Triplex

Nem tudo que reluz é ouro?


Victoria puxou Nana de volta ao primeiro andar para que NichKhun continuasse a não notar a presença delas no triplex.


— Você conseguiu escutar mais alguma coisa? — disse Nana.
— Acho que nem é preciso. Ele disse três coisas muito preocupantes, “as duas não podem saber de nada... ”, “ vai ser uma surpresa e tanto” e “ela”, não sei de você, mas já é motivo suficiente pra eu surtar.
— Vic, você ainda surta de ciúmes por minha causa, não está exagerando um pouco não?
— Com você eu já estou me acostumando... E até parece que a sua reação não foi a mesma que a minha.
— Está bem, eu pensei que ele pudesse estar arrumando outra mulher, mas também podia ser qualquer outra coisa, não? — Nana respondeu ainda com um tom de insegurança na voz, era a Nana de vinte anos falando.
— Poder, podia, mas em se tratando do NichKhun...
— Bom, não adianta ficar especulando agora, se for outra mulher, temos que descobrir quem é e decidir o que fazer.
— Pois é, esse enorme apartamento já é pequeno demais pra duas, três é inconcebível...
— E nós sabemos que o seu interesse não é no triplex não é? — Nana disse, rindo.
— Claro que não. — Victoria riu também.
— Mas então, o que pretende fazer, outra greve?
— De jeito nenhum! Pelo contrário, não quero dar motivo algum para ele querer mais uma...
— Vai liberar então? — Nana disse rindo, erguendo as sobrancelhas, surpresa.
— Arsh não fala assim, está parecendo o G.O... Falando nele, será que ele está bem depois do que houve ontem?
— Preocupada?
— Não se empolga, minha preocupação é normal, foi uma pancada forte, e ele ficou uns bons minutos apagado, fora aquele corte horroroso no supercílio.
— O doutor falou que ele ia ficar bem... Mas não sei não, acho que ele estava era com pressa de voltar para o banheiro com a JaeKyung...
— Fala sério? — Victoria disse rindo.
— Sério! Eu e a Krys fomos procurar o doutor e encontramos os dois se agarrando em cima da pia, aliás, você também ensina “lapdance” na agência?
— Como é?!
— Nada, só perguntando. — Nana respondeu.
Victoria riu.
— Está bem. Estamos desviando do assunto, o que vamos fazer agora? Fingimos que não estamos ou aparecemos pra ele?
— Acho melhor sairmos sem ser notadas, porque se aparecermos pra ele do nada, NichKhun vai achar que nós nem sentimos falta dele, porque não corremos para vê-lo. Fora que ele vai ficar sem saber a quem dar a devida atenção... — Nana disse com um leve tom de malícia na voz.
— Você não presta. — Victoria disse, rindo. — Bom, então vamos sair logo de casa.

As duas se arrumaram e saíram de casa, Nana saiu de carro sabe-se lá para onde porque estava de folga e Victoria saiu a pé mesmo só para espairecer. No entanto, quando ela estava saindo, viu entrando pela portaria uma mulher extremamente bonita, pouco mais baixa que ela e parecia chinesa, ela também levava uma maleta de metal razoavelmente grande e usava jóias caras. Nunca tinha visto aquela mulher antes então saiu normalmente para o passeio que pretendia fazer. E como mente vazia é uma oficina para maus pensamentos, lá estava ela no meio da rua pensando besteiras.

“Eu devia ter ficado em casa... Quem era aquela mulher? Eu nunca a vi entrar no prédio antes, e ela estava levando uma maleta... Mas ela podia estar indo para outros apartamentos, claro, havia mais uns dez apartamentos naquele prédio... Victoria, ela era elegante, bonita e chinesa!”

— Eu vou ficar louca desse jeito.
Pegou o celular e ligou para Nana.
— O que foi Vic? Eu acabei de sair de casa... Qual é a crise agora?
— Estou ficando paranóica, preciso de distração.
— O que foi que aconteceu?
— Nada, é só que quando eu estava saindo vi uma mulher estranha entrando no prédio...
— Vic, ela pode ter ido visitar qualquer um...
— Eu sei, mas... Ela era bonita... Muito bonita... E era chinesa...
Nana riu do outro lado da linha.
— Como sabe que ela era chinesa?
— Porque eu sou chinesa!
— Você é chinesa?
— Fala sério Nana.

A modelo estava se divertindo horrores às custas dela.

— Eu estava brincando, é claro que eu sei que você é chinesa. Mas o que tem isso? Você se esqueceu que o NichKhun passou um mês inteiro no Japão? Se ele arrumou outra, ela no mínimo tinha que ser japonesa...
— Verdade... Eu estou surtando à toa não é?
— Sinceramente acho que sim. Por que não vai fazer algo legal? Sei lá, chama a Krys para fazer umas compras...
— Você esquece que eu sou uma mera coreógrafa, não é? Fiz compras há duas semanas, não dá para ficar gastando ao bel-prazer. E eu saí de casa sem carro... Quando eu levava uma vida normal eu costumava fazer isso. — Victoria disse rindo. — O que está fazendo?
— Estou num salão de beleza, depois vou fazer compras... Podemos almoçar juntas mais tarde no shopping mesmo.
— Tudo bem.

E as duas desligaram. Victoria continuou andando meio sem rumo por mais de uma hora, o clima estava ameno, então ela nem se cansou nem reparou no quanto tinha avançado, quando deu por si estava no centro da cidade. Passou por algumas lojas de acessórios de grife e avistou alguém conhecido desviando do caminho dela, ela correu atrás e o alcançou.

—Jung ByunHee? Você fugindo de mim?
— Não estou fugindo, só evitando te incomodar. — ele disse com sarcasmo, ele aparentemente estava citando algo que a própria Victoria já tinha dito.
— E a que se deve essa mudança de comportamento?
— Meio óbvio não é? — ele tirou os óculos escuros que estava usando, mostrou um curativo e um hematoma bem escuro perto do olho direito. — Você não permitiria que isso acontecesse antes...
— E você não era assim antes... Está tudo bem? Você me assustou, ficou muito tempo desmaiado...
— Pra ser sincero, eu fingi boa parte do tempo, estava com vergonha, e além do mais aproveitei pra ficar no seu colo...
Victoria riu, deu um tapa de leve no ombro dele em sinal de desaprovo, e eles continuaram andando pela calçada.
— Você mudou muito... — disse ele.
— E você mudou para pior.
— Depende do ponto de vista, por outra perspectiva eu posso ter mudado para melhor, agora eu sou mais velho, mais experiente...
Victoria riu.
— Somos dois então.
— Ah é? Me mostra! — ele disse com malícia, mas brincando, pela primeira vez desde que tinha voltado ao país.
— Isso agora é exclusivo...
— Sério mesmo? Quer dizer, ele tem outra... Eu jamais imaginei você numa situação dessas...
— Idem. — Victoria disse com um pouco de rispidez na voz. — Você está se prestando a cada papel ultimamente.
— É, não precisa lembrar, tem uma dor horrorosa martelando minha cabeça desde ontem. — ele disse esfregando o cabelo escuro.
— Você está bem?
— Vou ficar, mas e você?

Ele parecia bem sincero à Victoria e isso a deixou meio confusa, sem saber ao certo o que dizer.

— Eu... Eu estou muito bem... Quero dizer, eu estou bem...
— Pouco convincente, tem algo te perturbando e dessa vez não sou eu. Eu ainda te conheço bem, você não mudou tanto.
— Você tem razão... Mas o meu problema é paranóia mesmo...
— Sobre o quê?
— Claro que eu não vou te dizer, você me acha burra a esse ponto?
— Não é burra, é esquecida. Sua amiga tem fotos minhas de tanguinha, não tenho com o que jogara meu favor.
— Sei... — Victoria respondeu com ironia. — Mas você pode muito bem piorar as coisas e me deixar ainda mais paranóica.
— Só vai saber se me contar. Quer tomar um café?

Victoria ficou meio desconfiada, mas aceitou o convite, os dois se sentaram à mesa perto da vitrine da cafeteria, onde se podia ver a movimentação da rua. A conversa só reiniciou depois de serem servidos e por iniciativa de Victoria.

— Então, isso é um tratado de paz?
— Tratado de paz? Claro que não. — G.O riu. — Você está fugindo do assunto...
— Não pretendo te dizer nada, não confio em você, ainda mais agora que você disse que não pretende me deixar em paz. Por que essa fixação comigo?
— Nós temos um caso mal resolvido...
— Mal resolvido só se for para você, porque eu estou muito bem resolvida quanto a nós dois, aliás, “nós dois” já não existe há anos.
— Se não existisse nada você não ficaria tão irritada quando me vê...
— Você me provoca! — Victoria disse, meio pasma.
— Hum, sério? — ele disse com malícia.
— Ai não seu degenerado! O que eu quis dizer foi que você só faz coisa errada.
— Eu pisei tanto na bola assim?
— Você está brincando não é? Desde que voltou só me trás problemas, e às pessoas de quem eu gosto.
— Fora isso...
— Você quer que eu faça uma lista ou o quê?
— Uma lista seria ótimo. — Victoria estava brincando quanto à lista, mas G.O levou à sério.
— Você não compreende o que fez não é? Vamos ver, há quatro anos você era um cara legal, me ajudou com a adaptação quando eu vim para a Coréia, nós ficamos amigos...
— Até aí tudo bem?
Victoria fez que sim, mas seu semblante mudou.
— Até você resolver ser mais que um amigo, se aproveitar da minha fragilidade, me seduzir, me usar e sumir do mapa.
— Você sempre soube que eu tinha esses planos , eu nunca te escondi isso...
— Verdade, mas eu nunca achei que você fosse ser tão cafajeste comigo...
— Victoria, eu fui embora sozinho, eu nunca te traí... Eu não te usei... Não foi para tanto...
— Não foi para tanto?! — a voz de Victoria subiu e várias pessoas no lugar os olharam, ela baixou a voz para continuar falando. —ByungHee eu era virgem! Você me seduziu por um dia e foi embora deixando um bilhetinho ridículo! Admite que foi isso que você sempre quis fazer!
— Você está falando por si mesma, essa não tinha sido essa a minha intenção.
— Mesmo? E você quer que eu acredite nessa bobagem?
— Mas foi sério, eu recebi a proposta de fazer carreira internacional e foi muito empolgante para mim, por outro lado, eu tinha você. Tive que tomar uma decisão muito chata, da qual dependia um sonho meu. E eu escolhi ir atrás do meu sonho.
— Você achou que seu talento era maior que tudo e pisou nas pessoas que gostavam de você... Deve ter valido muito a pena, não? — ela disse com ironia.

G.O assentiu e virou o rosto, Victoria estava incomodada por não poder olhá-lo nos olhos, porque ele estava de óculos, cobrindo o hematoma e o corte no supercílio.

— Você sabe que não, sejamos realistas.
— Que bom que você não vive só de ilusões, já é um passo para você me tirar da cabeça.
— Não quero e nem vou fazer isso.
— E lá vamos nós outra vez... Você é tão teimoso...
G.O riu.
— Muito, sempre que vale correr o risco.
— Se o que você quer é andar com um par de olhos roxos por aí.
— Mas vou mudar de estratégia...
Victoria riu.
— Vai mudar o quê? — disse com sarcasmo. — Vai fazer aulas de Tae Kwon Do?
— Vai rindo, pode rir. Falando nisso, quem era aquele cara?
— Meu ex... Lee Minwoo.
— Mais um...
— Corrigindo, menos um.
— Parece que ele não tem as coisas bem resolvidas na cabeça dele... Como vai reagir quando souber do seu namoradinho?
— Você já vai começar? Ele não tem que saber de nada, e você não vai dizer nada. Além do mais, ele não me persegue como você faz, só te bateu porque você estava quase batendo na Nana pra tirar o celular dela, e porque ele sabe o que o cafajeste que você é...
— Todo homem tem um lado cafajeste, acontece que o meu são os dois lados, o de dentro e o de fora. — G.O disse rindo.
Victoria também riu.
— Não tem que ser assim sabia? Você não foi sempre assim.
— Mas me ajuda com as garotas.
— Menos com a que você quer... Mas sabe de uma coisa, eu não tenho mais raiva de você, tenho pena...
— Pena? Por quê?
— Você está sozinho, tendo que recorrer ao mais baixo nível e não ao seu talento para chamar atenção e voltar à mídia. E está sem amigos.

G.O não respondeu, só esfregou os olhos por baixo dos óculos escuros.

— Você ainda faz isso... — Victoria disse, sentindo um pouco de remorso por ter sido tão franca.
— Isso o que?
— Você fazia isso antes, esse tique de esfregar os olhos quando está prestes a chorar...
— Chorar? Você está ficando meio louca... — ele virou o rosto para a vitrine, para olhar a rua movimentada de gente que entrava e saia do shopping. — Nós falávamos de amigos, quem é a amiga do seu namoradinho ali do outro lado da rua?
— Como é? — Victoria olhou imediatamente para ver o que ele estava mostrando, era NichKhun entrando no shopping com a mesma mulher que ela tinha visto mais cedo na recepção do prédio. — Deve ser alguém da agência... — ela completou rangendo os dentes para não demonstrar suas suspeitas na frente de G.O.
— Então deve ser ele quem escolhe as pessoas com quem vai trabalhar, não há como ter tanta sorte assim sozinho. Muito gata... E, além disso, ela segue o padrão dele...
— Padrão?
— É, veja bem, ela é esbelta, elegante... E se não estou errado, é chinesa...

“Por que ele tinha que dizer isso? Aliás, que é que NichKhun está fazendo com essa...Chinesa? Victória, que diferença isso faz? Pode nem ser uma preferência, a Nana não é chinesa... Mas isso então quer dizer que ele gosta é de qualquer tipo de garota... Que besteira! Vou ficar louca desse jeito” pensou ela.

Victoria saiu da mesa de repente, G.O deixou umas notas em cima da mesa e saiu atrás dela.

— O que vai fazer? — disse ele, rindo.
— Nada... Preciso falar com a Nana. — ela disse procurando o celular, que estava no bolso da calça jeans, mas ela não encontrava porque estava nervosa.
G.O enfiou a mão no bolso traseiro da calça dela para pegar o celular, e claro, se aproveitou.
— Está aqui. — disse ele.
— Ei! Não abusa da sorte! — ela disse dando uns tapas nele. — Obrigada.
Ela disse arrancou o aparelho das mãos de G.O e discando desastrosamente.
— Que foi agora? — disse Nana do outro lado da linha, podia-se ouvir porque Victoria acionou acidentalmente o recurso de alto falante.
— Acabei de ver o NichKhun entrar no shopping com aquela mulher...
— Fala sério?
— Eu pareço estar brincando?
— Até porque você não tem mais idade pra isso. — ela disse rindo.
— Espera só eu te encontrar, vou te mostrar quem é velha! Eu estou falando sério, é a mesma mulher, e como é bonita a criatura!
— Mais que eu? — Nana disse ainda brincando.
— Tanto quanto. — G.O falou alto perto do telefone.
— G.O está com você?Ah já sei, está aprontando de novo...
— Está se preocupando com o cara errado gatinha...
— Nana vem pro shopping agora! Me encontra aqui em dez minutos.
— Chego aí daqui a pouco, vê se não dá escândalo!

Victoria desligou o aparelho e atravessou a rua correndo, com G.O a tira-colo, ela entrou no shopping procurando a tal mulher e NichKhun e os encontrou rodando o primeiro andar do edifício. Ela tomava o maior cuidado para não ser vista, porque queria ver o que estavam fazendo, mas com a maior naturalidade possível.

— O que está fazendo? — G.O disse sussurrando no ouvido de Victoria, que também se ocultava atrás de uma pilastra perto dela.
— Não interessa, aliás, por que ainda não foi embora?
— Vou ficar aqui, caso precise de braços, pernas, peitorais e ombros amigos pra chorar caso precise... — ele respondeu com malícia.
— Ai credo! Nem sei por que disse isso, só vim ver o que eles vieram fazer... Não tem nada demais nisso.
— Ah, claro, e NichKhun veio comprar a batina pra ir pro mosteiro...

Victoria tentou ignorar o sarcasmo no comentário, mas era impossível, também não tinha tempo de tentar expulsar G.O de seus planos, até porque não funcionaria. Nana chegou antes do esperado, e também não demorou a encontrá-los.

— Pronto Vic, aqui estou. Ah! Oi traste — ela disse à G.O, que só a cumprimentou com a cabeça. — O que ele ainda faz aqui?
— Não vai sair do meu pé tão cedo...
— Calma meninas, tem Jung ByungHee para as duas, depois que NichKhun quebrar esses coraçãozinhos...
— Ergh dispenso...
— Está desprezando algo que não conhece...
— Eu e Victoria temos o mesmo gosto, se ela não te quer mais, não sou eu quem vai querer... E então, cadê a biscate?
— Eles estão subindo para o segundo andar...
— Estão fazendo compras?
— Não... Não compraram nada...
— Então é bom sinal...
— O que quer dizer com isso?
— Homens compram presentes para as amantes.

Os três subiram logo depois do suposto casal e os encontraram entrando numa joalheria muito luxuosa.

— Você dizia sobre os presentes... — Victoria disse, rangendo os dentes e encostando numa pilastra.
— Está bem, isso sim são más noticias. Eu nunca recebi nenhum tipo de joia do NichKhun... O mais perto de um presente que ele me deu foi um urso de pelúcia... — Nana disse com um incomum desânimo na voz.
— Ah! Que ótimo, eu ganhei um vestido de festa, se é que isso conta...
— Isso é porque vocês são namoradas dele...
— O que quer dizer com isso? — Victoria perguntou à G.O.
— Coisas fofas, flores e vestidos são pras namoradas... Joias são para amantes, pra ficaram caladas...
— Ele nunca ajuda não é? — Nana disse.
— Dessa vez estou sendo um bom amigo... Ele ao menos disse pra vocês que voltou à cidade?
Victoria e Nana se entreolharam super apáticas.
— Sabia! Bem típico... Vou lá ver o que eles estão fazendo... — G.O disse já se andando em direção à joalheria.
— Jung ByungHee volta aqui!

Victoria disse aos sussurros por que não podia chamar a atenção, mas obviamente foi inútil, quando deu por si ele já estava lá dentro, posando de comprador. De longe as duas garotas puderam notar que NichKhun viu que era G.O entrando, porque viram ele acompanhando-o com os olhos, com uma expressão nada satisfeita. Victoria não pode deixar rir da reação dele, adorava quando ele dava uma de ciumento.

— Ele fica uma graça assim meio bravo... — Victoria comentou com pouco entusiasmo, como se estivsse em algum transe.
— Está rindo de quê Victoria? Tudo indica que nós temos mesmo uma concorrente... À altura, porque tinha que ser tão bonita essa mulher?! O que ela tem que nós não temos?
— Diamantes... — disse G.O, já de volta. — Ele encomendou uns diamantes...
— Diamantes?! — as duas disseram juntas.
— Droga... — disse Nana muito desanimada.
— Arsh olha praqueles dois, todos cheios de sorrisos...
— Bom, agora sabemos que eu não sou o único que não presta aqui...

Victoria olhou para G.O com raiva, pegou a bolsa e saiu andando, pisando forte, para ir embora. Nana foi logo atrás, mas não tinha intenção de alcançá-los, só de sair de lá.

— Vic, espera, eu te levo pra onde você quiser ir...
— ByungHee me solta! Não estou pra brincadeiras agora... Só quero ir para casa.
— E você vai como, à pé?
— Eu vim à pé, posso muito bem, voltar...
— Achei que você quisesse ir para a sua casa, não a dele.

Victoria ficou confusa, porque não tinha nem cogitado a possibilidade de ir para seu próprio apartamento, o que era muito estranho, uma vez que ela não queria ver NichKhun com aquela mulher de novo, e eles já tinham estado lá, fazendo sabe-se lá o que.

— Vou pegar minhas coisas... — ela deu a melhor desculpa que tinha. — Me deixa em paz!
— Victoria, vamos embora! — Nana gritou parando o carro na porta do shopping.

Ela entrou no carro e Nana desceu o pé no acelerador, saíram cantando pneu pela avenida e G.O ficou para trás com uma expressão mais do que satisfeita no rosto. Quando deram por si já estavam dentro do triplex, Victoria caiu prostrada no sofá da sala de estar do primeiro andar, Nana andando de um lado para o outro, pensando.

— O que viemos fazer aqui afinal? — disse Victoria. — Me sinto pior...
— Tínhamos que vir pra cá... Ou você confia em tudo que G.O disse?
— Claro que não, mas ele não disse nada demais...
— Você desiste fácil... Ele disse que ia deixar umas coisas num dos quartos, quero saber o que é.
Victoria se levantou num pulo.
— Verdade, vamos procurar, só vai dar para ter certeza se descobrirmos o que tem no quarto.
— Vamos!

Victoria procurou no primeiro andar, e os quartos estavam como sempre, nada diferente. Nana checou os do segundo piso, e nada também, então as duas subiram ao terceiro andar, que era o único que restava para investigar e o único que tinha um dos quartos trancado.

— Esse aqui está trancado Vic! — Nana gritou para Victoria no fim do corredor.
Ela correu e forçou a maçaneta da porta, como se fosse conseguir abria à força, Nana lhe lançou um olhar de impaciência.
— Eu disse que está trancada, e ele com certeza deve ter levado a chave com ele.
— Dã! Essas portas sempre têm a mesma chave, busca alguma outra em outro quarto com fechadura igual.
Nana saiu em direção a outro quarto, enquanto Victoria se abaixou para olhar pela fechadura.
— Lá está, a mala da biscate está em cima da cama. Que droga!
— Faça sério? — Nana disse correndo feito louca pelo corredor com uma chave na mão.
Nana forçou a chave na abertura e a porta abriu fácil.
— Arsh, ele achou mesmo que nós nunca íamos abrir a porta do quarto? — Nana perguntou meio indignada.
— Acho que ele não tem a intenção de esconder essa mulher por muito tempo não é? E ela ainda vai ficar no quarto mais perto do dele... — Victoria disse mexendo na mala metálica que a moça carregava quando veio ao apartamento. — Como faz pra abrir essa coisa?!
— Eu posso ser muitas coisas, mas ainda não aprendi a arrombar...
— Geralmente você está na posição contraria não é? — Victoria disse com sarcasmo.
— Há há. Não vamos conseguir abrir isso, só sacode pra ver se são roupas.
— Está bem, isso não sei dizer se isso é roupa... Mas que mulher leva só uma mala mixuruca dessas... — disse Victoria. — Vai ver ela nem está de mudança...
— Vai ver ela vai vestir só as jóias, isso é que é perigo. Imagina aquela criatura só de colares e brincos de diamantes. — Nana disse com sarcasmo. — Deixa isso aí que eu vou trancar o quarto de novo.
— Eu vou embora daqui...
— Pois eu pretendo ficar, eu não vou deixar isso barato.

Nana e Victoria passaram o resto do dia sentadas no sofá da sala, esperando a porta do elevador se abrir, o que não aconteceu. As duas adormeceram no sofá mesmo, e só acordaram às quatro da madrugada, pelo incômodo de dividirem um espaço tão estreito.

— Você viu se ele chegou? — disse Nana se espreguiçando.
Victoria se levantou, foi até o bar e trouxe uma garrafa de vodka com ela, virando o conteúdo garganta abaixo.
— O cachorro não veio dormir em casa... Aposto que ele está bem acordado...
— Dá isso aqui. — Nana tomou a garrafa das mãos de Victória e bebeu da mesma forma. — Que droga! Eu nunca tinha sido enganada...
— Bem vinda ao clube... E eu já devia estar acostumada, o que é mais patético ainda.
— Verdade...
— Não era pra você concordar. — Victoria, disse com a voz meio chorosa, já bêbada, porque tinha virado meia garrafa de vodka em menos de cinco minutos.
— Victoria, você já está bêbada? Quando foi a ultima vez que você comeu?
— Nem lembro...
— Vem cá. — Nana a levantou do sofá puxando pelo braço feito com uma criança travessa. — Você vai entrar em coma alcoólico desse jeito.

Ela a levou para a cozinha e a obrigou a comer uma maçã enquanto procurava por comida na geladeira.

— Essa é a melhor parte de dar festas em casa, sempre sobra muita comida. — Nana disse olhando para a geladeira completamente abarrotada com comida de festa.

Ela colocou pratos e mais pratos no micro-ondas, tirou travessas de doces e levou Victoria de volta à sala para comerem, beberem — num ritmo mais moderado — e vigiarem a porta do elevador. Passadas mais umas três horas, as duas estavam em completo estado de embriaguês, entupidas de porcarias e quase incapazes de se levantarem, quando o elevador finalmente abriu. As duas se sobressaltaram e viram NichKhun parar à porta, acompanhado da mulher da joalheria, meio surpreso.

— Meninas, o que estão fazendo aqui a essa hora? Não deviam estar trabalhando?
— Desapontado porque não vai mais poder nos esconder essa “zinha” com quem você anda se encontrando? — Victoria disse se levantando do sofá com dificuldade.
— Eu disse que tinha visto umas delas sair do prédio... — a moça disse rindo. — Você sempre foi fail para fazer surpresas.
— “Sempre” foi? Há quanto tempo vocês se conhecem? — disse Nana.
— Ah essa é Wang FeiFei, uma amiga minha...
— Amiga? Sei... Nós vimos a mala dela no quarto... Lá em cima... — Victoria disse com a voz meio enrolada.
— Mala? — NichKhun estava meio confuso. — Vocês duas estão muito confusas, eu disse para não beberem...
— Khun, eu acho que elas acham que nós dois... — Fei disse com voz baixa, rindo da situação.
— Arsh, ela já te chama de “Khun”... E nós não “achamos” não, temos certeza, já vai trazer outra pra cá... Ai! — Nana disse, tropeçando na mesinha enquanto tentava ficar de pé.
— De onde vocês tiraram isso? — NichKhun disse, finalmente entendendo o que as duas estavam pensando.
— Sabemos que você chegou ontem de manhã... Foi com essa mulher comprar jóias... E você não dormiu em casa...
— Tem uma maleta num dos quartos lá em cima!
— Vocês arrombaram o quarto?!
— Dã, claro que não, as fechaduras são todas iguais... Menos a da mala.

NichKhun deu um tapa na própria testa.

— Verdade... Mas, vocês abriram a maleta?!
— Não... Mas eu quero abrir é a cara dessa aí...
— Eu também...

As duas obviamente não falavam sério, mas ainda sim avançaram pra cima de Fei, que só se moveu para o lado deixando as duas atacarem o vácuo e caírem no chão pateticamente.

— Aonde você arruma essas peças raras? Duas ainda por cima?
— Elas é que me acham Fei. Pode ir pra casa descansar, eu dou conta delas, e me desculpe pelo mal entendido. — NichKhun respondeu rindo. — E vocês duas, já aprontaram muito...

NichKhun usou uma força descomunal para levantar as duas nos ombros ao mesmo tempo e as levou para a cobertura. Chegando lá ele empurrou as duas na piscina, e pelo efeito da água fria ficaram meio sóbrias de novo.

— Ei! Está querendo nos matar afogadas? — disse Victoria, tentando afastar os cabelos molhados do rosto.
— Pra ficar com a outra?
— Que outra? Não tem outra! — NichKhun disse rindo, tirando os pés de perto da beirada da piscina, porque Nana estava tentando puxá-lo para dentro.
— Por que fez isso? — Disse Victoria.
— Eu já disse que não tem nada a ver! Agora, se você estiver falando de jogar vocês na piscina... Foi um improviso, já que vocês estragaram minha surpresa...
— Sente-se, explique-se... — as duas disseram juntas.

Ele se sentou na beirada da piscina, com os pés tocando a água.

— Bom, eu ia fazer surpresa chegar com um presente lindo... Mas encontrei vocês nesse estado, do mesmo jeito que estavam quando eu trouxe vocês pra cá da primeira vez. Aí eu lembrei da piscina...
— E o que tem isso? — Victoria disse impaciente.
— Quando eu vi vocês duas brincando feito crianças nessa piscina, foi quando eu soube que tudo que me fazia feliz já estava ao meu alcance.
As duas se desarmaram completamente depois dessas palavras, tanto que nem argumentaram.
— Até que eu não sou tão fail assim pra surpresas... — ele continuou, com um sorriso meigo no rosto. — Mas vocês surpreendem mais, não entendo como não descobriram o que eu estava fazendo desde ontem.
— Eu até imagino... — Nana disse com sarcasmo.
— Isso porque você tem uma mente muito poluída mocinha, mas até que eu estava pensando o mesmo...
— Como é? — as duas gritaram juntas.
— Pensando em fazer com vocês. — ele disse com malicia abaixando-se para dar um selinho na boca de cada uma. — Só com vocês.
— Está bem, já sabemos que você é um tarado. Mas o que é que tem naquela mala, o que tem aquela mulher...?
— Vic ciumenta! Você não sabe o quanto isso me fez falta...
— Para de me enrolar! — ela gritou.
— Está bem, suas chatas. Na mala tem uns desenhos, só isso.
— Desenho de quê?
— Disso aqui Nana. — NichKhun disse, pegando uma caixa aveludada que ele tinha pendurada no cós da calça.
Ele abriu a caixa e lá havia dois colares de ouro, com dois pingentes diferentes, cravados de pequenos diamantes. NichKhun colocou um em Victoria e o outro em Nana, e elas ficaram observando os pingentes, o de Victoria era uma conchinha do mar com uma pérola super delicada no centro, e o de Nana era uma miniatura de roda gigante.
— Gostaram? Foi isso que eu passei a noite fazendo...
— É lindo! — as duas disseram juntas.
— Foi você mesmo que desenhou? — disse Nana.
— Eu e a minha amiga — ele deu ênfase na ultima palavra. — Fei, ela é designer de jóias...
— E porque isso assim aleatoriamente? Andou fazendo coisa errada. — Victoria disse brincando, mas francamente curiosa.
— Francamente, vocês são duas desnaturadas, eu já dei várias pistas...
— Pistas para quê? — as duas disseram juntas de novo.
— Hoje é nosso aniversário de cem dias!
As duas se entreolharam completamente pasmas.
— Eu não acredito que só eu lembrei! — NichKhun disse meio emburrado, virando-se de costas pra elas. — Já vi que não vou ganhar presente...
— Ah vai sim! — disserem as duas, puxando-o para dentro da piscina e enchendo-o de beijos.
— Presente das duas? Juntas? — ele disse de um modo muito infantil.
— Seu tarado! O que não falta aqui são gotinhas. — disse Nana, rindo.

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