These Days

Museu Aeroespacial.


A semana do passeio começou animada, tudo por conta do torneio de Futsal, aquele que eu organizei por meses, enfim teve seu início. Como tinha muitos times, o sistema era simples, mata-mata, quem perdesse já estava fora. Com três jogos por dia, um no intervalo do turno da manhã, o segundo jogo entre o turno da manhã e o da tarde, e o terceiro jogo no intervalo do turno da tarde.

Isso fez com que a escola toda ficasse em ecstasy, as torcidas não eram pelas suas turmas, pois não era turma A x Turma B, e sim cada pessoa podia montar seu time com alguém de qualquer turma e turno, isso deixava todo mundo a flor da pele na hora dos jogos.

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O time a ser batido era o B de Bola, atual Bi campeão, único time da história da escola a ser campeão mais de uma vez, tinha todos os seus jogadores/alunos no terceiro ano, e obviamente eles queriam terminar aquele ano vencendo pela terceira vez seguida.

O meu time era a Toca do Babau, nome do bar do pai do Eduardo, ao contrário de todos os outros times, o nosso era apenas os jogadores da nossa turma, mostrando o quão unido éramos. O nosso jogo foi terça-feira no intervalo da tarde. Eu não joguei e isso deixou Eduardo bem chateado comigo.

Porém vencemos, e foi incrível pelo fato de que a quadra estava lotada, era um barulho ensurdecedor, primeiro pois jogávamos "em casa" pois éramos do turno da tarde e estávamos jogando contra um time da manhã, logo o pessoal torcia para quem eles conheciam, segundo, Eduardo. As garotas todas gritavam por ele, até a Bruna que foi ver o jogo.

Tirando o fato do jogo, aquela semana era especial para nossa turma, na sexta-feira íamos ter nosso passeio, o primeiro, o museu aeroespacial. Todo mundo esperava pela sexta-feira mas a semana ia se arrastando. Na quinta-feira todo mundo não queria nem estudar, o pessoal realmente estava animado.

Aquele foi o primeiro intervalo que passei longe da Alana em mais de um mês. O engraçado é que antes das férias eu não troquei nenhuma palavra com ela pessoalmente, e desde agosto, no primeiro dia de aula após as férias a gente não se desgruda.

Naquela quinta-feira Alana estava conversando com as meninas, eu tive uma reunião com o grêmio estudantil. Planejávamos sobre o ano seguinte, e após o fim da reunião. Guilherme, o presidente, me chamou. Esperou todos saírem da sala para começar a falar.

— Henrique, você vai passar de ano? - Ele perguntou.
— Acredito que sim.
— Vai para manhã?
— Acho que sim, vou ver com a maioria da sala, amigos e tal. - Obviamente eu só queria saber onde Bruna, Alana e Eduardo iriam.
— Você sabe que me formo esse ano, mas ficarei cuidando do Grêmio ano que vem também, pois já agendei um estágio na secretária para mim.
— Sério? Parabéns.
— Obrigado, mas é o seguinte, eu preciso de um sucessor, e único nome que me vem em mente é você.
— Eu? - Eu gelei, fiquei surpreso e não conseguia digerir aquilo.
— Hahahahaha, calma, sim, você. - Antes que eu pudesse responder, ele continuou dizendo. - Quero que ano que vem você continue no seu cargo, mas ficará cuidando das coisas principais comigo, quero te deixar ciente e preparado para tudo, pois no seu terceiro ano, você será o novo presidente do Grêmio Estudantil.

Parece não ser muita coisa, mas na minha escola o Grêmio Estudantil significava muita coisa. E chegar ao topo, significaria que toda a escola, de todos os turnos iriam saber quem eu era. Eu não percebi, mas eu estava me tornando uma pessoa completamente diferente da que eu era.

Na saída da sala do Grêmio, subi pelas escadas dos professores para ir para minha sala, a última aula já havia começado. Para minha surpresa, quem encontro no bebedouro? Alana. Ela não tinha me visto, então assim que ela levantou a cabeça após beber água, eu abracei por trás.

Ow!— Ela se assustou.
— Ei! - Sorri, ainda abraçando-a.
— Idiota! Me assustou! - Ela sorriu, acariciou meus braços.
— Hahaha foi a intenção. - Eu a soltei e ela se virou e continuou sorrindo.
— Onde você estava? Sumiu intervalo todo, achei que tivesse ido embora.
— Ah, Reunião do Grêmio.
— Hmm, achei que só ia te ver na segunda, já que amanhã não venho e tem seu passeio.
— Relaxa, estou aqui! - Dei um beijo em sua testa e a levei para sua sala.

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Ao chegar na escola naquela sexta-feira foi algo estranho, ao entrar na rua da escola, havia um ônibus enorme, obviamente, o do nosso passeio. Professor Marcelo estava parado na porta da escola com uma pasta na mão, parecia meio enrolado com aquela situação. O pessoal da minha turma e da turma ao lado que iam chegando, ele já mandava para o ônibus.

— Tudo bem, Marcelo? - Perguntei ao me aproximar.
— Opa Henrique, tudo! Pode ir para o ônibus por favor, saímos em vinte minutos.
— Hmm, já vou. - Me afastei um pouco.

O professor conhecia a turma inteira, mas não conhecia a Bruna, precisava esperar por ela. Fiquei do outro lado da rua esperando, torcendo para ela não se atrasar. Dez minutos depois ela chegou.

— Bruna! - Gritei do outro lado da rua, ela viu e se aproximou.
— Oi... - Falou ainda meio distante, não fisicamente, mas sim com seu jeito.
— Tenho que te pôr dentro do ônibus, vamos.
— Tá bom. - Ela respondeu.

Ao me aproxima do ônibus, Marcelo me olhou, eu só apontei discretamente para ela, ele então percebeu que ela era uma das garotas que falei que levaria para o passeio, ele só balançou a cabeça. O ônibus já estava bem cheio, e vocês conhecem os adolescentes né? uma gritaria, musiquinhas e batuque. Bruna sentou-se ao lado da Lorena, as Gêmeas estavam na frente delas.

Eu então fui quase no fim do ônibus e sentei perto da janela. Dois minutos depois Eduardo chegou e sentou-se ao meu lado. O ônibus não demorou a ir. Alguns minutos na rua, o pessoal brincava com musiquinhas do tipo: João roubou pão na casa do fulano. Eu estava quieto, acho que era o único não animado ali. Eduardo percebeu.

Lek?— Ele puxava assunto.
— Fala. - Olhei para ele.
— Por que você chamou Bruna e Alana?
— Alana e eu estamos bem próximos, e... - Eduardo me interrompe.
— Próximos? Vocês estão grudados. - Ele ria.
— É, próximos. Queria a companhia dela.
— E a Bruna? - Ele falou olhando para ela lá na frente.
— Não sei... a gente praticamente não se fala, mas... - Fiquei pensando.
— Mas... - Ele me olhou.
— Mesmo não falando com ela, gosto de tê-la por perto, gosto de olhar para ela, de quando ela fala e abre um sorrisinho e aí aparece suas covinhas. Gosto dos olhos castanhos escuro dela.
— Sério que você reparou tudo isso nela? que gay! - Ele respondeu rindo e eu fiquei calado.

O restante da viagem foi bem entediante. Eduardo depois de alguns minutos foi lá para frente ficar zoando e brincando com o pessoal. Eu fiquei sozinho e olhando a rua, eu estava bem reflexivo naquele dia. Acho que se eu não tivesse chamado a Bruna, eu provavelmente não iria. Pois se eu não fosse, ela não entraria no ônibus e isso seria uma mancada.

Chegando no Museu, foi incrível, eu cheguei até a me animar. O lugar era gigantesco, vimos armas, fotos, tudo da primeira e segunda guerra mundial. Andamos em pequenos grupos, Bruna estava no grupo da frente com a turma das Gêmeas e Lorena, eu fiquei com algumas pessoas da minha turma.

Eduardo, Léo, e eu de menino. Stefanie, Monise e Thaiane de menina. Éramos o último grupo, e quando chegamos no salão das aeronaves, podia até entrar nelas. Tinha um que era enorme. Então Léo puxou Monise e os dois entraram em um avião.

— Meu Deus, saiam daí! - Thaiane falou para os dois.
— Ih, deixa eles. - Stefanie falou rindo.
— Quer conhecer o cockpit? - Eduardo falou rindo para a Stefanie, que só respondeu com uma risadinha.

Os dois foram para o mesmo avião que estava Léo e Monise e ficariam lá pelo resto do passeio inteiro. Thaiane e eu apressamos o passo e entramos em outro grupo, fingindo não saber onde os quatro estavam.

O passeio pelo museu termina numa espécie de lanchonete. O pessoal todo comprando algo para comer. Eu estava com fome. Vi a Bruna comprando Coca-Cola naquelas maquinas e bebendo sem comer nada. Me aproximei devagar.

— Não está com fome? - Perguntei.
— Um pouco, mas nem trouxe dinheiro, esqueci. - Respondeu abrindo sua latinha e botando um canudo.
— Vem cá, compro algo para você. - Falei.
— Não precisa, relaxa. - Ela falou tomando um gole da sua Coca-Cola.
— São quase quatro da tarde, você tá com fome, venha.

Bruna relutou um pouco mas veio comigo até o balcão onde comprei um pastel enorme para ela. Ela sorriu agradecendo. Talvez aquela seria a melhor hora para conversar com ela, saber o que estava acontecendo, na verdade eu acho que sabia. Mas assim que ela começou a comer, Eduardo apareceu, meio suado.

— Onde você estava? - Perguntei de forma irônica.
— Estava aqui o tempo todo. - Ele respondeu sem graça e me olhando com uma cara do tipo: Vou te matar.
— Curtindo o passeio? - Perguntei para ele e fiquei rindo.
— Pô... demais! - Ele respondeu e saiu de perto.

Percebi que Bruna ainda estava meio incomodada de ficar a sós comigo, por sorte Lorena se aproximou com as gêmeas e ficaram conversando, eu estava junto mas minha cabeça já estava em outro lugar, eu voltei a minha forma de pura reflexão.

Quando voltamos para casa, chegamos na escola e estava anoitecendo. Eu fui o último a descer, Marcelo estava na porta esperando, ele me olhou e botou a mão no meu ombro e falou:

— Sorria rapaz, dias melhores virão. - Ele deu dois tapas devagar em meu braço.

Não sei o motivo que fez ele me dizer aquilo, talvez meu rosto entregava tudo, talvez ele soubesse bem mais do que aparenta. Mas uma coisa ele estava completamente errado, dias melhores não iriam vir, e sim piores dias viriam.