*Dan

Assim que Cupido partiu eu senti a diferença.

Meu corpo estava mais leve. Eu não sentia mais dor, ou cansaço. O mundo ao meu redor parecia cada vez mais irreal, e eu me dei conta de que poderia deixar esse mundo se quisesse.

Cupido havia dito “quando estiver pronto, sabe onde me encontrar”. No plano superior.

Ele havia devolvido meus poderes de cupido. Mas eu ainda era humano. Estava no meio da ponte, entre os dois mundos, mas a decisão era minha.

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Ir ou ficar?

Senti uma mão tocar minhas costas, e quando me virei, estava frente a frente a Kate.

Ela me fazia várias perguntas, uma atrás da outra, assustada, tentando entender o que diabos estava acontecendo. Estava exausta, todos nós estávamos. Aquele havia sido, sem dúvidas um longo dia.

Kate falava, mas eu não escutava uma palavra. O relógio enorme e luxuoso no meio do salão marcava 23:30 e meu prazo estava acabando. Tinha que tomar a decisão. Ir ou ficar. Continuar insistindo, fugindo, lutando e negando ou simplesmente... deixar Kate ir?

Me lembrei das lágrimas que causei, me lembrei que o desespero que ela sentia era minha culpa. E então, não pude mais negar. Fugir. Havia finalmente atingido o limite inevitável.

—Kate... Por favor, me escute. –pedi, tentando me manter forte, tentando ignorar o aperto em meu peito, o instinto maluco que me dizia para fugir com ela naquele instante. Segurei sua mão e respirei fundo. Olhei em seus olhos.

—Você foi o meu maior sonho. –eu disse, simplesmente. Os ponteiros do relógio avançavam. –Eu nunca amei nada, nem ninguém, como amei você. Nunca vou amar.

—Dan, porque você está dizendo...? –ela tentou perguntar, mas eu não a deixei terminar. Não havia tempo, e eu não confiava em mim mesmo o suficiente para prolongar aquele momento. A decisão já estava tomada. O final já estava escrito, desde o começo.

—Mas eu não sou a pessoa certa para você. –murmurei, as palavras relutando em sair. –Você merece... todo o amor do mundo. Toda a felicidade. E eu não posso te oferecer isso, nunca pude. –meus olhos arderam, as lágrimas despencaram. Tentei, em vão, me manter firme. –Eu te amo, Kate. Muito. E é por isso que eu preciso dizer adeus.

Ela estava totalmente confusa. Seu olhar repleto de mágoa. Me aproximei e depositei um último beijo em sua testa, me demorando um segundo a mais nesse último contato.

Então me aproximei de seu ouvido e sussurrei:

Esqueça-me.

E enquanto ela se esquecia, eu me lembrava. Me lembrava de todos os nossos momentos juntos. De quando finalmente me vi frente a frente com ela, do nosso primeiro passeio pela praia, nosso primeiro beijo, nosso primeiro encontro...

Doeu.

Eu finalmente entendi a expressão “coração partido”. É porque realmente dói, fisicamente. Meu peito se retorcia.

Foi instantâneo. Seus olhos verdes assumiram um brilho vago, e ela olhou ao redor confusa. Finalmente, seu olhar focou em meu rosto e ela perguntou:

—Quem é você?

Segurei sua mão e a levei até Ben, que assistia a cena no canto calado com Daliah.

—Vocês nunca me viram. –sussurrei aos dois.

Agarrei o ombro de Ben e o coloquei frente a frente com Kate.

—Kate, esse é Ben. Ben, essa é Kate. Vocês deveriam se conhecer melhor.

Me afastei dos três, ainda atordoados, e fechei os olhos molhados de lágrimas. Deixei meus pensamentos me tirarem dali, tomando finalmente minha decisão e fazendo a travessia definitiva para o outro lado.