você não o deixou me ver? – pediu chocada.

— Quem te falou isso Regina?

— O senhor não me respondeu papai! – seu tom aumentou alguns decibéis – Ele foi, não é mesmo?

Henry abaixou a cabeça, soltando a respiração, vencido:

— Sim, ele veio.

— Oh meu Deus pai! – Regina quase sufocou com a verdade lançada. Seus olhos encheram-se de lágrimas e seu coração parecia uma caixa amplificada no volume máximo. Batendo forte contra o peito. Estava começando a hiperventilar.

Ele veio” repetindo como um eco em sua mente. Tentou, mas quando deu por si seus olhos começaram a vazar. Henry continuava em silêncio, cabisbaixo parecendo envergonhado. Regina viu um filme passar em sua mente. Principalmente daquela manhã. De Robin convicto, dizendo que tinha ido procurá-la, da dor da traição em seus olhos ao vê-la com Daniel e principalmente ao saber sobre Louise.

— Meu Deus... – Mills se levantou, colocando uma mão contra o coração, sentindo o peito apertar enquanto culpa a consumia – eu escondi uma criança daquele homem por um capricho seu? – apontou o dedo indicador em direção a tela do notebook, a mão tremendo em desespero – Papai! – chamou o mais firme que conseguiu em meio a tormenta de emoções que a consumia ali – ele finalmente a encarou – eu estava sofrendo, meu coração estava partido em incontáveis partes e você viu – fechou os olhos com força, sentindo o peito apertar novamente – você presenciou o quanto eu estava mal por achar que ele não me amava e só tinha me usado – os abriu outra vez, estavam vermelhos e lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas – Então, ele apareceu para tentar resolver as coisas e o senhor me escondeu algo do tipo?! – Regina balançou a cabeça incrédula – Papai? Você tem ideia do quão cruel foi o que você fez? – A essa altura a morena já chorava copiosamente e sem cerimônias – por que? – Como seu próprio pai poderia ter brincado com sua vida como se ela fosse uma simples marionete daquela forma? – Eu te fiz uma pergunta pai!

— Regina... – ele vacilou – aquele garoto era só um playboyzinho, ele te namorou por um ano e nunca veio até aqui para me conhecer, como eu poderia confiar que ele realmente queria um compromisso contigo?

— Pai! Se o Robin queria ou não um compromisso comigo, era algo que EU— enfatizou – tinha que decidir. Nunca o trouxe aqui por isso, você o julgava mesmo antes de conhecê-lo.

— Como não iria? Todos os meus amigos professores falavam que ele era só um pegador naquele campus. Que adorava brincar com as calouras. E no fim o que eu mais temia aconteceu.

— Aconteceu porque você decidiu que seria assim pai! – Regina interrompeu, tentando controlar o choro, seu peito subindo e descendo. Oh Deus! Porque? A realização de tudo era tão esmagadora. Seu coração pesava de culpa – Ele tinha me pedido em noivado sabia? Ele ia casar comigo... Nós poderíamos ter criado Louise juntos! Nossa vida deveria ter sido diferente – balançou a cabeça, mais lágrimas descendo pelas bochechas, um flash de algo que poderia ter sido – tudo porque você não o deixou falar comigo... Pai, eu eu... estou tão magoada, tão decepcionada... Como você pode?

— Eu só quis proteger você e minha neta... – começou a desculpar-se.

— Você arruinou minha vida e de Louise! – bradou, interrompendo a fala de seu pai – minha filha merecia ter crescido com o pai dela! Você via o quanto ela desejava isso, como você pode ter negado isso àquela criança que você diz amar? E o pior é saber que fui conivente com toda essa história de “não vamos procurá-lo; ele não merece vocês; é melhor que você não mantenha contato nenhum com aquele cafajeste”— divagou as falas que ele repetia constantemente naqueles dias em que ela estava tão afundada na sua dor – como você me fez prometer isso sabendo que ele tinha ido atrás de mim?! Sua consciência nunca pesou?

— Alguns dias sim – sua voz saiu falha – mas preferi proteger você e Lou Lou de mais coisas ruins e lhes oferecer o melhor que podia. E foi o que fiz até que você tivesse sua independência. O que isso muda agora?

— Muda que ele realmente me amava pai! – declarou com tristeza – que se importava e não me abandonou como eu pensava – as lágrimas vinham e desciam pelo seu rosto involuntariamente – Eu sofri todo esse tempo, porque eu nunca parei de amá-lo e só de imaginar que Robin tinha me usado daquela forma, depois de tudo o que vivemos, me destruía... Mas... não, ele me... – vacilou ao constatar aquilo que ia falar porque doía, porém, foi em frente – me amava realmente. Foi verdadeiro – pressionou os olhos juntos e mais lágrimas banharam suas bochechas. Ele a tinha amado.

A dúvida que sempre a consumiu nos últimos anos tinha sido sanada. Robin nunca mentiu, nunca a abandonou. Ele tinha errado, todavia tinha tentado reparar o erro e ela tinha dito tantas coisas, tantas acusações, que agora sabia não serem verdadeiras.

— Pai, você não tinha o direito de fazer o que fez! De tomar uma decisão desse porte, que mudou os rumos da minha vida e automaticamente de Louise... Então era por isso que você não queria que eu o procurasse?!

— Não, eu só... só não confiava nele. Aquele rapaz nunca mereceu vocês. E se ele não tivesse mudado? E se continuasse um traidor? E se não quisesse saber de vocês duas? Eu juro que não fiz por mal minha filha, só estava pensando no seu bem, no seu futuro.

— No meu bem? Que forma egoísta de mostrar isso – riu com sarcasmo – perdoá-lo era uma decisão que cabia a mim! Lidar com as consequências do suposto mau caráter dele também. Você sabe o que isso causou? Eu tinha uma audiência hoje e dei de cara com Robin. Ele descobriu sobre Louise da pior forma possível, está me odiando com toda razão e jurou tirá-la de mim.

— Ele não pode fazer isso, não vamos deixá-lo! – seu pai se colocou em alerta, protestando.

EU não vou deixar! – falou duramente – Não quero que você se envolva em mais nada que diz respeito a minha vida, estou me sentido como uma marionete, um fantoche que você usou como quis e por causa disso, estou com um problema muito sério. Minha mãe também participou disso?

— Não, sua mãe não sabia que ele veio – soprou o ar, começando a sentir-se horrível por tudo o que tinha causado. Não era realmente sua intenção magoá-la, ele só queria protegê-la – mas podemos ajudá-la filha – suplicou com os olhos marejados.

— Não quero sua ajuda! A que custo? O que você vai tirar da próxima vez? Sabe o que eu vejo, Robin e eu tivemos o azar de termos pais doentes como vocês, interferindo nas nossas vidas.

— Maçãzinha, me perdoe – pediu em desespero – Juro que sempre quis seu bem. Não era minha intenção brincar com sua vida.

— Não – negou com um movimento da cabeça, desviando os olhos da tela – não sei se posso perdoá-lo. Não por enquanto. Fique longe de mim e da minha filha por um tempo. Preciso tentar falar com Robin, ver se consigo explicar o que aconteceu. Agora tudo é tão claro – colocou as duas mãos pressionando-as contra as pálpebras – eu finalmente consigo ver que no meio de toda essa confusão, armada em partes por você e em partes por Eleanor, Robin, eu e Lou Lou, fomos apenas vítimas.

— Minha filha por favor – implorou – não fale assim.

— E sabe o que é pior – Regina só continuou, colocando para fora toda decepção e raiva que estava sentindo – Daquela bruxa se poderia esperar qualquer tipo de atrocidade, mas de você pai, eu nunca imaginaria! Estou decepcionada – Regina o encarou com dor transpassando de seus olhos e refletindo em cada mínima expressão em seu rosto – Não quero mais falar com você, eu preciso de tempo agora. Tchau.

— Regi – Henry não conseguiu terminar, pois a morena encerrou a chamada.

A advogada continuou olhando para seu reflexo na tela do computador, porém sua mente vagava longe. No dia em que tinha ido embora, na mensagem que nunca teve resposta... Teria o dedo da mãe de Robin? Suspirou, lambendo o lábio inferior e apertando os olhos em seguida para conter o choro. Certamente tinha.

Era horrível a sensação de ser usada, ela já tinha se sentido assim, muito tempo atrás quando tudo aconteceu, mas agora o sentimento de traição era diferente, era do seu próprio pai que ela estava falando. Do homem no qual ela mais confiava em toda sua vida.

Quando pensou que não poderia mais sofrer com toda essa história, a bomba explodia em sua face e agora teria que lidar com os estragos causados. Voltou seis anos antes, revivendo cada pequeno momento com Robin em um flash, se sentindo a mais cruel das mulheres. Nunca tinha feito sentido ele não tê-la procurado, não depois de amá-la e fazer tantas promessas, não depois de sentir o que era o paraíso ao lado dele. A dúvida a acompanhava todo santo dia. Sempre se julgou uma boa leitora das pessoas e culpava o fato de ter “errado” com ele por estar apaixonada. Todavia, tinha uma peça que não se encaixava bem no quebra cabeça e agora ela sabia o porque.

A sensação de ser manipulada bradou em seu coração, ela só queria gritar e jogar tudo no chão, só queria brigar com o mundo e voltar no tempo, ter atendido a porta no lugar do seu pai. Ter tido a oportunidade de falar com ele... Como teria sido a vida deles? Sua mente seguiu caminhos, tantos. Regina fechou os olhos. Puxou uma respiração profunda se controlando. Se levantou, olhando no reflexo de um móvel espelhado. Limpou o rosto. Estava cansada de chorar e ser uma vítima. Ela tomaria as rédeas de seu destino. Até aquele dia tinha sido uma garotinha acuada, com medo, chorando pelos cantos, insegura. Entretanto, dali em diante, assumiria o controle, seria uma nova Regina Mills. Por ela e por Louise.

* * *

Os sentimentos dentro dele estavam turbulentos e bagunçados. Selvagens e crus. Em um proporção que nunca estiveram antes. Emaranhados e entrelaçados por muita dor, tanto que a única coisa que conseguia enxergar em sua mente turva era: vingança. Mas, não o tinham cegado e corrompido a ponto de aceitar aquela proposta. Não depois do que ele tinha ouvido. Seu estômago ainda estava embrulhado.

— Você só pode estar brincando comigo não é mesmo? – afastou a mão dela com rudeza – Depois de tudo o que acabou de me contar acha mesmo que quero qualquer coisa que seja de você? Eu estou enojado Eleanor, não consigo aceitar que minha própria mãe arruinou minha vida como você fez! – foi até sua mesa pegando a foto de Louise e marchou enfurecido até ela – veja – levantou o retrato na altura do rosto impassível da mulher – veja esta pobre criança. Ela cresceu sem um pai por culpa sua!

— Robin – a loira afastou a foto de seu rosto. Ela nem tinha feito questão de olhar muito bem na verdade – não podia imaginar que aquela garota não tinha abortado depois de não conseguir o que queria, nosso dinheiro no caso! – bufou revirando os olhos, cansada de repetir a mesma história. Ele nunca iria entender?

— Você ainda acha que ela queria nosso dinheiro?! – soltou uma baforada de incredulidade – Regina poderia tê-lo conseguido fazendo um teste que mostrasse que a menina era minha, mas não, ela só deu o azar de amar o filho de uma mulher sem coração e sem escrúpulos. Eu... – Robin deu alguns passos para trás, olhando perdidamente ao redor da sala, sentido-se sufocar – eu preciso sair daqui. Estar perto de você é muito tóxico, todas as vezes eu me sinto como se estivesse morrendo dentro de uma câmera de gás. Nunca vou perdoá-la por isso. Nunca! – apontou o indicador acusadoramente em sua direção – Você me privou de mais do que eu posso imaginar Eleanor – se aproximando outra vez, com os olhos embaçados e tempestuosos, soltou – você é tão pobre, tão oca por dentro, que eu não acredito que pôde gerar vida a alguém!

— E eu não acredito que alguém que saiu de mim seja tão fraco assim! Eu ensinei você a vida toda que nós, Locksley, temos uma dinastia para manter, mas você, sempre um sonhador – torceu o nariz em desprezo – nós não perdemos a cabeça e nos apaixonamos, nós fazemos negócios garoto.

— Então foi isso? – era uma pergunta retórica, porque ele realmente estava entendendo tudo tão claramente agora – Nunca ter sido amada te deixou assim, não foi? O meu pai só foi um troféu, alguém para você exibir nas festas da realeza, não é mesmo? Eu tenho certeza que vovô Louis não te obrigaria a se casar se não fosse porque você estava apaixonada, então porque escolher ser tão infeliz?

Robin tinha conseguido atingi-la, a advogada, sempre tão inabalável engoliu a seco, desviando o olhar tão azul quanto o seu e de sua filha, uma herança do avô de quem ele tinha apenas citado, caminhando até a vidraça elegante da qual eles tinham apenas se afastado.

— Os Locksley não se casam por amor Robin – a voz dela era tão fria e tranquila quanto um lago no inverno escocês – Eu já te expliquei isso, passei uma vida te dizendo na verdade. O que não serviu muito...

Eleanor o encarou de perfil, seu filho permanecia no mesmo lugar, fitando-a com dor e fúria em seus olhos. Sentiu vontade de lhe dar um abraço e consolá-lo, porém, ele não merecia. Se não tivesse sido tão mimado por seu avô, talvez tivesse se tornado um homem mais visionário.

— Vovô Louis se envergonharia de vê-la falando assim!

— Não fale do seu avô pra mim garoto ingrato! – vociferou – Você só é assim porque teve muita influência daquele sonhador! Vocês são iguais! Te eduquei e inseri em todos os melhores lugares que existem em Londres e qualquer outro país do mundo aonde você tenha estudado ou passado férias, justamente para que você se “apaixonasse” por alguém promissor, para evitar algo como o que aconteceu – começou a andar pela sala divagando – Mas então eles vem com todas essas oportunidades e benefícios para os pobres – revirou os olhos – e deixam que gente do nosso nível, com sangue real, se misture com plebeus. Você claro, não poderia facilitar minha vida e gostar de alguém do nosso meio, não é?! Eu te apresentei tantas garotas, entretanto você não queria nenhuma delas, ou pelo menos não para casar – fez um gesto de desdém com uma das mãos – Ok. Você era só um garoto, eu entendia e imaginei que seu fascínio em “fazer caridade” ia passar. Até você me trocar a oportunidade de sentar no trono britânico por aquela garota! O que você tinha na cabeça? Você sabe quantos homens deram e dariam a vida pela oportunidade que você teve?

— Você se ouve? – soltou uma baforada incrédula – Porque as vezes acho que não. Que você era egoísta e preconceituosa sempre soube. Mas não entendo como uma mulher tão inteligente e estudada como você tenha conceitos tão ultrapassados como esses? Estamos vivendo no século 18 por acaso? Quanto mais o tempo passa, pior você fica.

— Algumas coisas jamais vão mudar, por mais que eles tentem. Algumas pessoas simplesmente nascem privilegiadas. É a vida meu caro. Sempre foi assim, ainda que alguns não gostem. Você por exemplo é um desses, nasceu com sangue azul, mesmo que o desperdice – torceu a boca enquanto erguia uma das sobrancelhas.

No decorrer do diálogo, acabaram se colocando um de frente para o outro, mantendo uma distância segura, enquanto se encaravam. Até que Robin respondeu:

— Eu tenho pena de você mãe, muita pena por você pensar assim, porque isso mostra o quão infeliz e vazia você é. Te falta amor... – Robin voltou no tempo, lembrando de uma história que seu avô lhe contava as vezes antes de dormir, de uma princesa muito bonita que renunciou ao verdadeiro amor e então se tornou uma bruxa malvada que tentava arruinar o amor quando o via nascer em dois corações. Por um momento aquilo lhe pareceu algo muito familiar. Poderia ser? – E eu tenho quase certeza que você renunciou isso só para manter títulos, por isso se sente assim. Eu realmente sinto muito por você.

— Não sinta, não sou uma pobre coitada para você sentir pena de mim garoto! – ela exigiu fazendo uma repreensão gesticulando o dedo indicador.

— Porém eu sinto, pois, por mais que tenha tudo isso aqui – Robin abriu os braços fazendo referência ao escritório e todo glamour ao seu redor – toda essa glória, no fim do dia, você está sozinha, porque não consegue ser feliz e automaticamente todos ao seu redor também não são. Por isso meu pai nunca está em casa. Sempre viajando “a trabalho” – fez questão de enfatizar a última palavra – Você não tem um marido, não tem nem seu filho mais, porque todos te detestam. E se eu aceitasse sua proposta, me tornaria alguém igual a você. Então não, muito obrigado. Eu só quero minha filha. Amá-la e ser amado para que eu nunca tenha uma conversa com ela como essa que estamos tendo – ele começou a se afastar – Até nunca mais Eleanor.

O homem loiro então se virou, passou pela porta e ela continuou encarando o caminho que ele tinha feito. E quando teve certeza que estava sozinha, uma única lágrima solitária escorreu por sua bochecha, pois tudo o que Robin tinha acabado de lhe dizer era verdade.

* * *

Locksley apressou os passos ao sair do elevador e atravessar o gigantesco hall, só queria se ver livre daquele ambiente, da áurea que pesava ali, seu estômago estava revirando, talvez tivesse sido o elevador, ou o fato de nem se lembrar a última coisa que ingeriu ou tudo, pois quando colocou os pés para fora, a primeira coisa que fez foi vomitar no arbusto mais perto que achou.

Levantou a cabeça, se sentindo um pouco tonto, até que sentiu alguém tocar seu ombro:

— Toma, tenho certeza que você vai precisar – a voz conhecida o fez se virar abruptamente, fazendo sua cabeça girar outra vez. Confuso ao deparar-se com a ruiva que lhe estendia uma garrafa de água mineral pela metade, perguntou:

— Como... Como você sabia que eu estava aqui? – Zelena suspirou balançando a cabeça.

— Eu deveria estar chateada porque eu quase peguei um avião para Paris por sua causa – a sentença veio com certo tom de acusação – mas quando você não me atendeu, liguei para David e ele disse que você teve que voltar as pressas para Londres para resolver um problema. Não precisei de muito para saber aonde você estaria.

— Zelena eu sinto mui... – ela o cortou.

— Vem – o tomou pela mão, o puxando na direção de seu carro – vamos sair daqui e ir comer alguma coisa em um lugar tranquilo. Então você me conta o que aconteceu – ela deu um sorriso encorajador ao amigo que estava um caco e sua raiva passou assim que o viu se curvar e vomitar na frente do prédio chique de sua mãe. Depois de ver as irises azuis totalmente avermelhadas por causa do choro, se havia indícios de qualquer chateação se esvaiu. Tudo o que ele menos precisava era de um sermão. Ela soltou sua mão e envolveu seus braços ao redor dele em um abraço desajeitado, mas cheio de amor. E foi assim que caminharam até seu automóvel.

* * *

Faltavam poucos minutos para as oito horas da noite e eles estavam sentados, um de frente para o outro, em uma daquelas cabines estofadas de uma lanchonete qualquer que tinham achado por ali. Eles pediram dois hambúrgueres com batata frita e comeram. Robin não falou quase nada e Zelena respeitou seu tempo. Locksley estava terminando de tomar a coca cola que tinha ficado na latinha quando soltou:

— Me desculpe não ter dito a você que eu viria – iniciou cabisbaixo, depois de abaixar a latinha vazia – não estava pensando muito quando tomei a decisão de vir para Londres, só precisava tirar essa história a limpo – ele buscou os olhos dela – Tudo isso mexeu de tal forma com minhas emoções que fui a extremos hoje Zel – a ruiva apertou sua mão sobre a mesa e sorriu com carinho para ele.

— Tudo bem Robin – continuou sorrindo – Eu entendo e imagino o quanto tudo te fez mal porque estou vendo o seu estado. Você é o cara mais centrado que eu conheço e agir por impulso assim não é do seu feitio.

— Eu sei e não estou muito orgulhoso do que fiz e disse hoje – voltou a olhar a mesa, mentalmente sobrecarregado de todas as emoções e descobertas que tinha feito naquele dia infinito – Principalmente depois do que ouvi naquele escritório.

— O que sua mãe te falou? O que te fez sair de lá vomitando daquele jeito?

Voltando a encará-la, Robin começou a narrar tudo o que aconteceu, desde quando encontrou Regina, de como as palavras o tinham abandonado diante da surpresa, da alegria que invadiu seu coração, de como suas mãos suaram em expectativa, do quanto a beleza dela o distraía constantemente durante o tempo em que estavam na audiência, que quase tinha arrancado seu coração do peito e o oferecido em suas mãos, só para então tê-lo massacrado diante dos seus olhos, quando sua então não conhecida filha, a chamou de mãe e outro cara a tomou pela cintura com uma intimidade, que até então só ele era acostumado a ter, beijando-a em seguida.

— Eu me senti tão machucado, tão traído ao vê-la com outro cara Zelena. Esperei por Regina todo esse tempo, não tive coragem de tocar em outra mulher porque eu amava tão desesperadamente que a ideia era inconcebível para mim – riu com amargura enquanto meneava a cabeça – e lá está ela vivendo a vida com outro cara tranquilamente.

— Se você se sentiu traído, sabe como Regina se sentiu aquela vez, muitos anos atrás quando contou sobre você e sua suposta noiva. Não vou advogar a causa dela, mas foi exatamente assim Robin – ele suspirou encarando-a sem dizer nada – não a julgue, você não tem esse direito. Eu não gosto muito dela por tudo o que aparentemente fez contigo, mas ouça primeiro o que a mulher tem a te dizer.

— Você tem razão – soltou um suspiro profundo – Minha mãe me confessou que encontrou Regina, descobriu que ela estava grávida e lhe ofereceu dinheiro para abortar o bebê. Você acredita nisso? Aliás, tem como não acreditar? – acrescentou irônico – Quando penso que é impossível me surpreender com a crueldade daquela mulher, Eleanor consegue me mostrar o contrário – pressionou as mãos com força contra a mesa. Ainda muito revoltado com toda a situação – Ela sabotou nossos telefones e foi aí que eu entendi o porque Regina nunca respondeu as mensagens que eu mandava pra ela. Foi tudo uma armação. De repente ficou tão claro.

— Meu Deus Robin – Zelena sempre se surpreendia quando Robin revelava as atrocidades da mãe. Era cruel demais. Ninguém merecia passar por aquilo – eu sinto muito.

— Eu também. Existe uma criança minha, uma filha, que cresceu distante por causa da mulher que deveria ser a primeira a pensar no meu bem estar – negou, ainda revoltado com a maldade daqueles que acreditam terem poder sobre o destino alheio – Estou muito triste com Regina, por ela não ter confiado em mim, por ter seguido em frente, mas... mas agora consigo não odiá-la. Ela pensou que eu a tinha abandonado – constatou finalmente. E mesmo que tenham se passado cinco anos, doeu imaginar sua garota, grávida e se sentindo sozinha.

— Com certeza foi o que pareceu Robin. Vocês eram tão jovens, ela principalmente. Não posso mensurar o quanto tenha sido um choque só descobrir a gravidez e então acreditar que tinha sido abandonada pelo cara que amava.

— Você tem razão – sentiu sua garganta secar com a ideia. Sua testa se franzindo em um vão desespero. Nada mais poderia ser feito agora – eu ainda ameacei tomar a menina dela... – divagou.

Dammit!

— Olhe para mim querido – Zelena pediu docemente, desfazendo o vinco que havia surgido entre seus olhos – você melhor que ninguém sabe que não quer tirar a guarda total da menina dela. Esse não é você – sorriu em expectativa enquanto ele apenas a olhava pensativo.

— E o que eu devo fazer? – pediu incerto.

— Acho que você sabe o que deve fazer – a ruiva deu uma piscadinha.


* * *

Depois da conversa que tinha tido com o pai, Regina ligou para Madelyn e a terapeuta prontamente a encaixou em sua agenda. Ela precisava de um pouco de luz, não poderia chegar em casa e estar com sua filha naquele estado. Estava com raiva, sentindo-se culpada e com um senso de injustiça enorme que bradavam dentro dela.

Olhou a pena desenhada em seu pulso e soltou um riso irônico. Quão contraditório era, ter uma tatuagem que simbolizava ser autor do seu próprio destino e não ter tido poder de decisão nenhum em uma situação que mudou sua vida? Meneou e continuou dirigindo rumo ao consultório.

Já eram quase cinco horas quando chegou em casa. Daniel estava sentado no sofá, enquanto Belle e Louise estavam no tapete jogando twister. O moreno de olhos verdes a encarou em expectativa e ela só deu de ombros, sorrindo quando Lou Lou pulou em seu colo fazendo festa por ela ter chegado.

Deixando todos os problemas de lado, ela só tirou o casaco, os saltos e largou a bolsa no aparador da entrada, abraçando sua garotinha e fazendo aquilo que Mal tinha aconselhado. Viver cada minuto por vez. Naquele resto de dia ela só aproveitaria sua filha. Amanhã entraria em contato com Robin e esperançosamente eles não começariam uma briga pela guarda dela.

E foi assim que passou a tarde, colocou um filme, liberou Belle, caso ela quisesse ir e fez pipoca para eles. Eles jantaram e algumas poucas horas depois Daniel partiu para sua casa com a promessa de que bastava um toque no telefone e ele estaria lá. Tinha até se oferecido para passar a noite, caso ela precisasse, porém lembrou que tinha um exame muito cedo na manhã seguinte e ela mesmo o disse para ir tranquilo que ficariam bem.

Após colocar Louise na cama, Regina tomou um banho que lavou sua alma, chorou novamente, claro. Porém se sentiu mais confiante para o que teria que enfrentar. Mesmo esgotada daquele longo dia infinito, foi até a máquina de lavar e estendeu as roupas lavadas e agora estava recolhendo alguns brinquedos que sua filha tinha deixado espalhados pela sala. Até que sentiu a companhia tocar. Seria Daniel? Pensou cismada e foi até a porta, verificando o olho mágico.

Não... não era possível. Ela estava sonhando, era isso?

Abriu a porta ainda incrédula e apreensiva, sentindo a garganta secar e não tendo ideia do que falar. Até que ele suspirou erguendo os ombros e dizendo:

— Oi Regina. Nós precisamos conversar – ela continuou parada, segurando a porta aberta, muito estarrecida para dizer algo e ele foi em frente – sei que parece loucura eu aparecer aqui assim a essa hora, mas isso estava me consumindo – a morena só acenou, o pedindo para continuar, seu estômago torcendo em antecipação e o coração quase saltando pela boca – Percebi que tirá-la de você seria um erro. A menina não me conhece e sofreria, eu estaria contrariando tudo o que sempre desejei para uma criança minha – Regina não tinha nem conseguido processar ainda, só permaneceu piscando enquanto ele continuava seu discurso – me perdoe por ter dito aquilo, estava em um lugar muito escuro da minha alma naquele momento. Precisei espairecer um pouco – puxou uma respiração profunda, tomando coragem – Eu ainda a quero, entretanto, não privando-a de você. Vim para que pudéssemos conversar sobre isso. Eu quero conhecê-la, quero ser um pai para ela. Quero isso mais que tudo. Posso entrar?