O sol se encontrava encoberto pelas nuvens e parte de sua luz entrava pela janela do meu quarto. Abri lentamente os olhos e as memorias voltaram preguiçosamente a mim.

Luke estava comigo.

Olhei para o lado e ele não estava mais lá, coisa que não me surpreendeu tanto. Meu celular vibrou no meu bolso e assim que o peguei, a tela marcava 5h da tarde. A mensagem era de Cat.

Lucy, cadê você? Como você ta? Pra onde você foi?, Dá algum sinal de vida!!!

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Só então fui checar meu histórico de ligações. 13 ligações perdidas, Cat exagerada como sempre. Decidi que ligaria para ela daqui a pouco.

Levantei da cama e fui para cozinha percebendo só agora que eu não comi nada o dia inteiro e que estava faminta. Peguei um copo d’agua enquanto eu pensava no que comer quando eu percebo uma coisa que não tinha notado até agora. Deixo o copo d’agua cair no chão por conta do susto que eu levei ao me dar conta de tal coisa, subi as escadas correndo, abri a porta do meu quarto e constatei que eu não estava louca. Ou justamente estava louca.

Minhas muletas estavam apoiadas do lado da minha cama exatamente do jeito que eu as havia deixado antes de ir dormir e eu estava andando normalmente sem sentir nenhuma dor. Segundo as orientações do medico eu ainda teria que ficar mais umas três semanas no mínimo andando com as muletas. Eu não sentia mais dor nenhuma e meu pé estava tão normal quanto antes.

Eu definitivamente estava ficando louca.

Inevitavelmente tudo o que o bibliotecário havia dito mais cedo naquele dia voltou a minha cabeça, podia ter alguma relação. Liguei meu computador e pesquisei novamente “anjos caídos” e achei um artigo bem documentado falando a respeito disso. Logo achei o que me interessava.

“... Os anjos caídos possuem a habilidade de cura quase imediata para qualquer machucado mundano...”

Machucados mundanos... O que isso significava?

Para falar a verdade, não ser capaz de compreender nada dessa situação doida estava me deixando exausta e apavorada. Em alguns momentos achava que poderia realmente ter começado a enlouquecer. O mais estranho era que eu definitivamente não sentia mais dor alguma no meu pé como se ele tivesse se curado sozinho.

Nesse momento ouço a porta da frente de casa se abrir. Meus pais finalmente.

Corro escada a baixo para a porta de entrada e vejo meus pais, mas eles não estão sozinhos. Atrás deles posso ver a mãe de Cat também. Com os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Lucy, minha filha... – Minha mãe começa, mas se interrompe. – Cadê suas muletas?

— Ah é uma longa história mãe, eu tenho certeza que isso pode ficar para depois...

Meus pais parecem um pouco sem chão, minha mãe assentiu levemente.

— Filha... Isso é complicado. – Parece que agora eu só ouvia essas palavras. – A Cat...

A mãe de Cat desatou a chorar convulsivamente, tudo parecia estranhamente em câmera lenta.

— Catelyn está desaparecida. – A mãe de Cat quase gritou agoniada.

O tempo parou nesse momento. Minha visão escureceu um pouco e eu senti o sangue se esvair da minha cabeça. Logo em seguida só vi a escuridão.

~’’~

Acordei assustada com meu pulso e respiração acelerados e levantei da cama. Achei que tivesse sonhado que Cat havia sumido mas logo minha memória lentamente voltou como se fossem ondas. Fui me sentindo cada vez pior e lembrei-me de ter desmaiado. Quando de repente uma memoria voltou a minha cabeça

Cat havia tentado falar comigo. E eu não respondi.

Minha vontade era de gritar com todas as minhas forças até minha voz acabar e até eu não aguentar mais. Senti meus joelhos cederem e eu caí no chão, levei minhas mãos ao rosto e foi só quando percebi que estava chorando. Eu me sentia o pior ser humano existente na terra naquele momento.

Peguei um casaco e saí no meio da noite para rua, eu precisava achar a Cat. Estava chovendo torrencialmente lá fora mas eu realmente não me importei porque eu só precisava achar Cat.

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Lá fora minhas lagrimas se misturavam com os pingos da chuva e eu não sabia mais diferenciar um do outro. Então, saí correndo para o primeiro lugar que pensei: a floresta nos limites da cidade.

Assim que entrei na floresta escorreguei na lama e caí, um galho também cortou meu rosto e percebi que não me encontrava em disposição de me levantar e continuar, então só fiquei no chão onde havia caído chorando, quando alguém me alcançou por trás e me levantou no colo. Vi dois pares de olhos verdes olhando nos meus e um cabelo ruivo pingando. Dale.

~’’~

Do jeito que estava, sentia as gotas de chuva encharcando meu cabelo e minhas roupas e caindo em meu roto como se fossem lágrimas. Talvez fossem lágrimas mesmo.

Se a ocasião fosse outra, eu teria me levantando quando caí e continuaria correndo por minhas próprias pernas mas eu me sentia tão esgotada emocionalmente e de alguma forma fisicamente que eu não conseguia reagir. Agora as pernas dele corriam por mim.

Não notei metodicamente o caminho que ele fez até chegar numa rua sem saída perto da floresta e dos limites da cidade, mas eu de fato notei a casa branca e simples na qual ele entrou. A casa não era grande, tinha apenas um andar com uma sala de estar pequena junto com uma cozinha igualmente pequena. Ele me levou até o que me pareceu ser o seu banheiro e ligou o chuveiro, me colocando debaixo dele logo em seguida.

— Lucy. – Chamou.

Por algum motivo que eu desconhecia, eu sentia novamente que estava observando tudo em terceira pessoa, como se eu estivesse fora do meu corpo. Também me sentia tonta e não conseguia encontrar minha voz.

— Lucy consegue me ouvir?

De repente senti que estava tremendo muito e minha visão embaçou. A agua quente caia em mim levando a agua fria da chuva embora e grudando a minha roupa ao meu corpo.

Dale então desligou o chuveiro, tirou minhas roupas completamente ensopadas e me enrolou no que eu presumia ser sua toalha, então me deixou sentada no chão do banheiro e tive alguma vaga noção de que ele havia saído do recinto.

Algum tempo depois percebo que estou sendo carregada por ele novamente só que dessa vez com um moletom preto e grosso que chegava até metade das minhas coxas. A próxima coisa que lembro é de estar deitada na cama dele e de estar olhando para seus olhos profundamente verdes antes de apagar completamente.