Um Amor Como o Seu

Capítulo 4 - Um interesse crescente...


Após o inusitado encontro com Liam na estrada, a estadia na residência de Candence foi arrastada e sem graça. No entremeio da conversa, um rosto cruzava por seus pensamentos sem permissão, especialmente quando a amiga mencionava algo relacionado com o futuro noivo. Algumas perguntas dançavam por sua mente, outras chegavam a beijar-lhe os lábios quando ouvia o nome Brooks ser mencionado. Mas, Mia não era dada a fazer questionamentos sobre rapazes, e não seria o senhor Forster que a levaria a quebrar suas regras. Então, se calou e permitiu à amiga dizer-lhe tudo o que tinha vontade de dizer. Contar tudo o que tinha a contar, mesmo que quase nada daquilo estivesse relacionado a pessoa que lhe despertava a curiosidade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A medida que o dia se movia, as horas passavam, ela desejou mais do que ficar sentada falando sobre Rupert, o pedido e a preparação da festa de noivado. Ela queria sair, queria caminhar, ver outras pessoas. Fazer qualquer coisa que levasse embora aquela sensação angustiante que a acompanhava desde a noite anterior. E no final, acabou conseguindo convencer a amiga a acompanhá-la em um passeio pela praça, até a confeitaria.

— Precisamos retornar antes das cinco, Rupert virá para o chá. - Candence informou satisfeita.

— Não se preocupe, você estará aqui no horário marcado. - Mia garantira na tentativa de convencer a outra.

No final saíram com calma, caminhando lado a lado até que ingressaram pela rua principal da praça. Havia algumas pessoas ali.

— O passeio público não é melhor? - Candence sugeriu em tom de reclamação - Assim escapamos do calor e do sol. Veja! Precisamos buscar as sombras das árvores para caminhar.

— Para mim está ótimo aqui. - Mia retrucou passando o braço pelo da amiga.

— Você está estranha hoje. - Candence comentou sorridente.

— Eu? - Mia perguntou surpresa.

— Sim... - os olhos castanhos da outra observaram a lateral do rosto da amiga. - Parece diferente... não sei o que é...

Mia riu e o som do riso dançou entre elas quase como uma música.

— Já sei o que é? - Candence disse de repente, atraindo a atenção da amiga.

— Sabe mesmo? Então me conte porque sinceramente não sei o que pode ser isso que você fala... de que forma estou diferente?

Perguntou parando no meio do caminho com as mãos na cintura.

Candende riu.

— Você voltou a ter dez anos?

— Talvez. - Mia concordou rindo e atraindo a atenção das pessoas em volta. - Apenas estou agitada, feliz, hoje... minha felicidade incomoda você?

— Claro que não! - a amiga refutou tal ideia imediatamente – Simplesmente me diga que o motivo dessa felicidade atenderia por sir Jayden Huxley.

Mia lembrou-se do rapaz, dos olhos gentis, dos lábios bonitos, dos cabelos castanhos, do porte altivo e da voz suave. Ele era o que ela sempre esperara em um homem. Certamente que sim, que sir Jayden era o responsável por toda aquela agitada felicidade que ela sentia. Afinal, eles dançaram por duas vezes e ele conversara mais com ela do que com todas as outras.

— Acho que encontrei meu par perfeito! - informou decidida.

Candende bateu palmas.

— Até que enfim! Estou tão feliz que você finalmente tenha se apaixonado por alguém...

Mia fechou o sorriso fixando os lindos olhos azuis na amiga.

— Apaixonada?

— Sim Mia! Você deve estar apaixonada por sir Huxley.

— Como pode ser isso? - ela não conseguia entender como tal coisa acontecera sem que tivesse percebido.

— Eu a entendo, compreendo bem essa sua insegurança em admitir. - Candence falou pensativa - Você parece tão avessa a sentimentos. Tudo é tão claro, prático e racional na sua vida. Sempre acreditei que apenas no dia em que você encontrasse a pessoa certa seu coração amoleceria. E aí está a prova. Seu coração amoleceu! Você está apaixonada por sir Jayden!

Então isso era estar apaixonada? Ela se perguntou. Como Candende chegara a essa conclusão? Em que ponto da conversa isso ficara claro para sua amiga?

— Não posso negar. Ele é tudo o que eu sempre quis. É educado, de boa família, dançar com ele pareceu um sonho. Estive enlevada por todo o tempo em que permanecemos juntos. Quase como em um idílio... mas será que isso significa que estou apaixonada por ele? Em apenas um encontro? Com tão pouco tempo de conversa?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A cada nova informação fornecida por Mia, Candence parecia mais e mais certa de que a amiga encontrara o homem perfeito. A paixão de sua vida.

— Ah! Mia! Estou tão feliz! Poderíamos ficar noivas no mesmo dia! Você e sir Jayden, eu e Rupert... só precisamos arrumar um jeito de evitar que o senhor Forster compareça a cerimonia... - os olhos da amiga escureceram mais diante da lembrança desconfortável. - Papai está insatisfeito com essa sociedade. Diz que terei de conviver com esse senhor durante a vida toda. E que ele não é o tipo de amizade que Rupert deva cultivar depois de casado.

Mia sentiu o peito se apertar diante das palavras da amiga.

— Eles me pareceram bem próximos.... - comentou em tom desinteressado.

— São muito amigos realmente. Rupert preza muito a amizade e a opinião do senhor Forster. Mas como poderemos ir contra a opinião de papai? Ele sabe do que fala Mia! Ele conhece a vida além desta cidade!

— Mas eles são sócios, e pelo que você mesma me contou, tem prosperado muito juntos...

Candende parecia desolada.

— Preciso lhe confessar uma coisa... - cochichou, aproximando-se da amiga – eu simpatizo com ele. Apesar de tudo, ele é um bom amigo para Rupert, foi através dele que meu noivo conseguiu enfrentar o pai e o irmão. Conseguiu sua independência... mas ele não é adequado para uma amizade longa...

Mia não soube o que dizer, apenas sentia o bolo aumentar na boca do estômago.

— Seria muito bom que o senhor Forster fosse embora. Visitar o avô e ficar por lá. Ele não precisa dos negócios aqui! Rupert cuidaria de tudo! Você não acha Mia? O problema estaria definitivamente resolvido.

— Você teria coragem de pedir a Rupert para se afastar do senhor... forster?

— Não! Nunca! Ele o considera muito mais próximo do que os irmãos.

O bolo travou e começou a subir pelo peito.

— Desculpe falar sobre isso com você. Mas de certa forma, acredito que você é a que melhor me compreende.

— Sim, eu a compreendo. E acredito que seu pai esteja certo do ponto de vista social. Mas, também sei que Rupert sentiria a falta do amigo caso ele retornasse para casa.

Pronto. O bolo estava agora travado na garganta.

— Vamos até a confeitaria. - falou baixo enquanto passava o braço pelo da amiga.

— Vamos...

A caminhada passou a ser silenciosa. Mia não sabia como se sentia. A felicidade angustiante dera lugar a uma dor aguda que lhe cruzava o peito. Estava apaixonada por sir Jayden e acabara de concordar que a amizade de Rupert e Liam era inadequada para um homem na posição de seu amigo. Há alguns dias ela não teria escrúpulos em determinar, assim como o pai de Candence, que os laços financeiros poderiam ser mantidos a distância. Mas, depois de vê-los juntos, de ter ouvido tudo o que a amiga lhe falara sobre a cumplicidade dos dois desde o período escolar. E especialmente depois de tê-los visto juntos, ficava difícil manter a mesma opinião.

— Desculpe por ter afetado sua felicidade com meus problemas.

— Nós somos amigas. É para isso que as amigas servem... para dividir os problemas. Para descobrir quando estão apaixonadas...

Candence sorriu diante do último comentário.

— Ao menos algo de bom aconteceu na noite passada.

— Sim...

* * * *

Liam cruzou a porta do quarto tirando as botas de montaria para um lado, a camisa suada para outro e o restante da roupa na cadeira. Os cabelos estavam embaraçados pelo mergulho na cachoeira. Precisava de um bom banho morno e depois teria de enfrentar um jantar na residência dos Behn. Parou de caminhar, imediatamente seus pensamentos lhe trouxeram uma imagem rosada, de lábios carnudos e desenhados. Será que a senhorita Wentworth estaria presente?

— Mia... - ele falou pronunciando cada letra devagar. Um nome rápido e fácil de pronunciar na cama. Entre beijos e afagos. E ela era muito mais do que aquela aparência fria deixava a mostra.

— Ela é inatingível. Muitos já tentaram. Mia é muito exigente. Jamais se casará com qualquer homem. Não fique incomodado com meu comentário, mas mal acreditei quando ela aceitou dançar com você.

Inatingível!

Melhor ficar distante de mulheres inatingíveis. Só traziam problemas. Mesmo que essa mulher em especial não tivesse saído de sua cabeça, e em todas as vezes em que pensava nela suas calças ficavam apertadas. O desejo, ele sabia por experiência própria, nunca foi bom conselheiro. E geralmente quando saciado, só trazia dores de cabeça.

Distância. A maior possível, era o que ele deveria colocar entre si e a filha do visconde.Mas nem sempre é possível cumprir com aquilo que nossa mente nos propõe. Liam descobriria isso da pior forma possível e muito rapidamente.

A noite do jantar estava tão quente quanto a do baile. Forster vestira todas aquelas peças de roupas adequadas para tal ocasião. Quando se olhou no espelho aprovou a própria aparência. Poderiam dizer que ele não tinha linhagem, que não pertencia a aristocracia, que sua origem não estava entre as descritas nos livros que moviam a vida dos mais importantes membros daquela sociedade. Mas, ninguém poderia negar que ele se vestia bem. Que cada peça era metodicamente elaborada para seu corpo e obedecia o que havia de mais moderno naquele país tradicional.

— Você está muito elegante! - foi o comentário que ouviu assim que encontrou o amigo na charrete aberta que o esperava no horário marcado.

— Como sempre aliás. - concluiu rindo acomodando-se no banco vazio em frente ao amigo – Pensei que seu pai iria... - comentou enquanto ajeitava o corpo grande no banco estreito.

Brooks pareceu chateado ao responder:

— Ele foi com meu irmão.

— Seu irmão. Aquele que será barão? Que provavelmente vai liquidar o patrimônio da família antes mesmo de seu pai esfriar no caixão?

O tom de ironia não incomodava Brooks. Na verdade ele tinha novas informações a dar:

— Soube que papai já tem muitas dívidas por causa de Rudolf. Acredito que demorará ainda menos para que o futuro barão esteja completamente falido.

Liam cruzou os braços sobre o peito e encarou Rupert de frente.

— E você sabe a quem Rudolf irá recorrer nessa hora não sabe?

— A nós.

— E eu vou tratar seu irmão como tratamos qualquer outro dos credores.

— Eu sei.

— E também sabe que não permitirei que use de seu patrimônio pessoal para saldar dívidas do futuro barão, não sabe?

— Sim.

A firmeza de Liam conferia segurança ao amigo.

— Especialmente agora que você ficará noivo. Deve pensar em Candence. Nos filhos de vocês. Seu irmão é adulto. Sabe o que faz. Ele deliberadamente se coloca nessa situação. Nada há que você possa fazer para ajudar se Rudolf não desejar ser ajudado.

— É muito bom contar com você! Sei que algumas vezes não consigo fazer o que devo. Eles são minha família, fui educado para respeitar cada um, honrar o nome e a linhagem dos Brooks.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Você não estará desonrando o nome da família ao agir com a firmeza que seu pai deveria ter agido.

— Não creio que algum dia Rudolf mudará seu comportamento. Ele é mimado e se considera sempre com razão apenas porque possuirá um título.

Ao ouvir o suspiro de desalento liberado pelo amigo, Liam tentou amenizar um pouco a situação.

— Estarei pronto a apoiar uma aproximação no momento em que Rudolf se mostrar interessado em cumprir sua função e finalmente honrar o nome e a origem da família. Sei que isso é o que você mais deseja.

Liberando um suspiro longo Rupert tentou sorrir.

— Que assim seja meu amigo! Espero que esse dia realmente chegue. Será um grande alivio.

A charrete parou diante da residencia dos Behn encerrando o assunto chato, era hora de se divertir um pouco.

A casa estava bem iluminada. Eles foram recebidos por um lacaio bem vestido e conduzido para a sala onde um grupo já se formava. Os olhos escuros correram pelo ambiente, em busca de alguém. Alguém de quem ele deveria manter distância. Mia estava em pé, junto as amigas conversando animadamente, mas quando ouviu o anuncio da chegada dos jovens, rapidamente se voltou para a porta e o olhar dos dois se encontrou. Liam esboçou um sorriso contido antes de fazer a reverência costumeira. A anfitriã os recebeu com toda a educação possível referenciou o futuro genro e o introduziu no grupo já entrosado. Liam sem linhagem tradicional, foi apenas apresentado como sócio de sir Rupert Brooks, que era por sua vez filho do barão Brooks. E Irmão de Rudolf Brooks, um cavalheiro e futuro barão.

Acomodada entre Mary e Charlotte, Mia de vez em quando esticava o olhar na direção do americano. Ele estava silencioso. O grupo masculino não parecia interessado no que ele tivesse para falar. Com as mãos cruzadas nas costas ele parecia tranquilo e tão impassivel quanto na noite do baile.

— Ele veio... achei que Sir Brooks não o traria em consideração ao pai e ao irmão. - Charlotte comentou retorcendo os lábios.

Ninguém perguntou quem seria o ”ele”, logo todos os olhares se fixaram na lateral do rosto anguloso e num tom totalmente diferente dos companheiros de grupo.

— Creio que a presença dele será constante em todas as reuniões que estivermos. Sir Brooks o levará, gostemos ou não. - Mary sentenciou.

— Nunca imaginei que sir Brooks faria tal afronta a todos aqueles que conheceu impondo-nos a presença de alguém que está tão abaixo de nós. - Charlotte insistiu.

Mia aprumou o peito, puxou o ar com firmeza e disse:

— Acredito que a opinião de pessoas que o ignoraram boa parte de sua vida não deva ter qualquer importância para Rupert.

Candence olhou para a amiga surpresa pela forma apaixonada com que Mia defendia seu noivo e uma pontada de ciúme cruzou pelo coração feminino.

— O senhor Forster se veste e porta como um cavalheiro. Em consideração a Rupert poderíamos fingir que não nos incomodamos com sua presença entre nós.

As palavras saíram queimando, e ela se arrependia de algumas delas no momento em que escapavam por seus lábios. Mas, não havia outra forma de demonstrar seu descontentamento sem causar qualquer tipo de questionamento.

Depois dessa breve conversa Mia viu seu grupo se reduzir consideravelmente. A primeira foi Charlotte, que garantiu ver a mãe chamá-la. Mary, abanando-se com o leque alegou calor saiu em busca de suco. Candence ficou ainda por alguns minutos e parecia estranhamente silenciosa. Mia não teve coragem, ou vontade de perguntar o motivo de tal silêncio. Provavelmente sua amiga estava estranhando seu comportamento. Ela não era dada aqueles arroubos.

Quando Candence também se afastou para falar com sir Brooks, depois que o noivo foi finalmente liberado pelo pai dela, Mia caminhou distraída até perto da sacada onde a brisa da noite ingressava arejando o ambiente. A longa cortina de veludo a escondeu parcialmente, mas não o suficiente para que alguém atento a seus movimentos não pudesse vê-la.

— Aproveitando a noite senhorita Wentworth?

— Está muito agradável não acha senhor Forster? - ela respondeu antes mesmo de se voltar na direção dele com a respiração acelerada.