CAPÍTULO 06

TALISMÃS EM AÇÃO...

A BATALHA DOS RIVAIS COMEÇA!

O olhar dos dois se encontrou uma última e prolongada vez antes de Luiz dar o primeiro passo e avançar contra Renny, totalmente tomado por empolgação e adrenalina. Seu punho rapidamente se envolveu com uma espessa camada de trevas esfumaçadas e ele o golpeou uma vez, mas Renny desviou com facilidade, atento a cada movimento do adversário. O vilão não se decepcionou quando seu punho atingiu o vazio, e logo preparou a outra mão, lançando um novo ataque, depois mais outro, e outro... sempre sorridente, sempre animado.

Com o poder do talismã do coelho, a velocidade de Renny era extraordinária enquanto ele desviava, evitando a poucos centímetros que as trevas assassinas, que pairavam nos punhos do inimigo, não o atingissem; no entanto, permanecer eternamente na defensiva não lhe garantiria a vitória, ele avaliou, nem muito menos que os demais espectros sob o comando de Luiz parassem os ataques. Então ele agiu, assim que viu um ponto exposto na defesa do adversário, que ainda tentava atacá-lo. Com o poder do talismã do touro, Renny cerrou seu próprio punho e mirou entre as costelas do vilão, atingindo-o com um impacto arrasador, que fez com que Luiz voasse a uma grande distância, com algumas costelas quebradas.

— Desista, Luiz, e acabe logo com isso. Não importa quantas vezes você tente fazer alguma coisa terrível, você sempre será derrotado.

Luiz gargalhou enquanto tentava lidar com a imensa dor que sentia.

— Acho que não. — Foi apenas o que ele disse, antes que as escleras de seus olhos ficassem negras e da irís emanasse aquele mesmo brilho violeta fluorescente.

Luiz caminhou na direção dele, trevas se expandindo e se espalhando ao redor de seu corpo — como a aura que os sayajins do anime Dragon Ball Z emanavam —, e novamente ele avançou, com mais velocidade e força, atingindo o rosto, a barriga e o peito de Renny com socos frenéticos e violentos, quebrando os ossos e queimando a carne dele com o poder das trevas.

Renny recuou tão rápido possível, a dor já desaparecendo de seu corpo graças ao poder do talismã do cavalo, que lhe curava os machucados. Com a combinação do cavalo e do cachorro, que fornecia a imortalidade, ele estava confiante de que se sairia bem na batalha, por isso não temeu a possibilidade de morte, quando avançou com os poderes do coelho e do touro. Por alguns instantes, os dois trocaram socos e chutes, e quando os punhos, joelhos e pernas se chocaram uns contra os outros, pareciam produzir trovões ou o som de bombas explodindo. Aos poucos Renny foi ficando impaciente ao ver que o vilão conseguia se igualar tão facilmente ao poder de seus talismãs — não! — Luiz aos poucos superava a força e velocidade deles enquanto sorria. Foi quando Renny percebeu, tarde demais, ao sofrer o impacto de uma explosão negra, arremessando-o para o céu, que Luiz estava se controlando, revelando todas as suas verdadeiras forças pouco a pouco.

— Por que não usa seus verdadeiros e novos poderes, em vez de brincar com talismãs mágicos criados com o ultrapassado feitiço de recriação da realidade? — provocou Luiz, vendo Renny flutuar no céu, com o poder do talismã do galo, que o permitia voar e até levitar objetos, se assim desejasse. Mas Luiz não achou a façanha nada interessante, e prosseguiu: — Eu sei que essa não é a real extensão de seus poderes. Sei que você mudou também naquele dia, no AFA, quando escapou da morte.

Renny refletiu sobre o que o inimigo lhe dizia, mas permaneceu calado. De fato, muitas coisas haviam acontecido durante o AFA, mas ele não conseguia se lembrar de mais nada desde que fora golpeado pela técnica “Grito da Morte”, que Luiz lançara nele na ocasião. Quando havia acordado, Luiz não estava mais lá, e seus amigos haviam perdido a memória, esquecido da existência do próprio Time Ren. Como aquilo havia acontecido, ele não sabia, mas o fato mais surpreendente de todos era que sua magia havia desaparecido. Ele não conseguia saber como aquilo tinha acontecido, mas ele não tinha mais magia, não conseguia mais manipulá-la, e escondera isso por um longo tempo, quando os membros do Time Ren recobraram suas memórias dois meses depois, misteriosamente, e ele pediu em segredo a um deles que usasse seu poder para fazer com que os doze talismãs (que tinha comprado pela internet) se tornassem reais, e assim pudesse lutar também, caso o inimigo ainda aparecesse.

— Eu vi seus olhos brilhando azuis, eu senti sua nova magia fluindo através das chamas esverdeadas que lançou contra mim — continuou Luiz, agora levitando e se aproximando dele lentamente. — Você deixou de ser humano como eu há muito tempo. Você evoluiu, se tornou supremo, mas... mas... — Luiz começou a sentir-se decepcionado, furioso. — Mas continua se negando a me enfrentar com seus poderes máximos. Acha mesmo que sou tão indigno assim!!! — Não era uma pergunta, era uma conclusão odiosa ao qual ele chegava enquanto voava em alta velocidade na direção do rival.

O corpo inteiro de Luiz estava envolvido pelas trevas, quando ele atacou, e Renny combinou os poderes do coelho com o galo para voar em alta velocidade e escapar dos ataques do adversário, pois sabia que as trevas que envolviam Luiz seriam fatais para ele, caso chegassem a tocá-lo — mesmo que possuísse os poderes do cavalo e do cachorro —, por isso a única saída que conseguia ver era evitar um combate corpo a corpo e tentar algo novo.

Renny ativou o poder do talismã da cobra, para ficar invisível, na tentativa de tirar Luiz de sua cola, pois o mesmo era tão rápido quanto ele, e quando conseguiu despistá-lo, ainda pensando numa estratégia eficaz enquanto voava aleatoriamente, aproveitou para avaliar a situação dos outros membros do Time Ren logo abaixo: ele viu Kevin e Josiele enfrentando Lucas, Anna transformada num rinoceronte verde, investindo contra Milena, e alguém lutando dentro da sala dos stands, provavelmente as cosplayers Eduarda e Elayne; todos empenhados em dar o melhor de si para parar os espectros. A reunião que ele fizera momentos antes para dividir e espalhar os membros restantes — de modo a ajudar os amigos que foram enfrentar os cavaleiros que eram seus amigos, ou para lutar contra algum espectro solitário ativo — fora rápida e talvez até um pouco desorganizada, mas ele ficou contente ao ver que as lutas perto dali pareciam seguir bem. Renny não sabia da posição de todos os demais espectros dentro do evento, nem quem estava os enfrentando, mas torceu para que tudo desse certo; já que os que lutavam ali se esforçavam muito em suas batalhas. E ele sabia que deveria fazer o mesmo, quando subitamente parou, desativando o poder da cobra, e se virou para Luiz, que já estava novamente em seu encalço, provavelmente seguindo-o pelo faro ou pela emanação de magia que os talismãs liberavam. Todavia, antes mesmo que Luiz o atacasse, ele foi mais rápido: jogou sua jaqueta jeans azul contra Luiz, bloqueando a visão dele momentaneamente, então ativou o poder do talismã do porco, disparando raios dourados de seus olhos contra ele.

Uma explosão de luz e calor golpeou Luiz, e ele foi jogado contra a pequena gruta que ficava próxima ao palco onde aconteciam os shows, batendo contra a gruta e caindo ao lado dela, bem em cima da pouca água que ainda a rodeava.

Atordoado, mais por ter batido a cabeça na gruta, do que pelo impacto do raio de calor, Luiz tentou se levantar, mas antes que conseguisse isso, Renny já atacava novamente, lançando uma grande bola de fogo do talismã do dragão grudado em sua mão esquerda, explodindo a gruta — os escombros saltando e caindo sobre Luiz, enterrando-o vivo.

Tudo ficou silencioso por um instante enquanto o líder do Time Ren aterrissava ali perto, quieto e aguardando. Ele sabia que aquilo não seria tão fácil, e permaneceu esperando, assim daria seu próximo passo.

“Ka-boomm!”

As pedras explodiram e voaram, e Luiz se levantou, imundo, mas sem nenhum machucado, tendo apenas tempo de encarar seu rival, antes dele agir mais uma vez.

— Barata! — gritou Renny, e um raio de luz azul irrompeu do talismã do macaco, grudado na mão direita dele, atingindo Luiz, que surpreendentemente se metamorfoseou em uma barata, pousando em cima de uma das pedras que antes pertenciam a pequena gruta.

O inseto permaneceu imóvel no local, parecendo amedrontado, remexendo suas asas vez ou outra. Renny, por outro lado, suspirou em alivio e se aproximou dele, vendo que sua estratégia havia dado certo. Ele olhou rapidamente para a direita, para a passagem que dava acesso ao corredor a céu aberto que levava ao outro prédio do Centro de Convenções, e viu o desenrolar da batalha entre dois cosplayers, que enfrentavam Bruna Timbó — dois cosplayers que não pertenciam ao Time Ren, que lutavam com os poderes de seus personagens. O fato deixou Renny curioso, pois ele não sabia como aqueles dois haviam adquirido suas habilidades, mas decidiu que os perguntaria depois que tudo aquilo terminasse.

A barata se mexeu sobre o pedregulho, e Renny voltou sua atenção a ela mais uma vez. Ele ergueu o pé, pronto para esmagar o inseto, e sussurrou:

— Pronto, agora só falta pisar em cima de você, e está tudo acabado. — Então ele desceu seu pé e pisou com força sobre ele. E esse era o fim de Luiz e de todo o mal que havia provocado por tanto tempo.

No entanto, o pé não havia alcançado o alvo. Mesmo na forma de inseto, Luiz estava ciente de tudo o que se passava e ainda podia manipular seus poderes, usando suas trevas para barrar o impacto, segurando o pé de Renny a apenas um centímetro de distancia dele, que não percebeu o ocorrido, até que uma explosão de energia escura irrompeu e o desequilibrou, jogando-o a seis metros de distância contra o chão enquanto o inseto mudava de forma — voltando a ser Luiz.

— Bom truque, ein — disse Luiz, rindo com sinceridade e prazer. — Mas algo assim não funciona com alguém como eu.

Espantando, Renny encarou seu inimigo, levantando-se imediatamente, e já estava pronto outra vez para o recomeço da batalha. Totalmente ciente de que estava em apuros, ele ativou o poder de quase todos os doze talismãs de uma só vez, pronto para o que estava por vir.

De repente, Luiz olhou para o teto, sentindo uma vibração mágica familiar emanando do outro lado dele, e depois novamente voltou a encarar Renny — agora com desprezo —, chegando a uma irritante conclusão:

— Maldito, você não é ele!

E então avançou no impulso de matar.

☯ ☯ ☯

A espada eletrificada ressoou perto dos ouvidos de Kevin enquanto ele desviava do último ataque de Lucas. O cavaleiro era veloz, mas o cosplayer conseguia desviar os ataques sem muitas dificuldades, graças ao preciso controle que tinha sobre os poderes de Super Sayajin. No entanto, algo parecia errado, como se o cavaleiro não estivesse usando todas as suas forças — de alguma forma, Kevin percebia isso. De repente, uma bola de fogo surgiu no campo de visão do cosplayer, indo de encontro ao cavaleiro, e uma voz bradou quase que ao mesmo tempo:

— Agora, Kevin!

A bola de fogo foi partida em dois pela espada de Lucas, mas Josiele já lançava mais duas novas contra ele, não dando-lhe tempo de contra-atacar, quando Kevin aproveitou a situação para atingi-lo com um soco na região do peito coberta pela armadura.

Lucas Uchoa foi arremessado contra o palco montado ali perto, batendo suas costas contra o metal das grades, mas não fez nenhum gesto de dor, nem soltou sua espada, já se levantando em seguida para atacá-los novamente.

— Se continuarmos assim, vamos vencer ele fácil, fácil — comemorava Josiele, sorridente.

— Eu não tenho certeza disso — disse Kevin, se aproximando dela enquanto finalmente revelava seus pensamentos. — Eu acho que, por mais que ele seja um fantoche sem vontade própria, de alguma forma ele está apenas testando a gente. Vendo nossa forma de lutar, exatamente como o Luiz parece estar fazendo ali com o Renny. — Kevin olhou de relance rapidamente para o outro lado, vendo a troca de socos e chutes que soavam como trovões. — Então tenha cuidado, não subestime ele.

Josiele assentiu enquanto suas mãos se incendiavam novamente. As palavras de seu amigo, bem como sua ajuda, vieram a calhar num momento muito bom para ela, e por mais que dominasse perfeitamente a magia do fogo, decidiu que seria melhor deixar Kevin assumir a frente da batalha, já que a resistência e força dele eram zilhões de vezes maiores que a sua. Mas ela não ficaria parada ali, obviamente; ela buscaria aberturas nas defesas do espectro para contra-atacar, garantindo maiores chances de vitória para eles.

— Já saquei o seu joguinho, e eu não vou mais cair nele — declarou Kevin, caminhando até o espectro, que também vinha em sua direção.

Os dois trocaram olhares uma última vez, antes de Kevin reacender sua aura dourada e avançar primeiro contra o cavaleiro, que tentou golpeá-lo com sua espada eletrificada. Kevin desviou, agachando-se e desferindo, em seguida, um chute lateral baixo contra as pernas do inimigo, fazendo-o cair de lado. Nesse instante, Josiele aproveitou a chance e projetou seu fogo no formato de grandes mãos, esticando os braços flamejantes e roubando a espada dele. Com o inimigo desarmado em questão de segundos, Kevin avançou por trás, segurou os dois braços dele, e usou sua força, fazendo-o girar diversas vezes antes de finalmente arremessá-lo no ar. Em seguida, o cosplayer voou contra o cavaleiro e começou a desferir-lhe uma onda de socos contra o rosto e a armadura, rugindo enquanto os golpes feriam a face do inimigo e quebravam a armadura aparentemente indestrutível.

De baixo, Josiele aguardava silenciosamente — a espada do cavaleiro próxima de seus pés —, e quando Kevin juntou os dois punhos e atingiu Lucas nas costas com uma tremenda força, fazendo-o explodir contra o solo numa onda de cimento e poeira, ela deu o golpe final, lançando uma rajada de fogo contra ele, que queimou e desapareceu dentro da cratera flamejante.

Kevin não conseguia sorrir com a vitória, ao ver o fim lastimável que tivera que dar ao amigo, mas ao menos se sentia aliviado por uma das batalhas ter terminado. O próximo passo seria ajudar os outros, já que Renny acabava de transformar Luiz em um inseto com o poder de um dos talismãs.

— Benny, vamos passar lá no Ren rapidinho, pra ver o que ele sugere que a gente faça agora.

Josiele assentiu, ignorando a espada do antigo amigo ao seu lado. Ela estava mal pelo que fizera, mas sabia que depois tudo ia terminar bem, graças ao feitiço que os membros conheciam, que era capaz de ressuscitar os mortos e desfazer o mal sobre o evento. No entanto, quando ela mal deu dois passos para acompanhar Kevin, que voava ali perto, ela ouviu um chiado próximo, algo como uma corrente elétrica, e sentiu medo ao temer o que poderia ser; por isso se virou imediatamente, e com surpresa, viu a espada de Lucas liberando feixes elétricos que se agrupavam, dando forma a um cavaleiro que deveria estar morto...

“Splaft!”

Tão rápido quanto sua visão podia acompanhar, Josiele não viu quando a espada do cavaleiro entrou em sua barriga e atravessou seu corpo, sangue pingando da ponta da lâmina. Com os olhos arregalados enquanto a dor pouco a pouco ia se manifestando, ela encarou a face sem expressões de Lucas, entendendo finalmente o que significava o estranho animal na tiara dele: era uma enguia — uma enguia elétrica. Fazia sentido! Mas não tanto quanto um dos amigos mais queridos e especiais que tinha, lhe apunhalando daquela maneira.

— Benny! — Kevin gritou, lágrimas surgindo em seus olhos quando viu a espada atravessar o corpo dela, os joelhos fraquejando e o corpo despencando enquanto o Espectro do Anel retirava sua espada e preparava-se para dar o golpe final. — NÃÃÃÃÃO! — Kevin viu a ameaça eminente, e a fúria fez o seu poder crescer rapidamente, os músculos se expandindo e as veias quase saltando fora do corpo, quando ele se transformou em Super Sayajin 2, e avançou com toda a potência de suas forças.

☯ ☯ ☯

Renny mal pôde ver o que acabara de acontecer com Josiele ali perto quando Luiz avançou furioso, socando e chutando sem piedade — e sem prazer. Os golpes eram precisos e poderosos, e as trevas que cercavam o corpo do vilão eram como ácido, que queimavam o corpo de Renny à medida que forçava ao máximo o poder dos doze talismãs, tanto para se curar, quanto para se defender e tentar contra-atacar também. Os dois chocaram seus punhos várias e várias vezes, o som de trovões ecoando pelo local, cada golpe mais impactante que o outro; mas Luiz estava em vantagem, tanto pela grandiosidade de seu poder quanto pela resistência de Renny, que cedia a cada instante que as trevas o tocavam, lhe causando ainda mais dano.

“Pah!”

Um soco atingiu o rosto de Renny e ele voou pelo local, parando a dois metros de distância da sala de games, cujas entradas haviam se transformado em paredes, lacrando Luan, Fabiana e Alex — os três membros do Time Ren que lutavam contra mais um dos espectros. Sem demora, Renny se levantou, a dor sumindo rapidamente enquanto o talismã do cavalo o curava, e ele viu Luiz vindo outra vez.

— Sua cópia falsificada, não acredito que conseguiu me enganar! — berrou Luiz enquanto Renny voava e disparava seus raios oculares contra ele, sem entender o que o inimigo queria dizer com aquelas palavras.

Projetando mais trevas densas em suas mãos, Luiz rebateu os raios oculares no primeiro e segundo disparo, os ataques errantes atingindo o teto, mas na terceira vez, quando Renny manteve os raios ininterruptos, Luiz ergueu as mãos espalmadas e conteve o impacto, o impulso dos raios dourados empurrando-o para trás por um breve momento. Todavia, aquilo não era suficiente para detê-lo, pois o vilão aumentara suas forças drasticamente de um instante para o outro e começou a voar, ainda repelindo o ataque, que iluminava os arredores com suas fagulhas luminosas. Mas o rival não desistiu, forçando o talismã do porco ao limite para poder lançar o poder máximo dos raios oculares contra ele, porém o vilão continuava repelindo o ataque e se aproximando, se aproximando... até que uma de suas mãos segurou a cabeça de Renny, tapando-lhe os olhos e queimando o rosto com as trevas. Com o outro punho fechado, Luiz projetou uma estaca negra de energia, e ele a usou para esfaquear Renny uma, duas, três, quatro vezes, entre o estomago e o peito, sangue fluindo aos montes enquanto o corpo amolecia.

Luiz não se importou em não poder ver as expressões de dor que o adversário fazia — por estar com a cara coberta com uma de suas mãos que ainda o corroia com as trevas — enquanto o esfaqueava sem pena, até finalmente se sentir satisfeito, largando a cabeça do garoto inconsciente, que caiu lá de cima, o rosto totalmente desfigurado pelas queimaduras e bolhas pustulentas. Mas Luiz sabia que ainda não estava acabado, quando o corpo bateu contra o chão e dois talismãs começaram a brilhar: o cavalo o curando e o cachorro mantendo sua alma imortal presa ao corpo. Segundos depois, Renny já acordava, ainda meio zonzo, e Luiz o observou, agora a raiva amenizando enquanto ainda pensava no que o outro sujeito acima do teto estava fazendo, e por que tentar enganá-lo com uma cópia descaradamente fraca.

— Já me decidi! — informou Luiz para Renny. — Não vale a pena perder mais tempo com um clone.

“Clone?” — Renny ainda estava confuso com as coisas que Luiz o rotulava, mas não argumentou, apenas continuou parado e atento no mesmo lugar, esperando a dor sumir totalmente de seu corpo.

— Seus talismãs podem ser bons, mas já entendi a extensão dos poderes deles... se comparando ao meu poder na forma humana.

“Na forma humana?” refletiu Renny, lembrando-se que seus amigos haviam dito que Luiz havia se transformado numa espécie de demônio quando lutaram contra ele no AFA em 2015. Certamente Luiz podia ficar ainda mais poderoso, caso se transformasse; e ele não podia permitir isso, ou estaria condenado.

Luiz sorriu, encarando-o do alto com desprezo e onipotência, antes que suas trevas cobrissem seu corpo completamente e relâmpagos arroxeados começassem a dançar ao redor do casulo negro.

Renny estremeceu, vendo que Luiz realmente preparava-se para se transformar, então usou novamente seus raios oculares, disparando contra o casulo; contudo, para seu azar, os ataques eram ricocheteados, refletidos como o sol quando bate em um espelho. Cerrando os dentes, Renny ergueu uma das mãos e disparou bolas de fogo, depois rajadas concentradas das chamas do talismã do dragão, e desta vez seu ataque não fora repelido pelo casulo, que incendiava à medida que novas explosões o envolviam. Logo o casulo começou a rachar no meio das chamas, e Renny sorriu ao ver que sua investida pareia ter sido bem sucedida.

Mas apenas parecia...

As chamas se apagaram e a fumaça foi sumindo enquanto os cacos negros de trevas condensadas caíam no chão e desapareciam instantaneamente, revelando uma figura de asas negras, corpo musuculoso e pálido e chifres vermelhos sobre a cabeça de cabelos longos e orelhas pontudas.

Renny fez uma expressão de terror quando viu a criatura se tornar cada vez mais nítida no meio da fumaça, e refletiu com sinceridade:

“Que droga, o que eu faço agora!?”

☯ ☯ ☯

Bastou apenas sentir a presença da magia de Luiz sendo utilizada, para Sauron perceber que o plano começara um pouco mais cedo do que o previsto, o que não significava que as coisas iriam dar errado. Desde o principio Sauron sabia que seu aliado estava muito ansioso para lutar, além de visitar o mundo lá fora, logicamente; por isso não o impedira de sair antes do horário oficial em que deveriam agir.

“Pra falar a verdade,” pensou o Senhor do Escuro, “a atual quantidade de pessoas que existem dentro do evento já é mais do que suficiente para que eu possa completar o Grande Ritual. Com apenas cem dessas pessoas, além da magia dispersada no combate de Luiz contra os demais, e do ingrediente final que não contei para Luiz (talvez o item mais importante entre todos), poderei recriar meu precioso Um Anel novamente — ainda mais poderoso do que a versão antiga”.

Sauron riu.

Dentro do salão oval, ele caminhou até um grande caixão posicionado no centro, dentro de um grande hexagrama pintado no chão — repleto de palavras de uma linguagem desconhecida, decorando-o —, e acariciou a armadura negra que estava dentro.

— Acho que está na hora de me exercitar um pouco também. Minha atuação tem que ser convincente até o final, isso se eu não quiser que Luiz desconfie de alguma coisa.

Sauron revelou três anéis mágicos em sua mão e cuidadosamente os colocou em seus dedos, aleatoriamente — espólios adquiridos em suas batalhas contra Andira, a bruxa meio-orc, e também contra Legolas e Galadriel, elfos enviados junto a Elrond para detê-lo, quando ele ainda estava reencarnado no corpo do garoto Rafael.

— Agora, com os poderes de Narya, Vilya e Nenya em minha posse, poderei me reerguer e lutar mais uma vez! E assim, realizar meus tão ansiosos sonhos!

Subitamente, os anéis mágicos começaram a brilhar intensamente nos dedos do vilão, a ponto de se desintegrarem, e uma grande e misteriosa ventania se formou no salão, balançando as vestes de Sauron enquanto seu espírito saía do manto como uma nuvem negra e densa carregada de relâmpagos de fogo, e adentravam, logo depois, a grande armadura que repousava dentro do caixão de mármore cinzento.

De repente a sala voltou a ficar silenciosa, quando o manto que cobria o vilão caiu no chão, e o vento que agitava o lugar parou. A armadura continuava imóvel, o capacete cheio de espinhos de aço ainda encarando o teto sem graça do lugar. Sauron havia sumido.

O silencio durou cerca de quarenta segundos, quando um pequeno estalo seco ecoou de algum lugar do salão oval — os inúmeros quadros antigos enfeitando as paredes frias.

Dez segundo depois, uma mão metálica saiu de dentro do caixão e segurou sua borda com rapidez e violência, rachando-o.

E depois uma voz maligna estremeceu todo o lugar.

O Senhor do Escuro prepara-se para lutar também!

Qual importante segredo ele esconde de Luiz?