Toujours Pur

Capítulo Dezessete - Fuga Noturna


O calor estava insuportável, quase palpável. Regulus conseguia sentir as gotas de suor prendendo em sua pele, descendo por seu corpo em uma dança nojenta e sem fim. Os feitiços de refrescamento não funcionavam mais e qualquer adição poderia aumentar a umidade do ar de uma maneira imprevisível, podendo fazer até mesmo chover dentro do quarto. Ele não tinha certeza se essa ideia era tão ruim assim, mas a recusa ríspida de sua mãe foi o suficiente para lhe impedir de qualquer outro pedido.

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— É um pássaro — disse Sirius, imitando as rachaduras do teto com o seu dedo, a mão estendida no ar. — Consegue ver?

Regulus estreitou os olhos. As cortinas estavam escancaradas, a janela aberta em uma tentativa falha de permitir uma ventilação mínima, e a luz do meio-dia entrava no cômodo. Apesar de todas essas facilidades, era incapaz de ver as imagens descritas pelo irmão.

— Não — Lily retrucou. — É um sorriso. Olha, Reggie, — ela pegou a mão de Regulus e seguiu os traços das rachaduras em sua palma, arrastando os dedos pela pele. — Os olhos e a boca. Está vendo?

— Acho que sim — ele sussurrou.

Os irmãos Black estavam deitados na cama de Regulus, presos em casa durante uma das piores ondas de calor da década. O pai disse estar no trabalho, mas ele sempre mentia e Regulus havia aprendido a não acreditar mais em suas palavras, e a mãe estava no primeiro andar, afogando suas mágoas em uma garrafa de vodca congelada. Se aguçasse sua audição, poderia ouvir Monstro sussurrando palavras de calento para ela, tentando acalmá-la.

— Vocês estão errados — reclamou Sirius. — É uma galinha!

— Você é uma galinha — riu Lily e Regulus riu também, querendo se encaixar nas brincadeiras dos irmãos.

Estava tão feliz. Lily e Sirius nunca permitiam que ele ficasse com eles, nunca, mas, por alguma brincadeira do destino, eles invadiram o seu quarto logo depois do café da manhã e perguntaram o que ele queria fazer, aceitando qualquer sugestão do irmão mais novo. Em seus sete anos de vida, Regulus não conseguia se lembrar de um outro acontecimento como esse.

— Tanto faz — Sirius murmurou. — É só uma rachadura, mesmo. Papai irá consertá-la em um segundo.

— Deixe de ser chato — disse Lily. — Você só está assim porque Reggie não concorda com você, Sius.

Sirius fez um bico.

— Não é verdade — ele reclamou. — Desculpa se vocês são burros e não conseguem ver. Deviam usar óculos.

Lily arfou. Regulus entendeu a ofensa exagerada de sua irmã. O curandeiro da família disse que ela possuía miopia, uma dificuldade leve de ver coisas ao longe que só aumentaria com a idade, e a menina se recusava a usar os óculos prescritos.

O cabelo ruivo caindo em seus olhos, Lily engatinhou por cima de Regulus, e usou as pernas compridas e magras para chutar Sirius para fora da cama, empurrando em seu peito com a sola do pé.

— Chato! — ela gritou. — Está expulso. Regulus é o meu melhor amigo agora!

Sirius caiu no chão com um baque surdo e Regulus se recolheu ao ouvir o som. Ele quase se preocupou do irmão ter quebrado algum osso ou ter um machucado sério, mas tudo parou quando ele ergueu a cabeça, se sentando, e os olhos cinzentos se viraram para Lily, o vitral de traição e dor cobrindo sua visão.

— Está falando sério? — ele perguntou.

— Sim — Lily disse, se levantando. — Venha, Regulus. — ela pegou a mão do irmão mais novo, puxando-o para fora da cama. — Eu tenho um dia inteiro de brincadeiras planejado para nós.

Lily tinha oito anos e era pelo menos vinte centímetros mais alta do que o irmão. Ela conseguia puxá-lo sem muitas dificuldades, correndo até o corredor e descendo as escadas do casarão.

Walburga estava deitada em um dos sofás da sala de estar e Monstro apertava um pano branco contra a sua testa úmida de suor. Os irmãos eram duas crianças, impossível não fazer barulho ao descer para o primeiro andar, mas a mãe não parecia notar. Estava tão inebriado e presa em suas próprias mágoas que não havia nada no mundo, além de si mesma.

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— Venha — disse Lily, ignorando a matriarca caída.

Ela o puxou para uma outra sala, perto da cozinha e antes da porta de saída. Regulus conhecia aquele lugar: era o quarto de brinquedos, mas apenas Lily o usava. Sirius guardava os seus jogos no quarto, assim como Regulus, e as coisas eram assim desde que o caçula tinha três anos de idade. Mesmo se esforçando muito, ele não conseguia se lembrar a última vez que havia entrado ali nos últimos tempos. Apenas Lily. Havia uma casa de bonecas ali, grande, quase do tamanho de Regulus. Ele sentiu os seus ombros caírem e se sentiu como um balão murcho. Estava animado para um dia de brincadeiras com a irmã, mas não queria brincar de bonecas.

— Aqui — ela murmurou antes que ele pudesse reclamar. Lily se ajoelhou no chão e Regulus a seguiu, dobrando seus joelhos sobre o piso de madeira. A irmã arrastou seus dedos pelo chão até sua unha prender na falha entre duas tábuas. — Veja. O meu segredo.

Ela puxou uma das madeiras e Regulus arfou em surpresa.

O que ele encontrou não era exatamente um segredo. Estava mais para um tesouro. Havia um buraco retangular no chão e ele pensou que poderia enfiar o braço ali até o cotovelo antes de chegar ao fundo. Regulus nunca encontrou tantas guloseimas em toda a sua vida, tantas gostosuras e gordices. Sapos de chocolate, penas de açúcar, balas de abóbora.

— Olha — disse Lily, pegando algo na pilha de doces. Era um pedaço de madeira, longo e fino, quase do tamanho do braço de Regulus. — Sabe o que é isso?

— Um graveto? — ele sugeriu.

Lily revirou os olhos, mas estava sorrindo.

— Não, bobo — ela respondeu. — É uma varinha.

Regulus já havia visto varinhas antes. A de seu pai e da mãe, por exemplo. Ótimos materiais e centro, os melhores instrumentos mágicos que o dinheiro poderia comprar. A avó, Irma, preferia a magia sem elas, mas também exibiu a sua varinha para Regulus em seu aniversário, deixando-o segurar ela por alguns segundos apenas. Era dever de todo bruxo britânico ter uma varinha e era tradição ir ao Beco Diagonal para comprar a sua primeira.

Lily, entretanto, ainda não tinha onze anos. Não podia ter uma dessas. Era contra a lei. Ilegal, como tio Alphard dizia, fumando um de seus charutos grossos.

— Onde arrumou isso? — ele perguntou, arregalando os olhos, completamente maravilhado.

— Achei por aí — respondeu Lily, olhando para a varinha com uma malícia orgulhosa.

— Conte-me, por favor — implorou Regulus.

Lily sorriu.

— Tudo bem, mas só porque você pediu com jeitinho. — ela aproximou o rosto dele, encostando os lábios na orelha de Regulus. — Papai me levou ao escritório na semana passada. Tinha todas essas coisas de prisioneiros, dos criminosos. Ele me deixou escolher algo para mim.

Regulus fez um bico. Não sabia sobre esse passeio privado de Lily com o pai, nunca havia sido convidado. Aos seis anos, a rejeição de Orion Black o machucava muito.

— Não é perfeita — continuou Lily. — Mas é só para treino. Quando for para Hogwarts, vou ter uma verdadeira. — ela olhou para ele, as íris verdes brilhando com malícia e malvadeza. — Quer ver uma mágica?

Regulus mordeu o lábio inferior. Conseguia sentir o olhar de Sirius em suas costas, cheio de ciúmes, mas estava animado demais para se importar com isso. Não queria pensar em chatear o irmão ou ofender a irmã; queria apenas ver a magia correndo nas veias de Lily e todos os outros Black se tornar realidade na frente de seus olhos.

— Sim — ele disse.

O sorriso de Lily se abriu ainda mais e ela balançou a varinha, sussurrando em tom baixo:

Aguamenti.

Gotículas de um líquido incolor caíram da ponta da varinha, formando uma pequena poça no chão de madeira da sala. Regulus riu, enfiando as mãos na água, e sentiu seu frescor gelado contra as palmas. Era impossível de acreditar e, no entanto, fazia todo sentido.

— Incrível — ele murmurou.

— Não é? — disse Lily. — Aqui. — ela entregou a varinha para ele. — Por que você não tenta fazer alguma coisa?

Regulus pegou a varinha. Ela parecia estranha em seus dedos, como se não lhe pertencesse, e ele sentiu uma vontade intensa de jogá-la para longe e fugir correndo para o seu quarto. Regulus, no entanto, não fez nada disso. Ele respirou fundo e fechou os olhos, tentando se lembrar de alguma feitiçaria.

Os pais não costumava fazer muita magia em casa. Regulus não conseguia se lembrar da última vez em que viu a mãe pegar em uma varinha. Apesar de tudo, ele já havia visto tio Alphard em ação um dia, durante uma de suas visitas para a Inglaterra, quando uma infestação de duendes acabou atingindo o jardim de Walburga.

Expulso! — ele gritou.

Regulus não tinha ideia do que iria acontecer depois. Mais tarde, enquanto visitava os acontecimentos daquele dia em sua mente, ele iria se amaldiçoar por não ter lembrado de suas inúmeras aulas de latim, ou por não ter ficado mais tempo no jardim, enquanto o tio cuidava do problema duendial.

Uma luz azul tomou conta da sala e uma explosão a seguiu, jogando Regulus para trás e Lily ao outro lado. A energia proveniente da varinha destruiu a casa de bonecas e as inúmeras farpas de madeira voaram pelo cômodo, algumas se enfiando na carne do caçula dos Black. Ao longe, Regulus pensou conseguir ouvir Sirius gritando e Monstro arfando em surpresa.

Ele piscou os olhos. Estava tão fraco. Conseguia sentir um líquido quente e viscoso escorrendo da parte de trás da cabeça, onde havia batido contra a parede. Regulus tentou encontrar a irmã e viu sua forma inconsciente jogada ao chão, o braço torto em um ângulo não natural, alguma coisa branca atravessando a pele e sangue descendo por suas narinas. Isso vai deixar uma cicatriz, Regulus pensou, olhando para a fratura exposta da irmã.

Essa foi a última coisa que ele viu antes de ser tomado pela névoa da inconsciência.

***

Regulus tremia de frio.

O casaco de veludo, uma das únicas coisas que conseguiu pegar antes dos aurores chegarem em Hogwarts e ele precisar fugir, estava encharcado. O clima londrino não lhe agradava; molhado demais, com muitas chuvas e pouco ar seco.

Três dias haviam se passado desde o ataque à Lily e James, três dias desde que ele e Severus Snape foram obrigados a escapar de Hogwarts como dois covardes com o rabo entre as pernas, e eles haviam visto um total de cinco pancadas de chuva. Quatro delas, perdendo por pouco a água em suas peles ao escapar das garoas. Na quinta, entretanto, não tiveram tanta sorte.

Os dois procuraram abrigo em um beco sujo e fedorento, escondido entre as sombras, temendo ser vistos por um dos soldados mestiços patrulhando as ruas. Regulus ficou surpreso ao vê-los, quase chocado. Antes de ir para Hogwarts, era raro ver algum oficial do governo fora dos guetos, mas agora, parecia quase uma normalidade e os trouxas nem demonstravam reações ao entregarem seus papéis, uma varinha quebrada bege bordada em suas roupas.

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— Esse é o trabalho de Athénaïs Delacroix — murmurou Severus, mencionado a chanceler do governo de magia francês.

Sim. Regulus concordava. As relações entre França e Grã-Bretanha estavam cada vez mais tensas. Ninguém mais tinha dúvida se iria ou não haver guerra; a resposta estava clara.

— Não me importa — ele retrucou, virando-se para longe da rua. — Venha.

Severus o seguiu como um cachorro leal, arrastando suas longas pernas pálidas para mais dentro do beco. Uma mulher estava deitada no chão, a pele era cinzenta, característica marcante do uso de Pedras de Morgana. Suas pálpebras estavam escuras, quase roxas, como se alguém tivesse lhe dado dois socos. Regulus a ignorou em favor de encostar suas costas à parede de tijolos, buscando abrigo embaixo da varanda de um apartamento.

Severus se aproximou, os rostos quase se encostando para poderem conversar em privado. Se alguém desconhecido os visse ali, naquela posição, iria achar que eles eram dois amantes homossexuais.

Regulus enfiou suas mãos no bolso e tirou um saco de papel amarelado, alguns cantos transparentes devido a oleosidade.

— Aqui — ele disse, entregando o saco para Snape. — Você precisa comer.

Severus pegou um dos sanduíches, empurrando o outro de volta para Regulus.

— Você também — murmurou.

Regulus pegou o sanduíche. Ele foi comprado com os poucos sicles restantes em seu bolso, uma tentativa desesperada de sustentar o corpo e fugir dos aurores ao mesmo tempo. Os dois não poderiam chamar a atenção. Desde o ataque à Lily e James Potter, Regulus e Severus se tornaram Indesejáveis, Número Quatro e Cinco, respectivamente. Os dois estavam atrás apenas de traidores como Albus Dumbledore, Alastor Moody e Arthur Weasley. Devido ao crimes dos dois garotos, um lobisomem adolescente de Londres, suspeito de ser membro da Ordem da Fênix, foi rebaixado na lista de procurados. De alguma forma, Regulus tinha certeza de que eles não se importavam realmente com Remus J. Lupin.

Ele comeu o sanduíche em silêncio. O pão estava velho e duro, uma nojeira. O queijo não tinha um gosto bom, parecia mofado ou estragado, se isso era realmente possível. Resumidamente, não era o melhor sanduíche que ele comeu em sua vida, mas ele precisava se alimentar de qualquer jeito.

Naquele momento, preso em um beco fedorento, sem nenhum outro lugar para ir, Regulus pensou em sua irmã. Tudo isso era culpa dela. Lily o obrigou a fazer aquilo. Se ela tivesse ficado em seu lugar, se ela tivesse obedecido

Não valia a pena remoer esses assuntos. O que está feito, não pode ser desfeito.

Regulus amassou o saco ao terminar e jogou em uma caçamba de lixa lotada ao lado. Severus ainda comia, calmo, os cabelos oleosos caindo em seu rosto.

As gotas de águas caindo ficaram cada vez mais esparsas até pararem por completo, cessando a chuva. Regulus suprimiu a vontade de olhar para cima e agradecer aos céus por esse alívio da umidade londrina. Não era a hora para superstições bárbaras.

Ele fechou os olhos e viu a irmã, sua forma inconsciente, os cabelos ruivos espalhados no chão como uma auréola vermelho-sangue. Lily não gritou quando Severus a levou da enfermaria, quando eles arrastaram as mãos por seu corpo, tentando arrancar alguma reação dela; a Black segurou seu gemidos de dor por dentro, mordendo o lábio até sair sangue. Seus lamúrios chegaram apenas quando eles jogaram Adolebitque em seus olhos, a fumaça subindo acima de sua pele queimada, cegando-a para sempre. Regulus estava certo de que nunca iria esquecer os gritos de agonia da irmã.

Ele olhou para Severus e pensou estar vendo um desconhecido. Ele havia terminado de comer e limpava a boca de migalhas com as mangas do casaco de lã. Suas bochechas estavam brilhantes devido a oleosidade do queijo. Parecia calmo, nem um pouco com o psicótico Snape da noite de três de novembro.

Ele quis matar James. Regulus percebeu isso no momento em que viu as chamas azuis nos olhos castanhos de Severus. Ele desejava a morte do rival, o único obstáculo em seu caminho até Lily. O setimanista achava que, ao eliminar James Potter, Lily Black não teria nenhuma outra escolha senão amá-lo de volta.

— Você não pode! — Regulus lembra ter gritado, retirando a adaga maldita da mão do ajudante. — Ele não é nosso alvo!

— Ele não precisa ser — retrucou Severus. — Vire-se, caso não queira ver. Potter viu nossos rostos, poderá nos identificar. Será melhor para todos se ele morrer.

Regulus havia olhado para James, deitado no chão desacordado no chão, a ferida da facada em seu peito sangrando sem limites. Ele iria morrer, se não fizesse algo logo, e Severus parecia muito ansioso para esse destino.

Seria fácil. Virar-se e deixar Severus ter seu jeito. Não hesitava por um amor desconhecido ao Grifinória, mas por um senso de pureza de sangue dentro de seu peito. James era a última esperança dos Potter, o único em sua geração capaz de levar o nome para frente. Charlus já era um idoso em luto pela morte da esposa e do filho na mão de trouxas e Fleamont foi executado por forças do Lorde das Trevas quando James tinha apenas quatro anos.

— Não, Sev — Regulus disse, jogando a adaga para longe. — Não irei deixar. Lily é a peça chave daqui, não James.

Severus o encarou com ódio, irritado pela chance perdida de finalmente ter o controle em uma situação com Potter, e se virou, as vestes negras quase pegando o fogo das inúmeras velas na sala. Ele saiu com passos fortes e Regulus esperou dois minutos antes de segui-lo.

De volta ao presente, Severus se sentou no chão, secando as poças de água ao seu redor com um movimento de sua varinha. Ele era mais alto do que Regulus e as pernas compridas se alongaram a sua frente.

Regulus também se sentou, fechando o casaco em uma tentativa de acumular algum calor em seu corpo.

— Não podemos ficar — disse Snape.

— Não — Regulus concordou, arrastando uma mão pelo rosto. Por Merlin, ele estava tão cansado… — Mas também não temos para onde ir.

— E a sua casa? — Severus perguntou. — Você disse que sua mãe te apoiava, não? Poderíamos ir para lá.

Regulus quis bater na própria cabeça. Depois, quis bater em Severus. Como ele podia ser tão burro, o mais novo não conseguia entender.

— Não enquanto Sirius e meu pai ainda morarem lá — murmurou, encostando-se por completo na parede tijolos. — Se eu colocar um passo dentro da residência dos Black, levarei um Avada Kedavra antes de sequer poder dizer “Oi, pessoal”.

Certamente, o irmão e Orion o odiavam pelo o que havia feito à Lily. A garota sempre foi a queridinha dos dois, mas eles não conseguiam entender como aquilo era necessário? Regulus fez o que precisava ser feito para proteger a família.

Ele olhou para Severus.

— E a sua casa? — perguntou. — O seu pai é trouxa. Não deve saber o que nós fizemos.

Uma hora depois deles terem fugido de Hogwarts, os rostos dos Sonserinas já estava estampado em todos os jornais matinais, impressos nas folhas pretas e brancas como dois criminosos perigosos, avisos sobre os crimes descritos logo abaixo das notícias de seu desaparecimento. Regulus quase não se reconheceu na foto usada, uma feita durante o Chanucá para ser colocada em uma das paredes da casa dos pais. Era como se a ficha de seus feitos ainda não tivesse caído, como se alguma outra pessoa havia cegado a irmã e esfaqueado James Potter, não ele.

Severus balançou a cabeça.

— Não — ele disse, irritado. — Prefiro à morte.

Regulus ficou bravo com isso. Severus possuía ressentimento aos pais, suas brigas e o sangue não-mágico de Tobias Snape. Isso cobria seus olhos, ele não conseguia ver a frente, como era necessário se esconder na casa de alguém confiável. Ele não poderia realmente querer ficar ali, na rua, exposto aos elementos?

— O que você prefere, então? — ele questionou.

— Eu não sei — Severus respondeu. — Deixe-me pensar em alguma solução.

Snape fechou os olhos e encostou a cabeça na parede, deixando o suor se acumular em sua pele pálida. Ele parecia uma estátua de pedra sob a luz da lua, feito de mármore ou algum outro material, eternamente preso naquela posição pensante.

Regulus não conseguia entender. Ele não parecia determinado a sair daquele lugar, cercado de trouxas e sujeira. Parecia… até gostar de tudo aquilo.

Severus usava vestes pretas e, apesar da má qualidade do tecido, ainda eram melhores do que as roupas usadas pelos londrinos ao redor. Ele parecia poderoso e se deleitava nessa ideia.

— Precisamos nos mover rápido — Regulus disse, ansioso. — Alguém irá desconfiar, chamar algum soldado. Não sei.

— Está bem, Regulus! — Severus disse. — Mas não há muitos lugares para onde irmos. Somos fugitivos, entende? Não é possível ter tudo o que queremos. Sinto muito se aqui não é o hotel cinco estrelas que você está acostumado.

O que queremos. Ele poderia rir. Regulus não queria ficar ali. Ele queria uma cama quente. Sua cama, em Hogwarts ou no Largo Grimmauld; ele não se importava qual. Ele queria cobertores e uma lareira acesa. Ele queria uma refeição de verdade, com uma possibilidade de repetição. Ele queria bife assado e tomates fritos; ele queria salada e alguma coisa verde. Ele queria sucos de abóbora, morango, melancia e abacaxi. Ele queria não ser um fugitivo.

— Está brincando, não? — questionou, a chama de irritação lambendo suas veias. — Esqueceu quem eu sou? Não pode me tratar assim.

Severus abriu os olhos, grandes e arregalados. Duas pedras negras na brancura de seu rosto longo encarando Regulus com um choque e nojo desconhecidos para o mais novo.

— O que pensa estar dizendo? — ele perguntou. — Estamos juntos nessa, Regulus. Ambos somos procurados pelo governo. Não sou seu inferior.

Regulus hesitou. O jeito que respondesse poderia determinar e mudar tudo, toda a situação em que os dois se encontravam. Ele pensou bem em suas palavras antes de falar e Severus o encarou o tempo todo, piscando os olhos em impaciência:

— Nunca disse isso.

Um sorriso repleto de escárnio cortou o rosto de Snape.

— Foi como se tivesse — murmurou. — Você me convenceu a ferir Lily. Tudo o que está nos acontecendo é sua culpa!

O sangue de Regulus se aflamou, queimando com o calor de mil sóis, e ele mordeu o interior da bochecha em uma tentativa de se acalmar, qualquer coisa para não explodir com o outro Sonserina.

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— Devo te lembrar, Severus, que você não hesitou em produzir a Adolebitque ou mesmo de atacar Evan Rosier. Você estava louco naquela noite, pronto para assassinar James Potter e sequestrar minha irmã! — ele fez uma pausa, respirando forte, e sentiu o suor do ódio escorrer por seu rosto. — Eu te protejo há anos, Severus. Sou seu único e verdadeiro amigo. Estamos juntos nessa.

Regulus se levantou.

— Estou indo. Siga-me se quiser — disse e virou, andando para fora do beco sem ver se Severus o seguia. A falta de passos em suas costas lhe disse que não.

Ele se juntou a uma multidão de trouxas, tomando vantagem de sua altura para se esconder. Não havia o bordado em sua roupa característico de uma pessoa não-mágica, mas ninguém parecia prestar atenção nele. Seus rostos magros estavam abaixados, as bochechas fundas, e eles não erguiam seus olhos para ninguém.

Era o disfarce perfeito.

Estava passando em frente à uma casa de prazeres quando todo o seu plano quase foi arruinado, colocando tudo em risco.

O prédio era baixo, talvez apenas três andares, e vinhas verdes corriam em seus lados, crescendo até o topo. O símbolo da casa era uma rosa vermelha e as luzes neon iluminavam toda a rua, piscando em uníssono com a música pulsando no interior do lugar.

Havia duas pessoas paradas na frente do lugar. Um homem e uma garota. Estava claro para Regulus que o homem não gostava de estar ali, exasperado talvez pela presença da menina, e ele deveria ter sido puxado para fora do bordel, se o jeito como ele se portava fosse qualquer dica da situação. O cabelo dele era longo e negro, com algumas mechas cinzentas salpicadas pelos fios, como se houvesse neve escorrendo pela cabeleireira. Os olhos do homem eram cinzentos, frios e extremamente familiares. Regulus se escondeu em uma coluna de um café fechado ao reconhecê-lo.

A varinha empunhada, Regulus lançou um feitiço para conseguir ouvir melhor e as vozes dos dois chegaram aos seus ouvidos, claras como água.

— Não é justo! — gritou a moça e lágrimas chegaram aos seus olhos castanhos. — Eu sou a sua primogênita. Eu! Lily não é nada!

— Amelia, se acalme — disse Orion Black, irritado. — Está chamando atenção.

— Foda-se — replicou Amelia Bones. — Toda a minha vida, eu só queria uma coisa: que você me amasse como ama ela. Também sou sua filha.

Orion Black suspirou. A camisa cinza estava abarrotada, toda suja. Claramente, ele estava no meio de algum assunto quando Amelia o puxou para fora da casa de prazeres, exigindo que conversassem e colocassem tudo à mostra. Regulus observou tudo em silêncio, querendo fugir, mas também querendo ficar para ver como tudo iria acabar.

— Não podemos ter certeza — murmurou o pai de Regulus. — Sua mãe era muito promíscua naquela época. Qualquer um poderia ser seu pai. — ele olhou para os lados. — Como pode ver, Edgar não está aqui. Seu irmão é mais esperto. Ele sabe a verdade.

Amelia fungou, arrastando as costas da mão contra a bochecha, e lágrimas rebeldes desceram por suas bochechas coradas.

— O que você pensou que iria acontecer, Amelia? — questionou Orion e sua voz estava quase gentil. — Você viria até aqui e eu te aceitaria de braços abertos? Não é possível. Eu tenho uma carreira, uma reputação. Dois filhos bastardos poderiam me arruinar. Além do mais, Lily não está em um bom lugar agora. Ela não iria aguentar a notícia. Seria melhor para todos se você esquecesse do que sua mãe te disse.

— Por quê? — Amelia perguntou, a voz embargada e cheia de lágrimas não derramadas. — Eu não quero morar com você, ou substituir Lily. Só quero… só quero… só quero que me reconheça como sua filha!

Orion estalou a língua contra o céu da boca e o som reverberou pela rua vazia até chegar em Regulus.

— Vá para Hogwarts, Amelia — murmurou. — Não deveria ter saído da escola.

— As coisas estão um caos — ela disse. — Muitas pessoas estão fugindo, com medo. Ninguém percebeu quando eu fui embora.

— Não me importa — disse Orion, severo. — Volte para o colégio e fique lá. Durma. Esqueça sobre isso. Vamos fingir que essa noite nunca aconteceu.

Ele se virou, como se para voltar para dentro do bordel, mas a mão bronzeada de Amelia em seu cotovelo o fez parar. Orion se virou para a filha bastarda com uma expressão irritada e as chamas em seus olhos fizeram Regulus estremecer em seu lugar. Conhecia muito bem aquela expressão do pai.

— Não é justo — Amelia choramingou. — Por favor, papai...

Aquela foi a gota d’água. Regulus viu as coisas acontecerem em câmera lenta. O pai puxando a varinha do bolso de seu casaco, os olhos redondos de Amelia se arregalando, a luz verde que tomou o quarteirão.

Avada Kedavra! — gritou Orion e o feitiço atingiu Amelia, ainda parada no meio da rua, chocada demais para se mexer. Ela caiu no chão com um baque surdo, morta.

Regulus gritou, surpreso demais para segurar o som dentro de si, e Orion virou o rosto para ele, uma expressão doentia tomando o seu rosto longo.

— Você! — ele gritou, apontando a varinha para Regulus e seus lábios se abriram para gritar mais uma maldição da morte, mas o filho era mais rápido.

Expelliarmus — soltou Regulus e a varinha do pai pulou de sua mão, rolando para longe até desaparecer nas sombras.

Orion olhou para o filho com um ódio cruel, as pernas longas cruzando os vários metros até ele, e Regulus se lembrou de repente de todas as surras levadas por Sirius na infância, quando o pai estava cansado demais para buscar sua varinha ou doente demais para usar uma simples maldição Cruciatus. Apesar de odiar qualquer coisa trouxa, Orion Black era particularmente afetuoso de suas formas de disciplina infantil.

— Maldito! — xingou Orion e ele era, pelo menos, uma cabeça inteira mais alto do que o filho. Os braços eram musculosos e ele estava bem, fisicamente. — Traidor de sangue! Filho da puta!

O pai empurrou Regulus no chão e sua cabeça bateu contra as pedras sem defesa, apenas o cabelo fino para tentar proteger o crânio. Um zumbido atingiu Regulus e uma tontura o tomou. Sabia que, se estivesse em pé ou sentado, teria caído. Sua cabeça latejava e ele sentiu sangue escorrer até a nuca, quente e viscoso. Pontos pretos preencheram a sua visão e ele arfou, completamente sem fôlego.

— Você vai aprender — murmurou Orion, ajoelhando em cima do filho. — Vai aprender… vai aprender…

As mãos grandes e os dedos grossos do patriarca dos Black se fecharam ao redor do pescoço de Regulus e sua mira certeira restringiu a passagem de ar por sua traqueia. Ele tentou lutar, erguendo as mãos para tentar arranhar o rosto do pai ou qualquer outra coisa, o corpo disputando o direito à vida.

Os pontos pretos começaram a crescer, juntando-se em uma enorme bola negra em sua visão. Regulus imaginou que era assim que Lily deveria se sentir.

Tão rápido quanto tudo começou, acabou e o pai engasgou com algo, o aperto no pescoço de Regulus se afrouxando até ele poder respirar. Desesperado, ele inspirou, tentando absorver a maior quantidade de ar possível. Quando se recuperou, apesar de muito pouco, ele olhou para cima, tentando entender o que havia acontecido.

Orion estava sentado ainda, mas uma corrente de sangue escuro derramava por sua boca. Ele tossiu, incapaz de se mexer, e gotas de sangue quente atingiram o rosto de Regulus. Segundos, ou talvez horas se passaram, antes de ele cair de cara no chão, perdendo o filho por poucos centímetros, e ele pôde o culpado para seus ferimentos.

Havia uma faca enfiada nas costas do pai. Deveria ter atingido o seu pulmão, se o sangue em sua boca fosse alguma dica, e era fatal, não importava a atenção médica que sua vítima pudesse receber, apesar de Regulus saber que o pai não iria receber nada. A adaga era longa e havia um recipiente redondo em sua ponta, rapidamente enchendo-se de sangue.

Regulus olhou para cima e viu Severus Snape, ofegante.

— Vamos — disse o Sonserina, estendendo a mão para ajudar o amigo a levantar. — Os aurores já devem chegar. Precisamos fugir enquanto ainda há tempo.

Regulus pegou a mão de Severus.

***

Regulus não possuía nenhum amor perdido pelo Cabeça de Javali.

A irmã, Lily, amava o bar de Aberforth, algo surpreendente em si. Ela não parecia pertencer ali. Enquanto Lily era um palácio do Rococó, Cabeça de Javali era os estábulos dos cavalos. Talvez o uso incessante da outra taverna de Hogsmead, o Três Vassouras, pelos Grifinórias a mantinham longe daquele estabelecimento. Regulus não era tão covarde quanto a irmã e, portanto, visitava o bar de madame Rosmerta com frequência.

Ao entrar no Cabeça de Javali, a camada de poeira que cobria o chão se levantou devido ao ar frio de outubro entrando e Regulus apertou a echarpe contra o nariz, tentando não se engasgar com os pós e o cheiro de mofo.

Ele vasculhou o interior com os olhos. Não havia muitas pessoas ali, talvez devido ao horário, e os poucos presentes deveriam estar bêbados demais para perceber a sua chegada. Aberforth, o dono do estabelecimento, estava parado atrás do bar, limpando uma caneca de vidro imundo com um pano igualmente, ou até mesmo mais, imundo.

Ele viu os irmãos Lestrange sentados em um canto escuro da taverna, conversando entre si em um tom baixo. Rodolphus, o mais velho dos dois, estava sentado em uma cadeira de madeira simples e precária, a postura perfeitamente ereta, quase como se estivesse sentado sobre um trono. O cabelo preto estava cortado rente à cabeça, uma clara violação da tradição de bruxos puro-sangue terem cabelos longos, mas Rodolphus não parecia se importar. Ele estava de barba feita e usava vestes caras de algodão preto.

O irmão, Rabastan, parecia a cópia barata do mais velho. Rabastan seguiu o exemplo de Rodolphus, mas mantinha uma franja de cachos negros caindo em seus olhos azuis e um bigode cheio no lábio superior, extremamente contrastante com a pouca idade. Ele estava usando roupas verdes e o anel da família em um cordão de prata ao redor do pescoço. De longe, Regulus conseguiu ver o símbolo dos Lestrange na jóia: um corvo, empoleirado acima de um L cursiva. Ele não foi capaz de ler o lema inscrito no metal, mas havia passado tantos anos estudando as famílias do Sagrados Vinte Oito que já conhecia o lema de cor. Corvus oculum corvi non eruit. Um corvo não arranca o olho de outro corvo, em tradução livre. A solidariedade entre iguais ou algo assim. Ao contrário de Lily, Regulus nunca se importou muito em entender, apenas aprender.

Depois do casamento de Bellatrix com Rodolphus, antes de seu romance com Ariel Mulciber, a mãe de Regulus entreteu a ideia de casar Lily com Rabastan, talvez porque a prima e o marido não pareciam nenhum um pouco confortáveis um com o outro o suficiente para produzir herdeiros a família Lestrange. Lily, no entanto, recusou a ideia sem nem mesmo considerá-la e o pai nunca deu a permissão necessária para Rabastan poder cortejá-la e ganhar o seu coração. Qualquer menção de casamento entre os dois foi banida do Largo Grimmauld e Lily apareceu algumas semanas depois com Ariel em seu braço, colocando um ponto final no assunto.

Ao se aproximar, Regulus viu que havia uma terceira pessoa na mesa. Ele usava uma túnica cinza solta em seu corpo esquelético, simples demais para a sua posição de poder absoluto, mas não era isso que mais chamava a atenção em sua figura. A pele do homem, se é que alguém poderia lhe chamar disso, era tão pálida quanto uma folha de papel e parecia esticado sobre seu rosto, como se qualquer movimento brusco de sua cabeça pudesse lhe fazer rasgar sobre os ossos. Os olhos não poderiam ser normais, eram vermelhos e estreitos, com pupilas negras fendidas como as de um gato. O nariz era praticamente inexistente e as narinas se tornaram duas fendas em seu rosto devido aos muitos anos fazendo uso da magia negra. Se fora há muito tempo o homem que ele costumava ser, restando apenas uma escuridão sem fim que usava o nome de Lorde Voldemort.

Eles perceberam sua chegada e apenas Rodolphus e Rabastan se levantaram, enquanto o líder de toda a Grã-Bretanha permanecia sentado em seu lugar encostado à parede.

— Regulus — disse Rodolphus em cumprimento e o irmão assentiu com a cabeça, completamente quieto. — Faz muito tempo que não nos vemos.

— Sim — Regulus respondeu, a voz firme como se ele não estivesse tremendo na base. — No casamento de Narcisa com Lucius Malfoy. Uma cerimônia maravilhosa.

— Eu concordo — ele murmurou e se virou para a mesa, puxando uma quarta cadeira praticamente do nada. Rodolphus a colocou entre os assentos dele e de seu irmão, efetivamente prendendo Regulus entre os dois Lestrange. — Venha. Sente-se.

Regulus andou até a mesa, mas não se sentou. Ele andou até o homem no canto e ajoelhou levemente, abaixando a cabeça em sinal de reverência. Voldemort mostrou a sua mão, esquelética e pálida como pó de arroz. Regulus quase achou que iria tocá-la e sentir escamas sob seus dedos, não uma verdadeira pele humana, mas não foi isso que aconteceu. Voldemort possuía mãos frias, quase como se nenhum sangue passasse por debaixo delas, e ressecadas.

Havia um anel no dedo indicador do Lorde das Trevas. Era grande e deveria ser pesado, mas ele não parecia se importar. As jóias e pedras preciosas brilhavam com a luz do sol raiando se infiltrando pela janela; diamantes, safiras e rubis. Alguém, provavelmente o criador, havia as arrumado para formar a Union Jack, a bandeira representante dos países da Grã-Bretanha. Regulus percebeu a falta da cruz de São Patrício, significando a Irlanda, e quase riu por sua veracidade. Desde a revelação da existência de magia e a subida de Voldemort em poder, os irlandeses ganharam sua independência em todos os aspectos.

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Feita em 1831 para William IV, o anel de coroação dos monarcas britânicos não pertencia a mão de Voldemort, mas após a execução de Elizabeth II e o fim do parlamento trouxa, o homem havia se tornado praticamente o rei de todos os ingleses, escoceses e galeses, bruxos ou não. O anel era o símbolo de seu poder, incontestável e sem fim. Talvez fosse por isso que ele sempre o usava. Para que ninguém, nem mesmo ele, se esquecesse do que houve em 1959.

Regulus beijou o anel e o Lorde das Trevas quase sorriu.

— Bom menino — sussurrou e um calafrio percorreu as costas do irmão caçula dos Black.

Regulus se ergueu e se sentou em uma das cadeiras. Rodolphus e Rabastan pegaram as de seu lado, o prendendo entre seus ombros largos e músculos avantajados. Os dois irmãos eram mais altos do que eles, pelo menos vinte centímetros cada, e suas expressões severas seriam suficiente para botar medo no coração do mais valente Grifinória.

— É bom te ver, Regulus Black — disse o homem mais poderoso de toda a Inglaterra e seus domínios. A voz dele era reptiliana e rouca. Lembrava muito a Regulus o som de unhas afiadas arrastando-se por uma lousa. — Eu tinha certeza de que você viria.

Era difícil de compreender as palavras de Voldemort. Nem mesmo Regulus estava certo de que viria. Ele passou quase a noite inteira anterior tentando decidir se realmente valia a pena arriscar sua vida e faltar a um encontro marcado com o Lorde das Trevas pelo simples fato de estar com medo. Estava quase admitindo que sim, valia muito a pena, quando começou a se vestir sem pensar, o instinto de sobrevivência em seu cérebro prevalecendo sobre a sua covardice.

— É uma honra, senhor — disse Regulus, engolindo em seco.

Um sorriso afiado como uma faca cortou o rosto de Voldemort e o mais novo dos Black sentiu todos os pelos em seu corpo eriçarem, como faziam quando ele estava em perigo. A adrenalina correu por suas veias e sua mente entrou no modo “Lutar ou fugir”, preparada para se salvar.

Voldemort olhou para os lados, como se para garantir de que ninguém estivesse espionando aquela conversa, e colocou a sua varinha sobre a mesa. Era um belo espécime: longo, de madeira cor de caramelo. Se os estudos privados de Regulus sobre varinhas estivessem corretas, a madeira do homem era feita de teixo, talvez com algum centro poderoso, como fibra de coração de dragão ou pelo de rabo de unicórnio.

— Não sou um homem para hesitar assuntos difíceis e rodeá-los com falsas simpatias e fingir que me importo — ele disse. — Serei direto, Regulus. Sua irmã me desaponta. Em setembro, eu confiei à ela uma tarefa muito importante. Espiar em James Potter e agora eu temo de que ela criou simpatias pelo garoto.

Regulus ficou quieto. Ele sabia da tarefa da irmã. Ela foi rápida em voltar do jantar com Lorde Voldemort e se gabar de tudo para ele, tirando vantagem da confiança do líder de toda a Grã-Bretanha.

Ele também sabia que ela estava mentindo para o senhor da Inglaterra por James, e talvez por Sirius também, mas não conseguia dizer o porquê exatamente. Apesar de ser monitor, Regulus não sabia o que acontecia nas conversas durante as reuniões privadas dos dois monitores-chefe. Talvez James Potter convenceu Lily a entrar para a Ordem da Fênix; Severus estava certo de que ele, Sirius, Peter Pettigrew e outros membros de sua trupe eram membro das ordem criminosa, mas Regulus sempre pensou que era apenas uma maneira que o garoto havia arrumado para tentar arrumar a expulsão de seus inimigos. Talvez ele estivesse certo e Lily havia se enfeitiçado pelo charme do Grifinória para ajudá-los.

Regulus engoliu em seco.

— Você quer que eu espie nela, milorde? — perguntou, nervoso com a resposta, mas também com um senso de orgulho dentro de seu peito. Mamãe iria ficar tão feliz…

— Não, Regulus — respondeu Voldemort. — Eu quero que você a mate.

Regulus arfou. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Matar Lily? Deveria estar brincando, mas o Lorde das Trevas não brincava. Durante toda a sua vida, ele havia se perguntava se o homem conseguia ao menos entender o humor e a resposta era tão negativa quanto todo o resto do mundo.

Regulus olhou dentro de si e tentou se perguntar se seria capaz de fazer isso. Matar sua própria irmã, cometer sororícidio. Esse era um pecado impossível de se esquecer.

— Posso perguntar o porquê? — questionou.

O rosto de Voldemort se contorceu de uma maneira doentia e desumana. Demorou um segundo antes de sua expressão voltar a neutralidade de sempre.

— Você já leu os clássicos gregos, Regulus? — perguntou e havia um tom de irritação em sua voz. — Tanto Cronos quanto Zeus foram destinados a suceder seus pais e, em seus processos para se tornarem os líderes do Monte Olimpo, destruíram seus predecessores. Até mesmo Zeus iria sofrer a fortuna de seu pai, com um filho varão nascido de Métis, mas ele a engoliu antes de ela poder dar a luz a esse pequeno deus. Os gregos sabiam que para suceder um ser todo poderoso, primeiro é preciso destruí-lo. — ele fez uma pausa, deixando as suas palavras suspensas no ar. Regulus olhou para Rodolphus e depois para Rabastan. Não havia nem um ar de surpresa em seus rostos. Eles já sabiam, então. — Em um mundo onde eu sou Cronos, o primeiro titã e mestre de todo o tempo, temo que um menino Potter seja meu Zeus.

Regulus franziu o cenho.

— Perdoe-me, milorde, mas eu não estou conseguindo entender — murmurou. — Se James é seu verdadeiro inimigo, o que Lily tem a ver com tudo isso?

— Ah, mas essa é precisamente a questão — continuou Voldemort. — Eu nunca disse que James Potter era esse menino. Ele está enfraquecido desde a execução de seus pais, perdeu todo o seu potencial mágico, mas Lily o fortalece. Ela o completa. Imagine. Uma criança puro-sangue nascida da união de duas das famílias bruxas mais poderosas de todo o tempo. Black e Potter. Anton Potter, filho de Charlus Potter e Dorea Black, quase foi esse predestinado e por isso, tive de destruí-lo, mas agora, ela poderá nascer novamente do útero de sua irmã. Essa criança, Regulus, estará destinada a ser meu sucessor e minha destruição. Entende agora porque devo impedir a sua chegada? — ele suspirou e olhou para os irmãos Lestrange ao lado de Regulus. — Rabastan pensa que Alice Fawcett será a mãe. Ela e Frank Longbottom estão namorando há alguns meses, com plano para se casar, segundo minhas fontes. Devo dizer que essa ideia me atraiu. Os Longbottom são uma família britânica renomada e os Fawcett existem há centenas de anos, mas, no final, não me parecia certo. Não me parecia necessário… Sua irmã parece muito mais envolvida nos dois mundos do que a senhorita Fawcett. Alice não está dividida entre a lei e a clandestinidade.

— Se não quer que minha irmã tenha o filho de James Potter, por que não matá-lo? — questionou, irritado. Apesar de todas as desavenças com Lily, ainda amava a irmã. Ao ver a expressão no rosto de seu lorde, ele foi rápido em continuar a falar. — Se não se importa com a minha pergunta.

Voldemort suspirou e o som feito pelo ar saindo de seus lábios parecia com o apito de um trem de saída.

— Porque James é o último Potter ainda capaz de ter filhos, Regulus — murmurou. — Ele é a esperança de todo o seu Clã. Matá-lo seria… uma tragédia sem precedentes.

Regulus suspirou e foi incapaz de responder.

— Eu realmente espero que você irá me obedecer, Regulus. Ficaria muito desapontado em ter que te punir e derramar ainda mais sangue mágico — disse o Lorde das Trevas e aquele foi o fim do assunto.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.