Toská -Angústia

Ligações


Você pode falar agora? — Havia um traço de sorriso em sua voz, ele poderia dizer mesmo sem vê-lo.

— Que atípico você me ligando, aconteceu alguma coisa? – Bucky também sorria.

Nada em particular, eu só queria te chamar pra sair nesse sábado.

— Stevie, nós moramos, literalmente, um ao lado do outro, você poderia ter esperado para me convidar quando eu voltasse para casa. Aliás, eu janto na sua casa todos os dias, poderia ter falado durante o jantar.

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Eu sei, mas eu queria te ligar só para variar um pouco, pra fazer parecer que somos um casal de verdade.

— Por quê? O que é que temos feito até agora que ainda te faz ter alguma dúvida de que somos de verdade? – Bucky arqueou uma sobrancelha, ele sequer se incomodara com o comentário, estava empolgado demais com a ligação e o convite para se importar com o que ele dissera.

Você entendeu o que eu quis dizer, não se faça de idiota. – Steve esperou até que o acesso de riso do outro passasse. – Eu quis te ligar para te chamar pra sair, dá pra cooperar?

— Ah, você é um docinho, Stevie, tão romântico. – O Barnes zombou. – Não pense que não fiquei feliz em ouvir sua voz por telefone e em saber que se empenhou dessa maneira, só achei curioso ter escolhido me ligar sendo que podemos nos ver quando quisermos, mas tudo bem, eu posso comprar essa fantasia também. – Bucky sorriu outra vez. – Então quer ter um encontro? Um pra valer mesmo? No melhor estilo cinema, jantar, assistir o nascer do sol da colina e tudo mais?

Estava pensando mais em irmos até a feira de ciência no sábado e depois passarmos em alguma lanchonete antes de voltarmos para casa, mas eu também aceito assistir a um filme se tiver a fim.

— Ah, a feira de ciência, claro, tinha me esquecido desse detalhe. – Seu sorriso era um pouco menor, mas não menos genuíno. – Podemos fazer isso também, adoraria saber o que é que você e os gênios do colégio andaram aprontando por todo esse tempo.

Tudo bem irmos de metrô?

— Existe alguma outra opção? – Bucky arqueou uma sobrancelha.

Pegarmos carona com Stark, Pepper e Banner.

— Vamos de metrô. – Steve riu, fazendo o Barnes rir também. – Ei, eu gostei mesmo de receber a sua ligação.

Peggy me disse que gostaria. – Bucky podia dizer que o loirinho sorria do outro lado da linha porque claramente aquela frase saiu empolgada demais para alguém que não estava sorrindo.

— Peggy? – Ele estreitou os olhos. – Então foi ela quem te convenceu a me ligar, hn?

Ela só me disse que, talvez, seria mais interessante se eu te ligasse para te chamar pra sair do que só esperasse que entrasse pela porta da minha casa na hora do jantar. Disse que isso soava mais como algo que um casal faria, ou algo assim.

— Peggy certamente sabe muitas coisas. – Ele suspirou. – Olha, eu preciso voltar para o trabalho agora, ok? A gente se fala mais tarde, beleza?

Tudo bem, nos vemos no jantar então. Até mais tarde, Buck.

O Barnes desligou o aparelho e jogou fora o copo vazio de café, levantando-se do chão onde estava sentado para sua pausa, chacoalhando a roupa antes de voltar para o interior do estabelecimento. Peggy certamente sabe muitas coisas, pensou, menos como manter distância do relacionamento alheio, concluiu com um sorriso derrotado. Bucky se repreendeu no instante seguinte, não era um direito seu controlar as amizades de Steve e muito menos o que é que o loirinho deveria fazer da vida ou não. Ele nunca fora esse tipo de pessoa e não se tornaria assim por causa de uma situação passada. Suspirou, cansando-se de sua própria linha de raciocínio, recolocou seu avental e boné e se posicionou atrás do balcão para enfrentar mais algumas horas de trabalho.

— Ele não pareceu muito empolgado. – Steve se certificou de que o garoto havia desligado a chamada antes de bloquear o celular e o guardar no bolso.

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— Ele não parece exatamente o tipo de pessoa que estouraria um arsenal de rojões por qualquer coisa, mas isso não significa que não se empolgue à sua própria maneira, Steve. – Peggy sorriu, tomando um gole generoso de seu milk shake.

Parecera natural que acabassem sentados naquela sorveteria logo depois das aulas na academia, quase tanto quanto parecera natural que continuassem a conversar sobre Bucky por muito tempo até que a garota sugerisse que o convidasse para sair. Peggy era como um lugar confortável para se retornar quando as dúvidas enchiam sua cabeça de incertezas arrasadoras, e ela parecia verdadeiramente disposta a ajudá-lo no que fosse preciso. Steve se sentia bem com ela, se sentia à vontade para falar sobre várias coisas que sequer se atrevia a pensar perto dos outros. Então ele se lembrou que a conversa do início da aula estava inacabada, e que a garota de lábios vermelhos parecera ter algo importante a dizer.

— Peggy, o que queria me dizer antes do sensei Kazunori interromper?

Ela o encarou curiosa, parecendo não entender muito bem o que ele queria dizer com aquilo, então forçou a própria memória, atrás de algum indício do assunto naquele determinado momento. Certamente tinha a ver com Bucky, Steve se transformava em outra pessoa quando falava do garoto. Aos poucos a mente foi clareando e ela conseguiu retomar a linha de raciocínio, sorrindo tão logo se lembrou.

— Não era nada em especial. – Deu de ombros, sorrindo cordialmente. – Foi somente um pensamento que me acometeu no momento, mas eu não conheço o seu Bucky e não posso afirmar. Prefiro não dizer alguma bobagem que te deixará preocupado, não vale a pena. – Sorriu novamente.

— Você acha que pode ter algo de errado com ele?

— Eu não sou especialista, Steve, há inúmeros motivos que levam alguém a não dormir bem à noite. Provavelmente pode ser porque ele estava nervoso com alguma coisa, o que não necessariamente signifique que ele será assim todos os dias. Dê tempo ao tempo, talvez seja algo passageiro, não se preocupe tanto, sim? – Sorriu outra vez. – Agora você deve se preocupar com o seu encontro no sábado, tem alguma ideia do que vestir? – Steve uniu as sobrancelhas.

— Camiseta e calça jeans? Não é como se fôssemos em algum restaurante chique de qualquer forma. – Deu de ombros. – Ele me conhece desde sempre, não preciso me preocupar com esse tipo de coisa. – Ela sorriu complacente.

— E começa aí o erro das pessoas que se relacionam há muito tempo. – Peggy finalizou seu shake e cruzou os braços sobre a mesa, projetando o corpo para frente. – É compreensível que se sinta mais à vontade para ser exatamente quem é ao lado dele, assim como também é compreensível que não precise se preocupar tanto assim com pormenores que, aparentemente, não têm importância alguma, mas acho que já é hora de aprender que um dos segredos de qualquer relacionamento duradouro é nunca deixar de sentir vontade de conquistar o outro.

— Mas eu não precisei conquistar Bucky, as coisas simplesmente aconteceram.

— As coisas nunca “simplesmente acontecem”, Steve, nunca se esqueça disso. Se ele se apaixonou por você, houve um motivo. Se ele se interessou por algo em você, houve um porquê. Sempre há um porquê, sempre haverá, mesmo quando juramos que não existe. Às vezes é uma expressão, às vezes um gesto, às vezes a forma como olhamos ou sorrimos ou falamos, sempre existe uma razão, nunca é por acaso. Quando se está há muito tempo num relacionamento, deixamos de ter esse cuidado em demonstrarmos esse interesse na conquista porque nos acomodamos e, com o tempo, isso faz com que o outro se sinta desmotivado e desinteressante. Nos faz pensar “por que estou me esforçando quando claramente não sou mais tão interessante quanto antes?” – Peggy sorriu calorosamente e tocou a mão do loiro sobre a mesa. – Não deixe isso acontecer com vocês.

— E o que eu devo fazer para que isso não aconteça?

— Primeiro você deve se perguntar o que é que Bucky faz para que você se mantenha interessado nele e por que isso é tão importante para vocês. Quando tiver a resposta para essas perguntas, saberá exatamente o que tem que fazer.

— Mas Bucky sempre me tratou do mesmo jeito desde que o conheço, e eu nunca percebi como isso me mantinha interessado nele. – Steve ponderou por um momento. – Aliás, eu não consigo lembrar como foi que as coisas chegaram onde chegaram hoje e o que é que ele mudou para que chegássemos aqui. – Peggy sorriu mais uma vez e afastou a sua mão.

— Eu tenho certeza que entenderá muito em breve, assim que se der uma chance para pensar com cuidado em tudo isso que acaba de me dizer.

Aquele sorriso queria dizer alguma coisa, mas Steve não conseguia compreender muito bem porque sua mente divagava num tempo muito distante dali, em alguém que sempre significou muito mais do que aparentemente deixava transparecer. Steve não entendia muito bem, mas seguiria aquele conselho e passaria a noite toda – se preciso fosse – para ter todas as respostas na ponta da língua na próxima vez na qual se vissem.