Ulquiorra Feels

Capítulo 17


Ali, se sentindo segura, apertada entre seu braço e seu peito, ela fechou os olhos. Nesse ato não se preocupou quando sentiu as palavras encasquetarem em sua garganta. Por alguma razão, não se preocupou.

-Acho que eu amo você, Ulqui-kun.

Provavelmente ela não pensou no impacto que sua frase pequenina poderia causar a alguém que nunca fora apresentado ao amor. Ulquiorra continuou apertando ela contra si, com os olhos vidrados e esbugalhados no nada. O escuro na sua frente parecia fazer mais sentido do que os pensamentos que lhe ocorriam agora. Estaria ela louca? Sonhando? Não, ela falou seu nome. Nitidamente, claro feito sua pele. Sua voz doce soprou-lhe palavras que de certa forma ele ansiava, em algum ponto dentro de si.

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Contra a própria vontade, Orihime ergueu a cabeça, procurando por seu rosto. Engoliu a seco ao encontrar as orbitas esverdeadas que escaparam de seu rosto por apenas uns segundos até voltarem.

-Não me olhe assim.

Sua voz era suave, como se pedisse um favor. Ele não respondeu, apenas desviou os olhos, como se encerrasse o assunto.

Ela também nada disse. Voltou a apoiar a testa em seu peito e respirar seu cheiro.

...

Ela acordou. Se espreguiçou, erguendo os braços acima da cabeça, ainda deitada. Bufou, largando-os. Coçou os olhos e olhou de testa franzida, suas pupilas sofrendo a dor do sol conhecido das sete horas da manha. Sol branco, sol ameno, sol claro. Era bonito.

A memória de noite anterior lhe atingiu fazendo um estalo que a fez da rum pulo da cama, ajeitando a roupa, quase tropeçando nos próprios pés.

-Se me procura, estou aqui.

Escutou a voz que a puxou, impedindo de passar pela porta. Orihime girou, aliviada, lhe estendendo um sorriso zonzo.

-Pra que tão afobada? Eu disse que ficaria.

-Se você não tivesse feito aquela cara ontem, eu ficaria mais aliviada, né.

Sorriu, encarando o arrankar sentado numa cadeira perto da janela.

Orihime entrelaçou os dedos na frente do corpo, encabulada. Sabia muito bem as palavras que tinha jogado na cara dele, sem mais nem menos. Não se arrependia, mas também não teve tempo pra pensar em que falaria no dia seguinte.

Mas parecia que tinha tirado uma tonelada de dentro de si. Sentia-se tão leve que achou que fosse flutuar. E, mesmo sabendo que ele não era um dos mais românticos, não temia o que ele iria dizer.

Ulquiorra já estava humano o bastante para entender que isso é importante.

-Sobre o que eu... Hm, sobre ontem... Aquilo que eu disse...

Ele não a interrompeu. Orihime encarava-o com a expressão mais sem graça possível, corada, de sobrancelhas unidas. O viu desviar os olhos. Sentiu uma leve passagem de ar gélido cortar-lhe o peito.

Engoliu a seco, arranhando a garganta.

-Desculpe se eu... Não sei... E-eu... Não. Sei.

Abaixou a cabeça, aceitando a falta de explicação de sua parte. Mordeu o lábio inferior, repreendendo-se mentalmente.

-Você sabe que não posso retribuir suas palavras.

-Eu sei.

De cabeça ainda voltada pro chão, de repente ela sentiu seu toque em sua bochecha. Seu polegar acariciava seu rosto ternamente, como sempre fazia. Orihime, porém, evitou seus olhos; eram como armadilhas, montadas para simples tortura da jovem. Ela não o culpava por isso. Às vezes gostava de ficar presa lá.

Umedeceu os lábios, elevando seus olhos para o peito do Espada.

-Não estou pedindo que me ame.

Seu olhar era vago e constante ao mesmo tempo. Ia e vinha. Deixava e voltava.

Era como ele.

-Apenas que... aceite.

Ulquiorra deslizou somente o polegar até a ponta de seu queixo, erguendo seu rosto levemente para cima. Orihime caiu nas armadilhas verdes, feito uma velha conhecida.

-Não é boa idéia.

Ah, Ulquiorra, se soubesse como sua voz fica linda sussurrante...

-Nada disso é boa idéia.

...

Quando chegou ao Hueco Mundo, não foi importunado durante todo o caminho até seu próprio salão.

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Abriu e fechou as portas atrás de si. Sentiu vontade de quebrar tudo.

Sentia raiva dela, ao mesmo tempo que sentia-se prestes a render-se a incoerência em si. Ela sempre piorava as coisas, sempre estava lá para tocá-lo ou declarar-se. Como se ele já não estivesse em confusão antes.

Mas não estava preparado.

Como alguém como ela poderia estar suprindo sentimentos tão... humanos por uma besta como ele? Orihime não pensa? Não raciocina?

Houve uma pane dentro do Espada. Dentre todas as lutas, guerras e discussões que teve, a que ocorria dentro de si era a pior. Era barulhenta, e não parecia que cessaria cedo. Iria torturá-lo a cada momento que se passava.

Para alguém que nunca fora alvo de sentimentos dos outros, as palavras de Orihime foram injetas nele bruscamente. Rápido, e sem dó. Quase cruel.

Ela o abraçou ternamente, já dormindo. Afagou seu peito com o rosto, suspirando. Seu pé roçou-se levemente no do arrankar. Aquilo era tudo muito... ‘não-arrankar’, tudo muito estranho. Não sabia se conseguiria assimilar.

Não sabia para onde ir, não sabia o que fazer.

Apertou as têmporas por um momento, zunindo a cadeira longe, mas sentia-se tão inquieto que queria destruir todo o local. Não sabia o que era isso tudo.

A porta abriu, revelando cabelos lisos e alvos. E um olhar assustado.

Sem nem olhar para a porta, Ulquiorra disparou as palavras em sua direção, sem se importar em ser ouvido.

-Eu quero matá-la!

Tália juntou as sobrancelhas, adentrando o salão. Correu até seu mestre, pousando a mão em seu ombro. Olhava-lhe com pena. Não via a raiva e a perturbação – na verdade, ignorava - ; via o desespero de não saber o que fazer, e a tristeza.

Nesse momento, Tália ignorou até seus próprios problemas para tentar consolá-lo.

Já sabia de quem se tratava.

Ulquiorra achatou as mãos na mesa, respirando fundo.

-Ela não entendeu os limites, ou simplesmente ignorou-os! Estúpida!

Derrubou todos os papeis na mesa, fazendo sua fração retirar a mão de seu corpo. Tália se recolheu, encostando as mãos contra o peito, assustada. Ainda o olhava com pena.

-Inconseqüente! Eu vou matá-la! Ela deveria ter evitado isso! Deveria ter ficado calada! Não sabe como é não poder retribuir, mesmo querendo!

Ela entendeu.

Entendeu porque ele estava assim. Até sentiu vontade de chorar, por achar tão trágico. Já havia pensado em como ele reagiria quando ela falasse, até por que era obvio que um dia ela não iria agüentar. Esperava que ele não compreendesse. Felizmente, já estava preparada para qualquer coisa vinda de seu mestre.

A arrankar viu-o apoiar a mão numa parede, e depois depositou uma seqüência de socos ali. Esperou que sua raiva passasse para falar com ele. Ulquiorra sentou-se num degrau que dava para a mesinha e fechou os olhos.

Ficaria quieta. Somente escutaria, e só iria abrir a boca se ele lhe perguntasse algo.

-Ela não entendeu os riscos. Eu deveria saber.

Falava mais para si mesmo do que para sua fracción. A garota se sentou de seu lado, olhando para frente, procurando as palavras certas. Mal sabia que só a presença dela ali, mostrando que ele não estava sozinho, já era de grande ajuda. Pois ficou parada. E o silêncio rodeava-os.

Depois de algum tempo esbravejando, pareceu ter cansado. Continuou debruçado sobre a mesa, ofegante, restabelecendo sua calma interior.

Tália esfregava a ponta do pé no chão, indagando a si mesma se deveria proferir a pergunta que cutucava-a.

Ah, tanto faz, não iria ficar na duvida.

-Você a beijou?

-Será que você só abre a boca para soltar asneiras?

Virou o rosto para perguntar. Tália apenas ergueu as mãos em um gesto de defesa.

-Não, eu não a beijei.

-... vai beijar hoje?

-Tália, saia da minha sala!

Apontou para a porta, fazendo a fracción sair com passinhos saltitantes e um riso pregado no rosto.

...

Bom, tecnicamente, ele tinha passaporte livre para ir e voltar do Mundo Real quando bem entendesse.

Não esperou a noite cair para voltar pra casa da humana, mesmo com todo o conflito interno que se instalara em si. Tinha uma ideia louca na cabeça e uma vontade inconseqüente no coração.

Adentrou a casa e a viu vazia.

Um barulho ressoava de dentro do banheiro, como água caindo. Presumiu que ela estivesse tomando banho, então sentou-se na cama e encarou o chão.

Tsc, beijá-la... Tália realmente não sabe as barreiras entre gente como ela e gente como ele...

Chacoalhava a cabeça sempre que se pegava imaginando como seria tocar os lábios dela com os seus.

A porta do banheiro destrancou, revelando a ruiva.

Dessa vez, não tomou susto ao vê-lo sentado em sua cama. Apenas parou de secar o cabelo com a toalha, encarando-o seriamente.

Depois de um tempo, perguntou.

-Aconteceu alguma coisa?

Ulquiorra não lhe entregou uma resposta a sua pergunta em forma de palavras, apenas balançou de qualquer jeito a cabeça. Não lhe olhou nos olhos, apenas fitou o chão. Orihime revirou os olhos, pegando a escova em cima da penteadeira e se sentou a sua frente, alisando as longas madeixas.

-Você não é um dos que reagem muito bem a declarações, né?

Sorriu, penteando o ruivo cabelo. Ulquiorra não riu, como era de esperado.

-Sua declaração só serviu para Chie, que agora está concertando o que eu quebrei em minha sala.

Orihime sorriu, sem graça, desviando os olhos. Não conseguia imaginá-lo descontrolado, quebrando tudo e irritado. Ele podia ter pinta de mau, mas sempre lhe mostrava-se tão equilibrado.

-Pelo menos ela ficou feliz.

Se levantou da cama, encarando seu reflexo no espelho na parede. Olhou pelo mesmo o arrankar sentado em sua cama, invocado. Sua frase tinha lhe deixado um tanto triste.

-O que você disse...

Escutava Ulquiorra dispersar palavras sem lhe dirigir o olhar. Percebeu que empregava uma força incomum para soltar apenas o resto da frase. Ulquiorra procurava palavras rápidas e certeiras que passassem o que ele pensava, mas não obtinha lá muito sucesso em sua busca.

Orihime sentiu a mão do arrankar apertar-lhe o braço e a virar para si, mantendo seu peito junto ao seu. Orihime arregalou os olhos por um momento, sem perceber que o Espada fizera uso do Sonido.

-Eu queria sentir o mesmo.

Orihime sentiu os ossos do joelho virarem farelo e um arrepio gelou sua espinha. Aquilo, de fato, era mais que motivo para fazê-la não dormir. Mais que motivo para fazer seu coração bater mais rápido e suas mãos suarem. Mais que motivo para desejá-lo com ela.

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-Talvez você consiga. Você pode tentar, não pode?

Era claro o tom apelativo na voz da ruiva. Seus olhos castanhos, virados para os do Espada, ficam marejados e sua visão meio turva. Diante da expressão entristecida da humana, Ulquiorra viu-se no passado. Viu-se quando – sem ter pedido por, totalmente sem perceber ou planejar – sentiu uma fagulha do sentimento humano pela primeira e até então única vez. Os olhos castanhos que soltavam faíscas de vida e arranhavam seu hierro, as mãos delicadas e finas que ele queria tanto segurar, os lábios desenhados, vermelhos e atrativos... Lembrou-se daquela vez, daquela vez que quis tê-la egoisticamente só para si.

Ele tocou-lhe o rosto novamente. Dessa vez, o toque ardia a cada passada em seu lábio inferior. O coração da pobre humana parecia que iria parar a cada batida brusca que dava. Qualquer tipo de ruído exterior foi silenciado e o som das suas batidas cardíacas lhe encheu os ouvidos. Ulquiorra estava tão perto, ah, esquecera como se respira...

Orihime fechou os olhos, e incrivelmente, seu coração pareceu voltar a bater ritmicamente. Acalmou-se.

Já Ulquiorra, se sentia como um fora da lei. Estaria assinalando todo o perigo a sua volta. Ira do shinigami, por ter tocado na humana. Estava dando certeza absoluta a Grimmjow sobre a importância da humana para ele.

O arrankar calou a voz em sua cabeça. Procurou em pensar em nada.

As bochechas coradas da humana pareciam dói tomates.

Depois do longo segundo que se passou, Ulquiorra tocou levemente os lábios da humana. Orihime sentiu outro arrepio lhe inundar ao mesmo tempo em que borboletas não se abrigavam somente em seu estomago, mas em seu corpo todo também. Permitiu-se ficar na ponta dos pés, abraçando seu pescoço. A mão do Espada deslizou de sua bochecha até seus cabelos da nuca, entrelaçando seus dedos com os fios alaranjados. Depois de sentir as costas contra a parede Orihime percebeu que havia regredido alguns passos.

Havia alguém parado do lado de fora. De olhos arregalados, não acreditava no que seus próprios olhos gravavam.

Havia uma testemunha.