Truques Mortais

Capítulo 14 - Espelhos do Medo


Enquanto uns ganham, outros perdem... Uma hora, um dia, chegará a nossa vez de ganhar. Não adianta ter pressa... Só precisa ter força.

Fora o que Scott dissera a Juliet na festa de máscaras lá no banheiro. Ele havia acabado de deixar Jennifer no dormitório feminino exatamente à meia-noite e só conseguia pensar nessa frase. Será que havia chegado o seu dia de ganhar?

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Caminhava sozinho na estrada deserta de frente para a universidade local. O céu se tratava de um breu quase sem estrelas graças ás grandes nuvens carregadas, não parara de chover desde 13:20 da tarde de Domingo a hora em que ele beijara Jennifer pela primeira vez. Ele queria acreditar que estava errado em fazer isso, mas não conseguia, ele simplesmente não entendia mais a palavra errado, tudo agora era tão certo.

Ali, completamente molhado da chuva com mechas do cabelo negro pingando gotas gélidas em seu nariz ele se lembrava perfeitamente do resto do dia.

Quando finalmente separaram o beijo ainda um de frente para o outro Jennifer abaixou a cabeça com os olhos fechados. Scott a examinou com cautela até que ela o olhasse novamente. Seus olhos eram castanhos brilhantes e serenos.

— O que foi isso? — Ela perguntou com a voz baixa.

— Culpa sua — Ele respondeu tão baixo quanto ela.

— Porque sempre me culpa pelas coisas?

Scott sorriu torto. Ele ergueu as sobrancelhas logo após suspirar os olhos estreitos fixos em Jennifer.

— Não consigo ser uma pessoa sensata perto de você

Jennifer riu.

— Não é sensato com ninguém.

Scott ficou sério.

— O que foi? — Ela perguntou.

— Não podemos voltar assim para o Campus.

Ela franziu o cenho.

— Assim como?

Scott riu

— Estamos completamente sujos. Tem sangue em por toda a sua roupa e terra na minha.

Jennifer então se lembrou do ocorrido no campo de trigo. Scott havia perdido todo o controle enquanto batia compulsivamente em Mike... E, eles haviam o deixado lá. Talvez já tivesse corrido dali, mas ela ainda se sentia mal por isso.

— Mas precisamos nos limpar.

Scott se virou seguindo para o banco do motorista da Mercedes que haviam pego.

—Eu conheço um lugar — Ele falou — Vamos, entre aí.

Ela sentou do lado dele no carro enquanto ele o colocava para correr novamente pela estrada.

— E, que lugar é esse? — Ela perguntou vasculhando a mochila que havia dado tanto trabalho para recuperar.

— É um hotel na rua Híbrida perto do lugar onde você conheceu Holly — Ele falou prestando atenção na estrada.

Jennifer parou de mexer em sua bolsa instantaneamente.

— Como sabe que conheci Holly ali? Que não a conheci fora da Ilha? — Jennfier o encarava séria.

Scott apertou o volante com mais força.

— Scott... — Jennifer o chamou — Será que pode responder?

Scott suspirou.

— No dia da festa de máscaras Juliet me contou como ela quase as atropelou na estrada e como se tornaram amigas depois — Ele mentiu — Isso foi quando fui ver porque ela havia se trancado no banheiro.

Jennifer suavizou a expressão e olhou pela janela... Não queria pensar em Juliet ultimamente. Estava tudo tão arruinado.

— Qual o nome do hotel?

— Se chama Colosso.

Hotel Colosso era o que dizia na placa dourada de frente para o imenso lugar. O hotel era todo feito de pedras cinzenta-prateadas grandes e quadradas. Tinha uns oito andares, Jennfier contara. A entrada ficava entre o gramado verde escuro e aparado com tochas grandes cravadas no chão, apagadas pela chuva.

— Tem certeza que quer entrar num hotel desses todo sujo de sangue? — Jennifer perguntou enquanto Scott empurrava a porta dupla de três metros feita de prata fundido e bronze.

— Não se preocupe... Venha.

Ele entrou logo sendo seguido por ela. O teto era alta e as paredes eram revestidas com painéis brancos com detalhes de ouro puro. Um enorme lustre de cristal pendia no centro da recepção onde no chão um tapete longo e vermelho sobre o chão claro lembrava a uma premiação. No balcão de madeira bege lustrosa curvelínea se encontrava duas pessoas. Um homem e uma mulher, ambos com uniforme branco e vermelho.

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Os dois sorriram automaticamente ao verem Scott se aproximar com Jennifer, como se fossem programados a fazerem isso toda vez que alguém pisasse ali.

— Quem é vivo sempre aparece — Brandou o homem.

— Nosso querido Vitorino então retorna. — Falou a mulher logo em seguida.

Os dois pareciam gêmeos, ambos loiros de olhos cinzentos, a pele bronzeada e uma altura similar. Porém ela tinha os cabelos lisos até os ombros e ele mantinha o cabelo aparado bem rente.

— Molly e Carl — Scott se apoiou no balcão — Fico impressionado ao ver que ainda não foram demitidos.

Os dois sorriram e em seguida olharam para Jennifer.

— E então? — Carl perguntou — O que vai ser dessa vez?

Scott suspirou.

— Vamos ficar aqui pelo resto do dia... Podem arranjar um quarto? — Scott perguntou.

Molly sorriu de canto.

— Venham comigo — Ela saiu de trás do balcão deixando a amostra o seu uniforme. Uma saia social vermelha até a altura do joelho com um terninho branco-geada.

Carl permaneceu no balcão enquanto Scott e Jennifer seguiam Molly pelos corredores imensos do Hotel Colosso. Pilares de mármore vez ou outra a pareciam próximos as paredes repletas de quadros com molduras douradas e pesadas com retratos de pessoas famosas já mortas.

— Sabe, não deveria acompanhar este rapaz — Molly falou apontando para Scott — Ele é uma péssima influência, querida.

Jennifer viu Scott revirar os olhos enquanto seguiam pelo corredor.

— Eu sei disso. — Respondeu quando Molly parou de frente para uma porta cinzenta de metal.

— É aqui. — Ela abriu a porta que fez um barulho enferrujado nas dobradiças.

Scott entrou no quarto sem dizer mais nada e então Jennifer se viu encarando Molly que tinha um meio sorriso encostada de modo relaxado na coluna da porta aberta.

— Não a culpo por gostar dele — Molly disse — Ele é mesmo muito atraente e charmoso, um cavalheiro... Mas sabe... Nem a garota mais popular do campus tem o direito de conhecer a todos profundamente... Se soubesse do que eu sei sobre Scott Vitorino talvez nunca mais quisesse olha-lo na cara.

Jennifer passou o peso do corpo para a perna direita.

— Como sabe que eu...

— Jennifer Green... Você não é famosa apenas no Campus. Sei muito sobre você... Coisas que me pergunto se até você própria saberia.

Molly fez um sinal com a mão para que Jennifer entrasse no quarto em seguida se virou saindo pelo mesmo caminho que fizeram.

Quando entrou no quarto Scott estava sentado numa cama de casal a encarando.

— E então? — Perguntou ele — O que achou?

— É um quarto legal — Respondeu olhando o cômodo. Tinha uma grande janela dupla que ia do teto ao chão protegida por uma cortina de seda vermelha. As luzes ficavam na paredes como se fossem candelabros e as paredes eram brancas com rodapés talhados com madeira escura. Uma pequena porta marrom se encontrava no final do quarto, ao lado da janela entre o criado mudo e a cama, provavelmente o banheiro.

— Não perguntei do quarto... — Scott permaneceu observando-a — Me refiro a Molly.

Jennifer se sentou em uma poltrona acolchoada de couro ao seu lado, de frente para Scott.

— Não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas...

Scott balançou a cabeça.

— Molly é uma bruxa — Falou ele — Do tipo que sabe das coisas... Você deve a chamar de... Cartomante?

Jennifer inclinou a cabeça para o lado.

— Ok — Falou — Uma cartomante que trabalha de recepcionista em um hotel muito grande e elegante em uma Ilha vulcânica? Sinceramente, não me surpreendo com mais nada que tem relação a você.

Scott sorriu.

— Este quarto é para funcionários — Mudou de assunto — Por isso fica tão escondido no primeiro andar. Mas como pode ver, não é de todo mal para quem vai passar o resto da tarde.

— Eu não me importaria de pagar para me hospedar neste quarto — Jennifer falou.

— Você aceita muito pouco. — Scott falou se levantando.

— Bem, eu aceitei você.

Scott parou de frente para Jennifer ainda sentada.

— O banheiro é naquela porta. Vou ver se Molly arruma algumas roupas limpas para a gente... Se quiser pode ir tomar banho.

E como um vulto ele partiu pela porta.

Eram quase uma da manhã agora. Scott estava em seu dormitório ainda pensando naquele dia, despertado agora apenas pelo sua corrente de prata que queimava em seu pescoço. Do lado esquerdo Freddie dormia, assim como Carlos, seu outro colega de quarto. Quando ia puxar o pingente Vitorino de dentro da blusa Scott fechou os olhos contra um clarão azulado que surgiu no quarto sem motivo algum.

— Precisamos conversar — A voz de William era alta e agravada, mas assim como o clarão, não pareceu incomodar nenhum dos dois que dormiam.

Scott suspirou largando a corrente.

— Preciso dormir. Tenho aula pela manhã e...

— Venha me encontrar... Agora. — Dito isto o clarão se apagou e o quarto voltou ao seu breu noturno novamente. Scott passou a mão na testa e com um suspiro foi em direção ao criado mudo ao lado de sua cama vazia e perfeitamente arrumada, intocada. Dois toques na terceira gaveta e ela se abrira revelando então a pluma branca azulada, a chave para o mundo dos mortos.

Pegando ela deu a volta em sua cama parando de frente para o espelho de corpo inteiro. Jogou a pluma cansado e entediado coma situação. Ela atravessou automaticamente fazendo o vidro oscilar até que se tornasse apenas uma passagem para o mundo paralelo.

Quando atravessara seu pai estava bem a sua frente. Deixou a pluma flutuando de frente para o antigo espelho e o encarou com receio.

William Vitorino tinha a expressão ainda mais severa no mundo dos mortos. Ele seguiu andando pelo gramado escurecido da montanha em que estavam sem dizer uma palavra, apenas esperando ser seguido pelo filho. Seu rosto era quase do mesmo tom do branco de uma folha de papel. Linhas fundas da idade preenchiam seu rosto sério e cansado. Os cabelos prateados desgrenhados voavam com o forte vento que vinha da direção Norte.

Scott conhecia aquela expressão vazia do pai melhor do que ninguém. Ele estava irritado e, muito provavelmente aquela viagem não seria a nenhum lugar agradável. Sabia que falar seria pior, então apenas o acompanhou. As roupas ainda molhadas da chuva se tornando um castigo em meio daquela ventania gélida do mundo eternamente noturno no qual estava.

Seguiram direto num silêncio crítico quebrado apenas pelo som de corvos que voavam assustado das árvores já apodrecidas. Deceram e suiram ladeiras, passaram por encostas íngrimes e atravessaram uma pequena ponte de ossos. E foi de frente para o carvalho de folhas verde musgo que William havia parado.

De costas para o filho com as mãos no bolso da calça cinza William finalmente falou:

— Não preciso dizer porque estamos aqui. Acredito que você com seus vinte anos sabe muito bem quando comete um erro grave como o que cometera.

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Scott encarou o chão de terra seca e escura.

— Irei te fazer uma pergunta, meu filho — William continuou — Me diga... Qual é o seu objetivo?

Scott olhou para o pai com as sobrancelhas unidas.

— Vingar a sua morte — Respondeu — Derramar o sangue de todos os escolhidos e envolvidos no solo sagrado de Refúgio Místico. Encontrar a jóia vulcânica e a por na pedra Vitorino... Traze-lo de volta dos mortos, pai... Esse é o meu dever. Nosso objetivo.

William se virou para encarar Scott. Os braços cruzados agora.

— Talvez isso já tivesse acontecido se algo não o estivesse atrapalhando.

Scott deu um passo para trás desconfortável.

— Não tem nada me atrapalhando... Você me criou para que eu não deixasse nada entrar no meu caminho... Assim estou fazendo.

William caminhou para frente.

— Sabe Scott — Falou dando mais passos até o filho — Meus poderes não funcionam no mundo dos vivos, pois não pertenço mais a ele... Mas aqui, eles funcionam melhor do que você imagina.

Scott fechou os olhos com força quando seu pai o segurou pelo ombro, os dedos afundando com força contra sua pele mesmo sob sua roupa.

Uma vibração pelo seu corpo e um vento mais forte do que o de costume, foi como se tivesse sido jogado para a frente com toda a força. Quando abrira os olhos ele viu a si próprio. Apenas Scott Vitorino. Estava com uma roupa diferente e seca. Uma regata branca e uma jaqueta de couro. Uma calça jeans escura e sapatos camocim pretos.

Não existia mais nada ali, nem ninguém além dele. Para onde olhava via espelhos e nos espelhos via a si próprio.

— Estes são os espelhos do medo. — Mesmo não vendo seu pai, ele ainda o ouvia. — Um lugar perfeito para você criar juízo.

— Porque me mandou para cá? — Scott pôs a mão em um dos espelhos logo se sentindo vulnerável e completamente perdido.

— Não aconselho a tocá-los... Os espelhos do medo são programados para destrui-lo se não estiver com o pensamento no lugar certo.

— E qual seria o pensamento ideal? — Arriscou Scott.

— O meu pensamento!

Scott abaixou a cabeça vendo mais reflexos de si próprio.

— Eu estou fazendo o que você me pediu para fazer — Falou — Se está se referindo a Lola, não se preocupe, a matarei assim que a encontrar novamente.

— Estou falando de outra coisa... Não se faça de tolo! — William gritou fazendo sua voz ecoar repetidas vezes entre os espelhos do medo.

Scott sentiu as pernas fraquejarem, talvez fosse efeito do espelho que tocara.

— Olhe para o espelho — William ordenou — Ele lhe mostrará o que você pensa. Ele lhe mostrará o que digo.

Scott olhou para frente encontrando seus próprios olhos.

— O que você vê? — Seu pai perguntou.

Scott via olhos escuros e frios. Uma pele pálida quase como a do pai. Uma boca rígida numa expressão destemida, mas... Destemida de que? Ele via a si mesmo como um monstro sem coração e sem alma. Um robô feito para seguir ordens e temer a verdade, a verdade que tanto o machucava por dentro.

— Agora — Seu pai continuou — Continue olhando e me diga o que vê.

Por um instante Scott pensou que Jennifer estivesse do seu lado, mas não importava de que ângulo ele virasse ele veria a mesma imagem. Era ela, como se estivesse na sua frente do outro lado do vidro. Será que ela podia vê-lo?

Num gesto impensável ele erguiu a mão tocando o espelho que imediatamente se quebrou como se tivesse sido socado. O rosto de Jennifer se tornou deformado entre pesaços elevados de vidro rachado.

Ela é sua fraquesa e você insiste em negar! — William gritou novamente — Quantas vezes terei que explicar? Pensei que tivesse entendido... Sentimentos são inuteis, você só deve amar a família, e a sua única família sou eu.

— Não vejo nada de errado no que fiz. — Scott falou abaixando a mão novamente — Ela não está me atrapalhando. Conheci ela a alguns meses e isso não me impediu de matar quem você mandou.

Silêncio se fez.

Scott fechou as mãos em punho.

— Pensa que eu não vejo? — A voz de William era abafada de raiva — Você nunca soube lidar com sentimentos, sempre deu valor aos outros, porque você não aprende!

Scott socou um dos espelhos o rachando como o que tocara antes. Os nós dos dedos doíam e um corte superficial se formol em sua mão. Um sangue escarlate que refletiu de espelho a espelho.

— Está irritado. — Seu pai confirmou.

— Estou! — Scott gritou passando o peso de uma perna para a outra — O que você quer afinal? Estou fazendo o que você manda! Será que em troca não posso ter a minha própria vida? Fazer o que quero?

Scott ouviu William suspirar antes de falar:

— Tudo bem... Se apegue a ela, se entregue a ela.

— Você não terminou de falar... Continue — Scott pediu impaciente.

— O que pretende? — William perguntou — Me diga... Trocaria a mim... Seu pai, por uma garota qualquer que conheceu a pouco tempo?

— Isso não é uma escolha! É uma opção alternativa... Posso ter os dois... Como qualquer pessoa normal!

Scott estava ofegante... Como se a cada grito que desse os espelhos usassem contra ele.

— Você não é uma pessoa normal! — rebateu William — É um Vitorino, tem a maldição e o dom. Tem o mal e o divino brigando dentro de você... Brigando por você. Todos queriam ter o que tem.

— Eu não tenho nada.

— Tudo bem — William falou — Serei mais direto...

Scott passou a mão entre os cabelos negros se sentindo sufocado. Tentando ao máximo não olhar para os espelhos... Ficar de olhos fechados.

— Já pensou como seria o futuro se escolhesse ficar com Jennifer sem desistir de mim? — William perguntou — Vocês iriam namorar... Todo namorado conhece um ao outro... Conhece sua história.Daí vejamos, você diria que matou uma, não... Duas, ah não... Você diria que matou várias pessoas a sangue frio.

Scott abriu os olhos se encarando no espelho. As mãos fechadas em punho tremiam de raiva.

— Ela não precisaria saber disso. — Scott falou entre os dentes trincados.

William riu.

— Engraçado — Falou ele — Porque hoje você quase se atrapalhou...

Agora nos espelhos Scott via a si mesmo, só que não era ele agora, era ele ontem, antes e antes mesmo de conhecer Jennifer. Tudo o que fizera fora matar pessoas e ele podia ver isso tudo agora comos e fosse um filme de terror psicótico. Uma tortura e uma piada de humor negro que já não tinha mais graça. Suas veias ardiam e sua cabeça girava. Não queria olhar aquela cena, mas não conseguia mais fechar os olhos.

Scott caiu de joelhos se sentindo enjoado e cansado. Seu pai jogava xadrez todo esse tempo e havia acabado de fazer xeque-mate.

— Ficou calado agora? — William o chamou — Descobriu o ponto central de tudo isso?

Scott fechou os olhos com força enquanto se colocava de pé novamente.

— Não pode ficar com Jennifer Green — William falou — Isso não é uma história de amor. É uma história de terror, vingança e ódio. Destrua todos antes que eles o destruam. Você só pode escolher um... Ou seu pai que cuidou de você desde que nasceu ou ela... Que conheceu a pouco tempo e que te desconhece.

E por fim, olhando para frente Scott viu ao seu lado esquerdo Jennifer e ao lado direito seu pai. Jennifer o encarava confusa enquanto seu pai mantinha as mãos atrás das costas na postura de sempre.

— Porque não posso ter os dois? — Saíra como um sussurro.

Seu pai ouvira.

— Você é um assassino — William falou calmo — Acha que ela entenderia? Melhor... Acha que ela ainda gostaria de você se soubesse que você estava presente no dia que ela conheceu Holly Miller. Ainda melhor...

Scott se sentiu sufocado.

— Acha que ela ainda gostaria de você se soubesse que foi você que fez Holly perder o controle do carro naquele dia? Acha que ela ainda gostaria de você se ela soubesse que Holly Miller é uma das pessoas da lista negra de seu pai? Uma das pessoas que você uma hora irá matar a sangue frio como fez com todas as outras pessoas?

Scott trincou os dentes.

— Isso é amor Scott — William continuou — Amar é destruir. E você sabe fazer isso melhor do que ninguém... Então se quer amar Jennifer, eu não impedirei... Uma hora você a tornará tão infeliz que ela mesma irá querer desistir de viver.

— Não quero isso.

Scott falou

— Não quer? — Perguntou seu pai — Então faça a sua escolha... Opte por esquecer Jennfier Green. Esqueça ela e a pouparei, fique comigo e vamos terminar o que já foi começado.

Scott suspirou trêmulo

— Agora destrua o seu maior medo. Destrua para proteger Scott.

Seu rosto fervia numa raiva inconformada. Scott levantou o punho olhando para o reflexo de seu pai no espelho e em seguida para o de Jennifer. Ele firmou a mão e com as sobrancelhas unidas ele jogou a mão contra seu reflexo com toda a força que poderia jogar. O vidro quebrou fazendo pedaços brilhantes caírem. Sangue jorrou da sua mão e o reflexo de Jennfier sumiu.

William Vitorino sorriu enquanto assistiu seu filho cair de joelhos novamente.

— Fez a escolha certa, filho. — O reflexo virou as costas como se estivesse indo embora.

Logo, logo você sairá desta sala. Tenho que resolver assuntos inacabados. O efeito deste truque já irá acabar e estará livre para voltar para seu dormitório. Descanse, amanhã será um dia longo.

Scott pousou as palmas da mão no chão espelhado enquanto o sangue de sua mão direita dançava entre o espelho. Ainda sentado apoiou as costas em um canto e inclinou a cabeça para cima fechando os olhos sem querer enxergar mais nada. Aqueles eram os espelhos do medo e era por isso que só podia enxergar a si próprio para onde quer que olhasse. Não era lógica, era a realidade.