The Unspeakable Rule

Capítulo 7


Capítulo 7

Acordo no dia seguinte porque parece que alguém está martelando minha cabeça. Estou com uma vontade que não sei reconhecer muito bem, mas provavelmente é vomitar tudo que consumi minha vida inteira. Demoro alguns minutos para abrir os olhos porque sei que vou preferir ter morrido dormindo do que precisar levantar.

Dito e feito. Quando finalmente levanto a cabeça, parece que meu cérebro deu uma volta de 360 graus. Só consigo ver uns borrões à minha frente, pontuados com umas luzinhas que eu imagino ser a luz do dia. Assim que meus olhos finalmente conseguem focar algo, percebo que estou dormindo no chão, abraçada com Marlene.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não sei nem porquê. Não consigo me lembrar de metade do que aconteceu ontem à noite, mas alguns flashes aparecem quando me sento melhor no tapete felpudo. Eu dançando com Remus. Eu bebendo (bem) mais do que deveria ao lado das meninas da minha rua. Eu apostando com Peter quem pulava mais alto. E agora, olhando para o enorme roxo em minha perna esquerda, posso ter certeza que perdi.

Marlene se mexe ao meu lado e abre os olhos com uma expressão de dor parecida com a minha. Percebo que ela está usando a camisa havaiana que James usava na festa.

— Que horas são? – ela me pergunta com a voz fraca.

— Não faço a menor ideia. Acabei de acordar também.

Lene levanta e depois leva as mãos para a cabeça como se ela tentasse impedi-la de explodir. Meu estômago dá uma fisgada e meus olhos doem com o menor sinal de luz.

Eu disse ontem que beber era bom? Esquece tudo. Eu nunca mais vou beber na minha vida.

Alguém se remexe no sofá e olho esperando ver Sirius, mas é Remus que se vira de posição e abre os olhos com o desconforto evidente.

— Meu Deus do céu – fala, olhando para o teto com o cenho franzido – o que é que está acontecendo comigo?

— Você nunca ficou de ressaca, Reminho? – Lene ri ironicamente, porque estamos todos na mesma situação.

— Ah, isso não é ressaca não...é muito provavelmente a minha morte.

Eu solto uma risada abafada e esfrego meus olhos. Ficar reclamando da dor não vai fazer nenhuma diferença, então decido levantar. Meu estômago dá uma cambalhota imediatamente.

— Onde tem banheiro aqui embaixo, Remus? – pergunto, segurando a barriga com uma das mãos e a cabeça com a outra para ver se para de doer. Ele percebe pela minha cara que as coisas não estão muito bem e responde:

— No fim desse corredor, à esquerda. Ou do outro lado da sala de estar. Mas é melhor ir aqui mesmo, é mais perto.

Não consigo nem encontrar voz para agradecer, então viro-me e saio correndo (quer dizer, no limite da minha capacidade de ressaca, é claro) em direção ao banheiro que ele tinha apontado.

Abro a porta de supetão e quase não consigo fechá-la antes de ajoelhar em frente ao vaso e botar tudo para fora. Odeio, odeio, vomitar, mas acho que depois de tudo que eu bebi de álcool ontem, isso foi extremamente necessário.

Lavo o rosto na pia e dou uma fuçada no armarinho debaixo da bancada para ver se tem algo que possa me ajudar. Dá certo, porque encontro um enxaguante bucal ainda fechado. Acho que os Potter não vão se importar, e além do que, é para uma boa causa. Tiro o elástico que prendia o meu cabelo de um jeito meio desleixado e passo mais uma aguinha para tentar penteá-lo. Estou me sentindo ligeiramente melhor, mas meu cérebro ainda martela meu crânio.

O que eu queria mesmo é um banho, mas não tenho muita coragem de pedir para usar o banheiro de James. Hm, talvez o do banheiro da piscina...

Volto para a sala de TV e agora Sirius e James estão lá, sentados no sofá com uma cara péssima igual à nossa.

— Você está bem, babe? – Ele pergunta, abrindo espaço ao seu lado para que eu me sente.

— Tudo ótimo – respondo, sabendo que o meu tom de voz mostra que não tem nada de ótimo comigo. Sento-me ao seu lado e aninho-me em seu peito. – Eu nunca mais vou beber.

Sirius passa o braço pelo meu ombro e dá uma risada.

— Ha, eu também não – ele completa, esfregando os olhos – apesar de eu já ter dito essa frase umas doze vezes só no último mês.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

James e Marlene riem fraco, mas Remus responde com um gemido longo.

— Prongs, cara, eu preciso que você me alimente.

O nariz dele está inchado, apesar de isso não ser o pior aspecto de seu rosto. Levanto os olhos para ver se os machucados de James continuam marcados e tomo um susto com seu olho que está incrivelmente roxo e eu não tinha percebido até agora (não sei exatamente o que eu esperava, para ser sincera).

— Bom, eu não estou com muita vontade de cozinhar agora – ele coça a cabeça preguiçosamente, arrepiando o cabelo – Mas posso ir até a cafeteria do final da rua para comprar algo.

Quando ele termina de dizer isso, meu estômago ronca e percebo que também estou com fome. Mas não acho justo fazê-lo buscar comida para os outros quando ele também deve estar morrendo de ressaca.

— Eu posso ir com você – falo, levantando-me com dificuldade. – Eu preciso caminhar um pouco porq...

Paro de falar imediatamente porque meu estômago volta a se rebelar dentro de mim. Eu levo a mão à boca e viro-me para correr de volta ao banheiro. Que patética. Nem sabia que tinha algo mais no meu estômago para que eu botasse tudo pra fora de novo.

Sento no chão e estou a cara personificada da derrota, pois coloco os braços no vaso e apoio minha cabeça neles. Eu nunca colocaria meu rosto tão perto de um vaso sanitário se ele não fosse meu melhor amigo no momento.

A porta abre e Sirius aparece com uma expressão de preocupação que se mistura com um sorriso leve assim que me vê. Solto um gemido porque na verdade não queria que ele me visse assim. Mas ainda piora porque logo atrás vem James, e ele nem se preocupa em esconder a risada.

— Acho que não vou conseguir ir, foi mal – escondo o rosto na dobra do cotovelo com a esperança de que eles desapareçam quando eu levantar a cabeça de volta.

— Lils, acho melhor você tomar um banho – Sirius se aproxima, estendendo a mão – você vai se sentir melhor.

Eu viro a cabeça para olhá-lo.

— Com certeza. Pode usar o meu banheiro – James fala, ainda apoiado na porta.

Eu não queria incomodar mas, honestamente, não ligo a mínima para isso no momento. Quero só tomar um banho e colocar roupas limpas. Então concordo com a cabeça (me arrependendo em seguida porque ainda estou com muita dor) e aceito a mão de Sirius. Ele ri e não só me ajuda a levantar, como também passa o braço pelos meus joelhos e me tira do chão.

— Posso andar, sabia? – falo, mas meu tom não dá muita convicção. Além do quê, aqui está muito confortável, então não faço muita coisa para deixá-lo me colocar em pé.

Ele me ignora e sai do banheiro, passando por James e subindo as escadas. Gostaria de estar melhor para poder absorver a decoração da casa Potter, mas no momento só consigo pensar em lavar o cabelo. Passamos por um vaso grande que me chama a atenção porque está recheado de Lírios, minha flor preferida. Faço uma anotação mental para elogiar o bom gosto da Sra. Potter.

Sirius empurra a segunda porta do andar com o pé e me coloca num chão de carpete branco, incrivelmente limpo. Quase não acredito que é o quarto de James.

A cama está desarrumada, e tem algumas roupas largadas num sofá no canto do quarto (percebo que deve ser ali que Sirius dorme quando passa a noite aqui). Mas fora isso, fico surpresa com o quão arrumado realmente é. Eu imaginava algo completamente diferente. Tem uma estante alta no lado oposto da janela e uma escrivaninha longa, bem organizada. Tem até um cacto ao lado de uns livros.

James passa por nós e abre uma porta que imagino ser do closet. Eu tiro meus sapatos e espero alguns segundos, então ele sai com uma toalha verde felpuda, uma camiseta e algo a mais nas mãos que não identifico.

— Aqui. Fique a vontade. Pode usar a banheira se quiser – ele sorri, entregando-me tudo. – Eu e Padfoot vamos comprar café e comida. Algum pedido especial?

Nego com a cabeça e então levanto-me nas pontas dos pés para dar um beijo na bochecha de cada um dos dois.

— Obrigada – sorrio. – Sério.

Sirius sorri e passa a mão pelos meus cabelos.

— Vai tomar banho logo. Se precisar de algo, chame a Lene. Já avisei ao Moony que ele morre se entrar aqui enquanto você estiver se trocando.

Reviro os olhos mas obedeço-o, passando pela porta aberta do banheiro. Fecho a porta mesmo ouvindo os meninos terem saído do quarto. O banheiro de James é maior que o meu quarto e o de Tunia juntos. Ok, não tão grande aqui, mas é muito diferente do cubículo que a minha mãe insiste em enfiar vasos de flores que temos em casa.

Vou até a bancada de pedra e me olho no espelho – estou um desastre completo. A maquiagem de ontem desce escorrida até o meio da minha bochecha, o batom todo espalhado em volta da minha boca. Tiro minha roupa e dobro cuidadosamente no chão, apesar de saber que elas vão direto para a máquina de lavar quando eu chegar em casa.

A água do chuveiro sai instantaneamente quente, e assim que eu entro no box, sinto a melhor sensação da minha vida. Acabo até soltando um gemido de felicidade. Por um segundo esqueço que estou uma bagunça ressaquenta, e fico só sentindo a água cair do jato forte direto nos meus ombros. Solto o cabelo e sinto a água quente desfazer os nós.

Será que James vai se importar se eu pegar um pouco do shampoo dele? Dou os ombros e pego mesmo assim. Mas na verdade o que era shampoo mesmo já acabou faz tempo e aqui só tem uma embalagem que ele provavelmente encheu de água para fazer durar mais. Solto uma risada involuntária e acabo lavando o cabelo com o sabonete mesmo.

Não sei quanto tempo passei no banho, mas quando finalmente desligo o registro, meus dedos estão todos enrugados. Mas uma coisa é certa: estou me sentindo bem melhor e agora consigo até me ver comendo alguma coisa sem vomitar tudo. Saio e me enxugo com a toalha que eles me deram, torcendo o cabelo para tentar secá-lo ao máximo. Seria pedir demais que ele tivesse um secador, né?

Coloco a blusa branca que ele me deu e ela não fica tão grande quanto achei que ficaria, e depois um shorts do homem aranha que eu imagino ter pertencido à James quando ele tinha uns 10 anos de idade. Sei que vou me arrepender mais tarde por não ter colocado sutiã, mas não consigo me imaginar agora me prendendo àquele instrumento de tortura. Saio do banheiro acompanhada por uma nuvem de vapor.

Abro a porta do quarto e vou até a escada, mas antes de descer, chamo por Lene.

— O que? – ela aparece, ainda com a cara de ontem, mas com uma expressão um pouco melhor. Acho que Marlene já está acostumada com ressacas, porque parece saber muito bem o que fazer. Ela segura um copo de suco de limão na mão, e um pão velho na outra.

— Os meninos já chegaram?

— Ainda não. Eu e Lupin estamos improvisando até eles chegarem com comida de verdade – ela estende o pão em minha direção – você quer?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Nego com a cabeça e franzo as sobrancelhas.

— Eu vou tirar mais um cochilo aqui no quarto de James. Você me chama quando eles chegarem, por favor? – pergunto, e ela concorda com a cabeça, sem esperar que eu termine para virar as costas e voltar para a cozinha.

Eu dou os ombros e volto para o quarto. Se eu não estivesse nesse estado nunca iria me deitar na cama de uma pessoa porque sei o quanto isso pode ser invasivo. Mas, olha só, a cama é tão grande e confortável e esse edredom branco está simplesmente me chamando. Não consigo me preocupar demais antes de me enfiar embaixo do cobertor e me ajeitar na ponta do colchão.

Acabo dormindo, e só Deus sabe por quanto tempo. Sabe aqueles cochilos que você praticamente desmaia em pouquíssimo tempo? Seu corpo inteiro relaxa, às vezes até fazendo suas pernas doerem por não mudar de posição, e você acaba sonhando com algo besta, mesmo que tenha fechado os olhos por pouco mais de 20 minutos. Então. É isso que aconteceu.

Acordo com alguém sentado nos pés da cama, balançando a minha perna. Resmungo baixo e levanto a cabeça preguiçosamente em sua direção.

— Bom dia – ele ajeita os óculos e ri (provavelmente da minha careta de sono). Eu me sento com dificuldade, sentindo o cabelo agora menos úmido bater nas minhas costas com o movimento.

— Que horas são? – pergunto com um bocejo, começando aos poucos despertar de verdade. – Cadê o Sirius?

James aponta para algo atrás dele e eu estico o pescoço para olhar o sofá da parede que tinha notado antes. Sirius está estirado, provavelmente no quinto sono, pelo jeito que está roncando sem preocupação.

—Meu Deus – sorrio, esfregando os olhos. – Por quando tempo dormi?

—Hum, umas duas horas – Ele coça o queixo, olhando para o relógio na mesinha de cabeceira ao meu lado.

Opa. Então não foram “pouco mais de 20 minutos”, afinal.

—Duas horas? – pergunto, arregalando os olhos. – Por que vocês não me acordaram?

—Bom, eu estou tentando te acordar há uns dez minutos – ele ri, cruzando os braço. Olho para o seu lado e vejo um prato com muffins e um copo de suco de laranja apoiados em uma bandeja branca.

—Café da manhã na cama? – brinco, esticando o corpo para alcançar o copo.

— Bem, mais para um café da tarde, se você pensar bem – ele apoia as costas no encosto e ergue uma das sobrancelhas em minha direção – já que a madame resolveu desmaiar enquanto os outros mortais estavam comendo normalmente.

Dou os ombros e abocanho um dos muffins. É de blueberry, meu preferido. Olho para cima agradecendo aos céus que pelo menos alguém me conhece o suficiente para me trazer esse sabor.

— Foi Lene que mandou que comprássemos para você – James aponta para o bolinho em minhas mãos. Eu dou os ombros, agradecendo mentalmente. Acho engraçado ouvi-lo chamar Marlene de “Lene”, porque nunca tinha ouvido ele dizer isso. E então me lembro.

— Potter – falo, ainda com a boca cheia – Você ainda tem que me esclarecer umas coisinhas...

Ele me encara estático, esperando que eu continue. Eu faço um gesto com a mão, querendo que fale, mas é bem óbvio que ele não entendeu do que estou falando. Reviro os olhos e continuo:

— Você...Lene...ontem à noite...muita, muita influência de tequila...ainda lembra de alguma coisa?

Ele desvia seu olhar do meu rapidamente e descruza os braços para usar uma das mãos para arrepiar o cabelo.

— Hm...não lembro. Acho que bebi demais – responde, ainda sem me encarar.

Abro a boca em uma risada silenciosa (graças a Deus já tinha engolido tudo que eu estava mastigando, ou teria caído tudo no edredom branquinho). Ele ainda desvia o olhar, então me estico novamente e dou um soco em seu ombro.

— Que mentiroso! Você lembra sim!

Ele sorri sem mostrar os dentes enquanto massageia o ombro que eu atingi e percebo pela primeira vez: James Potter está sem graça. James Potter! Sem graça! Nunca pensei que veria isso com meus próprios olhos.

Isso só pode significar que eles se pegaram sim. Não acredito que meu plano deu certo! Sinto uma fisgada no estômago e interpreto isso como animação pela vitória (melhor do que pensar que precisava correr de novo pra botar meu muffin pra fora).

— E vocês fizeram o que? – sorrio, movimentando as sobrancelhas. Então mudo de ideia – Esquece. Não quero saber.

— Não fizemos nada demais – ele diz, e alguma coisa em seu tom me diz que ele está mentindo descaradamente.

Faço cara de descrença e reviro os olhos teatralmente.

— Bom, não importa o que vocês estavam fazendo. A questão é: o que vão fazer agora? Vão continuar se vendo? Vão começ...

— Lily – ele me interrompe, coçando a cabeça com uma cara de desconforto – Tem certeza de que quer se envolver nisso?

Paro a mordida na metade do caminho e o encaro.

— Como assim?

— Bom – continua – Se der certo, nós provavelmente vamos começar a sair juntos, certo? E você vai acabar me odiando por tirá-la de você. Agora, se der errado, você vai ter que escolher um dos lados e tudo bem, eu vou entender por você escolher o lado dela porque vocês são amigas a muito mais tempo do que nós somos...

Ele me encara com receio, a voz morrendo no fim da frase. Eu apoio a mão com o muffin parcialmente comido nas pernas e coloco o cabelo atrás das orelhas.

— É sério? James, eu nunca o odiaria – falo baixo, e ele dá os ombros como se já soubesse disso lá no fundinho. – E tudo bem que nós duas somos amigas a mais tempo, mas eu gosto de você tanto quanto dela. Além disso, eu vejo mais você do que Lene agora...

Assim que termino de falar, reparo que James me olha de um jeito estranho. Sei lá. Parece estar querendo entender algo a mais do que eu realmente disse. Suas sobrancelhas se franzem levemente e eu posso praticamente ver fumacinha saindo de suas orelhas de tanto que ele está gastando o cérebro.

Percebo que o clima está começando a ficar esquisito, então mudo de assunto rapidamente.

— Seu olho está ainda mais feio na luz do dia.

Ele ri, sentando-se melhor na cama e comendo o outro bolinho que eu demorei para pegar.

— É porque você ainda não viu seu cabelo.

Faço cara de tédio.

— Espero que sua cabeça esteja doendo bastante, viu? E que seu olho esteja latejando.

— Está mesmo – ele engole o resto do bolinho e se levanta. – Termine de comer e vem logo. Preciso de ajuda para pescar o que sobrou da piñata da piscina. – E então sai do quarto, me deixando sozinha com um Sirius completamente desmaiado e um prato de muffins meio comidos.

—___________________________________________________________

Só volto para casa muuuitas horas depois, quando o sol já tinha até se posto há um tempão.

Depois que fui julgada oficialmente livre da ressaca, James e Marlene me forçaram a limpar o quintal com eles. Não vou dizer que foi injusto, eu não ia deixar tudo aquilo na casa dos Potter, não é? Só gostaria que Sirius tivesse descido para ajudar. Remus eu entendo, ele passou o resto do dia vomitando as tripas, então estava perdoado.

Mas tudo bem, resolvi não comprar briga logo no dia seguinte ao seu aniversário. Além do que, era uma boa desculpa para que eu pudesse observar Lene e James juntos. Não deu pra descobrir muita coisa, eles não interagiram muito (até porque tínhamos muita coisa para limpar). Mas percebi o quanto ele estava sem graça perto dela, o que só comprovava que tinha rolado algo entre os dois, sim. Tentei lançar um olhar de “uhum, eu sabia”, mas ele simplesmente não olhava na minha cara.

De qualquer jeito, depois de algumas horinhas, o trabalho começou a produzir efeito e o quintal foi voltando a ser o mesmo que era antes. A limpeza também nos fez descobrir um Peter desmaiado na casa de piscina, mas quando o acordamos ele só resmungou, virou pro lado e voltou a dormir, então resolvemos deixa-lo lá mesmo.

— Eu te devolvo a hm, roupa que você me emprestou amanhã, ok? – digo, apontando para a blusa mas me lembro rapidamente que não estava usando nada por baixo, então cruzo os braços rapidamente para disfarçar.

— Sem pressa. – Ele responde, abrindo a porta para que a gente saia. Sirius tinha pegado emprestado o carro de James para nos dar carona, porque não ia caber todo mundo em sua moto, então tivemos que nos apertar na cabine da caminhonete por alguns minutos.

— Você acabou não me contando... sobre o que você e Regulus conversaram? – Pergunto, espremida entre Sirius e Lene. Queria perguntar isso à sós, mas sei que quanto mais o tempo passar, mais difícil vai ser arrancar isso dele.

Ele balança a cabeça e dá os ombros, mas os olhos continuam fixos na rua praticamente deserta à frente. Acho que ele vai continuar a falar, mas depois de um tempo percebo que era só isso mesmo.

— Sério? Não vai nem abrir a boca? – pergunto, mal contendo a frustração. Não é a primeira vez que ele não confia em mim o suficiente para contar algo de sua família, mas preciso admitir que minha paciência está se esgotando para esse assunto. Sirius se vira para mim com a sobrancelha erguida em surpresa.

— Que? De onde saiu isso, babe? – ele pergunta no meio de uma risada, o que inconscientemente acaba me deixando mais irritada ainda porque ele não está levando a sério (de novo).

— Por que você nunca quer me contar essas coisas?

Ele bufa, ligando o rádio. Uma música dos Beegees começa a tocar.

— Porque não é tão importante assim, oras.

Eu franzo os lábios e desligo o rádio. Não quero fazer uma afronta, mas ele sempre usa essas táticas para me distrair e estou cansada disso.

— Ok, se não é tão importante assim então porque não pode me contar? – insisto.

— Que diferença vai fazer na sua vida? – ele pergunta um pouco mais ríspido e não acredito que estamos realmente brigando por causa disso. Remus e Marlene estão tão silenciosos que é quase como se eles não estivessem aqui.

— Se você não sabe a resposta dessa pergunta, acho que precisamos rever nosso relacionamento – falo baixo, cruzando os braços (na medida do possível) e tentando deixar bem claro o quanto ele me magoou. Se funcionou ou não, não sei, porque em seguida ele encosta o carro na calçada em frente à casa de Remus e ele desce para abrir a porta de passageiro que está quebrada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Fico ainda mais frustrada por ter sido deixada sem resposta, então mordo o interior do meu lábio de ansiedade. Lene me encara do meu lado, mas não diz nada, o que eu agradeço.

Quando Sirius volta para seu lugar, ficamos em um silêncio profundamente constrangedor. A sorte é que nossa rua não é tão longe da de Remus, então em poucos minutos ele já estaciona na minha entrada de garagem.

— Tchau, Black – Marlene o abraça, se despede de mim com um aceno e atravessa o jardim para sua casa.

Eu escorrego para o fim do banco, mas não saio. Fico sentada, com as pernas para fora do carro, encarando-o com frieza, mas, como sempre, ele sorri tentando diminuir o conflito.

— Quer parar com isso? Já falei que não é importante – ele revira os olhos e isso me dá a impressão de que está debochando da minha cara.

— Ah e você sabe dizer o que é ou não é importante, né? Tem as prioridades certas na vida – provoco, sabendo que estou deixando mais a raiva falar do que pensando realmente nas minhas palavras.

— O que quer dizer com isso? – ele fecha a cara. Sou tomada por um sopro de consciência e resolvo que é melhor acabar as coisas agora antes que piore. Salto do carro.

— Nada, me desculpe. – olho por cima do ombro para a luz acesa da sala de jantar – Eu te convidaria para entrar mas sei que não gosta da minha irmã.

Sirius solta um suspiro longo, como se estivesse segurando o ar por muito tempo. Depois se aproxima de mim e me abraça.

— Desculpa, ok? – diz e eu relaxo meus ombros. – Se você precisa mesmo saber, Regulus está se metendo com um pessoal da pesada. Drogas e tudo mais. Eu só tentei colocar um pouco de razão na cabeça dele, mas não adiantou muito.

Eu fico feliz que ele tenha finalmente me contado, mas algo no jeito impaciente dele me incomoda. Sirius podia muito bem não ter falado “precisa mesmo saber” porque isso faz parecer que está me fazendo um favor ao me contar. Ainda estou um pouco magoada por ele não confiar o suficiente para vir direto à mim. Tento não deixar isso transparecer quando o abraço.

Mas, para não estragar o final de semana, concordo com a cabeça, dou um beijo rápido em seus lábios e entro em casa.