O que era supostamente um selinho para ela? Quando nossas bocas se encostaram, ela passou os braços em torno do meu pescoço e quase sentou no meu colo. Tentei separar ela de mim, mas empurrar sua barriga só parecia fazê-la se colar mais em mim. Foi aí que uma coisa me salvou. E que também me ferrou.

- Jus, eu estava pensando no show da Argentina e... – Usher entrou e parou de falar assim que levantou os olhos do papel que tinha nas mãos.

A menina se descolou de mim, sorriu amarelo e saiu do quarto, cambaleando. Usher fechou a porta. Baixei os olhos, mas podia sentir seu olhar me queimando.

- Você... Justin, você tem namorada. Melhor que isso, você tem a Miranda como namorada. Beijou outra garota, beijou outra garota no quarto da sua namorada e essa garota, como se tudo isso não fosse o bastante, é repórter. Tem algo a dizer a seu favor?

- Era para ser só um selinho. Igual ao que dou nas fãs que pedem. E eu não podia falar que tinha namorada. Vocês disseram que...

- Justin! Não coloque a culpa em nós. O erro foi seu. De qualquer forma, você vai contar, não vai?

- Eu...

- Sabe que se não contar, isso vai virar uma bola de neve, não sabe?

- Eu... Eu vou contar, Ush.

- Ótimo. Que bom que usou o tempo certo ao dizer “tinha namorada”. Por que... Não sei se ela vai te perdoar. – Ele girou a maçaneta da porta. – Estamos esperando você. – Ele saiu.

Aquilo me deixou... Aflito. Rezei internamente para que ela me perdoasse – caso eu arranjasse alguma coragem para contar.

Passei o resto do dia tentando me concentrar em coisas que não me permitissem pensar muito. Susan nos acompanhou até o jantar. Pelo menos ela parecia tão sem graça quanto eu.

Deitei em minha cama e não consegui dormir. Eu ia falar com ela no dia seguinte. Imaginei-me dizendo aquilo a ela várias vezes, analisando qual reação seria a pior. Meu estômago se revirava só de pensar em como ela reagiria. Dormi lá pelas duas da manhã.

- Miranda

Lizzie se revirou no sofá pela milésima vez. Olhei para ela, que me lançou um sorriso.

- O que foi? – Perguntei.

- É horrível ficar de repouso! Lembre-me de nunca mais bater a cabeça de novo.

- Ah, sim. Como se isso fosse algo de que a gente precisasse lembrar alguém. – Falei, revirando os olhos.

Ela riu fraco. Recostei a cabeça no sofá e encarei o teto. Pensei no que Justin estaria fazendo naquele momento.

- Como foi a festa ontem? – Perguntou ela, como que lendo meus pensamentos.

Contei a ela tudo o que havia acontecido. Ela ouviu tudo com um sorriso no rosto.

- Eu falei que ele gostava de você. – Ela se gabou.

- É você disse. Mas...

- Mas?

- Tem alguma coisa errada. Vai acontecer alguma coisa...

- Lembra que um grande amor só é bem grande se for bem triste. – Ela recitou um verso de uma música brasileira.

Sorri. Imaginei como seria se Justin fosse o homem da minha vida. Eu odeio essa expressão, mas quando havia Justin e ela na mesma frase, até que soava bem.

Passei o resto daquela tarde com Lizzie. Não vi Justin naquele dia. Voltei para casa quando Chaz chegou. Eles formavam um casal tão fofo e eu não queria ficar ali, segurando um candelabro – não era nem vela – logo de uma vez.

Joguei-me em minha cama e dormi instantaneamente.

~x~

- Miranda? – Uma voz masculina demais para ser minha mãe e adulta demais para ser Justin me chamou.

Abri meus olhos e vi o Usher na minha frente. Quase gritei, mas me contive e me sentei.

- O que foi?

- Só estou ajudando um amigo. O Justin está te esperando lá embaixo. – Falou ele, com um meio sorriso.

- Ah... Tudo bem, eu já vou descer. Obrigada por me avisar e...

- Não me agradeça. – Falou ele, indo para a porta. Pareceu se decidir de algo e voltou para perto de mim e me olhou nos olhos. – O Justin é só um garoto, todos cometem erros. Por favor, ele gosta muito de você.

Ok, isso era estranho. Usher Raymond IV me implorando algo, no meu quarto, eu vestida de pijama e sem entender nada.

- Usher, o que houve?

Seus lábios formaram uma linha rígida. Ele apenas se levantou e saiu do quarto. Arrumei-me e desci.

- Oi. – Falei para o garoto sentado no sofá, que parecia muito nervoso.

- Ah, oi. – Falou ele, levantando num pulo e me dando um selinho.

- Jus, o que houve? O Usher me deixou preocupada.

- Isso é difícil. Ahn, quer dar uma volta?

- Dar uma volta? Aonde? – Eu estava começando a ficar irritada e apreensiva.

- Pela casa...

- Certo.

Saímos e seguimos pela lateral da casa, em direção ao nosso imenso quintal.

- E então? – Perguntei.

- Eu achei melhor te contar, porque eu não quero mentiras entre a gente.

- O que você fez?

- Ontem...

- Ontem?

- De tarde...

- Pode falar tudo de uma vez, por favor? – Pedi totalmente impaciente.

Uma chuva fina começou a cair, as gotinhas pequenininhas incomodavam meu rosto.

- Certo. – Ele suspirou. – Promete que não vai ficar brava?

- Bieber! – Quase gritei.

- Lembra da garota loura ontem, que estava com a gente? Então, ela me beijou, no seu quarto. Ela pediu um selinho... Eu dei, mas ela queria mais que isso, eu acho. – Ele falou rápido demais.

Fiquei em silencio absorvendo a informação. Eu só conseguia olhar para o chão. A chuva aumentou. Eu já estava ensopada, mas continuava andando, era como um movimento automático.

- Miranda?

- Sim?

- Você me perdoa? – Ele pediu.

Hesitei por um momento. Pelo menos ele estava me contando e ele parecia arrependido. Por mais que eu tentasse não conseguia imaginar a cena... Em meu quarto.

- Eu... Eu...

- Por favor! – Ele se colocou na minha frente. O cabelo grudado na testa. Ele parecia ter saído de um comercial de gel. – Escute, eu sei que não posso te pedir nada, mas eu juro que... – Ele não conseguiu terminar.

- Jus... Não tenta explicar. Eu... Eu te perdoo. Se você está tão arrependido quanto parece estar...

Ele abraçou minha cintura e me rodou, rindo. Não pude deixar de rir também. Quando me colocou no chão, me beijou. A alegria dele era sensível. Entre um beijo e outro estávamos sorrindo.

- Eu te amo. Eu te amo muito. – Sussurrou ele, encostando sua testa na minha.

- Também te amo. – Sussurrei de volta.

- Tenho que entrar.

- Eu vou depois.

Ele me deu um selinho e voltou correndo. Olhei em volta. Puxei e soltei o ar, meu lábio inferior tremia. Eu queria chorar. Deixei duas lágrimas rolarem e se confundirem com os pingos da chuva.

- Miranda! – Sam me deu um susto. Ela estava na porta da sala que dava para a área da piscina. – O que você está fazendo aí na chuva? Vai pegar uma pneumonia! Entre!

Caminhei em direção a ela. Quando ela me viu de perto, pareceu preocupada. Perguntei-me o que meu rosto dizia.

- Está tudo bem?

Apenas balancei a cabeça positivamente. Ela não pareceu se convencer.

- Não. Tem algo errado...

Mais algumas lágrimas teimaram em cair, fazendo-a se interromper. Apesar de eu estar molhada, ela me abraçou.

- O que aconteceu?

- Nada. Eu vou ficar bem. – Garanti.

- Tem certeza? Olhe, vou fazer um chocolate quente e você vai trocar de roupa. Vou colocar o chocolate lá na sala fofa e você vai tomar, ok?

Ri fraco, eu achava engraçado quando ela chamava a sala de leitura de “sala fofa”. Subi para o meu quarto. Justin não estava lá. Troquei de roupa e desci.

Quando entrei na sala, o chocolate já estava lá, alguns biscoitos e a lareira estava acesa. Sentei no tapete felpudo e beberiquei meu chocolate.

Eu não estava com raiva do Justin. Eu estava... Chateada. É claro que ele ter me contado valia muita coisa, mas... Eu estava sentindo algo estranho, não sabia o que era.

Terminei meu chocolate, decidida a não ficar remoendo aquilo.

- Ei. – Justin me deu um susto. Todo mundo estava me dando sustos hoje. Ele estava encostado na porta.

- Oi. Já acabou a gravação?

- Ah. Não, mas o Usher e o Scooter tiveram que sair então...

- Entendi.

- Vim ficar aqui com você. – Falou ele, sentando ao meu lado.

Sorri e o abracei de lado, fazendo-o deitar em meu colo. Seu cabelo, assim como o meu, ainda estava molhado.

- Estamos reagindo bem ao que...

- Podemos não falar mais sobre isso? – Pedi.

- Claro. Desculpe.

- Tudo bem.

- As gravações acabam essa semana. – Falou ele, mudando de assunto. – Vamos ter que arranjar meios de nos vermos.

- Imagino que você ficar voltando aqui, sem ter gravação nenhuma vai levantar suspeitas.

- É. Vamos ser o típico casal hollywoodiano que não quer ser descoberto. – Reclamou ele.

- Pelo menos ainda seremos um casal. – Falei, sorrindo.

Ele abriu um sorriso e começou a brincar com uma mecha do meu cabelo. Fiz um cafuné nele. Ficamos em silêncio por um bom tempo.

- Essa sala é muito aconchegante. – Falou ele, de repente. – Sei de algo que é perfeito para se fazer em um lugar como esse.

- O quê? – Perguntei distraída.

Justin levantou-se, bem perto e aproximou lentamente nossos lábios. Abri um sorriso tímido, mas ele o beijou. Seus dedos se entrelaçavam em meus cabelos e sua língua explorava minha boca. Abracei seu pescoço e ele a minha cintura, me puxando mais para perto de si. Algo nos interrompeu.

- Tudo bem. Agora seu celular está sendo inconveniente. – Falei.

- Finalmente ele te incomodou. – Falou ele. – Já volto.

Ele se levantou e foi até a porta. Eu estava distraída, olhando o padrão de cor do tapete quando um nome me chamou a atenção.

- Vick... Agora não... – Ele falava. – Sei disso.

Eu estava começando a ficar com muita raiva daquela garota. Encarei o fogo que lambia a madeira na antiga lareira. Justin voltou para o meu lado e, como eu não virei, ele segurou meu queixo e me fez olhá-lo. Me deu um selinho, que foi seguido por vários outros, até que estávamos nos beijando de novo.

- Esse é um ótimo jeito eficaz de voltarmos para onde estávamos. – Falou ele.

Apenas sorri. Ele me abraçou e ficamos daquele jeito até o Scooter e o Usher chegarem, o que demorou a acontecer. Justin ficou passando a ponta dos dedos nas minhas costas, me provocando arrepios. Eu estava quase dormindo quando ele teve que voltar para o trabalho.

Lizzie ia passar o dia comigo naquela segunda. Nós ajudamos a Sam a fazer nosso almoço. O que resultou numa cozinha suja e uma Sam furiosa. Comemos, ajudamos na limpeza da bagunça e subimos para o meu quarto.

- Que saudades eu estava sentindo disso aqui. – Falou ela, se jogando em minha cama e pegando um dos vários álbuns de fotos que ficavam dentro do criado-mudo.

- Pois é. – Falei, automaticamente.

- Aconteceu alguma coisa? – Lizzie perguntou. Ela era uma dessas pessoas que sabem que aconteceu algo com você só de olhar.

- Hã? Ah... Nada. – Menti.

- O que houve? – Ela insistiu.

Contei o que tinha acontecido mais cedo.

- Ah, mas ele está arrependido, não está?

- Acho que sim...

- Então! Não cria caso, menina!

Encarei a menina esticada em minha cama.

- Tudo bem, ele beijou outra garota, mas o que ele poderia ter feito? Se não podia dizer que tinha namorada...

- Podia negar o pedido! – Falei, levantando as mãos, exasperada.

- Você negaria? Se estivesse no lugar dele... Sabe que ele adora as fãs dele. – Argumentou ela. Dessa vez arregalei os olhos. – Que foi? Eu andei pesquisando sobre ele. Você não?

Ignorei-a. A outra pergunta me pegou de guarda baixa. Joguei-me na cama, ao lado dela, dando-me por vencida. Lizzie abriu um sorriso vitorioso. Peguei o álbum das mãos dela. Era o álbum da nossa primeira viagem a Nova York sozinhas.

Ficamos ali conversando, vendo álbuns e comentando as fotos. Como duas adolescentes normais, que não tinham namorados com meio mundo de fãs.

Justin entrou no quarto e nós paramos de falar automaticamente.

- É estranho ter um garoto se trocando no seu quarto. – Cochichou ela, quando ele entrou no banheiro.

- Na verdade, ele também toma banho. – Cochichei de volta.

Ela abriu um grande sorriso malicioso para mim. Revirei os olhos.

Justin saiu do banheiro nos analisando com uma cara engraçada e foi direto para a porta.

- Já vai? – Perguntei, levantando e indo até ele.

- Já... Não queria atrapalhar vocês. – Disse ele.

- Você nunca atrapalha. – Garanti.

Ele mal encostou seus lábios nos meus e seu celular tocou.

- Já esse celular, por outro lado, atrapalha muito. – Reclamei.

Estiquei-me para ver quem era, fazendo ele rir. Era Victoria. Desagradável.

- Até amanhã. – Falou ele, me dando um selinho e saindo.

- Mas... – Mas ele já tinha ido.

Girei nos calcanhares e vi a cara incrédula de Lizzie. Puxei o ar com dificuldade e ela riu da minha cara.

- Quem era? – Ela perguntou.

- Vick. – Falei, com uma vozinha fina.

Ela riu mais ainda. Ótimo, agora eu tinha mais esse problema.

~x~

- Tchau Lizzie. – Falei, quando ela entrou no táxi.

- Relaxe, tome um banho e tenha uma ótima noite de sono. – Falou ela, como se fosse uma médica.

- O mesmo para você. – Falei e fechei a porta.

Quando o táxi saiu, meu pai chegou. Esperei ele estacionar o carro e fui até ele.

- Quem era? – Perguntou ele. Aposto que ele estava pensando em Justin.

- Lizzie. Ela já está bem o suficiente para se divertir novamente. Passou o dia aqui.

- Fico feliz por ela... Já jantou? Estou com vontade de jantar com você, igual a gente fazia quando você tinha dez anos, lembra? Pizza, chocolate e Coca-Cola.

- Já jantei sim, pai. – Falei.

- Ah, outra vez então. – Ele disse.

Assenti, sorrindo enquanto me recordava desses jantares. Já estávamos na porta quando minha mãe chegou.

- Jantar de negócios, querido. Consegui aquele crédito que você queria com a fábrica... – Ela disse e eu parei de prestar atenção, não ia entender nada mesmo.

- Vai ficar bem sozinha? – Meu pai perguntou.

Assenti. Ele me deu um beijo na testa e minha mãe mandou um beijo. Meu pai deu partida no carro e foi embora.

Entrei em casa. Joguei-me no sofá e liguei a TV. Deixei em algum filme que me pareceu interessante. Tentei me concentrar, mas logo minha mente estava vagando e relembrando esta manhã. Acabei adormecendo perdida em pensamentos.