Depois do ocorrido, passei dois dias sem sair de casa. Mais especificamente do meu quarto.

Eu não tinha vontade de escrever, nem de pesquisar, muito menos de levantar. Os pensamentos eram muito para pouca energia e minhas cobertas já começavam a ficar úmidas pelo meu suor. Eu não saia dali nem para comer, apenas para tomar beber água e ir ao banheiro. Ficava acocado, abraçado em meu travesseiro e chorando, eu realmente não conseguia pensar mais em nada além da minha idiotice e desvergonha. Sabia que, se eu voltasse para a escola, todos me olhariam estranho. Tentava ocupar minha cabeça com outras coisas. Esquecer-me da minha paixão por Thália, esquecer-me da pessoa a qual tinha me relacionado no armário.

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De vez em quando, mamãe vinha me trazer comida no quarto, deixava o prato na escrivaninha e pousava a sua gentil mão sobre minha coberta imunda e molhada com o vapor da minha respiração e suor, tentando chamar-me. Com certeza papai havia lhe contado tudo que acontecera e talvez ela estivesse me achando de fato, sujo. Naquela noite cheguei em casa destruído, com muito medo e vergonha.

Frankie Oliver me ajudou a subir as escadas, pois eu chorava demais para andar sozinho. Pôs-me no chuveiro com a água quente, me ajudou a me vestir e me pôs na cama, fazendo-me segurar um copo d’água a qual não conseguia tomar por causa da tremedeira. Eu realmente não estava preparado para tudo aquilo. Fez-me desabafar e contar tudo que havia acontecido, mesmo que a vergonha fosse maior que eu. Firmei-me e obriguei-me a falar tudo sem hesitar. Papai ouvia tudo com calma, balançando a cabeça com o dedo indicador encostado aos lábios, atento e querendo absorver cada parte, como se fosse projetar as cenas em sua mente.

Comecei a tremer mais quando falei de Thália Anderson, do jeito que olhava e beijava outro cara e queria morrer. Voltei a chorar desesperadamente, ele me segurou e me abraçou. Frankie Oliver sabia ser um bom pai quando lhe convinha.

— Shii – Sussurrou, pousando sua mão sobre o topo da minha cabeça – Não tem problema em chorar, você sabe.

Assenti, balançando a cabeça em afirmação.

—O primeiro amor – Continuou entre meus choramingos – Nem sempre a certo, filho.

—Quem... – Tentei falar, minha voz falhava – Quem foi o seu primeiro amor?

Eu sabia que tinha sido a senhora minha mãe, ele percebeu isso, por isso continuou calado, apenas abraçando-me e confortando-me.

—Prefere voltar para o seu terapeuta, filho...

—NÃO – Falei um pouco alto demais, algo que deixou Frankie Oliver assustado – Não...

—Dominic, seria melhor para você.

—Ele me chama de idiota doente...

—Você não é nada disso – Papai afastou-se um pouco e segurou meu rosto com as duas mãos – Você é inteligente, dedicado e eu quero que você seja um adolescente...

—Normal? Ele também disse isso, pai...

—Tem que ter em mente que nada é fácil como você imagina , Dominic – Tirou o meu cabelo da frente dos olhos e fez-me por os óculos novamente – Se relacionar com as pessoas é complicado e você sabe que o Asperger...

—Eu prometi tentar... – Interrompi de novo.

E foi assim que meus dias de cama começaram, assim como há seis anos, quando eu ganhei meu melhor amigo Odin, onde tinha crises de estresse e passava noites gritando. Papai e mamãe ficaram sem dormir por dias por minha causa, levaram-me para o hospital diversas vezes porque eu ficava me beliscando de raiva e acabava ficando todo roxo. Ficava lendo e lendo por dias em minha cama, alternando entre biologia e matemática, fazendo cálculos difíceis, criando esquemas. E era assim que meus dias eram mergulhados em solidão e livros.

Os livros me deixavam alegre, queria lê-los por inteiro, mas depois que Odin morreu, passei a apenas deitar-me em minha cama e chorar o dia todo, sem interrupção. A mesma coisa continuou acontecendo por estes dois dias que fiquei trancado em casa após a festa, eu queria apenas sumir, continuar pacifico ali, apenas eu e o meu mundo onde tudo era fácil e organizado como em um planner cheio de post- its. Queria que fosse assim para sempre.

Sem a festa, sem o jogo do armário, sem a pessoa misteriosa e principalmente, sem Thália.

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