Tédio

~ Thinking Of Yuu


“Porque...?”questionava-se o Bookman, “Porque agora? O que ele..?” Embora seu corpo estivesse extasiado pelas caricias de Kanda, suplicando por mais, sua mente inquietava-se: notara o Exorcista desde a primeira vez que o vira, é verdade, mas... Sentia algo por ele? Após tudo aquilo, passariam um pelo outro no corredor, sem trocar olhares, como desconhecidos? Intimamente, não era isso que Lavi desejava. Passara rápidos flashes em sua memória: sonhos nada comportados que já tivera envolvendo o moreno espadachim, todas as vezes que o observara na cafetaria, sem este nem ao menos saber, comendo seu típico Soba. Sem contar as missões: tivera, de fato, poucas missões ao lado do Exorcista, mas mesmo nas poucas oportunidades tentava tirar proveito; forjava situações em que pudesse tocá-lo, aproximar-se, sentir o doce aroma de seus longos cabelos negros... Mas sempre acabava por ver de perto a lâmina da Mugen, quase a cortar-lhe o pescoço. Sabia que Kanda era capaz de feri-lo, sem hesitar, o exorcista nunca demonstrara afeto por ele ou por ninguém. Mas para Lavi valia apena correr este risco.

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Em um piscar de olhos e um vascilar trêmulo de seu corpo, Lavi percebera a verdadeira situação em que se encontrava: estava completamente apaixonado por Kanda. Era isso. No fundo, sempre soube, mas nunca admitira. Resignava-se somente com o fato de ter uma forte atração física por Kanda, até ai nada fora do normal para o ruivo. Mas... Apaixonar-se?! Ficara louco, perdera o juízo?! Como pôde?! Se o Panda descobre... Mas o problema, de fato não era esse. Seus pensamentos o tomaram de tão forma, que não pode mais prosseguir, tinha de saber: o que significava tudo aquilo.

Contra sua própria vontade, e sob protestos afastou o moreno de si, empurrando-o a certa distância e sentando-se.

- Por quê? – começou Lavi, encarando com um olhar angustiado o exorcista descamisado a sua frente.

- O quê...?!- disse o moreno, entre os dentes, apreensivo e descrente.

Mesmo para o ruivo, tão expansivo como era, foi difícil prosseguir. Estava sob a mira enfurecida do olhar de Kanda, como se a própria situação já não fosse embaraçosa o bastante. Mas agora só restava continuar. Pigarreando e nervoso, Lavi juntou forças e prosseguiu sem mais hesitar:

- Yuu, o que realmente te leva a fazer isso ? E não diga coisas como “tédio”, não seja infantil. – embora não demonstrasse, Lavi ficara imensamente aliviado pela a Mugen não estar por perto. E por estar a certa distância do punho de Kanda, que ficara extremamente exaltado, mas procurou acalmar-se:

- E por acaso seria algo mais que isso?! – falou ainda forçosamente o moreno. Embora fosse imperceptível, seu rosto corou levemente; e para seu azar Lavi notara isso. Deliciando-se com esse simples fato, que para ele revelava muito, o ruivo continuou mais ousadamente, não tinha certeza do que estava falando, mas era tudo ou nada.

- Você deveria admitir...- disse Lavi, em um tom maliciosamente superior.

- Admitir o que, seu idiota?! – a irritação de Kanda aumentava gradualmente, e Lavi estava colaborando para isso, sem dúvidas.

- Admitir que você está...-o Bookman então aproximou-se do exorcista, e movimentando-se graciosamente, colocou o dedo embaixo do queixo de Kanda, gentilmente. Encostando seus lábios ao ouvido do moreno, continuo, articulando bem as sílabas ao falar – ... A-pai-xo-na-do por mim.

O rosto de Kanda corou brutalmente, ele podia sentir a vermelhidão tomar conta de sua face. Tentando disfarçar desesperadamente, Kanda levantou-se de pressa e pôs-se de frente a parede do quarto, ficando de costas para Lavi – este, por sua vez, estava aberto em sorrisos, mas ao mesmo tempo preocupado: forçara até o limite? De certa forma, a situação não fora como ele esperava: um soco, alguns xingamentos e revoltas eram previsíveis, aceitáveis... Mas nada disso acontecera: Kanda permanecera calado, apenas distante, de costas para Lavi e encarando aquela parede. Por longos minutos Lavi inquietou-se, a reação de Kanda o desarmou, ansiava por respostas do japonês, nem que fosse para o caso desse achincalhá-lo até a morte -preferia isso ao silêncio sepulcral que tomava conta do quarto. Porém o Bookmen sabia que agora, que já ultrapassara os limites, não podia fazer mais nada a não ser esperar.