Capítulo 23

O barulho dos tiros e das bombas era ensurdecedor... Ele teve que se arrastar pelo campo molhado até chegar ao soldado ferido. Sangue escorria por toda parte e ele teve que colocar as mãos sobre a boca do soldado para que seus gritos não denunciassem a posição deles. Estavam em território inimigo e qualquer movimento poderia ser fatal.

—Você tem que sair dessa, companheiro. - Edward olhou para baixo, mas não viu mais o soldado.

—O quê? - Levantou, e apesar de ver soldados atirando e gritando por toda parte, ele não ouvia nenhum barulho.

—Sua missão aqui acabou. - Levou um susto ao ver Jeff de pé ao lado dele. - Você tem que encontrar Bella e as crianças.

—E dizer que você a ama e que ela é a mulher da sua vida. - Repetiu o pedido dele.

—Também, mas agora eles são sua responsabilidade. Vão precisar de você. - O empurrou para que ele procurasse um lugar seguro.

—Eu não posso cuidar deles. - Balançou a cabeça sem saber o que fazer.

—Meus filhos são seus filhos agora. - Jeff colocou a mão no ombro de Edward. - E por mais que me encha de ciúmes, Bella é sua esposa agora. Então levante e cuide deles. - Edward sentiu o chão abrir debaixo de seus pés e tentou segurar o braço de Jeff em busca de apoio. - Obrigado por amá-los e dê um abraço neles por mim.

Edward levantou assustado e passou as mãos pelo cabelo, estava suado e ofegante. O sonho lhe pareceu tão real e ele sentia a necessidade de abraçar a família e saber que eles estavam bem.

—Oi, amor. - Bella abriu os braços e ele a abraçou com firmeza.

—Eu te amo. - Sussurrou a beijando.

—Parece assustado. Teve algum pesadelo? - Desde que eles passaram a morar juntos, ele não teve nenhum. Antes, ele sempre sonhava com a última vez em que esteve na guerra, acordava ofegante e assustado, pois nunca conseguia sair de lá vivo.

—Sonhei que estava na guerra e o Jeff me pediu para voltar e cuidar de vocês. Ele disse que as crianças eram meus filhos e que você era a minha esposa.

—Em breve serei oficialmente. - Edward ergueu a mão da noiva e depositou um beijo em cima do anel de noivado.

—Não vejo a hora de oficializarmos tudo. - Encheu um copo com água e bebeu tudo de uma vez.

—Tem certeza de que está bem? - Bella abaixou o fogo e virou para examinar o noivo.

—Foi só um sonho. Fiquei cansado e acabei pegando no sono no sofá. - Explicou e Bella voltou para o fogão.

—Muito trabalho?

—Bastante. As coisas estão indo de vento em poupa e temos muito trabalho a fazer. Como Emmett e Jasper só vão trabalhar meio período, agora que as aulas começaram, teremos que contratar mais ajudantes.

—Tem que pegar leve.

—Eu gosto de trabalhar e martelar é uma ótima terapia. - Riu e abriu a porta dos fundos. - Noah, Max, o jantar está pronto. - Edward ouviu um “já vamos, pai” e voltou a entrar na casa. - Acha que eles estão passando tempo demais na casa da árvore? - Perguntou abraçando a noiva.

—A culpa é de você e do seu pai que fizeram uma casa incrível para eles. - Bella imaginava que os dois iriam construir uma casa normal com espaço apenas para as duas crianças, mas cabia várias pessoas lá, incluindo adultos e ela até arriscaria dizer que os cinco poderiam morar tranquilamente lá. A casa era composta por três cômodos. Um quarto para quando eles quisessem dormir por lá, uma sala para jogarem e assistirem tv e uma sala para Claire. A pequena não tinha permissão para subir sem a supervisão de um adulto, o que não a impedia de ir atrás dos irmãos quando os pais não estavam olhando.

—Eles gostam de lá. Mas acho que deveríamos colocar horário para eles. O que você acha?

—Amor, você é o pai deles. O que decidir vou apoiar. - Edward não se sentia confortável em repreender ou aplicar regras aos filhos. Ele dizia que não estava apto a isso e não queria que os pequenos ficassem com raiva dele. Bella insistia para que agisse da forma que achasse conveniente. Se as crianças precisavam de algum castigo, ele tinha total autonomia para o fazer.

—Pode me ajudar aqui? - Fez cócegas nela. Ele sempre pedia a opinião dela antes de tomar uma atitude.

—Eles realmente ficam muito tempo na casa da árvore. Por outro lado, estão seguros e felizes. Se acha que eles precisam de limites é só colocar. Siga o seu coração e eu assino embaixo.

—Eles poderão ir para lá após fazerem os deveres e nos dias que não tiverem aula. - Sugeriu satisfeito.

—Tudo bem. - Bella riu. - Sabe que não precisa ter medo, não sabe?

—E se eles ficarem com raiva? - Fez bico e ela o beijou.

—Filhos ficam raiva dos pais o tempo todo, não tem como agradá-los sempre, mas temos que fazer o que achamos que é melhor para eles. Você os ama e não a nada que possa fazê-los te odiar. Você vai sobreviver a algumas caras emburradas e a adolescência. Nossos pais sobreviveram e posso afirmar que não fui uma adolescente muito fácil de lidar.

—Com você ao meu lado consigo sobreviver a qualquer coisa. Também não fui um adolescente muito fácil. Vivia saindo escondido para namorar e fazer bagunça com os meus amigos.

—Como é? – Bella o cutucou esperando por maiores detalhes.

—Acho que vou subir e tomar um banho. – Inclinou e lhe deu mais um beijo. Não queria contar as coisas que já havia aprontado.

—Está mesmo precisando. - Bella o provocou.

—Oi pai. - Os garotos entraram correndo e o abraçaram.

—Está grudando. - Max reclamou fazendo uma careta.

—Ei, já estou indo tomar banho. E você?

—Já tomamos. - Noah avisou puxando uma cadeira para sentar. - E o jantar? Papai disse que estava pronto.

—Só mais cinco minutos. Enquanto isso vão lavar as mãos e ajudem a sua irmã. - Claire estava brincando no quarto dela.

—Sim, mamãe. - Os dois saíram correndo.

—Não corram. - Edward falou baixinho e Bella riu.

—É sério, amor, precisa ser mais firme.

—Como padrasto deles...

—Como pai deles. – Ela o interrompeu. – Você pode fazer o que achar necessário.

—Certo. – Ele concordou. – Não vou demorar. – Avisou saindo da cozinha.

[...]

—Papai. – Claire ergueu os braços e Edward a abraçou.

—Oi princesa. Como foi o seu dia?

—Legal. Fiz um desenho. – Avisou estendendo um papel para ele.

—Nossa, ficou muito lindo. Acho que temos uma artista aqui. – A pequena corou com o elogio. – E vocês, garotos, tudo bem na escola nova?

—É muito legal lá. – Max respondeu com a boca cheia e Bella cutucou Edward.

—Nada de falar de boca cheia. – Edward falou com firmeza.

—Desculpa, papai. – Max terminou de mastigar. – A escola é muito legal e já fiz vários amigos. Posso convidar eles para conhecerem a casa da árvore?

—É claro. Pegue o número dos pais deles para que possamos ligar e combinar tudo. – Bella avisou e os garotos comemoraram.

—Eu gosto de São Francisco. As pessoas são simpáticas e ninguém nos olha estranho. – Noah comentou sorrindo. Ele estava bem mais alegre desde a mudança de cidade.

—Que ótimo, filho. Se alguém mexer com vocês quero que me avise.

—Pode deixar. – Os três falaram juntos.

—Aqui, querido. – Bella entregou um prato com macarronada para ele. – Conversei com a Leah hoje. Ela vai vir nos visitar na semana que vem. Depois da condenação do Jacob ela conseguiu vários clientes e está até dando consultoria.

—Isso é excelente e fico muito feliz por ela. Ela conseguiu fazer aquele... sujeito. – Edward teve que pensar bastante numa palavra que fosse adequada a ser dita na presença dos filhos. – Apodrecer atrás das grades.

—Demorou, mas a justiça foi feita. – Bella completou.

—E como no trabalho?

—Maravilhoso. – Bella conseguiu um emprego em uma ONG que ajudava mulheres vítimas de violência doméstica. Ela as ensinava a costurar e um pouco de artesanato. – E o site que o Jasper montou está bombando. A cada dia temos mais voluntários e tenho a certeza de que estamos ajudando a mudar muitas vidas.

—Tenho muito orgulho de você, amor. – Beijou a mão dela.

—Obrigada. Estava pensando em voltar a estudar no próximo ano. – Avisou e Edward engasgou. – Não gostou?

—Muito pelo contrário. – Tossiu se recompondo. – Estou muito feliz pela sua decisão. Só fui pego de surpresa.

—Pensei em fazer um curso online, tem uns muito bons e assim posso continuar a trabalhar e a cuidar da casa.

—Não se preocupe com nada. – Avisou segurando a mão dela. – Posso fazer mais coisas em casa e cuidar das crianças.

—Você é maravilhoso.

—Eu cuido dos meus irmãos. – Noah avisou e Bella deu um beijo na bochecha dele.

—Obrigada, meu anjo, mas não será preciso. Vamos nos ajeitar e tudo vai dar certo. Só de saber que tenho o apoio de vocês, fico bem mais aliviada.

—Você sempre terá o nosso apoio. – Edward garantiu.

—Mãe, eu quero refri. – Max pediu ignorando o suco natural.

—Sabia que refri faz mal para a saúde? – Edward perguntou e ele concordou.

—Eu gosto mais de refri.

—Nada de refri por hoje. Tem que tomar suco para ficar saudável e bem forte, ou desistiu de me ajudar a construir casas?

—Desisti não, papai. Quando estiver grande, vou te ajudar.

—Então tem que se alimentar bem. Comer verduras. – Ele fez uma careta, odiava verduras. – Legumes, pouca açúcar e gordura.

—E eu vou ficar forte igual você? – Se fosse para ser como o pai ele estava disposto a comer menos bobagem.

—Vai ficar mais forte ainda. – Edward garantiu.

—Está bem. – Concordou animado.

—Também vou comer. – Noah avisou. Ele também queria ser como o pai. Os garotos se espelhavam muito em Edward, desde a forma como se vestiam até como agiam. - Podemos assistir um filme?

—Se comerem tudo podem sim. – As crianças apressaram em comer e depois saíram andando da cozinha.

—Como tivemos um avanço enorme, hoje. – Bella comentou juntando os pratos.

—Viu que eles estavam andando? – Edward perguntou admirado a ajudando.

—Nem sabia que eles eram capazes disso. Achei que só corriam. – Ela riu.

—O que acham de deixarmos isso para mais tarde e assistir o filme com eles?

—Ótimo ideia.

—Vou lá fora ver se está tudo trancado. – Edward avisou abrindo a porta. Ele checou o portão e se o cachorro estava bem, as crianças tanto insistiram que eles não resistiram e adotaram um. Estava prestes a entrar, quando deu um passo para trás e olhou para o céu. – Missão cumprida, soldado. – Bateu continência e entrou na casa para ficar com os filhos e a noiva, com as pessoas que ele amava incondicionalmente e que o amavam da mesma forma.

‘Cause I give you all of me

And you give me all of you

Porque eu te dou tudo de mim

E você me dá tudo de você