A morte, para Jimmy Fields, foi sagaz, cruel e de fato, transformadora. Transformadora em relação a sua vida. Pois ela serviu como uma reabilitação, para me livrá-lo de coisas que não o fazia bem. Foi como se livrar de uma viciante droga.

Porque quando ele era vivo, sempre ia preso nos finais de semana, sempre destratava dos meus pais e agia como um tremendo idiota. Hoje, ele pode dizer que não é aquela pessoa antes morrer.

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Ele precisou proteger Belatriz, e perceber o quanto ela lutou com Harry e Xavier para se manter viva. Por isso ele aprendeu a amá-la, porque pelo que ela passou, continua integra. Continua com um verdadeiro e lindo sorriso estampado no rosto.

Algumas pessoas dizem no mundo inteiro que a morte é a pior coisa que pode acontecer, mas não, não é assim. Coisas piores acontecem no mundo, e no caso de Jimmy Fields, a morte foi um benefício, que o deu uma segunda chance para revivê-la de novo, de modo verdadeiro e intenso.

O antigo Jimmy Fields morreu de fato, mas ressurgiu um novo Jimmy, completamente mudado e mais integro.

X X X

8:25 A.M.

Era que o relógio do grande prédio na minha frente marcava.

Meu coração batia descompassado no peito e quase saia pela minha boca, e eu sabia que se não fizesse certas coisas rapidamente, eu poderia ferí-lo abruptamente.

Você deve estar se perguntando: Que diabos Belatriz Keaton está fazendo no centro de NY observando um relógio, não é mesmo?

Pois bem, caro leitor(a), irei responder.

Depois de ver Xavier estirado ao chão da cozinha da minha antiga casa, morto, eu desmaiei. Do tipo, Puf!

Simplesmente cai dura ao chão e perdi a consciência, e como ironia do destino, acordei em uma manhã de 10 de Setembro — no dia em que Jimmy morreu — bem no centro da cidade, com um grande relógio na minha frente que parecia dizer “ande logo, Belatriz, corra o mais rápido que puder! Ou então irá perder o cara que você ama”. E agora, eis que estou aqui. Em carne e osso. Agindo contra o tempo.

Olhei as pessoas em volta e procurei qualquer ponto de ônibus ou coisa do tipo, mas uma multidão de pessoas atravessava na minha frente e impossibilitava minha passagem de qualquer jeito. Eu precisava agir. E rápido!

Esperei aqueles “animais” passarem na minha frente e tirei meu celular do bolso, discando o número da polícia. Claro, se um homenzinho baixinho ia entrar no ônibus em poucos minutos, eu poderia salvar a vida de Jimmy e de outras pessoas, claro.

— Posso ajudar?

— Preciso de ajuda. Um ônibus será incendiado no centro da cidade! Preciso de ajuda.

— Você é vidente, querida? — Brincava a mulher. — Sério, se quiser fazer propaganda com sua bola de cristal, vá até...

— Eu preciso de ajuda, droga! Não sou nenhuma vidente e nem porcaria do tipo. Eu sei que vai acontecer porque ouvi um cara planejar isso... — Menti sobre a parte de “ouvir o cara planejar o atentado”.

— Não é trote?

— Não! É Centro de Nova York, por favor. Ajude-me a evitar que pessoas morram, inclusive meu namorado...

Era estranho falar namorado.

— A recíproca é verdadeira?

— Sim! Eu preciso de ajuda, por favor! — Implorei, quase num grito.

— Certo, estamos a caminho agora. E se for mentira, bem, querida, gravamos o seu número e já temos todos os seus dados.

— Que seja! — Desliguei e corri o mais rápido que minhas pernas podiam.

8:28 A.M.

Ofegante, corria em movimento retilíneo, ignorando os calos que minha sapatilha vermelha estavam fazendo do no meu pé e o movimento que meu vestido de babados fazia. Levantava mais que o normal, mas não era hora para pensar em boa aparência.

Tirei o cabelo do rosto e continuei a correr. Já tinha planejado tudo na mente em como seria meu encontro com Jim. Uma palavra? Perfeito. Imaginei algo perfeito, mas na minha mente, enquanto bancava a doida no meio da rua, tudo fluiu e pensei apenas em um abraço forte. Era o necessário e tudo o que eu queria. Mesmo um simples abraço.

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Franzi o cenho e vi algo amarelo se mover na direção da estrada e pensei em enfiar na frente, mas é claro que seria atropelada, mas que se foda, era a vida de Jimmy, do meu Jimmy que estava em jogo pela segunda vez.

Aumentei meus passos e me vi diante do ônibus amarelo, batendo em sua lataria, pedindo o motorista para parar. Porém o motorista prosseguiu, não parou. Mas quando vi o ponto de ônibus á uns 200 m de distância, não desperdicei meu tempo.

— Droga! — Gritei, tomando fôlego para começar minha maratona outra vez.

Disparei atrás do ônibus, trombando com todas as pessoas que passavam por ali.

8:36 A.M

Corri. Corri. Corri.

O ônibus parou no ponto e consegui ouvir ao longe o barulho dos carros da polícia se aproximando, com as sirenes ligadas. Aproximei-me do ponto e enxerguei aquele homenzinho baixinho, com os olhos arregalados e psicóticos, exatamente como Jimmy havia descrito para mim. As sirenes se aproximaram e cercaram os ônibus, deixando os passageiros lá dentro desesperados.

Corri e bati na porta, implorando ao motorista que a abrisse logo.

8:37 A.M

Suspirei uma outra vez e subi no ônibus, percorrendo os olhos por todos os bancos até encontrar ele.

Lá estava ele!

Sentado em um dos últimos bancos, intacto, parado, me olhando. Era o meu Jimmy. Vivo!

Percorri o corredor em silêncio, ignorando a polícia lá fora e os escândalos das pessoas dentro do ônibus.

Olhei intensamente para ele, observando cada traço de seu rosto.

A pele que era branca, estava com um leve bronzeado, deixando ele com uma corzinha a mais. Seus olhos, bem, eram verdes do mesmo jeito, mas conseguiam chamar minha atenção do mesmo jeito.

E seu sorriso... Ah, seu sorriso! Era radiante, perfeito, iluminado. Inundado de uma felicidade indescritível que só ele podia sentir.

Não contive meu sorriso satisfatório e dei um último passo, antes de abraçá-lo com todas minhas forças. Dá para acreditar?

Jimmy Fields, vivo!

Cravei minhas unhas em suas costas e o apertei, sentindo seu corpo se chocar com o meu. Ele era tão sólido, forte!

— Não acredito nisso! — Eu disse, ao pé do seu ouvido.

Suas mãos apertaram minha cintura e seus lábios passearam gentilmente em meu pescoço.

— Sou eu, Bells. —Sua voz era orgulhosa. — Você me salvou.

— É você, Jim! Eu sei, eu sei! É você. — Deslizei meus dedos pelo seu cabelo, dando-lhe um rápido beijo no rosto.

Ele riu baixinho e me atacou com ferocidade, acabando com toda nossa sede de desejo.

Beijá-lo vivo era bem melhor, e eu tinha certeza absoluta de que ele também estava sentindo toda a excitação e volúpia que eu estava sentindo.

Era impressionante!

Lá fora, a polícia agia corretamente, salvando a vida de todas aquelas pessoas e prendendo o pequeno homenzinho.

— Espere... — Eu disse hesitante, apertando suas mãos.

Por um lado, o homenzinho até foi o causador de tudo o que aconteceu comigo e com Jimmy. Pense bem: se não fosse o homenzinho, Jimmy não teria morrido, não teria virado meu anjo da guarda e nunca teríamos nos conhecido.

Eu deveria agradecer a ele, mas por um lado, ele causou o mal, e não sou a favor do mal.

— O quê? — Seus lábios avermelhados se desprenderam dos meus.

— Eu te amo. — Grunhi, com um sorrisinho bobo nos lábios.

Ele riu e apertou a parte mais baixa das minhas costas, bem próxima do meu traseiro.

— Eu sei. Eu também. Eu também te amo. Muito!

— Deixa eu terminar de te salvar, certo? — Propus a ele, dando uma piscadinha. — Vamos sair logo daqui.

Ele sorriu para mim outra vez, segurou minha mão direita e me conduziu para fora do ônibus, onde tínhamos uma vida para seguir juntos.