Uma vez, quando eu era pequena, talvez quatro anos ou menos, minha mãe me levou para passear. Era um dia quente de verão e ela parecia ser a pessoa mais feliz do mundo ali, segurando-me nos braços enquanto me enchia de beijos. Eu estava feliz. Nós sentamos na grama do parque e minha mãe se perdeu em pensamentos enquanto eu apenas olhava algumas outras crianças brincarem perto do lago. E foi aí que uma ideia passou pela minha cabecinha ingênua de criança e eu perguntei para minha mãe se podia brincar mais perto da lagoa.

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— Tudo bem. - ela disse beijando o topo da minha cabeça. - Só não fique muito perto da borda, você pode cair. - e então, com um sorriso estampado no rosto e um maior ainda no coração eu corri em disparada até as outras crianças. Mas assim que cheguei lá e pedi para brincar , elas me olharam e estranho e começaram a rir de mim. E nunca soube o porquê, se era pelas minha roupas simples ou os meus olhos cinzas que de fato eu odiei - e odeio - durante minha vida inteira.

E eu quis chorar, muito, e sem ao menos pensar eu corri. Só que eu tinha corrido pro lado errado e acabei escorregando e caindo dentro do lago. Enquanto afundava, a única coisa que passava pela minha mente era o sorriso da minha mãe. Seus cabelos castanhos escuros e encaracolados que ficavam lindo em contraste com seus olhos azuis claros. Era a lembrança do calor que eu sentia toda santa vez que ela me abraçava ou até mesmo seus lábios em minha testa e suas mãos acariciando meus cabelos enquanto cantarolava uma música qualquer.

Foi então que um sentimento de desespero tomou conta do meu corpo. Eu queria dizer que minha mãe estava me esperando, que eu queria ver aquele sorriso de novo e de novo e de novo e quantas vezes forem preciso. Eu comecei a me debater e tentar nadar, mas meus braços fininhos não conseguiam colocar o peso de meu corpo pra cima. Foi então que eu senti duas mãos me agarrarem e me erguerem e o ar entrando de volta em meus pulmões. E então eu vi, aquele sorriso em meios as lágrimas que pareciam não querer para de descer por seu rosto.

Quando acordei, o dia estava nublado, um típico dia cinzento e frio. Eu não sabia o porquê de ter sonhado aquela lembrança, mas só causou um sentimento de desamparo que eu nunca tinha sentido antes. Me levantei da cama e segui em direção ao banheiro tomando uma ducha quente que pareceu colocar meus sentimentos no lugar. Assim que saí, vesti uma calça jeans e uma blusa de moletom branca.

Quando entrei na cozinha, Clarisse estava mexendo alguma coisa numa panela e não viu que eu tinha chegado. Me sentei no banquinho da bancada e me debrucei sobre a mesma.

— Finalmente acordou, pensei que tinha entrado em coma. - ela brincou colocando algo em duas xícaras e me entregando uma, revirei os olhos murmurando um "cala a boca" quase inaudível. - Chocolate quente.

Eu peguei a xícara e levei aos lábios sentindo o líquido quente me aquecer. Clarisse disse que tinha que trabalhar então saiu depois de pegar algumas coisas, não antes de zoar com a minha mais nova condição de noiva de milionário.

Assim que Percy - olha aí a intimidade - me deixou em casa depois de alguns comentários maldosos, eu tive que contar o que tinha acontecido para eu ter furado com ela, e ao invés de receber conselhos e comentários que me ajudasse, eu apenas ouvi uma gargalhada alta e extremamente exagerada de Clarisse que depois de um tempo murmurou um: " Essa história ainda vai me render muitas risada." E depois riu mais. Mas é claro que sim, afinal essa é Clarisse La Rue, o que eu esperaria de diferente?

Por falar em Percy, ele disse que vinha me ver hoje, mas eu não dei muita atenção à isso porque ele provavelmente tem muito trabalho, já que eu não sou mais sua escrava/secretária.

O dia passou extremamente devagar, assisti séries esse tempo inteiro com Hermes em meu colo. Quando deu três horas da tarde, alguém bateu na porta. Com uma careta, eu abri me deparando com eu menos queria ver.

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— Ah, é você. - eu disse soltando um suspiro de insatisfação logo em seguida. Percy abriu um sorriso gigantesco em seguida e levantou um sobrancelha numa careta.

— O quê? - eu murmurei.

— Não vai me convidar para entrar? - ele respondeu sorrindo.

— Ah, claro. Entra aí. - eu disse abrindo espaço para ele entrar. Fechei a porta suspirando e me sentando no sofá acariciando Hermes em seguida. Percy se sentou na poltrona do lado e não disse nada, apenas me encarou. - O que você está fazendo aqui?

— Eu não posso mais ver a minha noiva? - ele disse num tom tão arrgh, que eu tive vontade de joga-lo da janela. Sim, eu tenho um problema enorme com janelas.

— Eu quero te socar tanto, mais tanto, que você nunca mais meteria ninguém nessas suas mentiras e planos que, repetindo, não vão dar certo. - eu não reprimi meus pensamentos. Ele não era mais meu chefe, eu poderia dizer muito bem qualquer coisa que pensasse dele.

— Eu sei disso, você me falou umas trinta vezes no carro enquanto eu te trazia aqui. Mas, se quisermos que isso funcione, teremos que tentar. Por exemplo, eu não sei nada sobre você e você não sabe nada sobre mim, então achei que nós tínhamos que conversar e aprender a estar junto um do outro ou então isso não vai dar certo mesmo.

Por mais que odiasse dizer isso, ele tinha razão. Ele só não sabia que eu sabia quase tudo sobre ele. Qual é, ele era meu chefe, e seu rosto estava estampado em quase todas as revistas do país.

— Tudo bem, o que você quer fazer então? - murmurei vencida.

— Vamos começar do básico, quantos anos você tem? - cara, aí já era demais. Como assim ele não sabia quantos anos eu tinha?

— Vinte e dois. - murmurei de novo.

— Eu tenho... - interrompi-o antes mesmo dele terminar. Aquela era fácil.

— Vinte e cinco. - disse dessa vez mais alto. Ele arqueou uma sobrancelha descrente e eu apenas dei uma risada baixinha.

— Como você sabe? Não, melhor, o que você sabe tanto sobre mim? - ele disse dando um sorriso de lado em seguida e encostando a cabeça na poltrona.

— Qual é, você é meu chefe, eu sei muita coisa sobre você.

— Por exemplo...

— Que seu aniversário é dia 18 de agosto, que você tem um irmão mais novo ou que sua cor favorita é azul. - eu disse sem olha-lo no rosto, por mais descontraída que a conversa fosse, aquilo me dava vergonha e meu rosto estava, provavelmente vermelho.

— Tudo bem, já entendi, você sabe muita coisa sobre mim. Mas isso não muda o fato de eu não saber nada sobre você. Qual a sua cor favorita? - dessa vez eu me atrevi a olha-lo. Percy tinha cabelos pretos extremamente bagunçados, olhos verdes e uma barba rala que apenas o deixava ainda mais lindo. Cacete. Eu não conseguia processar a informação de que alguém podia ser tão lindo quanto aquele babaca podia ser.

— Annabeth? - eu desviei minha atenção do seu rosto e tentei focar na pergunta.

— Eu não tenho uma cor favorita. Sei lá, depende muito do dia e do meu humor. Hoje, por incrível que pareça, é cinza. Ontem foi marrom, e quem sabe qual vai ser a de amanhã? - eu ri assim que terminei de falar. Sempre achei estranho essa minha mania de escolher cor. Eu olhei para Percy e ele parecia muito concentrado em me analisar. Me mexi desconfortável e percebi que ele tinha se tocado.

— Só isso? - ele perguntou. Dei de ombros. - Quais são as suas paixões, o que te motiva a seguir em frente e se levantar todas as manhãs? - fechei os olhos e apenas senti aquele desamparo de manhã me atingir com toda força. Eu sabia a reposta para aquilo, só não sabia se contava. O que me motivava era a minha paixão por arquitetura e o que me fazia levantar todas as manhãs e encarar esse mundo cruel, era o seu sorriso. O sorriso da minha mãe. Era a lembrança dela que eu guardava com a mais inabalável força.

— A minha paixão é arquitetura. Não sei se você sabe, mas um dos motivos para eu ter aceitado sua proposta é porque vou conseguir realizar o meu sonho. - o sonho dela, pensei. - Então, de qualquer forma, muito obrigada.

Depois disso, conversamos por mais algum tempo até ele dizer que tinha que ir embora.

— Não se esqueça, te pego amanhã as oito, ok? - eu assenti. Ele disse que tinha uma festa de gala no dia seguinte e que era para eu estar junto, já que Zeus iria estar lá e blá blá blá. Eu apenas confirmei sem a miníma vontade de retrucar. Abri a porta e ele saiu parando alguns segundos depois de pisar no corredor quase em frente ao elevador. Ele voltou dando um sorriso maroto e bagunçando ainda mais os cabelos com as mãos.

— Eu quase ia me esquecendo. - disse colocando a mão no bolso e tirando de lá uma caixinha. - Seria muito estranho você ser noiva sem um anel. Espero que goste porque deu o maior trabalho achar um que fosse te agradar.

Eu abri a caixinha de veludo sentindo meu coração acelerar de uma maneira ridiculamente estúpida. Assim que eu vi o tanto de pedrinha brilhantes que tinha naquele anel, meu coração parou. Simplesmente parou. Eu era uma pessoa fácil de agradar. Bastava um abraço apertado ou um cafuné e eu já estava feliz. Nunca precisei de muito. E aquela anel era muito, muito, muito e muito. Até demais.

— Desculpe Percy, mas eu não posso aceitar. Não posso aceitar um anel tão caro e lindo assim em prol de uma mentira deslavada, desculpe, mas não. - antes mesmo que eu pudesse devolver a caixinha, Percy já estava longe.

— Não tem devolução moça. Ele agora é seu, sem desculpas. - disse acenando e entrando no elevador que fechou alguns segundos depois.

Tirei o anel da caixinha e coloquei no meu dedo. Suspirei encarando o anel e fechando a porta. Quando desviei minha atenção do anel e foquei em algo em cima da mesa que eu não tinha percebido antes, meu coração pareceu não seguir batidas compassadas. Era eu de costas abraçada por Percy. Era nossa foto estampada numa das revistas mais importantes e famosas do país. Peguei a revista sentindo uma raiva crescer dentro do meu peito. Esse acordo está criando mais problemas do que imaginava. Suspirei me jogando no sofá e voltando a encarar o anel em meu dedo. Aquilo estava errado, assim como a minha vida. Tão errados quanto dois mais dois é igual a cinco.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.