Treacherous

Atitudes um tanto... confusas.


Luca acordou desorientado naquela manhã. Olhou em redor, esquadrinhando o quarto e notando que havia dormido exatamente como havia ficado na noite anterior, de frente para a janela, pensando em Sharon.

No entanto, à medida que seus sentidos iam se aguçando, ele notou que uma música conhecida ecoava pela casa, chegando aos ouvidos do garoto, que logo se levantou, sobressaltado.

Ainda sonolento, o ruivo caminhou pela casa, descalço e vestindo só sua cueca box azul, mas não se importava com isso, afinal, estava em casa. No entanto, a cena que viu quando seguiu a música e chegou na cozinha foi um tanto hilária. O que ele viu foi:

Seu pai na cozinha, esquentando algo no fogão enquanto cantava e dançava I’m Sexy and I Know It, movendo o quadril para frente e para trás, com as os braços cruzados atrás da cabeça, segundo a coreografia da música. Como se aquela cena não fosse perturbadora o suficiente, Apolo vestia apenas um calção amarelo e curto, deixando uma visão estranha para Luca.

-Hã... Pai? – Luca perguntou, ligeiramente envergonhado com a cena. Apolo, por sua vez, não pareceu se importar com aquilo, abaixando um pouco a música que tocava no rádio e aproximando-se do garoto.

-Hey, Luca, você acordou cedo.

-Acordei com o barulho aí – ele apontou para o rádio, fazendo um sorriso aparecer no rosto do loiro.

-Barulho ou não, dá vontade de dançar.

-Eu sei, pai. Vi a cena que você fazia segundos atrás. Onde está mamãe pra proibir uma coisa dessas aqui em casa? Isso é atentado de violência ao pudor – Luca riu, ao que Apolo rolou os olhos.

-Ela viajou para caçar com Thalia e as antigas caçadoras – o deus deu de ombros, voltando para o fogão e retirando a panela que estava ali.

-Sério? Mas eu pensei que ela tivesse abandonado a caçada quando vocês se casaram.

-Mas ela e as garotas querem “relembrar os velhos tempos”, então tiraram o dia hoje para caçar.

-Ah. Legal. Ouvi dizer que elas são bonitas, especialmente a filha de Zeus que liderava o grupo – Luca mencionou, encostando-se na bancada, sem ver o sorriso de canto que Apolo exibiu ao lembrar-se de Thalia. Imediatamente versos de um antigo poema que fizera surgiram na mente do loiro. Algo como “Thalia, você também é quente...” e “Não quero ser indecente...”.

Bons tempos, pensou o deus, lembrando-se da época em que flertava com as caçadoras apenas para irritar sua irmã gêmea.

-Sim, elas são, e eu me casei com a mais bonita dentre todas elas – Apolo falou, virando-se para Luca com um sorriso.

-Afrodite me disse que você pediu ajuda a ela uma vez.

-É, sua mãe tinha um juramento à prova de homens – ele deu uma risadinha.

-Queria que Sharon tivesse esse juramento – Luca suspirou, rolando os olhos e chamando a atenção de Apolo.

-Por quê? Acredite, isso é chato pra caramba.

-Porque pelo menos eu não teria que competir com o idiota do Aaron.

-O filho de Morfeu? Ouvi dizer que aquele menino é um garoto de ouro, bom aluno, bom filho, bonito, carismático...

-É, mas você não está exatamente ajudando, pai.

-Verdade – Apolo sorriu – Mas você é meu filho, vai conseguir a Sharon no fim.

-E o que uma coisa tem a ver com a outra?

-Nada – o deus rolou os olhos – O que eu quero dizer é que você não deve desistir.

-Sim, ótimo, se não fosse pelo fato de que ela agora está em algum lugar qualquer, enfeitiçada por uma poção de Afrodite que ninguém sabe o efeito, e ainda por cima tem um namorado chato que disse que nunca vai desistir dela.

Com aquilo, Apolo se calou. Arqueou as sobrancelhas em sinal de surpresa, não disse nada por longos minutos e finalmente soltou uma daquelas pérolas apolíneas:

-Você está ferrado.

*.*

Já devia passar de meio dia quando Sharon acordou naquela manhã. Ela sentia sua boca seca, o sol batendo em seu rosto, um braço envolvendo sua cintura e... opa.

Ela levantou-se sonolentamente, esfregando os olhos e se desvencilhando daquele braço incômodo, mas acabou acordando o dono do braço com aquele movimento. Este, igualmente desorientado, sentou-se ao lado da garota.

Nesse momento ela percebeu que estava apenas com sua lingerie, ao passo que ele usava apenas uma cueca box preta.

-O que aconteceu ontem a noite? – ela perguntou para Josh, olhando em volta e encontrando as roupas de ambos espalhadas pelo chão do quarto – Nós... Nós transamos?

-Eu... Eu não sei – ele olhou em volta, confuso – Você é virgem? Ou era virgem? Ou... sei lá.

-Sou, pelo menos tinha certeza disso até agora – ela franziu o cenho – por quê?

-Ah, então não fizemos nada – ele olhou para os lençóis brancos da cama, analisando-os – Não tem sangue aqui.

-É mesmo...

-Que pena – ele sorriu – Deixa pra próxima.

-Não comigo bêbada, por favor – Sharon ficou de pé, pulando para fora da cama e procurando suas roupas pelo chão – Droga, meus pais vão me matar. Onde estamos?

-No meu quarto, acho. Pelo menos se parece com o meu quarto – ele murmurou, ficando de pé também e indo até o banheiro – Espere aqui que eu vou tomar um banho rápido e te levo até sua casa.

Sharon deu de ombros e se vestiu calmamente, logo depois deitando-se novamente na cama enquanto esperava Josh sair do banho. Ali, olhando para o teto, ela começou a pensar no que estava fazendo. Então uma lembrança vaga passou pela mente da garota, ela lembrou-se de Aaron, lembrou-se que ainda estava namorando com ele... Então ela estava traindo-o, certo? Sim, ela estava traindo seu namorado sem um mínimo peso na consciência.

Mas até aí tudo bem, já que ela ao gostava tanto assim dele. Ela gostava do corpo dele, e só.

Por Hades!, ela pensou, O que deu em mim pra eu estar pensando assim?

As bochechas da garota pareciam pegar fogo, ela estava envergonhada dos próprios pensamentos, pois era verdade, por mais que ela jamais fosse admitir; Sharon odiava ser tão fútil ao ponto namorar um garoto somente por causa de seu corpo. No entanto, aquela culpa não durou muito. Por alguma razão que ela desconhecia, esses pensamentos pareceram ser barrados de sua mente, deixando um branco em sua linha de raciocínio. Como não pensava em mais nada, começou a relembrar seu último dia no Olimpo, quando esteve com Luca, ambos deitados na grama, olhando o céu e conversando besteiras. Sim, ela sentia saudades de seu melhor amigo, mas... Sharon tocou seus lábios, lembrando-se bem daquele beijo que eles trocaram naquele dia. Todo o prazer que Josh havia lhe proporcionado nos últimos dias, com tantos beijos quentes e tantos toques, não era nada se comparado ao que ela sentiu naquele simples beijo, e ela nem sabia ao certo o que havia sentido.

Novamente ela sentiu seu rosto esquentar, muito mais do que da vez anterior, pois dessa vez não era só vergonha. Ela estava com vergonha, com saudades e sentindo algo que ela não sabia dizer o que era. Como da última vez, Sharon sentiu seus pensamentos desaparecendo, mas daqueles ali ela não queria abrir mão. Ela se agarrou desesperadamente à imagem de Luca que estava em sua mente, temendo que esta também fosse apagada, mas não fazia muita diferença. A cada segundo que se passava, ela sentia que a memória ficava mais fraca. E ela continuou assim, segurando ao máximo, até que a imagem sumiu por completo e novamente o borrão em sua linha de raciocínio apareceu. Ela olhava para o teto, estática. Em algum lugar de sua mente ouviu Josh abrindo a porta do banheiro, anunciando que havia terminado, e apenas isso tirou a garota daquele transe. Lentamente, Sharon moveu a cabeça para vê-lo. Josh estava molhado, apenas com uma toalha branca presa à cintura, cobrindo parcialmente sua nudez. No entanto, seu tórax estava à mostra, deixando que ela observasse os músculos bem trabalhados do garoto. Logo que notou que era alvo de olhares de Sharon, um sorriso se estampou no rosto do loiro, sorriso esse que só aumentou quando viu que ela se levantava e caminhava lentamente até ele, parando a poucos centímetros dele.

-Vamos? – ele perguntou num sussurro, sentindo a mão dela tocando seu abdômen.

-Agora? – ela perguntou, descendo lentamente sua mão pela pele dele, fazendo o garoto fechar os olhos e deixar a cabeça pender levemente para trás. Ah, ela o estava deixando louco. No instante em que a mão dela alcançou o nó da toalha que o cobria, ele olhou novamente nos olhos dela, encarando-a com um sorriso sacana.

-Vá em frente – ele falou, vendo que seu sorriso era retribuído poucos segundos antes de sentir o nó se desfazendo e a toalha caindo a seus pés. Sharon olhou de viés para baixo, surpreendendo-se um pouco com o que viu. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, porém, Josh, trouxe o rosto dela para cima, segurando-o as duas mãos e tomando os lábios rosados da garota em um beijo urgente. Sharon arquejou quando seus corpos se colaram novamente e ela sentiu aquilo que o tornava homem contra sua barriga, mas apenas seu suspiro fraco escapou por entre os beijos. Logo ela sentia as mãos dele percorrendo seu corpo novamente, explorando suas costas, apalpando suas nádegas e estimulando seus seios.

E ela não queria continuar com aquilo, mas todo o seu corpo implorava para ir em frente, pois era muito bom. De uma forma ou outra, Sharon vivia uma luta interna, ela se sentia prisioneira de seu próprio corpo, parecia não ter mais o controle do que fazia.

Felizmente, naquele momento, ela foi salva pela consciência dele, que parou o beijo e se afastou dela, falando:

-Seus pais vão te matar, lembra? – ele riu – Preciso te deixar lá o quanto antes, já que quero sair mais vezes com você e você precisa estar viva para isso.

Sharon deu uma risadinha tímida e envergonhada quando ele foi se vestir (na frente dela). O que diabos estava acontecendo com ela?