Torne seus Momentos Inesquecíveis

Momentos de Lembrança


Nem sempre nossos melhores momentos são lembrados, mas eles sempre estão nas memórias de quem vivenciou, aguardando aquela “nostalgia”, o sentimento de saudade, para reaparecer, nem que para isso seja necessário um “empurrãozinho” da vida. Muita gente acredita que é por esse motivo que foram criadas as datas comemorativas, não esquecer os momentos que foram marcados na época em questão, sejam bons ou ruins.

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A chuva voltava a cair sobre a cidade de Macaraju, no interior mineiro. Jonatas havia acabado de chegar e já reencontrara seu melhor amigo e também maior confusão, Conrado, sedutor peão e, atualmente, capataz da Fazenda, desde a morte de seu pai. O que Jonatas sente sobre o amigo é um verdadeiro mistério, sempre ficava a flor da pele quando o peão chegava perto, como se desejasse muito algo, que nem ele sabia explicar. Ele ficava feliz, mas continuava com um vazio no coração, como se ainda faltasse algo para lhe completar. Ele tinha tristeza, mas era branda, que dava a impressão de ser passageira. Ele sentia… atração, mas Conrado era um homem e ele também. Não queria ser anormal. Ele tinha que ser normal, como todos os outros.

— Licença Dona Tchana! To entrano! — disse Conrado, empurrado uma enorme e pesada porta de madeira para o lado, chegando a uma cozinha, cheia de panelas de barro, ferro bruto e até de pedra, que se distribuíam por todos os metros quadrados daquele lugar, que de fato, não era pequeno. Fogão a lenha aos fundos, geladeira ao lado da dispensa, verduras aos montes, em pequenas “hortinhas” improvisadas, dentro de vasilhas velhas, gavetas e até um carrinho de mão. Lá dentro, uma simpática senhorinha, no mínimo sessenta anos, com pele negra e cabelo grisalho, picava cebolas e alhos. Viu a entrada do peão, largou os ingredientes e começou a limpar as mãos.

— O menino! Armoço ta pronto ainda não!! Cade o Jonata? To fazendo a comida favorita dele! — disse a cozinheira, com um sorriso desdentado no rosto. Jonatas ouve seu nome ser chamado, passa pela porta com um enorme sorriso, e, inevitavelmente, acaba tocando na mão molhada e cheia de calos de Conrado, que ficava parado na entrada, tentando esconder o amigo. Tchana, ao ver o rapaz, abre mais ainda seu sorriso e corre para abraçar o rapaz, que faz o mesmo, emocionado. — Oia! Tava falando di oce agora seu minino! Mas tu cresceu, em? Já ta um moção!!! — indagou Tchana, passando a mão pelo cabelo loiro de Jonatas e tendo boas lembranças do rapazinho.

— E a senhora continua brava! — respondeu Jonatas, desentrelaçando os braços de Tchana e olhando-a olho a olho, ainda sem perder seu sorriso, nem parece o mesmo rapaz de minutos atrás, no carro. No carro… — A! Esquecemos o Douglas lá fora!! — ponderou Jonatas, com uma expressão de medo. Finalmente lembraram do motorista.

— Podexa, vou la trazer ele! — respondeu Conrado, abrindo novamente o guarda chuva que já estava descansando, escorado na parede, e caminhando na direção da saída. Jonatas não pode explicar, mas desejou que Conrado se molhasse novamente, tudo para poder ver-o novamente sem roupas. Chacoalhou a cabeça e acordou de seu transe. Não podia pensar nessas anormalidades. Ele tinha que ser normal… Normal… Normal… Tchana voltou para a beira de seu fogão e voltou a picar as cebolas.

— I oce minino? Como anda a vida la na cidade? — perguntou a senhorinha, jogando a cebola picada dentro do caldeirão. Jonatas perdeu o sorriso, lembrando-se dos problemas com Ágata e com o pai, mas não queria que ninguém tivesse pena de si, sorriu, falsamente e tentou parecer o mais feliz possível.

— Anda bem… Mas nada se compara a vida daqui! — respondeu, desanimado. Tchana fez uma expressão de desconfiança, mas deixou o assunto para lá, não queria magoar o rapazote que tanto adorava. Pegou uma colher de pau e começou a mexer a panela. — Ouvi você dizer que esta fazendo meu prato favorito… Ah! Quanto tempo eu não comia… — disse Jonatas, inspirando muito ar, tudo para sentir o cheiro delicioso da comida de Tchana, que deu uma gargalhada enxuta e continuou a mexer. — Feijão tropeiro, frango com quiabo e arroz branco? — perguntou Jonatas, com um brilho radiante nos olhos, só de sentir o cheiro da comida.

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— Isso memo!! — respondeu Tchana, contente. — Lembro quando ocê veio aqui pela primeira vez… Comeu a mesma coisinha, só que foi um pouco difícil… — disse Tchana, carismática. Jonatas vasculhou dentro de todas as suas memórias tal época de qual ela falava, não foi tão difícil encontrar, afinal, era um de seus momentos mais felizes.

Sentado a uma mesa de madeira, junto de Conrado e sua mãe, Jonatas, um tanto gordinho, fazia birra com a comida que lhe era servida: Frango com quiabo e feijão tropeiro. Tchana tentava servir, enquanto sua mãe tentava convencer-o a comer, mas ele era irredutível.

— Só prova uma colher, filho! — disse a mãe de Jonatas, pegando um pedaço de frango da vasilha, este que, se agarrou a um pouco de quiabo e subiu com o liquido típico se esticando até se desfazer. Jonatas fez uma expressão de nojo e olhou para os lados.

— Mas isso é… Baba! — disse o jovem garotinho, enojado. Referindo-se ao líquido que sai do quiabo, que realmente, parecia baba. Sua mãe já não aguentava mais insistir, bufou e deixou a sala de jantar. Conrado sorriu e se aproximou do amigo.

— Olha, nem é tão ruim! — exclamou o garotinho, mordiscando um pedaço de coxa de frango e fazendo sons de alguém que acabara de provar um pedaço do paraíso. A coloração dourada da carne, mas o delicioso cheiro que ficou no ar, fizeram Jonatas salivar. — Eu prometo que se você comer e não gostar, te deixo ser o Cruzeiro no futebol de botão!! — indagou o jovenzinho, fazendo Jonatas cogitar entre aceitar ou não. A expressão maléfica no rosto do rapaz era cômica, como se planejasse cada detalhe.

— Tudo bem! Mas prometeu ta prometido! — disse o pequenino, que, com muita sabedoria e traquinagem na cabeça, pegou a asinha do frango e mordeu um pequeno pedaço. Ele achou saboroso, nunca comera tal deliciosa especiaria, mas quem disse que ele ia perder a oportunidade de ser o cruzeiro no futebol de botão? Imitou a expressão de nojo da mãe, no dia que fez xixi na piscina, erguendo o nariz para cima, franzindo a testa e contorcendo a boca, além de abaixar as sobrancelhas. Conrado ficou desconfiado, cerrou parcialmente os olhos. — Não gostei. — disse o rapaz, deixando o pequeno peãozinho cada vez mais desconfiado. Ele se aproximou, agarrou a asinha da mão de Jonatas e começou a comer.

— Já que não gostou eu como! — e enfiou-a na boca, retirando a carne e deixando apenas o osso. Jonatas ficou triste, de boca aberta e olhos cheios de água, ameaçou chorar.

— É ruim… mas eu queria comer mais! — disse o malandrinho, Conrado caiu em intensas gargalhadas, apontou para a panela com o frango com quiabo e sorriu, malandro. Jonatas cruzou os braços e, receoso, decidiu o que fazer. — Tudo bem, você fica com o cruzeiro, mas o Atlético é meu!!! — disse o pequenino, convicto. Conrado pensou, pensou, pensou e consentiu com a cabeça, levando a panela para perto do amigo, para que ele pudesse comer o quanto quisesse.

Conrado chegava com o motorista a cozinha. Molhado, apoiava-se na parede de pedra bruta e sorria, enquanto observava Jonatas perdido em seus devaneios. Tchana era outra admirada com o sorriso do rapaz, algo carismático, que dá prazer em se ver. Ele nem percebia que estava sendo observado, continuava longe em seus sonhos.

— Então, Jonatas, a sua mãe me ligou enquanto estava no carro… — disse Douglas, o motorista, cortando o silêncio que já durava algum tempo e acordando Jonatas de seus sonhos, que, pouco a pouco, foi perdendo seu sorriso, acreditando que deviam ser más noticias. — Ela disse que chega ainda amanhã e disse também que vai trazer a Carolina e a Della. — ponderou Douglas, fazendo Jonatas suspirar aliviado. Era uma grande noticia a mãe já estar chegando e melhor, com suas amigas. Betina, a segunda maior cozinheira que conheceu e Della, a garota mais inteligente e tímida que ele já havia visto.

— Alguma dela é sua namorada? — perguntou Tchana, concentrada em suas panelas. Jonatas cerrou os olhos e disse que não meneando a cabeça para os lados, aquilo lhe deixava um tanto assustado, afinal, todos daquela fazenda esperavam que o rapaz trouxesse sua namorada, mas não trouxe. Logo começariam a desconfiar. Tchana respondeu com um ligeiro “Hum”. — Então, seis devia ir trocar essas roupas que ta tudo moiada e depois pode vir almoça!!! — respondeu Tchana, expulsando Jonatas e Conrado da cozinha, deixando ali apenas o motorista, que por ironia, não estava molhado.

Conrado caminhava na frente, deixando seu rastro de água por onde passava. Jonatas ia atrás, forçando os olhos para os lados, tentando não olhar para aquilo que era evidente naquele corredor: O bumbum de Conrado marcado na calça molhada e apertada. Era tão grande… Ele queria… Tocar… Mas não podia! Ele não queria ser um anormal. Parou, fechou os olhos e decidiu caminhar com eles assim, pelo menos não iam cometer esse erro de olhar para a bunda do peão novamente, mas sua mente era poderosa, parecia que existiam duas vozes na cabeça de Jonatas, uma dizia para ele olhar, outra dizia para não.

Conrado já havia parado a alguns instantes, estava se despindo e jogando a roupa molhada sobre um monte de tecidos sujos, o silêncio que começou quando saíram na cozinha, continuou errante naquela sala. Jonatas não havia percebido que o peão estava parado em sua frente, afinal, ainda não tivera coragem de abrir os olhos. Caminhou em frente até quando conseguiu, pois fora impedido de ir em frente por um bloqueio que ele não conhecia. Não queria abrir os olhos, podia correr o risco de se pegar olhando para o peão novamente. Decidiu por fim, descobrir do que se tratava usando o tato, e então, começou a passara mão sobre aquilo que o impedia de ir em frente: Era quente, molhado, em certos pontos duro, em outros mole. Não era regular, tinha formas diferentes, além de tamanhos e se estendia além da altura do rapaz. Jonatas foi subindo a mão pela “barreira”, de quando em quando sentia algo como pelos lhe coçarem a mão, mas nada se comparava a enorme quantidade que ele havia encontrado no topo da “coisa”, aliás, não era pelo, era cabelo. Finalmente se deu por conta do que estava tocando, abriu os olhos, estupefato, ficando cara-a-cara com Conrado, que se divertida com a brincadeira do amigo.

— De… Desculpa, eu não… — o rapaz estava nervoso, suava com porcos na hora do abate. Queria se explicar, mas não conseguia. Sentia algo forte dentro de si, como se seu coração se tornasse uma britadeira. Não parava de pulsar um só segundo. Sua boca estava poucos centímetros da de Conrado, mas ele não tinha coragem de fazer nada, nem ao menos se afastar. O peão sorria, parecia não se importar com essa situação. Como disse, estava despido, apenas de calças.

— Não tem probrema! Vi que você tava de olhos fechados, por que isso? — perguntou o peão, ingênuo. Jonatas se desesperava, o que ele devia falar? Pensou e pensou, cogitou e deseacreditou. Estava perdido.

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— Eu… Eu… Eu… — gaguejou o rapaz, tentando pensar em uma respostas convincente. Pensou e sorriu, convicto. — É que tinha caído um cisco no meu olho e quando eu abria ardia demais… — respondeu, malandro. Conrado se mostrou preocupado, aproximou seu rosto do de Jonatas e começou a observar seus olhos azuis, o rapaz, por sua vez, ficara encantado com os olhos castanhos claro do peão. Eram apaixonantes, hipnotizantes.

— E já saiu? Ouvi fala que se não tira ele chega no coração e te mata por dentro!!! — disse o peão, assustado. Ele continuava a observar os olhos de Jonatas, chegando cada vez mais perto e mais perto, o rapaz, por sua vez, começou a se contorcer para trás, tentando fugir dos sentimentos por Conrado, que ficavam a flor da pele a cada centímetro de proximidade. O peão continuava, continuava, até que em um momento, por conta da água que encharcava o chão, este não consegui se manter em pé, escorregou na poça criada pela umidade de sua calça e caiu por cima de Jonatas, que arregalou os olhos, surpreso. Estavam ali, juntos, não eram capazes de nada, ficavam se encarando. Conrado havia se perdido no céu azul dos olhos de Jonatas, enquanto Jonatas havia se encontrado no calor do corpo do peão. A chuva continuava a cair, eles não foram capazes de controlar seus sentimentos por muito tempo, começaram a aproximar seus rostos, os deixando a pouco de cinco centímetros de distancia. Dessa vez não era só Jonatas que sentia algo diferente. Conrado também sentia, ele tinha a vontade de beijar o amigo por toda eternidade, mas por ocasião do destino, uma goteira surgiu bem em cima de suas cabeças, os acordando dos devaneios e levando-os para a realidade. Conrado se levantou, deu as costas e botou uma camisa qualquer da pilha, Jonatas perdeu o sorriso e coçou o braço, onde a queda do peão havia lhe causado uma pequena dor.

— Conrado, eu… — disse Jonatas, tentando se explicar pelo ocorrido. Conrado permaneceu de costas, não conseguia olhar novamente para aqueles olhos azuis. — Só queria me desculpar por isso… Não soube o que deu em mim e…

— Não precisa se desculpar, foi tanto culpa minha quando sua. — cortou o peão. Conrado nem parecia o mesmo que recebera Jonatas no sitio, havia falado sem cometer nenhum erro ou regionalismo. Suspirou fundo e virou-se para Jonatas, preferindo olhar o chão do que os olhos do rapaz. Não tinha mais o seu sorriso, apenas uma expressão de amor perdido. Caminhou até a janela e novamente deu as costas para Jonatas, que saiu da sala, indo na direção de seu antigo quarto, aos prantos.

(Sei que não faz diferença alguma na historia, mas caso queiram ouvir a música que colore o enredo desse capítulo, é essa: https://www.youtube.com/watch?v=Nt77EJqTpPo)

Conrado permaneceu no quarto, tentando parecer o mais forte possível. Não sabia o porque, mas tinha vontade de chorar, como alguém que havia perdido o… Grande amor de sua vida. De quando em quando, sua expressão de raiva, dava lugar a um triste semblante de dor intensa, as lágrimas não desciam, por mais forte que o sentimento fosse, não eram páreas para um coração amargurado, como o do peão. Suas lembranças do passado não eram boas como as de Jonatas. Como ele queria ter aceitou aquele beijo quando tinham doze anos, mas sabia que ia acontecer aquilo de novo…. Aquilo que sempre acontecia quando ele demonstrava algum sinal de “anormalidade” perto do pai: Ele ia vir com um cinto nas mãos e começar a dar chicoteadas sem dó no filho e gritar coisas como “Viado, perdido, vai queimar no inferno”. Ele amava Jonatas? Não tinha certeza. Seus sentimentos eram muito confusos. Ele tinha medo de amar, se entregar e no fim não poder contar nem com o amado. Já não podia mais segurar, chorou, chorou tanto quando o céu, que jogava chuva na terra, lembrando-se das palavras do pai, que sempre eram iguais depois de dar-lhe uma surra e ele começar a chorar: Homem não chora, ou você para ou leva mais!!

Jonatas já chegava em seu antigo quarto. Era impossível estar triste ali, mas continuava sentido com os últimos acontecimentos. As lágrimas continuavam a cair, enquanto ele observava suas coisas dos tempos felizes, tempos de infância, onde as lembranças de coisas felizes não tinham fim. Brinquedos, roupas, sentimentos, lembranças… Tudo aquilo que deixava seus momentos especiais, inesquecíveis, que iriam ser lembrados por toda eternidade. Com dificuldade, deitou-se na pequena cama, que o obrigou a deixar as pernas para fora, era confortável, apesar de tudo. Lembrou-se de algo, uma ruga de curiosidade apareceu na testa, passou o braço por baixo da cama e retirou de lá uma caixa, que estava com cadeado, porém, aberto. Estranhou, afinal, havia fechado quando tinha voltado para a cidade. Deixou de lado e abriu, retirando de lá fotos, desenhos, brinquedos e todo tipo de bugiganga que lhe remetiam lembranças ligadas ao peão, mas aquilo que ele mais queria encontrar não estava ali, sera que havia perdido? Deixado na cidade? Não era algo de valor, mas era importante, era sua lembrança de seu dia mais feliz: A foto de quando ele e o amigo haviam se conhecido e estavam molhados, pois estava chovendo e eles tiveram a mirabolante ideia de tomar banho de chuva. Na foto, estavam abraçados, sorridentes, sem malícia e sem tristeza. Esquecendo a falta da foto, Jonatas abraçou a caixa com suas lembranças e deixou a nostalgia vir, levando consigo lágrimas verdadeira, de felicidade.

Enquanto isso, ainda perto da janela, Conrado observava uma foto, justo aquela que faltava na caixa de Jonatas: Duas crianças sorridentes, abraçadas na chuva. Fora seu primeiro contato de amizade, seu primeiro sentimento em comum: Amizade. Que hoje se tornou um turbilhão de sentimentos inexplicáveis. Paixão, amizade, tristeza, alegria, melancolia, saudade e, principalmente, amor, mas não amor comum, um amor correspondido, mas medroso. Esse medo que, deixava ambos distantes, mesmo estando tão o perto um do outro.