Tricks of Fate

"Maddy. Minha Maddy."


"Victoria, acabaram de me ligar do hospital. Madison sofreu um acidente de carro."

As palavras de Robert não saíam da minha cabeça desde que eu atendera o telefone. Meu desejo naquele momento fora sair correndo para o hospital que o meu tio indicara, mas infelizmente eu não podia fazer isso. O que me restara era desligar o telefone e aguardar que ele chegasse.

– Acalme-se, Victoria. Não há de ser nada. – Robert murmurava em um tom complacente enquanto eu torcia minhas mãos trêmulas.

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Ao chegarmos no hospital, eu mal esperei que o carro estivesse devidamente desligado para sair dele e correr até a recepção. Ouvi Robert pedindo que eu o esperasse e parei diante do balcão, aguardando até que ele estivesse ao meu lado. A conversa entre o meu tio e a recepcionista não fora longa, mas no meu estado de nervosismo e impaciência, pareceu demorar uma década até que o andar nos fosse indicado.

Robert me abraçou de lado e segurou a minha mão enquanto andávamos até o elevador. O que poderia ser interpretado como um gesto carinhoso e calmante por quem visse, estava mais para um jeito de impedir que eu saísse correndo pelo hospital.

No longo trajeto do elevador, eu tentei deixar minha cabeça cheia de pensamentos desimportantes, como o número de linhas horizontais que havia a manga da minha camisa. Tudo o que eu menos queria pensar era o motivo pelo qual estávamos ali.

– Pronto, Victoria. Chegamos. – A voz de Robert me tirou dos meus pensamentos. Levantei o rosto e pude ver a porta do elevador se abrir.

Saímos do elevador e seguimos o longo e vertiginosamente branco corredor, até Robert parar diante de uma enfermeira com as feições jovens e o cabelo loiro preso em um coque alto.

– Com licença, eu gostaria de saber onde está Madison Dale. – Ele pediu.

– O senhor é parente dela? – Ela perguntou, segurando a prancheta diante do seu rosto.

– Eu sou o responsável por ela.

– Ela tem pai? Mãe? Algum parente próximo?

– Sim, mas os seus pais moram em Chicago. Eu sou o responsável por ela aqui.

– Certo. Se é assim, acompanhem-me. – A enfermeira disse e virou-se, andando pelo corredor.

Eu e Robert a seguimos sem demora, até chegarmos em um tipo de sala de espera, com algumas portas e cadeiras brancas encostadas na parede.

– Aguardem aqui, por favor. Eu chamarei o doutor. – A enfermeira disse e saiu dali.

– Victoria, se acalme. Ficar nervosa não vai adiantar, você sabe disso. – Robert falou baixo e naquele momento eu percebi que minhas mãos ainda tremiam.

Me sentei em uma das cadeiras brancas e ele se sentou ao meu lado, colocando um braço ao redor dos meus ombros. Me encolhi em seu abraço e fiquei ali, mirando o chão branco até ver um par de sapatos da mesma cor surgir no meu campo de visão.

Levantei os olhos e vi um homem diante de nós.

– O senhor é o responsável por Madison Dale, certo? – Ele disse e Robert assentiu, levantando-se e me levando junto com ele. – Eu sou o Dr. Marshall.

– Robert Mitchell. – Meu tio respondeu.

– Pelo que Mary me disse, você não é o responsável legal por ela, não é?

– Não. Os pais de Madison vivem em Chicago, mas eles foram avisados do acontecido e virão para a Flórida assim que possível.

– Ah, certo. Então eu devo falar com o senhor sobre o seu quadro. – Levantei os olhos ao ouvir aquilo. Ao mesmo tempo que eu ansiava por saber o que acontecera com Maddy, eu tinha medo de ouvir algo muito ruim.

No pequeno silêncio que se estabeleceu enquanto o médico folheava a sua prancheta, senti meu corpo inteiro estremecer e gelar. Envolvi meu corpo com os meus braços, tentando afastar o frio que vinha de algum lugar desconhecido.

– Bom, Sr. Mitchell. O acidente não foi nada simples. Pelo que os médicos da emergência disseram, o veículo que ela dirigia foi acertado em cheio no lado esquerdo. – Nesse momento eu senti meu estômago revirar. – Mas de qualquer forma, o estado dela não é muito grave. É até surpreendente que ela tenha escapado desse acidente com apenas duas fraturas no braço e costela e alguns cortes.

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O suspiro que eu soltei ao ouvir suas palavras foi audível. Dentro de mim havia um misto de alívio e preocupação que poderia levar qualquer um à loucura. Ao mesmo tempo em que as palavras "não é muito grave" me traziam um certo alívio, "fraturas e cortes" me traziam calafrios.

– E eu posso vê-la? – As palavras saíram da minha boca antes que eu permitisse. Meu desespero formulara aquele murmúrio trêmulo e abaixo do tom normal da conversa.

– Perdão, você é...?

– Victoria Mitchell. – Respondi, com a voz um pouco mais firme. – Sou sobrinha de Robert e... eu moro com Madison.

– Você é colega de apartamento dela, Srta. Mitchell? – Ele perguntou.

– Não. – Fiz uma pequena pausa. – Namorada. Eu sou a namorada dela. – Respondi, mirando os olhos negros e a hesitação do homem à minha frente.

Ao terminar de dizer aquilo, senti um tremor percorrer o meu corpo. Tudo o que eu menos precisava era de um médico homofóbico. O silêncio que se instalou até a sua próxima fala foi preenchido pelo som da minha respiração e pelas batidas ritmadas do meu coração.

– Certo. Você poderá vê-la, Srta. Mitchell, mas ela não está acordada. Ministramos alguns analgésicos para a dor, então é provável que ela só venha a acordar amanhã.

– Tudo bem. – Eu murmurei. – Eu posso vê-la agora?

– Sim. Acompanhe-me, por favor.

Me desvencilhei do abraço de Robert e, depois de trocarmos um olhar não muito longo, segui o médico por um corredor branco e vertiginoso.

Paramos diante de uma porta verde-clara e eu tive que desinfetar as minhas mãos e braços antes que esta fosse aberta pelo médico, revelando uma cama.

Andei até lá, mas hesitantes, sentindo o chão sumir dos meus pés pelo que foi um segundo ou dois.

À minha frente estava Madison. Maddy. Minha Maddy. Minha pequena, que parecia uma frágil boneca de porcelana, com o braço esquerdo engessado da mão até o cotovelo e alguns curativos no ombro.

Aproximei-me mais dela e toquei a sua mão direita.

– Maddy, minha pequena. – Sussurrei, acariciando delicadamente sua mão e o seu braço. – Melhore logo, ok? Eu te amo. Muito. – Completei, passando os dedos delicadamente pelo seu rosto e depositando um beijo delicado em sua testa.

Fiquei por mais alguns minutos ali, apenas mirando o seu rosto antes de andar em direção à porta, onde o Dr. Marshall aguardava. Saímos do quarto e começamos a caminhar de volta à sala de espera, quando a enfermeira com quem Robert falava interceptou-nos, murmurando algo para o médico. Ele assentiu e pediu licença, seguindo a enfermeira com passos apressados.

Voltei à sala de espera, onde Robert aguardava sentado. Assim que me viu, ele levantou-se e andou em minha direção.

– Vamos embora? – Ele perguntou.

– Eu quero ficar aqui. – Murmurei. – Quero estar aqui quando ela acordar.

– Victoria, você ouviu o que o Dr. Marshall disse. Ela só vai acordar amanhã. Você precisa ir para casa e descansar. Amanhã de manhã nós voltamos. – Ele disse.

– Eu não quero ir para casa. Não quero ficar sozinha lá. – Sim, eu estava parecendo uma criança, mas eu simplesmente não conseguia aguentar a ideia de ficar sozinha no apartamento enquanto Maddy estava internada em um hospital.

– Tudo bem, Victoria. Você não precisa ir para o apartamento. Nós vamos para a minha casa, pode ser? – Eu assenti sem dizer nada. – Nós passamos lá, você pega alguma roupa para você e nós vamos para a minha casa. – Ele disse e eu assenti novamente, sentindo seu braço ao redor dos meus ombros. – Vamos embora.