Emma observou Cecile sair levando o pequeno Daniel para a creche, então voltou o olhar para Iris sentada ao seu lado na mesa. Havia passado à noite com sua tia e percebido que, embora não tivesse nada em comum, Iris era muito legal. Se perguntava porque diabos no futuro ela não tinha aquela afinidade com a jornalista.

—Caitlin logo vai chegar então é melhor você pegar suas coisas. - Iris falou se levantando da mesa e pegando os pratos.

—Iris, posso te fazer uma pergunta?

—Claro.

—Aonde você estava?

—Em Nova Orleans. Uns amigos meus moram lá. Resolvi que seria ótimo ter novos ares e conhecer novas pessoas. - ela explicou dando um tanto de ênfase para as última palavras.

Emma então se lembrou que sua tia era casada com um empresário de Nova Orleans, aparentemente a família Mikaelson era dona de metade da cidade. Ela então começou a pensar sobre algo que havia notado nos últimos dias e sobre uma coisa que havia ouvido na noite anterior quando todos pensavam que ela havia ido dormir.

Você ainda ama ele? - Joe indagou balançando o copo de whisky na mão.

—Sim, mas não acho que seja o mesmo tipo de amor de antes. Eu sinto um carinho muito grande por Barry, mas não sei se voltaria a ficar com ele.

Emma então notou que talvez aquilo fosse a chave da amizade de seus pais com Iris. O carinho e respeito que ambos tinham um pelo outro. Por isso sua mãe confiava cegamente em Iris e Iris confiava cegamente nela.

A campainha tocou e Emma se levantou do sofá pegando a mochila que havia trazido e caminhou até a porta. Uma das coisas que Emma mais se orgulhava de fazer era conseguir ler as pessoas, estudar o comportamento humano era algo fascinante, se perguntava se podia estudar isso na faculdade e entrar para a ARGUS. Por isso, assim que abriu a porta sabia que Caitlin havia beijado Barry.

—Oh cara. - resmungou revirando os olhos.

—Como foi a noite? - Iris indagou, Emma deu um passo para o lado para enquadrar melhor a cena das duas mulheres.

Caitlin pareceu um tanto surpresa com a pergunta, mexeu levemente as pontas dos dedos e desviou o olhar mais de uma vez de Íris até responder.

—Foi bem. Bem legal. Fomos a um bar e ficamos conversando por horas.

Emma evitou arquear a sobrancelha de maneira cínica, a postura um tanto dura e o olhar meio perdido mostrava que o quão longe daquela conversa ela estava.

—Obrigada por cuidar dela Iris. - Caitlin disse passando o braço pelo ombro da garota e a puxando em direção ao carro.

—Por que você não contou a ela que beijou o Barry? - indagou com uma falsa inocência.

—Cala a boca e entra no carro. - Caitlin ordenou ficando vermelha. Emma obedeceu, mas desta vez não conseguiu segurar o riso ao perceber que sim, eles haviam se beijado. - Como você percebeu?

—Você não é tão discreta assim, e também é bem fácil de ler. - disse, Caitlin saiu da vaga acelerando pela rua. Emma se segurou contra o banco um tanto nervosa com a velocidade que ela estava seguindo. - Caitlin, sei que esta nervosa, mas eu não quero morrer hoje.

—Eu apenas não entendo porque a gente se beijou. Nem temos esses tipos de sentimento um pelo outro. Somos amigos. - Caitlin falava com um certo fervor. - E ainda tem Iris. Ela ama ele.

—Não tanto assim agora. - murmurou, mas Caitlin ignorou e continuou seu monólogo.

—Eles tem que ficar juntos, esta escrito. Sei que não devo me intrometer nisso, porque não é assunto meu, mas eu não posso deixar de pensar que talvez isso seja um sinal mostrando que merda, eu podia ter ficado com ele quando eu queria, mas fui burra demais para perceber.

—Diminui a velocidade por favor. - pediu olhando assustada para a estrada movimentada

—Eu sou uma boba, não sou? Pensar que ele pudesse gostar de mim mesma o sabendo que ele ama outra. Às vezes eu me impressiono vontade a minha vontade de ser enganada. - Caitlin resmungou. Emma desviou o olhar para a mãe que parecia tão absorva em seus pensamentos que nem notou o sinal amarelo.

—Cuidado! - gritou, mas já era tarde demais.

[...]

—Eu não gosto de agulhas. - disse sem olhar para a enfermeira que costurava o machucado de quase dois centímetros em sua perna.

—Não se preocupe, logo isso se cicatriza e você nem se lembra da dor. - ela falou com ternura. Emma respirou fundo e se virou para Caitlin a sua frente. A doutora tinha uma expressão culpada em seu rosto, apertava o casaco com força entre as mãos e seus olhos pareciam prestes a transbordar com as lágrimas.

—A culpa não é sua. - assegurou.

—Eu devia ter prestando atenção no caminho e não ter começado meu monólogo. - ela disse limpando as lágrimas.

Emma riu.

—Caitlin, me diga como você poderia ter me impedido de cair em cima da garrafa? Como você poderia prever que o cara havia deixado o vidro quebrado junto ali, em? Você não podia, nunca poderia. - falou estendendo a mão pedindo ajuda para descer da maca. - Você desviou do carro e de um quase acidente, isto aqui. - apontou para a gaze sobre a pele. - Foi apenas um incidente comum.

—Mas eu tenho que cuidar de você, não te manter em problemas. - Caitlin a abraçou com força, Emma sorriu sentindo o coração de sua mãe bater acelerado.

—Você está fazendo um ótimo trabalho, apenas se esforce um pouco mais e não me deixe a beira de um ataque de nervos de novo.

—Acredite, não vai haver uma próxima vez como essa. - a doutora assegurou.

Elas saíram do hospital direto para o laboratório, Emma achou impressionante a velocidade como a notícia do seu acidente se espalhou, pois Joe apareceu logo em seguida e pela terceira vez ela teve que contar como havia escapado da morte para se cortar em um pedaço de garrafa jogado no meio da rua. Emma poderia dizer que apenas um azar momentâneo, mas sabia que aquele tipo de azar a perseguia desde de criança.

Quando Caitlin jogou o carro contra o acostamento, Emma pulou desorientada, sua cabeça girava por causa do susto assim como seu estômago, ela saiu do carro porque estava prestes a vomitar, então se jogou no chão, na hora que fez isso sentiu a ardência em sua perna. A parte do vômito foi esquecida pelo sangue que jorrava no chão.

Três pontos e vinte minutos depois, ela já estava novinha em folha, literalmente, já que o machucado havia cicatrizado. Se perguntou quanto tempo levaria até Caitlin perceber que ela não era tão normal assim.

Olhou para a perna, mais exatamente onde os pontos deveriam estar, porém a única coisa que havia sobrado era um pequeno rastro em um tom de pele mais claro. Bufou irritada.

—Quem é você?

Emma levantou a cabeça e encarou Harry parado na porta. Franziu a testa com a pergunta.

—Sou eu, Harry. Emma.

—Quem é você e o que faz aqui? - ele insistiu.

—Do que você está falando?

Harry porém não respondeu, na verdade ele ergueu o que deveria ser uma arma e atirou contra ela, Emma foi rápida o suficiente para pegar a bala a poucos centímetros de seu rosto.

—Droga, que merda foi essa?! - se levantou irritada jogando a bala no chão.

—Agora que provei meu ponto, quem é você?

Emma umedeceu os lábios incerta daquilo.

—Sabe, existem formas mais fáceis de provar um ponto, tipo jogar uma caneta ou uma bola, não uma bala. - resmungou tentando mudar o foco de tudo.

—Sei que é uma velocista, sei que sabe de mais coisas do que diz saber, está enganado a todos aqui.

—Não estou enganado. - disse tentando se defender. - Apenas não posso falar a todos quem sou. Não quero alterar nada.

—Você quer dizer a linha temporal? - assentiu, Harry a analisou cuidadosamente. - Você é filha do Barry. - Emma arregalou levemente os olhos diante da afirmação, nunca mais duvidaria da inteligência de Harry. - Porque vocês, Allen’s, tem a mania de voltar no tempo. Não conseguem ficar parados no mesmo lugar.

—Tio Cisco disse a mesma coisa. - resmungou.

—Cisco sabe e isso não me surpreende. - Harry murmurou irritado. - Agora explique como diabos veio parar aqui.

—É uma história bem complicada e um pouco longa. - disse. - Mas eu posso contá-la se prometer que não contará a ninguém sobre mim, papai não pode saber quem sou.

—Claro que não, Barry é tão instável…

—...Quanto um enxame de abelhas durante uma tempestade. - completou fazendo Harry arquear as sobrancelhas. - Você fala isso com mais frequência do que pode imaginar.

Harry, pela primeira vez que ela havia chegado, riu. Emma se impressionou com aquele gesto tão simples.

—Time Flash reunir, agora! - a voz de Cisco soou pelos auto falantes, Emma olhou para Harry que indicou com a cabeça o caminho até o córtex. Ela o seguiu sem pestanejar.

[...]

Emma piscou atordoada enquanto, sentada no final da sala com as pernas cruzadas para Caitlin não ver que seu machucado havia curado, ouvia o relato detalhado de Barry sobre o ataque ao banco de Star City. Tentou não parecer tão irritada quando ele falou sobre as figuras gregas que atacaram os policiais e levaram as barras de ouro, não dinheiro, apenas ouro. Emma sabia exatamente o que eles iriam fazer.

—Por que exatamente tenho que ir com vocês? - indagou a Cisco, este que terminava de colocar as últimas peças na mala.

—Caitlin não quer te deixar sozinha e você deveria ficar feliz em passar um tempo com seu pai.

—Eu até ficaria se os Argonautas não estivessem aqui. - resmungou chutando um parafuso com a ponta do sapato.

—Argonautas? - se virou encarando Harry que havia acabado de entrar na sala. - Então essas pessoas são Argonautas. Bom saber.

—Oh, não devia ter falado isso. - murmurou se irritando.

—Podemos saber o que estão fazendo aqui? Eles são do seu tempo? - Harry indagou atraindo um olhar surpreso de Cisco. - Emma, assim como Barry, não consegue guardar um segredo por muito tempo.

—Hey! Foi você que me pressionou. - se defendeu, embora soubesse muito bem que acabaria dando com a língua nos dentes.

—Ok, mas o que esses Argonautas querem? - Cisco indagou.

—Você não lembra das lendas gregas? Os Argonautas procuram o velocino de ouro.

—Atamas, rei da cidade de Orcomeno na Beócia, teve como primeira esposa a deusa das nuvens Nefele, com quem teve dois filhos, o menino Frixo e a menina Hele. Mais tarde, ele se apaixonou e casou-se com Ino, a filha de Cadmos. Ino tinha ciúmes de seus enteados e planejou matá-los. Nefele, em espírito, enviou às crianças um carneiro alado cuja lã era feita de ouro. Com esse carneiro, as crianças poderiam escapar por sobre o mar. Entretanto, Hele caiu e se afogou no estreito que passou a carregar seu nome, o Helesponto. O carneiro pôde levar Frixo a salvo para a Cólquida, no extremo oeste do Mar Euxino. Frixo sacrificou então o carneiro e pendurou seu velo numa árvore guardada por um dragão, em um bosque consagrado a Ares. O velo permaneceu ali até que Jasão o buscasse, em companhia dos argonautas. - Harry contou.

—Ok, mas o que esses Argonautas querem? - Cisco indagou novamente fazendo Harry bufar irritado, era como se os últimos minutos tivessem sido em vão.

Emma respirou fundo e início a história que havia ouvido desde de criança. A história como os Argonautas quase dominaram a terra.

[...]

Emma entrou na sala analisando tudo ao seu redor. Aquele lugar era como sua segunda casa, sua mãe chegava a brincar dizendo que ela passava mais tempo com os Queen’s do que com sua própria família. Emma não duvidava disso, adorava passar horas com Tommy, Ally e Robbie, eles conversavam sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada.

Tommy e Allison tinha quase a mesma idade, três meses de diferença apenas, quando Ally chegou, depois de ser adotada por Oliver e Felicity, Thomas tinha apenas seis meses, Ally, três.

Avistou Will jogando algum vídeo-game antiquado, se aproximou dele e observou os gráficos do desenho. Torceu o nariz.

—Você não vai conseguir passar se continuar atirando no mesmo cara, tem que acertar primeiro aquele de verde depois o de amarelo. - falou.

—E como você sabe disso?

—Lógica. - deu de ombros e se sentou ao lado dele, Will fez o que ela falou e rapidamente conseguiu passar pelos guerreiros.

Will se virou para ela com um sorriso de agradecimento e então estendeu a mão.

—Obrigada…?

—Emma. - disse rapidamente enquanto apertava a mão dele. - Ou apenas Em.

—Você é filha de algum amigo do meu pai?

—Na verdade estou mais para conhecida de um amigo do seu pai.

—Por falar nisso, você sabe onde ele está? - Will indagou.

—Saíram para uma “reunião”. - disse fazendo aspas com os dedos. Will assentiu e lhe entregou o segundo controle, eles reiniciaram o jogo.