Agradeça, agradeça! Aos sonhos, às terras em que viajas. Oh, belo unicórnio, não desprezai, subestimai ou ridicularizai aquele que vos cedeu água, comida e grama para caminhar — escutei uma voz grossa cantando à medida que andava para frente.

A música ficava cada vez mais alta. Mas para onde estava indo? Não sei, era tudo branco!

Somos seres inteligentes, não nos subestimem — a voz continuava — A mais pura alma nós temos, o que faz com que a alma de quem desfruta da nossa inocência, do nosso sangue, apodreça e permaneça mais sombria que a Floresta Proibida.

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Certo, onde eu estava?

Socorro, eu não consigo sair desse lugar! Onde fui me meter? Quero minha mãe, quero o meu pai! É, meu pai!

Meu pai é um auror, sabia? falei alto para o nada, recebendo como resposta uma risadinha de deboche.

Ah é? E o que ele poderá fazer com mim?

Te prender, ora essa falei como se fosse o óbvio. Mas que cara burro, o certo seria "fazer comigo". Ouvi agora as gargalhadas grossas da voz Aliás, o termo correto seria "fazer comigo".

Ele não poder prender quem não ser humano.

Quê? Como assim?

O quê?

Ser mim, Bells então ele apareceu na minha frente, quase tão branco quanto antes Tarzan!

Fiquei um tempo encarando aquele ser que parece, mas só parece, um cavalo. Não falei nada por alguns segundos, mas logo sorri e o abracei. Claro, como não percebi antes? O jeito errado e primata de falar...

Uni, que saudade!

Uni? ele me olhou inconformado Já não te disse que o nome de mim ser Tarzan, Isabelle?

É, mas... você sabe, você é um unicórnio, é muito mais adequado te chamar de Uni do que de Tarzan. Tarzan é nome de macaco.

Mas que atrevida essa Isabelle ele se afastou arrastando as patas Fora do meu bosque, fora! Agora!

Senti uma pontada forte e quente na minha cabeça e gemi de dor, levando as mãos ao local. Toquei num tecido estranho, como se fosse um curativo.

— Ela acordou! — ouvi uma voz exclamar.

Abri os olhos com dificuldade e pisquei uma, duas, três, quatro, cinco vezes para que minha visão se estabilizasse. Assim que pude enxergar, focalizei um par de olhos cor de chocolate que me observava aflito.

— Finalmente! — exclamou uma voz rouca, que eu presumi ser de Sirius — Já não aguentava mais escutar os lamentos do Aluado. "Ah, é tudo culpa minha". "Ah, sou um perigo a todos, olha só, eu avisei". Cara, você é problemático, neurótico, é...

— Chega, cara — disse a voz calma de James — Ela acabou de acordar, ok? Depois de dois dias! Deixe-a em paz um minuto.

— Aonde foi o Tarzan? — perguntei confusa.

— Quem?

— O Uni, o Uni — tentei explicar enquanto sentava — Ele está com raiva de mim. Eu o chamei de Uni, ele não gosta.

— Uni? — perguntou James confuso — O que diabos é isso, Bells?

— Ela deve estar delirando — Sirius sugeriu com um ar preocupado — Ah, será que aquela queda da prateleira na cabeça dela danificou algo realmente serio no...

— Oh! — exclamou uma voz esganiçada — Saiam! Saiam da frente, deixem-na respirar! — bradou Madame Pomfrey vindo até perto de mim — Como se sente, querida?

— Hum, bastante confusa, na verdade.

— Sei que está — ela assegurou de forma atenciosa pegando algo na mesinha de cabeceira ao lado — E vocês quatro, sumam, sumam! Melhor deixarem-na descansar. Uma prateleira, ah, francamente, deveriam ser punidos! Tão tarde e tão velhos para ficarem de brincadeiras...

— Bom, é melhor irmos — James interrompeu sorrindo fraco — Depois nós voltamos, ok? O senhor "sou culpado" quer conversar com você.

Então, com algumas teorias sobre como a queda da prateleira poderia ter afetado meu cérebro, Sirius saiu, parecendo indignado enquanto conversava com James. Peter estava na sua cola e Remus mais atrás. Pude perceber que ele estava mancando. Não duvido nada, depois daquela mordida de Sirius.

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— Vamos, tome isto — Madame Pomfrey me entregou um copinho com uma poção de aspecto muito verde e pastoso — Vamos, tome — ela insistiu, vendo meu nariz torcido — Vai aliviar as dores na cabeça.

Tomei a poção quase vomitando e deitei de novo sentindo minha cabeça latejar. Não perdi muito saindo do bosque do Un... Tarzan. Era muito simples, não tinha nada de interessante. Há, faz até graça, um bosque sem arvores, sem grama, só o branco. Pensando nisso, adormeci. Nada de unicórnio, lago ou leprechauns. Nada.

(...)

— Bells? — acordei com uma voz calma falando.

— Hum? — eu estava virada de barriga pra baixo na maca, como eu gosto de dormir. Virei-me lentamente até vê-lo por completo — Remmy!

Ele riu e me abraçou, mas logo depois rompeu o abraço, encarando o chão com uma cara sombria.

— O que foi, Aluado? — perguntei com um tom até que divertido — Por que está assim?

Por alguns minutos ele não respondeu, mas continuei calada esperando sua resposta, até que ele inspirou uma grande quantidade de ar e falou tudo de uma vez:

— É tudo minha culpa, Bells. Eu disse para vocês não se meterem nessa idiotice de me "acompanhar", seja lá como vocês chamam aquilo. Ou melhor, eu não mereço ser seu amigo. Tá vendo o que eu trago? Você fraturou o crânio, um braço e uma costela numa noite só! E tudo isso porque eu sou idiota o suficiente pra deixar que vocês entrem naquela casa idiota...

Ele continuou resmungando coisas com o mesmo padrão: "blá, blá, blá, sou perigoso, blá, blá, blá, lobisomem, blá, blá, blá, não merecem ter que ser meus amigos". Toda vez que alguma coisa acontece comigo, ele me faz o mesmo discurso, mas na maior parte dele, não ouvi uma palavra do que dizia e fiquei encarando seus olhos.

Seus lindos e profundos olhos, que se viravam para vários cantos diferentes da Ala Hospitalar à medida que ele falava. Eu acompanhava cada mínimo movimento deles com os meus.

— Então quero que vocês parem com isso, não vou permitir que você se machuque de novo, já não aguento mais te ver deitada nessa maca idio...

Ele se interrompeu quando eu me sentei. Continuei a encará-lo, o que ele pareceu achar muito estranho, porque franziu a testa. Achei que ele estava se perguntando se eu havia ou não escutado o que ele disse.

Ele segurou minhas mãos e me perguntou, parecendo bem aflito:

— Então, Bells, você escutou o que eu disse? — assenti meio débil. Ele suspirou e continuou — Ah, eu sei que não ouviu nem metade, mas ainda assim quero que saiba que é perigoso, e é a mais pura verdade de que eu, sendo um lobi... — ele parou em súbito, percebendo que eu me aproximava — Bells, o que está fazendo?

— Não sei — sussurrei já a três centímetros do seu rosto. Seus olhos foram a última coisa que vi antes de fechar os meus.

Não sei o porquê, como ou quando eu comecei a ter essa atração repentina por ele. Meu melhor amigo! Droga de garoto lindo, doce, fofo, engraçado, inteligente, educado... eu já disse lindo?

Remus me pareceu bastante assustado ao sentir meus lábios entrando em contato com os dele. Para ser sincera, até eu fiquei assustada. Soltei as mãos dele enquanto aprofundava o beijo e fui subindo-as lentamente até a sua nuca, sentindo-o se arrepiar.

Suas mãos tocaram a minha cintura. Comecei a bagunçar o cabelo dele. Ah, qual é? É muito certinho! Imagina se ficasse igual ao do meu irmão? Uh... sexy.

Ah, Merlin!

Esquece o que eu disse. Que nojo, eu não acho meu irmão sexy, tá? Ele até que é bonitinho... dá pro gasto. É mais que óbvio que eu não teria nada com ele, nem mesmo se não fosse sua irmã.

Voltei uma mão para o seu rosto, sentindo algumas cicatrizes e uns cortes recentes. Nada que não seja normal para um lobisomem. Ele começou a apertar um pouco minha cintura, me proporcionando uma sensação de segurança e uma pontada dor ao mesmo tempo, pois minhas costelas não estavam completamente saradas. Mas quem liga, afinal?

Aquilo estava sendo um tanto estranho, mas ao mesmo tempo bom. Sei lá, ele sempre foi meu melhor amigo e, vejamos, eu não me sentiria a vontade beijando o Peter. Eca!

Ok, Isabelle, pare de pensar em besteiras e volte a se concentrar no super beijo que Remus está de dando. Quer dizer, retribuindo. Ah, quer saber? Não me importo.

Mas é como os trouxas dizem: alegria de pobre dura pouco. E bem pouco.

— É... isso foi... — Remus sussurrou, balbuciando, quando nos separamos. Ainda estávamos perto um do outro — Foi in... — aw, ele vai dizer que foi incrível! Existe garoto mais fofo que ele? — Insano!

Existe! O Scamander talvez.

— E-eu — gaguejei, desviando o olhar para o chão, sentindo meu coração martelar loucamente no meu peito — Me desculpe, Remus, eu só...

— Não, precisamos esquecer o que houve aqui, certo? Fingir que nada aconteceu! Isso...

— O quê? — perguntei chocada, mas concluí rapidamente para disfarçar — Quer dizer, hã, por quê?

— Porque... porque somos amigos, ora essa — concluiu, se levantando, e pareceu pensar um momento, levando as mãos à cabeça — Não conte para ninguém, ninguém! James e Sirius não podem saber, eles me matam se descobrirem.

Então quer dizer que ele está preocupado em salvar a pele e danem-se os meus sentimentos? Quem é ele e o que fez com Remus Lupin?

— Bem, Bells, tenho que fazer aquelas coisas que... a professora McGonagall mandou, sabe? É, tchau, melhoras...

Não, não sei não. Ela não tinha mandado nada! E o dia de Transfiguração foi antes de ontem, a próxima aula seria naquele dia de tardezinha. "Tchau, melhoras"? O quê? Ele me beija – quer dizer, eu beijo ele, mas ele me retribui – e simplesmente me diz para esquecer e se despede de mim desde jeito?

Vagabundo! Eu o odeio.

Ok, eu não o odeio. Não consigo odiar Remus Lupin. Ninguém consegue, eu acho. Só o Ranhoso mesmo, mas desde quando o Snape é um ser humano? Tá mais pra um tucano.

Deitei novamente na cama com uma vontade horrível de chorar. Argh, por que isso? Por que eu o beijei? O que eu tenho na cabeça? Titica de coruja? Não, quem tem isso é o James, segundo a Lily. Eu só desejo que tudo ocorra bem diferente com James e Lily do que ocorreu comigo e Remus. Só espero.

Comecei a fitar o teto da Ala Hospitalar. Merlin, o que diabos se passou pela minha cabeça quando fiz aquilo? O que eu sou, louca? É claro que eu sou louca. Olha só, eu tô discutindo a possibilidade de uma insanidade mental dentro da minha cabeça! Eu sonho com unicórnios chamados Tarzan e eu beijei o meu melhor amigo!

Ok, agora estava realmente aceitando a hipótese de Sirius de que aquela prateleira danificou meu cérebro. Beijar o Remus... francamente.

Mas o que ele havia dito ainda estava me corroendo. Ele nem sequer falou uma coisinha pensando nos meus sentimentos, deixou bem claro que sua preocupação era Sirius e James saberem, e que era completamente insano. No fim, ainda inventou uma desculpa para sair de perto de mim.

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Uma pergunta ainda me intrigava. Se ele não queria, então por que me beijou de volta, por Merlin? Seria bem melhor se ele não o tivesse feito. Eu inventaria alguma desculpa idiota e ele não teria saído de perto de mim.

Estranho... não tinha sido exatamente isso que havia acontecido quatro anos atrás, mas com a situação inversa? Ele havia me beijado, mas eu saí gritando para que ele não contasse a ninguém. Será que aquilo o deixou magoado como eu estava agora?

Minha garganta ardia e eu tive que soluçar uma vez para perceber que estava chorando. Como ele pôde? São tantas perguntas nessa droga... que horas são?

Olhei para o relógio pendurado na parede e vi que os ponteiros marcavam quatro horas e 55 minutos. Ótimo, daqui a pouco Madame Pomfrey vem me dar aquela poção nojenta e verde. Tudo o que eu preciso no momento: estrume de cavalo líquido. Hmmmm.

Cinco minutos se passaram e eu ainda não havia parado de chorar. Que droga, Isabelle, seja forte, sua inútil. Você não tem por que chorar.

Escutei a porta se abrir e rapidamente me virei de cabeça para baixo, fingindo estar dormindo. Ah, claro, super convincente o meu sono com soluços de choro.

— Srta. Potter? — ouvi a voz esganiçada de Madame Pomfrey me chamando e continuei meu fingimento inutilmente — O que aconteceu?

— Ah, hum, é que... — tentei pensar numa desculpa — Eu só tive um pesadelo.

— Calma, já passou. Estranho, a poção que lhe dei proporcionava um sono sem sonhos... o efeito deve ter passado depois de um tempo — ela começou a desenfaixar meu braço, que estava preso numa tala inútil, já que o osso já estava completamente consertado — Olha só, seu braço melhorou bastante, embora a costela não esteja saindo tão bem quanto eu esperava. Vamos trocar os curativos.

Ela começou a remover a faixa do meu tronco e eu tentava não gritar de dor a cada pedaço que ela tirava. Parecia que a minha costela havia piorado, surpreendentemente.

— O seu amigo, o Sr. Lupin, esteve aqui mais cedo. Deve ter ido embora antes de você acordar.

A simples menção dele fez todas as lágrimas voltarem aos meus olhos, mas neguei a saída delas. Agora não tenho mais pesadelos como desculpas.

— Hum — murmurei simplesmente — E quando será aberta a Ala para visitas de novo, Madame Pomfrey?

— Cinco e meia — ela respondeu — Mas se você não quiser visitas, eu posso fecha...

— Não, não — interrompi-a. Não queria ficar sem ver James ou Sirius. Eu sei, eu odeio admitir, mas sentia falta dos dois — Pode deixar tudo como está.

Ela pareceu desapontada por um minuto, mas logo depois assentiu. Lançou um feitiço não-verbal nas minhas costelas e senti uma sensação estranha na região. Ela tirou as faixas da cabeça, que também já havia curado completamente. Na verdade, eu só fui saber o que havia fraturado naquela noite no pequeno discurso de Remus.

Remus. Preciso parar de pensar nesse nome.

Depois de enfaixar a costela de novo, Madame Pomfrey me deu uma poção diferente do estrume – e eu agradeci mentalmente por isso – e saiu da Ala Hospitalar.

Já passava das cinco e vinte, de acordo com o relógio, o que significava que James e Sirius estariam aqui daqui a aproximadamente dez minutos. Ou não. Eles sempre se atrasam mesmo...

Uma pergunta um tanto óbvia se formava na minha cabeça... será que Remus viria?