These Days

Não é possível voltar atrás e mudar o começo.


Eu estava sentado naquela divã pela terceira vez, deveria estar deitado mas eu não conseguia conversar com alguém sem olhar para a pessoa. Doutora Ana Paula era uma mulher com seus trinta e poucos anos e bem atraente até, mas eu sentia um certo medo quando aquela porta se fechava e ela mandava eu deitar.
Mas eu estava sentado e olhando para ela, ela sorriu gentilmente e começamos a conversar sobre tudo, como sempre.

— Então... tá tudo bem pra você? - Ela perguntou.
— Sobre? - respondi, eu sabia sobre o que era, mas tinha medo de responder.
— Sobre seu melhor amigo namorar a garota que você é apaixonado.
— Eu sempre quis o melhor para ela, sempre torci por sua felicidade... E ele talvez seja o único capaz de fazê-la feliz de verdade.
— E por quê você não seria capaz?
— Tenho medo, não sei... há um ano atrás eu tive a chance de mudar tudo.
— Você tá falando sobre o beijo que não aconteceu?
— Exato. Sei que naquele momento eu tinha a chance de mudar tudo e não mudei.
— Você disse que não beijou por causa da outra menina que você estava "ficando" né? - Ela fez uma pequena pausa e olhou em suas anotações - Bianca, né?
— Sim, eu achava que o único motivo de não ter beijado quando tive a chance, fosse Bianca. Mas não foi.
— Medo então?
— Sim.
— De quê? o que acha que aconteceria se a beijasse?
— Eu tinha e ainda tenho total certeza que ela corresponderia se eu a beijasse, mas... eu não sei o que aconteceria depois, talvez tudo ficaria estranho e pararíamos de ser amigos.
— Mas você já se afastou dela mais de uma vez por medo e sempre voltam, não é verdade?
— Eu tenho esse dom.
— De aproximar as pessoas?
— Não Doutora, de afasta-las de mim.

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Eu estava debaixo do chuveiro e enquanto a água caia sobre meu corpo eu pensava naquela cena, pensava em como eu queria tê-la beijado, se eu pudesse voltar uma hora atrás eu a beijaria.
Eu sai do banheiro já de roupa e deitei na cama e tentei não pensar tanto naquilo, mas era impossível. Naquele momento eu percebi o quanto eu estava confuso com tudo que acontecia, a única coisa que me deixava tranquilo era o fato de não ter "traído" Bianca, pois eu ficaria decepcionado, triste e sei lá mais o quê, se descobrisse que ela ficou com outro.

Nesse fim de semana eu prometi que passaria os dois dias inteiros com ela, e pela primeira vez eu ficava com medo de pensar em outra enquanto a beijasse.
Eu fiquei na cama por horas, eram quase onze da noite quando enfim desisti de dormir e me levantei. Caminhei até o PC e liguei o monitor e para minha surpresa tinha dezenas de mensagens de onze pessoas diferente. Fui vendo uma por uma, ignorando a maioria até que vi da Bruna.

— Oi Rickzinho.

Mensagem enviada há menos de 30 minutos atrás, e ela ainda estava online, talvez sem sono também. Era sexta-feira e Bruna costumava não dormir cedo nesse dia. Verifiquei o resto das mensagens e também tinha de Bianca. E mandei um "E aí" para Bruna e então fui conversar com a Bianca.

— Cheguei! - Mandei.
— Aleluia, tava aonde que te mandei mensagem desde a hora que cheguei da escola e nada de você aparecer.
— Eu estava um pouco sem cabeça pro PC e aí fiquei deitado aqui mó tempão, mas o sono não chega.
— Hmm... Você vem amanhã né?
— Claro! Que horas que é pra eu ir?
— Eu ia falar no fim da tarde, mas como estou com saudade, vem antes do almoço, aí você almoça aqui!
— Só se você cozinhar!
— Iiih querido, sou quase uma chef de cozinha.
— hahahahahaha sei. Então umas onze eu apareço, ou meio dia. Okay?
— Okay, meio dia tá ótimo.
— Estarei aí.
— Agora vou dormir, pois fiz logo minhas tarefas da escola para ter o fim de semana livre, sabe?
— Livre pra quê hein? hahaha
— Vou passar com meu namoradinho sabe?
— Tá namorando? :O - Mandei aquele emoticom de surpreso.
— Tô querendo, mas ele não se toca.
— Século 21 gata, mulheres tem atitude também viu? hahahahaha - E eu ri de verdade.
— Pois é, tô vendo que será assim.
— Talvez...
— Bom, vou dormir pois amanhã tenho que cozinhar pro namoradinho.
— Vê se capricha hein, dizem que o caminho para o coração de um homem é pelo estômago hahahaha.
— Hahahahahahahaha idiota! Mas obrigada!
— De nada.
— Beijo namoradinho ♥
— Beijo ♥ - Eu escrevi umas quatro vezes "namoradinha" mas fui incapaz de mandar. Em seguida ela saiu.

Eu ia fazer o mesmo quando a janelinha da Bruna subiu e tinha umas quatro mensagens dela. Eu sabia que naquele momento eu ficaria conversando com ela até ela ir dormir.

— Voltei, sorry. - Respondi.
— Caraca, tá abandonando hein!
— Hahaha que drama é esse?
— Não é drama! Tô te mandando mensagem desde a hora que cheguei em casa.
— Oxi, é saudade?
— Idi! Não sinto saudades de você.
— Imaginei que não, deve pensar tanto em mim que é difícil sentir saudades.
— HAHAHAHAHAHAHAHAH como é iludido.
— Seu olhar não mente.
— Que olhar?
— O que você faz quando me olha.
— Acho que esse olhar é seu, rickzinho.
— Meu?
— Acha que não percebo o jeito que me olha?
— Você percebe?
— Claro, dentro desses olhos verdes aí, é bem fácil decifrar você.
— Me decifrar?
— Sim senhor.
— Você me decifrou, Bruna?
— Eu tento, mas tenho medo da resposta.
— Você com medo? isso é novidade.
— Eu tenho muitos medos, viu?
— A resposta em me decifrar te dá medo?
— Muito.
— Por quê?
— Você é o garoto mais incrível que conheci, único que tenta esconder os sentimentos, a tristeza, mas não consegue, você é sensível, seu olhar diz muito sobre você. - Essa resposta dela me deixou sem palavras por uns minutos.
— Desde quando você repara em mim? - Falei depois de quase cinco minutos sem responder.
— Desde o momento que eu entrei na escola e vi um garoto sentado ao lado do meu melhor amigo, e esse garoto me olhou de um modo que fez me sentir especial, única.
— Mas você é única... e especial.
— Sou? hahahaha.
— Sim, você é!
— Por quê?
— Não sei... de umas quinhentas garotas da escola, quando bati os olhos em você eu senti algo diferente.
— Iiiih gamou na moreninha aqui?
— Talvez...
— Ih... tá falando sério?
— Talvez...
— ME RESPONDE HENRIQUE!
— Eu não sei a resposta. - Era obvio que eu sabia.
— Não vou negar que gosto da sua companhia, gosto de ficar ao seu lado do que qualquer outra pessoa.
— Por qual motivo?
— Isso eu não sei.
— Tá me imitando? hahaha
— Não! É verdade, eu não sei. Acho que o jeito que você me olha, você me deixa sem graça só de me olhar.
— E como te olho?
— Diferente de todos esses garotos que quando olham para uma menina, eles olham " comendo elas pelos olhos " sabe? você não. Você me olha e me dá uma paz, parece que nada de ruim vai acontecer enquanto eu estiver com você.
— Uau... quase uma declaração de amor isso hahahaha. - Eu ria, mas eu estava sem graça e de certo modo, nervoso.
— Dia que eu me declarar pra você, você morre! hahahahahaha
— Então há a chance de você se declarar? hmmmmm.
— Idi !!!!!!
— Eu sei que quando fica sem graça, sem ter o que falar você me chama de "idi" ou "idiota".
— Percebeu ?
— Meio óbvio.
— Adoro conversar contigo pelo MSN, pois você responde mó rápido!
— Me concentro no que faço.
— Uii hahahaha.
— Que mente poluída!
— Eu não pensei nada.
— Tô vendo hahaha.
— Acho que vou dormir, meia noite já.
— Hmm, vai lá, brubs.
— Okay Rickzinho.
— Dorme bem, cuide-se.
— Você também... e...
— E... ?
— Você é o garoto mais incrível que conheci.
— Obrigado por fazer eu me sentir assim.

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Eu sai do computador e deitei na cama, dessa vez eu estava com sono. O ar condicionado estava no máximo e isso fez a temperatura do quarto ficar bem baixa, eu me cobri todo e minha mente juntou essa conversa com o nosso momento de mais cedo. E na minha cabeça, nesse momento, eu a beijava.
Eu não sei o por quê sou tão confuso com tudo, a vida poderia ser tão simples. Poderíamos escolher de quem gostar, de quem não gostar, de esquecer alguém, de lembrar de alguém, mas não é assim.
Eu tinha total certeza que alguém ia se magoar demais com essa história e minha missão era que as duas não se magoassem, só eu.
Porém... eu sou um idiota né? e no fim, os três se magoariam com tudo isso.