Segunda feira. Ao contrário de normalmente eu estava extremamente feliz por ser segunda. Havia voltado ao colégio no domingo, pois Rafael me “sequestrou” depois que acabou o paintball. Nem preciso dizer que nos divertimos a noite. Ok, isso foi pervertido. Quando chegamos domingo de manhã ao colégio Elisa me abraçou com muito fervor e eu retribuí. Cumprimentei a todos que sentia saudade, apesar de ter passado apenas uma semana fora. Mesmo assim, parecia um ano.

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Um temporal caia lá fora. Estava um dia perfeito para dormir, porém as aulas estavam aí. Hoje tem prova e adivinha? Eu não estudei uma simples linha. E aqui estou eu na sala de aula fazendo prova de química sem saber do que a questão se trata.

—Geo! — sussurrei. Ela não se mexeu. — Geovanna. — chamei um pouco mais alto. Nada. Resolvi apelar pro seu apelido mais abominado por ela. — pedaço de bosta.

—Do que você me chamou? — perguntou minha amiga apenas para eu ouvir. Sorri.

—De pedaço de bosta sua velha surda. Agora me escute. Preciso da resposta.

—De qual questão?

—Da 1 ao 12 — detalhe, eram 12 questões.

—Você é uma inútil. — ela reclamou mexendo seu corpo para o lado para que eu pudesse ver. Meu sorriso se alargou. A professora desviou o olhar para o outro canto da sala.

—E você é um anjo.

***

—E então aconteceu. — eu terminei contando tudo que houve no dia que fui pra casa do Rafa pela primeira vez para Geovanna. Estávamos em nosso quarto, era o horário do intervalo. Ela estava sentada em sua cama e eu na minha cada uma de nós com uma almofada no colo trocando novidades. Ela me contou que Marcelo e ela tiveram o encontro mais romântico do mundo e que quando ela ficou triste foi ele quem a deixou ficar o mais feliz possível.

Contei como foi minha semana. A vontade de achar emprego e como eu me senti sozinha esses dias todos. Sentia falta dessas tardes com Geovanna. Quando nos reuníamos e ficávamos a tarde toda falando mal das pessoas e comentando sobre os garotos mais gatos. Pode parecer que não, mas eu já fiz isso. É óbvio que a única que sabe é Geovanna, até porque isso não pode sair daqui.

Continuamos trocando conversas até que nos deu vontade de ver um filme. Porém hoje começava a semana da adoção e a sala estaria cheia de pais e alunos tentando se conhecer. Além daquele pessoal do conselho tutelar. Ninguém merece. Estava prestes a reclamar da semana quando escutamos duas batidas apressadas na porta.

—Entra. — gritamos e Joyce aparece na porta com os olhos despreocupados.

—Estão te chamando na sala principal Kamilla. — franzi o cenho.

—Mas tá cheio de pais lá e o povo do conselho tutelar...

—Mas são eles quem está te chamando. — franzi ainda mais o cenho e me levantei rapidamente para seguir em direção à sala.

Andei rapidamente pela sala. Muitas pessoas se encontravam ali, homens e mulheres, alguns mais velhos outros jovens e pude ver até mesmo casais homossexuais. Joyce estava do meu lado assim como Geovanna e nós andávamos apressadas para resolver o que esse povo queria comigo. Joyce me levou a um casal de meia idade junto de um homem bem arrumado segurando alguns papéis. A mulher vestia um vestido branco florido e era um pouco acima do peso. Tinha um rosto amável, com os olhos castanhos transbordando amor e cabelos castanhos claros amarrados em um rabo de cavalo. Era pouco mais alta que eu também.

O homem que parecia o marido apresentava uma blusa branca social e calça jeans, tênis nos pés. Os cabelos estavam raleando com entradas fundas e seu rosto tinha uma ruga no meio, sinal de quem franzia muito a testa. Ele tinha olhos verdes e era moreno; apesar da idade ele aparentava muita juventude, coisa que é rara até mesmo nos jovens de hoje em dia. Ele era alto e conversava baixo com o homem mais arrumado. Este vestia terno preto e seus olhos eram puxados como dos asiáticos. Era muito bonito e trazia uma barba rala no rosto. Os cabelos estavam perfeitamente arrumados o que me deu vontade de passar as mãos por eles e desalinha-los.

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Cheguei com minha carranca habitual e falei firme:

—Então, queriam a minha presença?

—Hum, sim, você é Kamilla Campos?

—Está olhando para ela. — respondi um pouco ríspida. Ele arqueou a sobrancelha e olhou para minhas amigas.

—Poderia nos dar licença?

—Hã, claro. — respondeu Geovanna. Ela pousou a mão nos meus ombros lançando um olhar tranquilizador e levou Joyce consigo quando saiu.

—Então, o que querem? — perguntei novamente com a voz firme.

—Hã, achei que tivesse desistido. — disse a mulher carinhosamente.

—Ficamos esperando um tempo até aquela moça aparecer e nos ajudar. — falou o homem. Eu, porém continuava confusa.

—Olha se alguém puder me explicar o que eu fiz dessa vez, eu realmente agradeço. — cruzei os braços olhando para o rapaz bonitão.

—É que nós recebemos a sua ficha de pedido de adoção e...

—Pedido de adoção? — não deixei que ele terminasse.

—É. Semana retrasada você nos enviou a ficha junto com muitas outras pessoas para ser adotada e nós achamos uns pais pra você. — ele falou como se fosse natural. Minha ruga de preocupação se intensificou.

—Perdão, mas deve ter algum engano.

—Não acredito. Você é Kamilla Cristina Lima Campos? Que faz o segundo ano do ensino médio? — como ele sabe meu nome completo? Nem mesmo os professores sabem.

—Sim. — sussurrei. Ele sorriu presunçoso.

—Portanto é a senhorita.

—Posso ver essa ficha?

—Claro. — ele me entregou a ficha junto com uma caneta. — inclusive já pode assinar. E arrumar suas malas, como a senhora pediu já pode sair daqui adotada. — Adotada? Eu quis gritar. Olhei para a ficha com os olhos saltados e assustados. Toda a ficha estava preenchida com uma letra extremamente parecida com a minha e nela dizia assim: “não me importo com quem sejam os pais; contanto que queiram me adotar já podem chegar com os papéis prontos.”. No fim da ficha estava a assinatura dos que querem adotar, do conselho tutelar e da diretora.

—Precisamos falar com Elisa.

Caminhamos rapidamente pelos corredores sem nenhuma conversa trocada. Eu estava extremamente tensa para conversar e, portanto não queria e nem conseguia me pronunciar. Conduzi aqueles pais e o agente até a sala de Elisa. Entrei sem ao menos bater.

—Como assim eu estou adotada e você ainda por cima assina o documento? — joguei o documento em cima da mesa dela. Imediatamente ela olha para cima um pouco confusa. Lentamente tira os óculos do rosto.

—Achei que você tinha pedido. Não estava bem claro? Você até preencheu a ficha.

—Não fui eu. — protestei. — Olha só. — peguei um pedaço de papel qualquer e uma caneta e comecei a escrever.

—Parece igual para mim. — disse Elisa. Bufei.

—Mas não é. Você é uma mulher, tem que saber diferenciar essas coisas. — ela revirou os olhos, pegaram os dois papéis e comparou. Depois arqueou as sobrancelhas.

—Tem razão, é diferente. — disse o homem elegante que havia se aproximado.

—Mas os papéis já estão prontos. — a mulher disse que seria minha mãe. — você não quer ao menos nos conhecer...

—Desculpa dona, mas eu sou feliz no meu lar.

—Olha, ela tem razão. Você deveria ir. Os papéis...

—Eu não ligo.

—Mas é a justiça. Você tem que ir com eles. — o homem agarrou meus braços. Arregalei os olhos e tentei me soltar. Elisa se levantou. Eu comecei a me debater, mas ele começou a me levar para fora e eu comecei a desesperar. Até que Elisa agarrou meu outro braço e gritou.

—Ninguém vai levar minha filha de mim! — todos pararam e olharam para ela, completamente incrédulos. Alguns segundos se passaram antes que eu perguntasse:

—O que foi que você disse?