Um Horizonte Maior

Fantasmas


Anoitecera recentemente na quarta lua de Yavin e soprava uma brisa fresca. Ele não se apercebera de que o tempo tinha passado e que o dia dava lugar à noite, naquele instante transitório entre a luz e a escuridão em que o mundo inteiro parecia suspenso, um limbo precário quando era possível contemplar o próprio tempo.

Os preparativos para a missão a Dantooine estavam terminados e ele aproveitava aquela pausa para descansar e se descontrair, depois de dois dias de intenso labor ao lado de Han Solo e de Wedge Antilles. Tinham conseguido três equipas táticas, uma delas com especialistas em explosivos, uma pequena flotilha de caças X-Wing que iria acompanhar a Millenium Falcon na viagem, androides e diversas armas, incluindo carabinas e pistolas ligeiras. Pareceu-lhe que estavam a abastecer-se da totalidade dos meios operacionais de que dispunha a Aliança, tão depauperada em termos militares após a Batalha de Yavin, mas absteve-se desse comentário. Se a missão corresse bem, haveria de seguir-se várias iniciativas intensas de recrutamento de novo pessoal e de aquisição de mais meios de combate, incluindo caças, armas, munições e outras necessidades.

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Luke sentava-se no solo húmido da floresta, a olhar para a vegetação que se erguia à sua frente, entre os troncos das árvores, sem verdadeiramente estar a ver o que se abria diante dos seus olhos. Apreciava aqueles momentos de contemplação, mas nem sempre lhe apetecia fazê-lo. Preferia claramente a ação e a emoção de pertencer e lutar pela Aliança Rebelde àquilo, mas descobrira o sabre de luz entre os seus pertences, quando reunia algumas coisas para levar para Dantooine e pareceu-lhe que um mundo desabou em cima dele.

As memórias encheram-lhe a cabeça, caindo numa cascata de sons e de imagens que ele tinha arredado de si naqueles últimos dias, em que tivera tanto para fazer e em que também não tivera nada de especial para fazer, que o afundara em horas longas e entediantes, mas que, mesmo assim, o haviam afastado daquelas necessárias reminiscências.

Ao segurar no punho prateado e negro do sabre de luz que tinha pertencido ao seu pai, Anakin Skywalker, recordou-se logo de seguida de quem lho tinha dado, o velho eremita de Tatooine, Ben Kenobi. E tudo o que era suposto lembrar-se apareceu para lhe envolver a alma e fazê-lo soltar um gemido involuntário.

Sentava-se no solo húmido com o sabre de luz na mão, a arma desligada a pairar no espaço vazio que formava as suas pernas cruzadas. Tinha-o manejado durante algum tempo, tentando encontrar os movimentos mais adequados àquela lâmina azul faiscante que zumbia sempre que cortava o ar, uma melodia característica que o enfeitiçava, que o chamava para outras lembranças que não lhe pertenciam. Havia história viva impregnada naquela lâmina, ele não lhe chegava. Se ainda tivesse Ben Kenobi ao lado dele, poderia, talvez, recuperar esses pedaços de história...

Infelizmente, o velho Ben que o acompanhou na viagem que o arrancara às areias das terras áridas de Tatooine tinha escolhido outro caminho que ele, Luke Skywalker, não pudera seguir.

Respirou fundo. Estava descontraído e nesse estado de inércia sentia-se em comunhão com o que o rodeava. Se fizesse um pequeno esforço, se fechasse os olhos, escutava mais do que aquilo que os seus ouvidos alcançavam, via para além das pálpebras cerradas, sentia o que o rodeava como se tudo estivesse colado à sua pele, a penetrá-lo como pequenos feixes luminosos, pequenos choques elétricos. Era como se o mundo e ele se pudessem fundir, unir-se e depois separar-se quando ele terminava a experiência. Havia todavia muito mais do que aquelas suas pálidas tentativas de compreensão sensorial do ambiente que o rodeava. Pressentia-o, sabia-o, acreditava que ele estava somente no limiar de um templo gigantesco envolvido em brumas e ele postava-se de braço estendido a tentar arranhar o portão distante.

A associação com o templo era influência do sítio, pensou agastado, quando vivia agora no antigo Templo de Massassi. Abanou a cabeça, ligeiramente desiludido consigo próprio.

Apreciava aquela espécie de meditação, acalmava-o e tornava tudo menos complicado, até a sua próxima missão a Dantooine. Tinha muitas perguntas na cabeça, pois gostava de compreender mais, de saber mais, de fazer mais, só não tinha ninguém com quem conversar.

Rodou o punho do sabre de luz entre os dedos.

Se ao menos Ben Kenobi estivesse ali com ele... Haveria de lhe dizer que tudo se relacionava com a Força, que ele era poderoso com a Força como tinha sido o seu pai que fora um cavaleiro Jedi, que era por isso que ele sentia todas aquelas coisas e tinha todos aqueles pensamentos.

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Contudo, Ben Kenobi morrera na Estrela da Morte, num combate de sabres de luz contra Darth Vader. Tinham velhas contas a acertar, ironicamente relacionadas com o pai de Luke. Fora alguma retribuição que Kenobi devia a Vader por este ter assassinado o antigo aprendiz do primeiro, precisamente Anakin Skywalker? O encontro teria sido programado pelo velho general da Antiga República, ou os dois adversários se tinham atraído mutuamente com a ajuda da Força, nunca mascarando a presença um do outro ao se encontrarem, pela primeira vez em anos, num mesmo espaço? Teria Kenobi previsto aquilo tudo com a ajuda de uma visão do futuro, auxiliado pela Força?

— Tantas perguntas... Tantas perguntas... – lamentou-se Luke.

Colocou-se de pé, ligou o sabre. A luz azul da lâmina iluminou-lhe o rosto. Os derradeiros restos de claridade esvaíam-se e começava a ser noite. E na floresta isso significava uma escuridão fechada.

Antes de se ter rendido a Vader, Kenobi olhara para ele que corria em direção à Millenium Falcon. Han e Chewbacca corriam com Leia, tinham acabado de salvar a princesa. Os dois androides, Threepio e Artoo, seguiam logo atrás. Kenobi olhara para ele e sorrira, dispensara o mesmo sorriso a Vader. Depois, ergueu o sabre de luz de uma forma nobre, fechou os olhos e aguardou o golpe fatal que o decapitou. A lâmina vermelha de Vader cortara o seu mentor e amigo.

Luke gritara.

— Não... – gemeu outra vez, na floresta de Yavin Quatro.

Ele gritara. Ainda lhe doía, rever a cena mentalmente, recuperar aquele grito, a sensação esmagadora de ter perdido mais uma pessoa importante na sua vida, a sua última ligação a Tatooine e ao seu passado de órfão cheio de perguntas.

Ironicamente, continuava com muitas perguntas. As do antigamente e outras novas, dúvidas que se acumulavam como pedras recolhidas numa planície desértica e que se iam amontoando numa pilha que não parava de crescer.

Questionava-se por que razão Kenobi lhe tinha sorrido daquela maneira... Fora como se tivesse reconhecido nele um novo aluno, mesmo depois de tantos anos sem se apresentar e agir como um cavaleiro Jedi, como se lhe tivesse afirmado que ele era o seu herdeiro e o herdeiro do seu pai, Anakin Skywalker, que ele devia perpetuar a tradição dos antigos guardiões da República, embora naquela fase, em que ele se apresentava como um piloto rebelde a combater o Império Galáctico, lhe parecesse bastante impossível continuar o que quer que fosse, honrar as expetativas do defunto general republicano, saber manejar um sabre de luz e usar a Força como era exigido a um mestre Jedi.

Mas talvez a resposta a essa pergunta tão importante, por que razão Kenobi lhe tinha sorrido daquela maneira, fosse aquela resposta que ele encontrara sozinho. Em suma, teria de se tornar num Jedi. Olhou para a mão direita, abriu-a e fechou-a. Como podia ele fazer uma coisa dessas, sozinho e sem conselho?

Desde que Kenobi sucumbira na Estrela da Morte, se entregara a Vader e recebera o golpe fatal que lhe roubara a vida, que acontecia algo extraordinário que ele não tinha contado a ninguém, nem a Han, nem a Leia. Kenobi falava com ele. Tinha começado logo a seguir ao seu desaparecimento.

Foge, Luke. Foge!

Tinha surgido durante o ataque à Estrela da Morte.

Usa a Força, Luke!

Até àquele minuto de alívio após a vitória na Batalha de Yavin.

Lembra-te... A Força estará contigo, sempre!

Luke reconhecia que a voz do velho Ben vinha até ele através da Força. Todavia, era só isso. Muito provavelmente se fosse bem treinado seria capaz de fazer mais, por enquanto limitava-se a receber aquelas mensagens curtas, frases com orientações específicas, sem poder conversar, responder à voz, pressionar o espírito falante para se alongar na comunicação.

Por isso era lógico que precisava de ser orientado para desenvolver aquelas capacidades. Mas como e por quem?

Não era uma preocupação premente naquela altura, considerou com alguma insolência, quando estava prestes a partir em direção ao sistema de Dantooine.

Com o auxílio da Força ele conseguia sentir outras coisas, quando se concentrava, para além de ouvir os incentivos do velho Ben. Como aquele réptil rastejante que se esgueirava na floresta para a sua toca, devagar e a largar uma gosma peganhenta. Sorriu divertido com a descoberta que fazia com a mente.

Era também com o auxílio da Força que ele estava bem consciente de que os seus verdadeiros desafios ainda não tinham começado, embora Dantooine lhe parecesse, naquele estágio, como uma tarefa bastante complicada. Aceitava ser herdeiro de Obi-Wan Kenobi, receber o testemunho óbvio do seu pai Anakin Skywalker, e por isso tinha plena consciência de que, mais cedo ou mais tarde, teria de enfrentar-se a Darth Vader.

O lorde negro estava na Estrela da Morte, era um dos seus mais ilustres habitantes, mas quando a estação espacial explodira, já lá não se encontrava, ao contrário do governador Grand Moff Tarkin.

Vader sobrevivera, sabia-o. Era mais do que um pressentimento, era uma impressão profunda, física e volumosa como uma coisa sólida moldada naquela porção da alma que se ligava ao subconsciente e que ele nem sempre alcançava. Porque talvez o que ele sentira, quando pilotava o seu X-Wing durante o ataque, uma sensação fugaz que ele não compreendera então, não tivesse sido um engano. Vader era o piloto do caça TIE Advanced x1 que tantos estragos provocara na frota rebelde. Fora ele que matara o seu amigo Biggs Darklighter e outros excelentes pilotos, fora ele que Han afastara providencialmente com um disparo da Millenium Falcon.

O caça de Vader não fora apanhado pela explosão da Estrela da Morte.

O caça de Vader sumira-se nas profundezas do espaço e muito provavelmente já tinha sido encontrado e recolhido. Era isso que ele sentia, enjoado ao se demorar no aprofundamento desse pressentimento.

Abriu as pernas, colocando a esquerda ligeiramente à frente da direita. Segurou no punho com ambas as mãos, endireitando a lâmina azul do sabre de luz. Conciliou a sua respiração, fundindo-se com o cenário que o rodeava. Não era mais do que outra árvore, outro arbusto, um insignificante animal rastejante.

Mexeu os braços, fazendo a lâmina descrever uma curva alta e graciosa. Ensaiou outros movimentos com a suavidade de uma dança lenta cuja música eram os zumbidos elétricos que a espada luminosa criava ao cortar o ar. Não imaginava um adversário, nem um confronto aceso, nem uma situação de defesa. Estava apenas a ensaiar o manejo do sabre de luz, escutando-lhe a música, percebendo as suas exigências, entranhando a arma que atuava em conjunto com a Força. Brilhando, zunindo, voando.

A unidade com a natureza quebrou-se quando foi inserida uma perturbação na harmonia que tinha criado em seu redor. Não era muito significativa ou alarmante, mas era um elemento estranho que não podia ignorar. O vácuo onde se movimentava começou a minguar até desaparecer. Uma faísca azul desprendeu-se da lâmina. Luke endireitou as costas, braços abertos, na mão direita tinha a espada acesa.

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Voltou-se de repente e apontou o sabre de luz ao intruso. Reconheceu a Nyra.

— Oh... És tu.

Ela fez um único aceno com a cabeça.

— Sim, sou eu. Podes afastar isso de mim...

Contrariado, Luke desligou o sabre de luz.

— Estás sempre a apontar-me uma arma – queixou-se ela.

— Desculpa.

Acrescentou num resmungo magoado, olhando para os pés:

— Tu andas sempre a espreitar-me.

— Não estava a espreitar-te. Vim apanhar um pouco de ar depois de ter comido, está demasiado calor na messe. Vi que também estavas aqui fora e vim ter contigo.

— Os teus passos são demasiado silenciosos e parece que me queres surpreender, sempre que procuras por mim – justificou-se ele, dando uma pequena volta sobre si próprio, ficando de lado para ela. – Não é agradável, Nyra.

Era estranho tê-la reencontrado quando havia tanto tempo que não se viam, quando a última vez que o tinham feito ela lhe roubara um beijo. Assim que pronunciou o nome dela, notou que a mulher tinha estremecido e que escondeu as mãos nos bolsos das calças. Ele perguntou-lhe:

— Há quanto tempo estás aí a observar-me?

— Cheguei agora.

Não acreditou nela.

— Pois...

Por outro lado, podia ser verdade. Ele tinha a capacidade, quando se concentrava, de sentir a presença de pessoas, normalmente de quem ele conhecia e identificava com uma marca própria na sua perceção apurada. Ele estava concentrado, ele conhecia a assinatura sensorial dela. Olhou de relance para o punho do sabre.

— Sim, tens razão. Isto é perigoso.

— É um sabre de luz... Onde o encontraste?

Admirou-se por ela saber o que era aquilo. Quis escondê-lo, temendo a sua cobiça. Não o queria passar para as mãos. Ajuizou que estaria a protegê-la, pois era na verdade uma arma muito perigosa, precisa, que cortava sem contemplações. Não consentiria que ela se ferisse por causa do seu desleixo. Haveria de argumentar nesse sentido se ela se pusesse com pedidos lamechas.

— Era... Pertenceu ao meu pai – respondeu relutante.

— Foi ele que to deu?

— Nunca conheci o meu pai. Foi-me dado pelo antigo mestre do meu pai. – A voz sumiu-se-lhe na última frase.

— Nunca conheceste o teu pai?

— Morreu pouco depois de eu ter nascido.

O rosto dela expressou uma comiseração ensaiada. Ele mordeu a língua, arrependido por estar a revelar-lhe aqueles pormenores sensíveis sobre si próprio.

— Tens irmãos?

— Não. Fui criado por uns tios.

— Onde?

— Tatooine.

— Está muito longe, não está?

Ele confirmou, meneando afirmativamente a cabeça. Olhou para ela, que lhe sorria timidamente.

— Como sabes o que é um sabre de luz? – perguntou-lhe, por sua vez.

— Um tio da minha mãe e outros familiares afastados foram cavaleiros Jedi, no tempo da Antiga República. O Império Galáctico dizimou-os a todos quando tomou o poder... Foi o que me contaram. Provavelmente o teu pai não sobreviveu a essa purga. Como se chamava?

— Skywalker, como eu – respondeu bruscamente, ocultando o primeiro nome do seu pai. Não julgou adequado contar isso à Nyra. De qualquer modo, não iria adiantar nada. Que informações importantes teria ela sobre o seu pai? Nunca se tinham conhecido antes. Apesar de ter sentido uma ligeira pontada de curiosidade por ela ter tanta gente na família que tinha sido Jedi. Seria, como ele, hábil na Força? Ele deveria conseguir reconhecer isso, mas agora, nervoso, como estava, tinha o cérebro baralhado.

Ela não se importou com a brusquidão dele.

— Hum-hum... Esse tio da minha mãe devia conhecê-lo. Não achas?

— Talvez...

Não se importava com essa possibilidade. Nunca iria falar com a Nyra sobre as suas múltiplas perguntas, sobre Ben Kenobi ou sobre o seu misterioso pai, assassinado pelo lorde negro. O que tinha acabado de lhe contar fora mais do que suficiente. Ele pendurou o sabre de luz no cinto.

— Não foste comer – observou Nyra.

— Irei mais tarde. Obrigado pela tua preocupação.

— Tens de te alimentar. Continuas muito magro.

A observação enfureceu-o. Luke respirou fundo, dilatando as narinas. Mas, mais uma vez, ela pareceu alheada do que provocava nele. Podia até saber exatamente o que fazia e fingia não reparar para arrancar outras reações extremas. Que tipo de teste seria aquele? Queria vê-lo zangado?

— Como o que acho suficiente – replicou ele entre dentes. – Mais uma vez, agradeço-te a preocupação.

Deu um passo na direção do templo. Iria despedir-se enquanto andava para não encorajá-la a continuar com a conversa. Não se sentia muito à vontade, essa era a verdade. Desejava-lhe uma boa noite e, com sorte, não a voltaria a ver mais até sair para Dantooine. Não era muito difícil, contudo. Raramente se encontravam na Base Um. Mas o que ela disse travou-lhe as pernas:

— Ouvi dizer que vais liderar uma missão secreta da Aliança.

Luke franziu uma sobrancelha.

— Ouviste bem.

Ela pestanejou várias vezes, parecia que queria conter as lágrimas. Os olhos brilhavam como sempre, por isso ele não podia afiançar se a Nyra estava emocionada. Não fazia muito sentido quando antes pronunciara frases bastante ligeiras e um pouco provocadoras. Agora olhava-o crispada, ansiosa. Ele negou devagar.

— Não te posso contar, Nyra. Como disseste, é uma missão... secreta.

— Posso não voltar a ver-te?

Ele encolheu os ombros.

— Eu quero regressar...

— Posso não voltar a ver-te – afirmou ela com a voz trémula.

Nisto, ele compreendeu. Negou com mais ênfase, lembrando-se do pobre Karl que devia estar indignado com o comportamento da sua noiva que assediava com tanta insistência outro piloto rebelde. Para disfarçar a solidão, para se consolar, para esquecer definitivamente?

Havia muitos fantasmas por ali convocados por ele e por ela. Anakin Skywalker, Ben Kenobi, todos os nobres Jedi atraiçoados, o piloto Karl...

Luke sentenciou:

— Não te vou beijar, Nyra.

Ela entreabriu os lábios.

— Porque não?! – exclamou.

— Vieste até aqui... para que eu te beijasse antes de ir para a minha missão?

— Não! – contestou a mulher indignada. – Vim até aqui porque estava calor na messe!

— E encontraste-me.

— Encontrei-te. Já andava à tua procura, desde ontem. Tive sorte esta noite.

Luke voltou-lhe as costas.

— Por favor, Nyra. Não te consigo dar... o que tu queres.

— Posso não voltar a ver-te – insistiu ela com um gemido. – É assim tão complicado... deixares-me com um beijo?

— Vou regressar – afirmou Luke irritado. – Depois vais estar à minha espera e eu... Bem, Nyra. Acho que és simpática, bonita... Mas não quero um envolvimento com ninguém, nesta fase. Estou comprometido com a Aliança.

— O que estás a dizer-me, Luke Skywalker? Nem eu quero nenhum compromisso. Ainda estou de luto pelo Karl!

Ele encarou-a rodopiando sobre os calcanhares. Reparou, apenas quando ela o mencionou, no fumo que continuava a usar no braço direito. Devia ser dos poucos que mantiveram os fumos após a homenagem e a festa. Luke perguntou desconcertado com a sua falha, abrindo os braços:

— Então, o que me queres?

— Um beijo! – exigiu ela dando dois passos que a aproximaram dele.

— Afinal não vinhas só para apanhar ar…

— Não sejas ingénuo!

— O quê?

— Um simples beijo... Se quiseres mais, também estou disposta a dar-te. No meu quarto.

— Não me quero despedir de ti – insistiu ele, chocado com a proposta.

— E se eu quiser despedir-me de ti?

— Não vai haver necessidade.

Nyra abriu um sorriso, mordeu a unha do polegar.

— E quando regressares? Vais aceitar a minha oferta?

— E o teu luto? – gaguejou Luke.

— Eu continuo com o meu luto. Continuarei até curar o meu coração partido e a minha alma despedaçada. Mas também sou generosa... Percebo que tu precisas de companhia. Gosto de ti. E tu disseste-me que também gostavas de mim.

Naquela noite da festa, ela tinha-lhe pedido que não pensasse mal dela por se ter atirado daquela forma tão óbvia e lhe ter roubado um beijo. Agora oferecia-se sem pudor e ainda não tivera o assomo de arrependimento e de timidez. O que teria encorajado a Nyra a avançar tão descaradamente?

Lembrou-se da Jenna Shmura que também integraria a missão. Seriam ciúmes?

Luke disse:

— Sim, gosto de ti, mas... acho que estás a avançar muito rapidamente.

Nyra entristeceu.

— Ah... Pensava que não te importarias.

Queria sair dali, mais do que nunca. A floresta tornara-se fria, a noite ficara esquisita, a companhia incomodava-o, não queria justificar-se mais nem pretendia ser desagradável, o sabre de luz pesava-lhe no cinto. Onde estava a voz de Kenobi para livrá-lo daquele aperto? Saiu-lhe esta justificação idiota:

— Abriste-me o apetite. Tens razão, preciso mesmo de me alimentar como deve de ser antes da missão.

Luke cerrou a boca, Nyra olhou-o perplexa.

Um coro de silvos vibrou no escuro e Artoo apareceu, rodando sobre os seus pés metálicos. Luke sentiu como se o pequeno androide o tivesse resgatado de uma armadilha mortífera. Passou uma mão pela cúpula do amigo mecânico, de repente tremia por todos os lados.

— Acho que ele veio buscar-te – observou Nyra.

— Ele também se preocupa comigo, como tu.

— Que querido...

Luke despediu-se, por fim.

— Vemo-nos por aí, Nyra. – Como a mulher quedou-se muda e estática, nem lhe respondeu, nem lhe fez um aceno, ele considerou que se devia explicar. – Espero que não tenhas ficado zangada comigo. Eu agradeço... a tua preocupação com o meu bem-estar, a sério. Mas agora tenho a cabeça cheia de outras preocupações. E não quero que te precipites.

— Eu sei o que estou a fazer – murmurou ela, baixando a cabeça. – Sou uma mulher, já não sou uma adolescente cheia de fantasias. Sou responsável pelos meus atos… E não fiquei zangada contigo, Luke Skywalker.

— A princesa não tem nada que ver com isto!

Sem o voltar a olhar nos olhos, ela riu-se. Obviamente que não acreditava naquilo e obviamente que ele falara demais.

Deixou-se guiar por Artoo e entrou no templo onde estava muito mais quente. Expirou profundamente e correu pelos corredores até à camarata, onde se enfiou debaixo de um duche frio. O astromec ficou à espera dele enquanto se acalmava, tomava banho e arrancava a Nyra do interior da sua mente. Não iria precisar de distrações fúteis em Dantooine.

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A seguir, foi comer.