O garotinho estava sentado em um banco balançando as pernas para lá e para cá mexendo constantemente nos dedos com uma expressão nervosa e ansiosa. Suava levemente e dava suspiros pesados.

Por que ele tinha que ter feito aquilo? Por que tinha que ser um fraco?

Aconteceu alguns minutos atrás; ele com apenas seus sete anos de idade entrando em uma espécie de academia ilegal para começar seus primeiros treinamentos para os Jogos. Ele tinha uma família respeitada, sendo conhecida por seus membros corajosos e extremamente fortes.

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Então ele deveria ser forte e acabar com todos, mesmo tendo sete anos.

Foi justamente o contrário, ele era apenas uma criança desajeitada que mal sabia segurar uma espada direito. E quando pegou, deixou-a cair no chão e quase cortou seu pé por isso.

Foi uma humilhação. Os meninos mais velhos o desprezavam e até as meninas riam dele. Ele era um fraco.

Kieran era um fraco.

É o que seu pai dizia repetidamente para ele; você é um fraco, você é um fraco, você é um fraco. Honre a nossa família!

— Sabe o que acontece, Kira? – perguntou o homem alto com uma cicatriz no rosto de traços grossos. – Você mimou o Kieran como uma menina! Mimou nosso filho como uma garotinha que não sabe lutar!

A mulher olhou para o homem, indignada.

— Não me culpe por isso! – ela gritou. – Ele só tem sete anos! Sete anos! É uma criança!

— E daí? Na idade dele eu já conseguia manusear uma espada muito bem e já desarmava garotos de dez e treze anos facilmente!

O garotinho ouvia tudo no seu quarto; estava enfiado na cama dura e chorando baixinho, para seu pai não ouvir e não apanhar ainda mais.

Ele não queria ser um fraco, mas ele simplesmente não conseguia ser tudo o que o pai queria. Ser forte, não, ele queria muito mais que isso. Kieran não era igual ao irmão e irmã mais velhos.

Seus irmãos eram os mais respeitados possíveis pela sua força e habilidade com armas e lutas. Mas já perderam a chance. Não poderiam ir para os jogos. O irmão tinha vinte e a irmã dezenove.

Kieran tinha que ser escolhido.

Olhou para os braços vermelhos e inchados por ter sido batido recentemente. Seus irmãos nunca recebiam pancadas do pai, apenas quando eram menores, mas eles eram muito mais fortes que Kieran.

Sabiam se defender. Já ele, não.

Kieran parou de chorar subitamente e se sentou.

Não, não. Ele saberia se defender. Ele aprenderia a lutar e iria para os Jogos. Ele iria vencer.

Ele iria deixar de ser um menininho mimado e fraco para um vitorioso.

E agora ele era.

Kieran estava sentado em uma rocha mexendo em sua cimitarra. Sem fazer nada, apenas mexendo, pensando demais.

Halee estava morta.

Ele sentiu a perda dela; se sentia sozinho e frustrado. Não tem mais ninguém ao lado dele, mesmo ela não sendo a pessoa mais confiável no mundo, ele podia confiar parcialmente nela em algumas coisas.

Não estava triste, não chorou ou se descabelou.

Mas se sentia mais isolado do que nunca agora na Arena.

Agora eu vou poder realmente mostrar que esse jogo já tem um vencedor, ele pensava encarando a cimitarra, como se ela o ouvisse. Eu matei, eu lutei e eu vencerei.

Eu não sou mais aquele garoto fraco, pai.

Dex olhou para a perna e fez uma careta de dor.

— Você quebrou? – perguntou Túlio.

— Acho que não. Mas dói muito.

— Deixa eu ver isso daí.

— Não! – gritou Dex enquanto recuava de Túlio.

Túlio arregalou os olhos, perplexo.

Dex se sentou longe de Túlio que o encarava intensamente.

— Esse pode ser o último dia na Arena. – disse Dex sem olhar para Túlio. – Não podemos ser mais aliados. Não nessas circunstâncias.

Túlio continuou encarando Dex sem reação.

O garoto era sério, esperto e sabia das coisas. Acho que a arena o mudou. Simplesmente não conseguia imaginar um garoto de treze anos com um lança-dardos matando uma garota e falando tão seriamente sobre aliados e estratégias.

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Situações mudam pessoas. Independente de como seja.

— Ou então a gente se mata agora. – continuou Dex e então se levantou com certa dificuldade e apontou o lança-dardos para Túlio. – Você escolhe.

Túlio ficou com o rosto duro, vazio. E depois deu uma espécie de riso e começou a balançar as mãos freneticamente discordando.

— A gente não vai se matar.

— Então tchau.

— Não! Não, espera... – disse Túlio e correu para ficar na frente de Dex, abaixando levemente a cabeça para falar com ele. – Você não vai sobreviver sozinho. Não agora.

Dex franziu o cenho, indignado.

Eu consegui me virar sozinho no começo dos Jogos. Eu salvei você de uma garota. E eu só tenho treze anos e você tem dezessete.

E então deu um suspiro nervoso.

— Eu não sou uma criança indefesa.

Depois, se virou e começou a mancar para fora de vista de Túlio.

Túlio encarou o menino mancando e indo embora. O garoto que havia salvado sua vida, querendo ou não. E agora ele estava sozinho, o garoto que nunca estava sozinho, agora estava.

Mais do que nunca.

Os únicos e poucos minutos de sol na arena foram rapidamente se dissipando e o céu começou a ficar escuro novamente.

Dex não sabia ao certo se a sua decisão foi certa; sabia que Túlio poderia de uma hora pra outra o atacar, ele sabia que ele queria realmente sobreviver nesse jogo. Mas Dex também queria, mas não seria capaz de atacar Túlio como ele fez com aquelas garotas.

Não era certo.

Sabia que estava perto da Cornucópia, todo lugar agora parecia perto da Cornucópia agora, não tinha aonde se esconder. O banho de sangue começou na Cornucópia e pelo jeito iria terminar na Cornucópia.

O vento aumentou e agora sombras invadiam o lugar, tomando conta de quase tudo e o sol foi logo saindo sendo substituído por uma lua tão rapidamente que Dex franziu o cenho confuso.

Idealizadores de Jogos, obviamente.

Havia apenas algumas árvores e uma rocha onde ele estava. E é claro, escuro. Nunca teve medo do escuro, não exatamente dele, mas sim do que pode estar oculto nele. Se sente indefeso, sem armas, não pode enxergar nada.

Era aterrorizante.

E era o que estava acontecendo agora; enxergava algumas coisas, não era exatamente um breu, mas ainda sim dificultava a visão. Então algo começou a andar na frente de Dex.

Ele não viu inicialmente, apenas uma leve ondulação nas sombras, não se importou de primeira. Até que virou um vulto alto correndo em sua direção.

Lançou um dardo depressa com as mãos tremendo e como o vulto não parou, ele havia errado. Droga! Mas que droga! Bom, agora era hora de...

Começou a correr; não era uma tarefa difícil, ele era rápido demais, o vulto era possivelmente não mais que Dex. Mas se esforçasse mais um pouco o alcançaria em breve.

O vulto tropeçou e Dex olhou brevemente e depois recomeçou a correr. A pessoa se levantou e começou a correr novamente. Algo pegou Dex pelo pescoço.

— Aaaaaah! – começou a se debater enquanto gritava.

— Cala a boca!

Tampou a boca de Dex e ele a mordeu.

— Dex, droga! – resmungou. – Sou eu! – e o empurrou para longe e Dex caiu de bunda no chão.

Dex levantou atordoado e olhou para frente estreitando os olhos.

— Túlio...?

— É. Muito legal da sua parte você morder minha mão por eu te vindo te proteger.

O garoto olhou perplexo para Túlio.

— Não entendo.

— Você é a única pessoa que eu realmente queria ser aliado aqui, entende? Vamos tentar vencer isso junto.

— Isso nem é possível.

Túlio deu um sorrisinho.

— Confie em mim.

Dex iria responder se o chão não começasse a se repartir.

Ah não, de novo não. Mas estava acontecendo e eles começaram a fugir do lugar. Era o que mais faziam atualmente; fugir.

As árvores continuaram intactas, mas o chão ondulava e agora uma tempestade começou. Um raio caiu em uma árvore próxima.

Não tinha para onde se esconder, só podiam correr e correr para fugir dos raios, nada mais.

— Olha lá! – gritou Dex e apontou para uma espécie de caverna. – Uma caverna!

— Nunca vi ela antes.

Dex franziu o cenho e outro raio caiu próximo a eles.

— Não importa! Se quer sobreviver me segue e entra!

Mais raios começaram a cair e sem discordar Túlio entrou junto com Dex na caverna.

A caverna era escura, muito escura. Pontos afiados em cima e em baixo, paredes e chão úmido e vários gemidos saíam dela. E não eram humanos.

— Dex... – Túlio tentou agarrar a mão de Dex, mas não a encontrava e agora estava mais escuro do que nunca.

Algo estava indo em sua direção.

— Dex? – perguntou. – Dex, é você?

A figura se revelou estando alguns centímetros de Túlio com uma luz pálida incrivelmente assustadora.

— Olá, viadinho.

Então Kieran deu um soco em Túlio e ele caiu no chão úmido da caverna.

Luzes começaram a piscar na caverna pelos raios.